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Estudo evidencia novidades sobre dor no joelho em adolescentes

Você já ouviu falar na dor no joelho durante a adolescência? Para muitos jovens, especialmente aqueles ativos em esportes, essa dor pode ser mais do que apenas um incômodo temporário. Pode ocasionar sofrimento e desinteresse pela prática esportiva; somando-se ainda, em muitos momentos, ao desconhecimento da causa que pode fazer com que pais e treinadores não compreendam o que está acontecendo.

Mas o que é, e por que essa dor acomete jovens? É importante compreendermos que essa condição é decorrência de uma síndrome que vem sendo investigada por médicos e cientistas do esporte há alguns anos, conhecida como a Síndrome de Osgood-Schlatter.

O Que é a Síndrome de Osgood-Schlatter?

A síndrome de Osgood-Schlatter pode afetar cerca de 10% dos adolescentes durante o período de crescimento, e é caracterizada por uma dor no joelho associada ao rápido crescimento ósseo e muscular que ocorre nessa fase da vida, geralmente por volta da puberdade. Além de causar desconforto significativo, especialmente durante atividades físicas como correr e pular.

Recentemente, em maio de 2024, um recente estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Aalborg, na Dinamarca, trouxe novas descobertas sobre a síndrome de Osgood-Schlatter, oferecendo esperança e novas perspectivas para médicos e profissionais da saúde.

Como foi o estudo?

O estudo, intitulado A comprehensive MRI investigation to identify potential biomarkers of Osgood Schlatter disease in adolescents: A cross sectional study comparing Osgood Schlatter disease with controls“, (Tradução: “Uma investigação abrangente de ressonância magnética para identificar potenciais biomarcadores da síndrome de Osgood Schlatter em adolescentes: um estudo transversal comparando a síndrome de Osgood Schlatter com controles”), foi publicado na revista científica Scandinavian Journal of Medicine and Science in Sports pelos pesquisadores L. B. Sørensen e S. Holdenn, do Departamento de Ciência e Tecnologia da Saúde da Universidade de Aalborg, na Dinamarca.

Esta pesquisa representa um avanço significativo no entendimento da dor no joelho na adolescência e oferece esperança para aqueles que sofrem com a síndrome de Osgood-Schlatter.

Usando ressonância magnética, os pesquisadores examinaram os joelhos de 76 adolescentes praticantes de Futebol; 46 deles com sintomas da síndrome de Osgood-Schlatter e os compararam com 30 adolescentes sem dor. O objetivo era entender melhor as causas subjacentes da síndrome de Osgood-Schlatter e identificar possíveis biomarcadores associados à dor.

Principais Achados

Os resultados do estudo foram reveladores. Descobriu-se que os adolescentes com síndrome de Osgood-Schlatter apresentavam alterações significativas nos tecidos moles e nos ossos do joelho. Isso incluía edema ósseo na área onde o tendão patelar se conecta ao osso da perna e mudanças na espessura e inserção do tendão patelar. Essas alterações foram associadas a uma maior intensidade da dor, especialmente ao pressionar a tuberosidade da tíbia, que é o sintoma principal da síndrome.

Fonte da imagem: Artigo

Conclusão

Este estudo oferece resultados valiosos sobre a síndrome de Osgood-Schlatter e suas implicações clínicas. Agora, os médicos têm uma melhor compreensão das causas da dor no joelho durante a adolescência, o que abre caminho para estratégias de tratamento mais eficazes. Além disso, a pesquisa destaca a importância de identificar diferentes subgrupos de adolescentes com síndrome de Osgood-Schlatter, pois alguns podem não apresentar alterações significativas nos exames de ressonância magnética.

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Estudo revela benefícios do Treinamento de Futebol na Estrutura Cerebral

Um novo estudo científico liderado pelo pesquisador Ju Li do Colégio de Educação Física e Esportes da Universidade de Pequim, China, empregou uma abordagem inovadora para investigar os efeitos do treinamento de futebol na estrutura cerebral dos jogadores. Utilizando tanto a análise de VBM (Voxel-Based Morphometry) quanto a SBM (Surface-Based Morphometry), os pesquisadores identificaram mudanças significativas em regiões-chave do cérebro.

O estudo com o título com o título: “Progressive increase of brain gray matter volume in individuals with regular soccer training” foi publicado na revista Scientific Reports da conceituada revista Nature, e contou com a participação de um total de 77 indivíduos, sendo 36 no grupo de futebol e 41 no grupo de controle. Os participantes do grupo de futebol eram estudantes universitários que praticavam futebol profissionalmente, treinando pelo menos três vezes por semana durante 2 horas e meia cada sessão, por um período variando de 1 a 15 anos. O grupo de controle consistia em estudantes universitários da mesma idade que nunca praticaram futebol. Todos os participantes eram saudáveis, destros, com visão normal, sem histórico de doenças mentais e aptos para exames de ressonância magnética (MRI).

O que o estudo apontou?

Os resultados apontaram para aumentos significativos de massa cinzenta cerebral com destaque para maior volume do cerebelo, tálamo e córtex calcarino. Esta pesquisa marca a primeira vez que ambas as abordagens são empregadas para investigar as mudanças morfológicas no cérebro devido ao treinamento de futebol.

Os resultados também indicaram que as mudanças mais significativas ocorreram no cerebelo, uma região crucial para funções motoras, equilíbrio e aprendizado motor. Estudos anteriores já haviam demonstrado que atletas especialistas em diversos esportes apresentam volume de matéria cinzenta cerebelar significativamente maior em comparação com não atletas.

Fonte: Artigo

Além disso, o estudo revelou aumentos no volume de matéria cinzenta no tálamo e na região calcarina. O tálamo desempenha um papel crucial na integração de informações e na transmissão de sinais para áreas motoras do cérebro, enquanto a região calcarina é fundamental para o processamento visual espacial.

Em resumo, esta pesquisa proporciona uma visão aprofundada dos efeitos do treinamento de futebol na estrutura cerebral, destacando a importância de abordagens integrativas para entender as complexas adaptações do cérebro humano.

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Local de Nascimento pode influenciar na carreira de atletas de Futebol

No competitivo mundo do futebol, onde o talento é valorizado como uma moeda rara, surge uma questão intrigante. Até que ponto fatores como a data e o local de nascimento podem influenciar o destino de um jogador? Um estudo recente conduzido pelo pesquisador italiano Gabriele Morganti e sua equipe, oferece informações valiosas sobre essa questão. O artigo científico publicado na revista MDPI Sports, revela como esses fatores podem moldar não apenas o desenvolvimento juvenil dos jogadores, mas também suas perspectivas futuras no esporte.

Como foi o estudo científico?

O estudo, intitulado “Vantagens de Nascimento no Futebol Masculino Italiano: Como Influenciam a Carreira Juvenil dos Jogadores e seu Status de Carreira Futura“, analisou 1050 jogadores masculinos italianos nascidos entre 1999 e 2001. O que foi evidenciado foram padrões reveladores que lançam luz sobre as complexidades do sistema de desenvolvimento de talentos no futebol italiano.

Uma descoberta foi a tendência de os jogadores nascidos nos primeiros meses do ano e na região norte da Itália estarem mais representados nos níveis juvenis do futebol italiano. Isso sugere uma possível tendência de seleção que pode favorecer aqueles que têm a sorte de nascer em determinados momentos e lugares, levantando questões sobre a equidade no acesso às oportunidades de desenvolvimento esportivo.

No entanto, as implicações do estudo vão além do desenvolvimento juvenil. A análise revelou que apenas 18% dos jogadores analisados conseguiram dar o salto para se tornarem profissionais. Esse dado desafia as suposições sobre a eficácia dos sistemas de identificação e desenvolvimento de talentos existentes. E levanta a questão de como melhor apoiar os jovens jogadores em sua jornada rumo ao sucesso profissional.

Além disso, uma descoberta particularmente intrigante foi a associação entre o local de nascimento dos jogadores e seu status de carreira futura. Os jogadores nascidos no norte da Itália demonstraram uma probabilidade significativamente maior de se desenvolverem e chegarem a níveis superiores em comparação com seus colegas do sul. Isso evidencia as disparidades regionais na Itália e como essas disparidades podem influenciar o acesso ao desenvolvimento esportivo de alto nível.

Conclusão

Portanto, o estudo destaca a complexidade do desenvolvimento de talentos no futebol italiano. Não se trata apenas de habilidade inata, mas também de uma interação complexa entre fatores ambientais, sociais e econômicos que moldam o curso das carreiras dos jogadores. Essas descobertas têm importantes implicações para os sistemas de identificação e desenvolvimento de talentos em todo o mundo do futebol. Isso, deixa claro também a necessidade de abordagens mais equitativas e inclusivas para garantir que todos os jovens jogadores tenham a oportunidade de alcançar seu pleno potencial no esporte.

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Carga de trabalho no futebol: carga interna e carga externa

Cargas de trabalho no futebol

A quantificação da carga de trabalho no futebol é um processo essencial para obtenção de resultados satisfatórios quando falamos da performance dos atletas. Nos últimos anos, diferentes ferramentas vêm sendo desenvolvidas pela comunidade cientifica e por profissionais ligados ao futebol para auxiliar neste processo. As ferramentas de quantificação são divididas em duas esferas: instrumentos de carga interna e de carga externa.

Portanto, discutiremos os conceitos atrelados a esses tipos de ferramentas, além das diferenças na interpretação dos dados no cotidiano dos fisiologistas, preparadores físicos e treinadores.

Cargas Externas no futebol

Primeiramente, o conceito de carga externa atrelado ao futebol significa a quanto de treinamento realizamos, tanto do ponto de vista de volume (quantidade) e de intensidade (qualidade). Usamos diferentes ferramentas para realizar esse processo.

A ferramenta mais utilizada para monitorar a carga externa é a minutagem de treinamento. Assim, conseguimos mensurar o volume total da sessão de treinamento realizada. Mas, utilizar apenas esse método traz algumas limitações, por exemplo: não fornecer informações relacionadas a intensidade do treinamento.

Algumas outras ferramentas foram desenvolvidas para auxiliar nesse processo de monitoramento, como é o caso do GPS e acelerômetros.

GPS’s e acelerômetros

Os GPS’s são ferramentas que, inicialmente, foram desenvolvidas para serem utilizadas no ambiente bélico. Posteriormente, foram adaptados para o nosso cotidiano e para o futebol. Em suma, os aparelhos de GPS possibilitam, através da comunicação entre os dispositivos portado pelo indivíduo, e os satélites localizados na órbita da terra, informações de geolocalização. Com isso, eles transferem essas informações para coordenadas cartesianas e podemos inferir o quanto um corpo se deslocou no espaço, isso possibilita quantificar as distâncias totais percorridas. Portanto na imagem abaixo podemos observar um dispositivo sendo instalado na vestimenta de um atleta.

No futebol, os dados fornecidos pelos aparelhos de GPS passaram a ser mais frequentes na década de 90, aperfeiçoados por diferentes empresas ao longo dos anos. Além dos GPS’s, inserimos outros dispositivos nos aparelhos portados pelos jogadores, como os acelerômetros, giroscópios e magnetômetros. Eles fornecem uma infinidade de variáveis (distâncias percorridas em diferentes velocidades, acelerações, desacelerações, impactos, saltos, custo energético, entre outras).

Essas microtecnologias proporcionaram caracterizar as demandas físicas do jogo de futebol, facilitando o trabalho dos profissionais. Assim, as ações realizadas (tanto volume quanto intensidade) chegam em tempo real para os profissionais, sendo possível intervir nas sessões de treinamento caso ocorra um excesso ou déficit da carga de trabalho no futebol. Além disso, é importante saber como os organismos dos atletas reagem às cargas de trabalho.

Cargas internas no futebol

Além disso, podemos definir a carga interna como a resposta do organismo aos estímulos realizados (carga externa) durante o treinamento. Ainda nesse sentido, para quantificação utilizamos uma infinidade de ferramentas (escala de percepção de esforço, questionários psicométricos, frequência cardíaca, marcadores bioquímicos e termografia). Segundo um estudo cientifico publicado em 2016, os autores indicaram que a principal variável utilizada para quantificar e monitorar a carga interna em clubes de futebol é a percepção de esforço (PSE). Portanto, nesse texto daremos uma ênfase para o PSE.

Percepção de Esforço (PSE)

A PSE é uma ferramenta de fácil aplicação, validada cientificamente e que fornece informações relevantes para os treinadores. A escala mais utilizada no âmbito do futebol é a CR-10 de Borg, a qual utilizamos o método de Foster para quantificar a carga de treino no futebol (training load). Dessa forma, podemos realizar o cálculo do produto entre o valor de PSE da sessão e o volume da sessão (minutos). Esse método baseia-se na ideia de que as respostas fisiológicas são acompanhadas de respostas perceptivas. Em outras palavras, se a PSE da sessão for 5 e a duração for 70 minutos, a carga de trabalho é de 350 unidades arbitrárias. Abaixo podemos observar uma tabela com a carga de treino durante a semana e, a seguir, a imagem da escala adaptada de Borg.

Fonte: Criado pelo autor.
Imagem criada pelo autor

Além da PSE, podemos utilizar outras ferramentas. Entretanto, algumas delas necessitam de aparelhos mais sofisticados, como é o caso da frequência cardíaca. Essa ferramenta necessita de frequencímetros e receptores. Desse modo, ao utilizar esses aparelhos é possível observar em qual faixa de intensidade os indivíduos estão trabalhando de forma individualizada. Outro aparelho que comumente vem sendo utilizado são as câmeras termográficas. Elas possibilitam observar áreas do corpo que estão sob maior nível de estresse.

Por fim, no cotidiano dos preparadores físicos e fisiologistas o ideal é a utilização de parâmetros referentes à carga interna e externa. Assim, as informações são complementares e isso auxilia a tomada de decisão dos profissionais.

Fontes e Referências

https://journals.humankinetics.com/view/journals/ijspp/11/5/article-p587.xml

Contato do autor:
E-mail: diegoaugustoufs@gmail.com
Instagram: @augustsdiego

Veja um episódio do Podcast sobre o assunto:

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Como desenvolver jogadores criativos?

A criatividade é uma palavra recorrente no futebol e muitas vezes está relacionada ao ataque, com jogadas plásticas e gols bonitos. Jogadores criativos embelezam o esporte. Mas afinal, existe uma maneira de desenvolver jogadores criativos? Essa pergunta nos leva a outro questionamento: a criatividade é inata ou adquirida? Primeiramente, para responder essas perguntas é preciso entender o que é criatividade.

O que é criatividade?

Pode-se compreender a criatividade como a capacidade de gerar respostas inesperadas para uma situação-problema. Assim, jogadores criativos são aqueles que conseguem ter uma tomada de decisão surpreendente e efetiva. Mas como tomar decisões mais efetivas no campo de jogo?

Uma tomada de decisão efetiva parte de alguns pontos básicos: analisar a situação, decidir uma ação e executá-la. Em outras palavras, mais precisamente nas palavras do treinador Jorge Jesus:

“A primeira qualidade do jogador é saber pensar o jogo. A segunda é saber decidir. E, só na terceira, vem a execução. Se não faz bem a primeira e a segunda, não é Jesus que vai te fazer executar. Primeiro tem que pensar o jogo, entender o jogo. Depois tem que saber decidir em quem passar. E depois é que vem a execução”.

A boa tomada de decisão refere-se à escolha de uma ação técnica/tática que seja benéfica para o time. De modo similar ao que falou Jorge Jesus, Vanderlei Luxemburgo criou polêmica ao dizer: “Eu não posso entrar em campo e decidir por eles”, referindo-se aos jogadores. Ambas as falas revelam a autonomia que jogadores tem em campo para tomar determinadas decisões.

A criatividade na tomada de decisão

Conforme dito anteriormente, a criatividade refere-se à capacidade de resolução de problemas através de respostas inesperadas. No futebol é comum que gestos técnicos como o drible, passes que “quebram” linhas, fintas que confundam a marcação e finalizações acrobáticas sejam consideradas ações criativas. Nesse sentido, existe uma tendência em classificar mais ações ofensivas do que defensivas como criativas.

Relacionando a tomada de decisão e a criatividade, podemos compreender que, para tomar uma decisão criativa, é necessário pensar de maneira divergente. Durante todo o tempo de jogo, inúmeras situações forçam os jogadores a decidirem sobre várias opções disponíveis. Ou seja, existem milhares de oportunidades de tomar uma decisão criativa dentro de uma partida. Porém, como treinar para tomar uma decisão inesperada?

Como desenvolver jogadores criativos?

A criatividade, para muitos, é algo inato. Entretanto, a literatura sobre o tema revela que a criatividade pode ser, sim, desenvolvida. Segundo o conceito trazido neste texto, a criatividade é uma ação que busca respostas incomuns. Em outras palavras, um atleta pode aprender a avaliar rapidamente as circunstâncias e tomar uma decisão menos óbvia. Quanto mais conhecimento de jogo (processual, pelo menos) e velocidade de raciocínio o jogador possuir, mais opções de ação ele terá.

Outro aspecto importante que devemos considerar é a capacidade de percepção do jogador. Durante a partida, inúmeros estímulos estão presentes disputando a atenção do atleta, por exemplo: a bola, os jogadores do próprio time, os adversários, as vozes do técnico e assim por diante. Diante desses estímulos o jogador pode estar com o foco de atenção amplo ou estreito, observando muitos ou poucos indicadores em simultâneo. Então, não basta ter conhecimento de jogo e rapidez na decisão se não houver uma seleção adequada dos estímulos importantes naquele momento.

Desenvolvendo o conhecimento de jogo

Para desenvolver a velocidade na tomada de decisão são necessários treinamentos com algumas especificidades, bem como que, para desenvolver o conhecimento de jogo é necessário treinamento. A diferença, todavia, é na forma de condução dos treinamentos. Alguns treinadores comandam treinos onde eles apenas ordenam os jogadores a executar ações ou cumprir objetivos. Faltando, assim, explicação aos jogadores sobre o treinamento e suas funções.

De maneira análoga, existem treinadores que explicam demais o treino. Como resultado, em ambas situações mencionadas, os atletas deixam de pensar o jogo por conta própria. Outro problema comum são os treinadores que “narram” o jogo, dizendo as ações que cada jogador com a bola tem que fazer. Isso condiciona os jogadores a serem meros repetidores.

Diante disso, pode-se compreender que, para terem expertise (especialidade) no futebol, os jogadores têm de ser ensinados a avaliar o contexto e escolher suas ações. Isso, por sua vez, se dá através do ensino tático, ressaltando a importância de uma boa tomada de decisão. Entretanto, a decisão criativa nem sempre condiz com as ideias do modelo de jogo. Em alguns momentos os atletas esperam que a jogada tenha um desfecho, porém o jogador criativo faz algo diferente. Por isso é preciso aprender a pensar o jogo, ratificando as palavras de Jorge Jesus.

O treinador e os jogadores criativos

Durante os treinamentos é essencial que o treinador explique algumas funções da atividade, bem como os objetivos, porém deixe algumas informações em aberto. Desse modo, os jogadores terão de pensar em como agir para chegar ao objetivo, desenvolvendo estratégias e exercitando o pensamento crítico. Algo similar ao que o treinador José Mourinho desenvolveu e pode ser melhor compreendido no livro “Mourinho: a descoberta guiada”.

Em conclusão, podemos indicar que o desenvolvimento da criatividade passa por uma ampliação da expertise do jogador, fornecendo-lhe maior capacidade de resposta aos problemas de jogo. Ou seja, quanto maior capacidade de resposta, menos obvio será seu comportamento e mais criativa poderá ser sua ação em campo.

Confira abaixo um episódio em nosso Podcast sobre o assunto:

Contato do autor
Instagram: @28padilha
E-mail: matheuspadilhaar@gmail.com

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Como são as consultorias individuais de Análise tática no Futebol?

O que é consultoria?

Atualmente há um crescimento no setor de análise técnico-tática no futebol que busca olhar cada vez mais para o próprio jogador. Isso ocorre devido a inviabilidade da maioria dos clubes em disponibilizar um profissional para ser responsável por cada um de seus atletas. E esta é a carência que as consultorias táticas individuais buscam explorar, fornecendo análises mais precisas e específicas aos seus clientes.

Durante as consultorias, o jogador é exposto aos seus comportamentos técnico-táticos apresentados na última partida e também às informações pormenorizadas da forma de jogar do próximo adversário. Essa análise acerca do próximo adversário é realizada em 3 diferentes escalas:

  • Coletiva, para que o jogador conheça como a equipe adversária se comporta de forma geral;
  • Grupal, para reconhecer os comportamentos dentro de sua zona de atuação;
  • Individual, com informações sobre seus principais enfrentamentos durante a partida.
Fonte: criado pelo autor

Dito isto, as consultorias buscam gerar reflexões no jogador, através do entendimento de suas ações realizadas de forma positiva, ou onde há a possibilidade de melhora. Essa busca por reflexão fica mais evidente pela abordagem realizada, ao partir do pressuposto que não há verdade absoluta em um esporte tão complexo como o futebol.

Quais abordagens usar na consultoria?

É importante destacar que há diferentes abordagens em uma intervenção na consultoria técnico-tática. Tanto devido à faixa-etária do jogador, como também aos minutos em que esteve em campo. Os jogadores que atuam menos, por exemplo, para além das análises próprias, são expostos a análises de jogadores referência na sua função. Enquanto que os jogadores mais novos recebem material de acordo com sua faixa-etária, sem deixar de lado onde encontram-se em seu desenvolvimento cognitivo.

Cabe destacar que um dos principais objetivos da consultoria é gerar a reflexão nos jogadores acerca de seus comportamentos em campo. Uma vez que a reflexão é considerada uma aprendizagem ativa e responsável por uma das formas mais eficientes de aprender, onde o nível de aprendizagem chega a 70%. Ou seja, muito mais eficaz do que as abordagens que partem de uma imposição de ideais, “únicas e verdadeiras”, sem fomentar a participação do próprio jogador.

As consultorias individuais têm relação com o modelo de jogo da equipe?

É fundamental deixar claro que as consultorias trabalham em conjunto com a comissão técnica. Seu objetivo está na melhora do indivíduo dentro do contexto ao qual está inserido.

Na sequência do texto abordaremos 2 pontos fundamentais para a análise técnico-tática individual: 1) o processo de tomada de decisão; e 2) a busca por otimizar os movimentos.

Afinal, como já mencionado em outros momentos, o futebol é um jogo de gestão de espaço, e por consequência tempo. Então nada mais óbvio que buscar melhor reconhecer esse espaço e como se colocar nele de forma a economizar tempo para obter vantagens sobre o adversário.

Assim, tanto a melhora na tomada de decisão, quanto a otimização dos movimentos, colaboram para que a ação seja realizada em menor tempo.

Como inserir a tomada de decisão na análise técnico-tática?

Na literatura sobre futebol, frequentemente é afirmado que durante os 90 minutos de um jogo, os jogadores que atuam no topo do alto rendimento, tomam cerca de 2.400 decisões. Isto significa que são aproximadamente uma decisão a cada 2,25 segundos. Com base nisso, fica evidente a necessidade de melhorar a capacidade dos jogadores em tomar decisões, não é mesmo?

Então, a partir de um dos modelos do processo de tomada de decisão, o modelo pendular do Prof. Dr. Pablo Juan Greco (imagem abaixo), notamos dois fatores fundamentais para o processo e que são pilares da consultoria: a percepção e o conhecimento tático declarativo.





Fonte: Adaptado de estudos de Pablo Greco

Percepção

Em relação às formas de percepção, a visual assume grande importância, tendo em vista que são representativas na extração de informações do campo de jogo, e que sustentam a tomada de decisão. Portanto, a dimensão visual é fundamental para o rendimento dos jogadores para mapeamento do espaço, as chamadas “quebras de pescoço”, com intuito de retirar informações do ambiente de jogo que se encontram fora de seu campo visual.

Conhecimento declarativo

O conhecimento declarativo, por sua vez, segundo Júlio Garganta, se refere ao “saber o que fazer”, sendo quando, como o próprio nome diz, o jogador é capaz de declarar o conhecimento. Este tipo de conhecimento eleva a qualidade da tomada de decisão dos jogadores, aumentando assim a eficiência de suas decisões.

Logo, é por conta disso que a consultoria busca gerar reflexões no jogador. Este é o objetivo a ser atingido ao partir da não-existência de uma verdade absoluta, instigando o jogador a refletir sobre novas possibilidades de solução, a fim de desenvolver seu pensamento crítico e o conhecimento acerca do jogo. Isto é, desenvolver seu conhecimento tático declarativo.

Como a otimização dos movimentos contribui na análise individual?

Para além do processo de tomada de decisão, busca-se também otimizar os movimentos do jogador. Isto é, fazer com que o atleta realize menos movimentos para atingir seus objetivos, solucionando os vários problemas expostos pelo jogo mais rapidamente.

Dessa forma, vamos analisar 2 dos pontos que auxiliam a otimização dos movimentos: o centro de gravidade e a colocação dos apoios.

Centro de gravidade

A definição que a Prof. Dra. Adriana Marques Toigo traz para o centro de gravidade, em termos biomecânicos, é que ele representa um ponto matematicamente calculado ao redor do qual a massa do corpo está igualmente distribuída em todas as direções.

De forma mais simples e direta, quando um treinador diz para “abaixar o centro de gravidade”, se refere a flexionar os joelhos e inclinar o tronco levemente para frente. Aliás, você provavelmente já ouviu falar que algumas das qualidades do Lionel Messi são devidas ao seu baixo centro de gravidade, não é verdade? Então, em uma análise mais superficial, é possível dizer que sua agilidade para mudar de direção, e a capacidade de se manter em pé mesmo pressionado, são também potencializadas por seu baixo centro de gravidade, neste caso devido à baixa estatura (1,69m).

Portanto, a importância do centro de gravidade consiste em: quando mais baixo, tornar a ação ou reação do jogador mais rápida. Tendo em vista a maior agilidade conquistada ao aumentar o equilíbrio.

Apoios

Para os jogadores de futebol, os apoios são os seus pés, uma vez que os jogadores passam a maior parte do tempo em pé. Desse modo, em relação aos apoios, há vários pontos específicos aos objetivos da ação. Por exemplo, o distanciamento e a colocação dos apoios variam conforme o que se busca naquele momento. Assim, os apoios são específicos para cada situação, seja ofensiva ou defensiva, mas sem se esquecer do quão único é cada momento e da quantidade de formas diferentes para se solucionar cada situação-problema.

Enfim, as consultorias, como mencionado no início do texto, chegam para sanar uma carência. E, se tratando de um esporte em constante evolução, extremamente complexo e tão competitivo como o Futebol, com cada vez menos espaço-tempo para decidir e agir, devem em pouco tempo se estabelecer como uma norma no meio futebolístico.

Links e referências e páginas que fazem análise

Contato do Autor: @ralazzarottop

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Avaliações Físicas no Futebol

Sempre que iniciamos uma temporada em uma equipe de futebol (seja ela de base ou profissional), um dos primeiros passos a serem planejados pelos preparadores físicos, e que pautará o restante do trabalho dos mesmos, são as Avalições Físicas no Futebol. Mas, quando pensamos em Avaliações Físicas, é necessário que se entenda algumas questões como: Por que avaliar? Quando avaliar? O que avaliar? Como avaliar?

Assim, neste texto, tentaremos elucidar essas e outras questões para que você leitor, ao iniciar uma pré-temporada em um clube de futebol, saiba como desenhar um programa de Avalições Físicas para a sua equipe. Então vamos ao texto!

Por que realizar Avaliações Físicas no Futebol?

As Avaliações Físicas no Futebol são importantes para identificar o padrão físico onde a equipe se encontra. Além disso, nos permitem perceber as características individuais dos jogadores (quem é mais rápido, mais forte, mais resistente, etc.) e verificar possíveis indicadores físicos de lesão, como, por exemplo, assimetrias musculares.

Com os dados encontrados, poderemos prescrever treinamentos em busca de uma melhora do padrão físico geral da equipe, mas também será possível (e talvez o mais importante) segmentar os treinamentos de acordo com a necessidade de cada posição e de acordo com a necessidade individual dos atletas.

Nesse contexto, os preparadores físicos poderão ser mais assertivos no planejamento e aplicação dos treinamentos, a fim de que se alcance um estado de forma “ótimo”, seja coletivo ou individual, além de permitir potencializar as principais características físicas dos seus atletas.

Quando devem ser realizadas as Avaliações Físicas no Futebol?

Como citamos no texto, o início da pré-temporada é, tradicionalmente, marcado pela realização das Avaliações Físicas no Futebol. Onde os dados obtidos mostrarão o estado de forma da equipe, norteando assim o caminho a seguir do ponto de vista físico. Mas, uma vez que os dados sejam interpretados e a pré-temporada seja desenhada, quando devemos voltar a aplicar as Avaliações Físicas para continuar norteando o trabalho físico?

Para responder a essa questão, é necessário que cada preparador físico entenda o contexto em que se encontra. Isso porque quando falamos de categorias de base, a resposta provavelmente será uma e quando falamos de futebol profissional a resposta, provavelmente, será outra.

Nas categorias de base, onde o calendário de jogos é menos denso, talvez seja possível estabelecer datas para a realização de novas Avaliações Físicas, a fim de ter um acompanhamento da evolução física coletiva e individual da equipe. Por outro lado, no futebol profissional, esses períodos para reavaliação do grupo de atletas são mais difíceis de serem cumpridos. Além do calendário de jogos muito denso (pensando em um clube de Série A), existem outros fatores que pautam a realização ou não desses períodos de reavaliação física, que são, por exemplo, os resultados de campo.

Assim, não existe um período exato para a reavaliação física dos atletas, porém os períodos geralmente oscilam entre 8 e 12 semanas para testes físicos de campo e 30 dias para avaliações antropométricas.

O que se avalia no futebol?

Essa talvez seja a pergunta mais importante que deverá ser respondida antes de realizar as Avaliações Físicas no Futebol. Pois se criarmos um programa de avaliações sem entender o que iremos avaliar, apenas com o intuito de coletar dados, não fará o menor sentido realizá-las, porque simplesmente estaremos perdendo um precioso tempo de treinamento.

Cada teste selecionado para as avaliações físicas, deverá ter um porquê e um para quê. O dado obtido deverá ter um significado para o preparador físico e ser interpretado com o propósito de estabelecer um critério de referência na hora de prescrever os treinamentos.

Outro ponto muito importante na hora de decidir o que será avaliado, é que o preparador físico entenda o contexto onde o seu clube está inserido e as condições estruturais e humanas disponíveis nesse contexto. Ou seja, não deveremos aplicar testes para os quais não dispomos do material necessário para realizá-los, pois ferramentas improvisadas irão gerar dados de pouca fiabilidade. E, se não haver profissionais qualificados para interpretar os dados obtidos, esses resultados terão pouca ou nenhuma relevância dentro desse contexto.

Assim, antes de iniciar a aplicação de um programa de Avaliações Físicas no Futebol é necessário responder algumas questões como: quais as ferramentas que o clube oferece? Qual a formação e capacitação dos profissionais para interpretarem os dados obtidos? E o que farei com os resultados? Se conseguirmos esquematizar um programa respondendo a essas três perguntas, com certeza a possibilidade de estabelecer critérios para desenhar sessões de treinamentos mais ajustadas às necessidades da equipe e de cada atleta, será muito maior.

Quais testes físicos selecionar nas avaliações?

Conforme dito anteriormente, a seleção dos testes dependerá de alguns fatores. Com isso, a seguir destacaremos os principais testes utilizados em programas de Avaliações Físicas no Futebol, sem entrar no mérito se são úteis ou não, pois isso será estabelecido por cada preparador físico de acordo com as suas necessidades e a realidade do seu clube.

Testes Físicos no Futebol

1) Yo-Yo Test – Consiste em correr 40 metros (20 metros ida e 20 metros volta) em velocidades crescentes intercalando com pequenas pausas. Teste para avaliar a potência aeróbica.

2) Tapete de contato – chamado de ergo-jump, está constituído por um tapete com sensores de pressão conectados a um processador, que possui um programa informático que permite calcular a altura do salto, sendo que os saltos mais comumente avaliados são o Squat Jump e o Counter Movement Jump. Testes para avaliar a força explosiva e/ou potência.

3) Teste de velocidade 10, 20, 30 e 40 metros – Pode ser realizada com ou sem mudança de direção, sendo comumente utilizada em linha reta. Marca o tempo que o jogador leva para completar a prova e, assim, determinar quem é o mais veloz.

4) Teste de Agilidade – Existem vários testes, onde um dos mais comuns é o teste de Illinois, usado para determinar a capacidade de acelerar, desacelerar e mudar de direção em diferentes ângulos.

5) Rast test – Consiste em realizar 6 corridas máximas de 35 metros separados por intervalos de 10 segundos, sendo uma boa ferramenta para avaliar a potência anaeróbica.

6) Avaliação Antropométrica – Medição simples, barata e não invasiva que auxilia na avaliação do estado nutricional do jogador, sendo a técnica mais utilizada a de dobras cutâneas que serve para medir a gordura subcutânea.

7) Teste Isocinético – Máquina onde o indivíduo realiza um esforço muscular máximo ou submáximo que se acomoda à resistência do aparelho. A principal característica é a de possuir velocidade angular constante, permitindo realizar movimento na sua amplitude articular, servindo para identificar desequilíbrios musculares, mas devido ao seu alto custo, para muitos clubes, não é viável.

8) Teste FMS – Bateria de testes baseada na competência durante o movimento ativo, fornecendo uma medida clinicamente interpretável da “qualidade do movimento”. Serve para encontrar limitações e/ou assimetrias musculares, sendo uma opção mais em conta para clubes com recursos limitados.

9) 30-15 IFT – É um teste intermitente, onde os atletas correm 30 segundos e recuperam durante 15 segundos. Projetado para obter frequência cardíaca e VO2 máximos, mas também fornece medidas de reserva de velocidade anaeróbica, capacidade de recuperação entre esforços, aceleração, desaceleração e habilidades de mudança de direção.

Link de testes na seleção brasileira.

O que aprendemos sobre as Avaliações Físicas?

Em resumo, o que podemos perceber sobre as Avaliações Físicas no Futebol é que não existe certo ou errado em relação aos testes físicos que deverão ser escolhidos. É necessário ter clareza sobre o que se quer avaliar, quais os testes que se adaptam ao contexto estrutural e humano onde estou inserido, e como serão interpretados e aplicados os dados coletados.

Por fim, vale destacar que todos os testes escolhidos deverão ser aplicados, de preferência, sempre no mesmo local e sob as mesmas condições, ou seja, obedecendo sempre a um mesmo padrão. Isso fará com que os resultados sejam mais fidedignos e com maior fiabilidade, para que assim possam ser realizadas comparações entre os diferentes períodos das avaliações físicas.

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Os jogos reduzidos no futebol e a preparação física

O treinamento no futebol vem evoluindo e caminhando cada vez mais ao encontro da especificidade do jogo. Nesse sentido, os jogos reduzidos no futebol vêm sendo amplamente utilizados para aproximação entre o jogo e o treino.

Com base nisso, estudos já demostraram o aumento do desempenho físico e técnico em equipes que utilizam este método durante suas sessões de treinamento. Contudo, precisamos ter atenção ao caráter estrutural dos jogos reduzidos no futebol. Isso porque, existem diversos fatores que podem influenciar na resposta da demanda física e fisiológica dos atletas durante a realização das atividades. Por exemplo: a dimensão do campo, as regras do jogo, o incentivo verbal por parte da comissão, a duração do trabalho, a composição das equipes, o número de jogadores, entre outros fatores.

Relação entre número de jogadores e a demanda física e fisiológica.

Podemos dividir os jogos reduzidos no futebol em três grupos:

  • Pequenos jogos (1×1, 2×2, 3×3, 4×4);
  • Médios jogos (5×5, 6×6, 7×7, 8×8);
  • Grandes jogos (9×9, 10×10).

Diante disso, os jogos menores apresentam mais respostas fisiológicas (maior carga interna), quando comparado aos grandes jogos. Em outras palavras, valores de concentração de lactato, frequência cardíaca (FC) e PSE são mais elevados neste formato de jogo.

Nessa mesma linha, devido ao fato do trabalho ser realizado em alta frequência cardíaca, o formato de pequenos jogos é uma boa alternativa para o desenvolvimento da capacidade aeróbia dos atletas. Entretanto, jogos no formato de 4×4+goleiro também seriam uma boa alternativa para o treinamento da potência muscular, pois o contato constante com o centro do jogo e as poucas alternativas de passes, obrigam os jogadores a realizarem um grande número de acelerações e desacelerações.

Manipulação das dimensões do campo

As diferentes dimensões de campos nos jogos reduzidos impactam em mudanças nas movimentações dos atletas durante a atividade. As principais mudanças são em relação à velocidade máxima alcançada, distância total percorrida e distância percorrida em alta intensidade. Portanto, há uma relação linear entre o aumento do campo de jogo e o aumento das variáveis citadas.

Esta relação pode ser explicada pelo simples fato que, em campos com dimensões maiores, existe mais espaço para que os atletas percorram grandes distâncias e consigam atingir velocidades máximas. Assim, uma variável muito importante é a área ocupada por cada jogador (m²/jogador). Pois, com a manipulação desta variável, é possível trazer características presentes nos médios e grandes jogos para os pequenos jogos, e vice-versa.

Contudo, para se trabalhar com jogos reduzidos no futebol não basta elaborar exercícios visando apenas uma resposta fisiológica, desconsiderando as demais vertentes presentes no jogo, como a tática, por exemplo. Desse modo, a composição das equipes durante a realização dos jogos exerce uma grande contribuição para unificar estas vertentes, a fim de otimizar o desempenho da equipe durante as sessões de treinamento.

A composição das equipes nos jogos reduzidos no futebol

Como já foi visto em textos anteriores, diferentes posições requerem demandas físicas especificas durante a partida. Dessa forma, é necessário saber se os jogos reduzidos demandam comportamentos específicos em relação ao estatuto posicional durante suas realizações.

Nessa perspectiva, pesquisadores brasileiros, em estudo publicado em 2017, quantificaram a demanda física em função do estatuto posicional em pequenos jogos de futebol. Os resultados demonstraram que os pequenos jogos refletem a especificidade do jogar em função do estatuto posicional em formatos de jogos de 3×3, onde cada equipe era composta por um defensor, um meio campista e um atacante. Acreditamos que este modelo permita uma correlação com as demandas físicas específicas solicitadas aos jogadores pelo jogo. Dessa forma, a composição das equipes nos pequenos jogos demonstra ser uma variável de suma importância para o condicionamento físico de jogadores. No entanto, para atingir maiores níveis de desempenho é necessária a manipulação de outras duas variáveis, são elas: implementação de regras e o incentivo verbal.

Influência da modificação da regra e incentivo verbal nos jogos reduzidos

Desde os primórdios do jogo de futebol, a regra do jogo exerce uma influência direta sobre os comportamentos dos jogadores durante uma partida. Como exemplo, podemos citar o surgimento da regra do impedimento. Nesse sentido, alguns estudos se propuseram a analisar a influência da modificação das regras durante a realização dos jogos em campo reduzido. Algumas variações analisadas foram:

  • Número de toques na bola;
  • 3×3 e 4×4 para: jogo exclusivamente ofensivo, defensivo e misto;
  • Uso da marcação individual em fase defensiva.

Os autores relataram que, a manipulação da regra durante os jogos reduzidos, resulta em mudanças na intensidade dos jogos e nas ações técnicas e táticas. Por exemplo, os jogos sem restrição de números de toques na bola, estimulam os jogadores a realizarem mais duelos. Preservando, assim, a eficiência das ações técnicas. Por outro lado, essa manipulação da regra diminui o número de corridas em alta intensidade e sprints. Em contrapartida, a utilização da marcação individual aumenta cerca de 4,5% a FC durante a realização da atividade. O encorajamento verbal dos treinadores durante a realização dos jogos reduzidos também exerce uma influência no aumento da intensidade do jogo.

Modificações nos jogos reduzidos

Portanto, esses são apenas alguns exemplos de manipulações que podem ser feitas. Porém, podemos aplicar uma infinidade de modificações durante a realização dos jogos em campo reduzido, a fim de obter uma maior resposta física e fisiológica por parte dos atletas. A presença dos goleiros, presença de mini-gols, jogos contínuos e intermitentes são outros exemplos de manipulações nos mini-jogos.

Assim, conseguimos constatar que existem várias manipulações referentes a estrutura dos jogos em campo reduzidos, acarretando diferentes respostas físicas e fisiológicas. Percebemos que, quanto mais o jogo se aproxima do formato oficial, maiores serão as movimentações e menor será a intensidade fisiológica presente na atividade.

Treinamento aeróbio por meio dos jogos reduzidos

A capacidade aeróbia se resume basicamente em captar, transportar e metabolizar o oxigênio de modo a fornecer energia ao organismo, e superar a fadiga em determinado exercício ou atividade física. O trabalho aeróbio promove uma melhora do sistema respiratório e cardiovascular. Assim, devemos priorizar a montagem de exercícios que nos possibilite manter os atletas sobre frequência cardíaca mais elevadas durante maior tempo.

Nesse sentido, jogos reduzidos de 4 contra 4; e 5 contra 5 jogadores em uma área em torno de 150m² por jogador, parece ser uma boa opção para o treinamento aeróbio. Isso porque o contato constante com o centro do jogo, ou seja, com o local próximo à bola, permitirá que os jogadores realizem a atividade com maior intensidade física e fisiológica. 

Outros diferentes métodos de treinamento são também aplicado para o desenvolvimento do metabolismo aeróbio. Como exemplo, um estudo realizado pelos pesquisadores Casamichana, Castellano e Dallal em 2013, afirmou que os jogos contínuos seriam mais eficientes para esta finalidade, dado que, devido à duração prolongada, o desgaste físico, frequência cardíaca e Percepção Subjetiva de Esforço (PSE) demonstrariam valores mais elevados.

Além do formato dos jogos e dos métodos de treinamento, ainda devemos considerar que as regras inclusas nos jogos reduzidos no futebol é outro fator relevante. A restrição do número de toques na bola, por exemplo, pode induzir a uma maior frequência cardíaca durante a realização da atividade; assim como a restrição da presença de goleiros e da utilização de mini-gols.

Treinamento da potência através dos jogos reduzidos

A potência é a capacidade do sistema neuromuscular de alcançar altos níveis de força no menor tempo possível. Sendo assim, para conseguirmos desenvolver esta capacidade através dos jogos reduzidos no futebol, devemos dar ênfase em comportamentos que exijam maior tensão muscular durante sua realização. Por exemplo: mudanças de direções, acelerações e frenagens.

Tendo isso em vista, formatos de jogos reduzidos menores são mais indicados para o desenvolvimento da potência. Como os jogos de 2×2, 3×3 até 4×4 com menos de 140 metros quadrados por jogador. Além disto, deve-se priorizar jogos descontínuos, ou seja, menor tempo de atividade e um maior intervalo entre as séries de exercícios.

Utilizar a presença de mini gols, ou até mesmo de goleiros, como ferramentas para estimular o aumento do número de ações de força/tensão durante a atividade é uma opção. Pois, o objetivo de atacar e defender uma meta, motivam a execução destes comportamentos.

Treinamento da velocidade através dos jogos reduzidos

ara treinar velocidade por meio dos jogos reduzidos, devemos nos ater a uma variável fundamental, a metragem quadrada por jogador. Sabemos que nos grandes jogos a intensidade fisiológica é menor em comparação aos pequenos jogos. Assim sendo, os médios e grandes jogos tornam-se alternativas interessantes para podermos desenvolver esta capacidade. Em 2016 pesquisadores europeus constataram que, grandes jogos de cerca de 8 contra 8 mais goleiros, proporcionaram aos atletas realizarem mais sprints durante a realização da atividade.

As medidas oficiais de um campo de futebol profissional padronizadas pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) são de 105mX68m, isto resulta em uma área total de 324m² coberta por cada jogador. Portanto, para enfatizarmos a velocidade nos jogos reduzidos, devemos elaborar trabalhos com uma área coberta maior que 150m² por jogador. Isso porque deve haver espaço para atingir maiores velocidades no jogo.

Ainda podemos utilizar a presença de goleiros nestas atividades, a montagem de campos verticais, e trabalhos envolvendo jogos de transição, ultrapassagem e progressões.             

Afinal, como devemos treinar os jogos reduzidos?

Por fim, estes dois textos nos mostram o quão complexo é o método de treinamento por meio dos jogos reduzidos no futebol. Conhecemos as diversas variáveis envolvidas nesta metodologia e como manipulá-las para direcionarmos o treinamento ao alvo desejado.

Com uma montagem adequada, considerando o número de jogadores, a metragem quadrada coberta por cada atleta, a densidade do trabalho, a montagem das equipes, e as regras inclusas no exercício; será mais fácil ser assertivo em suas sessões de treinamento.

É importante ressaltar que os jogos reduzidos, apesar de apresentarem uma ótima correlação com o jogo, não necessariamente são a única e exclusiva metodologia de treinamento. Ou seja, eles podem ser conjugados com trabalhos de caráter analítico.

Cabe a cada profissional extrair o melhor de cada ferramenta, adaptando-se à realidade em que está inserido, para assim, atingir os melhores resultados possíveis.

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Fontes e Referências

Futebol Sistêmico.

https://journals.lww.com/nsca-jscr/Fulltext/2012/04000/Effects_of_the_Number_of_Players_and_Game_Type.13.aspx

https://www.researchgate.net/publication/6373696_Factors_influencing_physiological_responses_to_small-sided_games

https://journals.lww.com/nsca-jscr/Fulltext/2014/12000/Small_Sided_Games_in_Team_Sports_Training__A_Brief.36.aspx

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Os dados e a análise de desempenho no futebol

O que é e como funciona a análise de desempenho no Futebol? O que faz o analista de desempenho? Como isto surgiu?

O que é análise de desempenho?

A análise de desempenho no futebol é um meio de conhecer melhor seu time e o seu adversário. Mas como fazer isso? Através do recolhimento de informações de treinos e jogos. E como recolho essas informações? Você pode usar softwares de última geração ou o bom e velho papel e caneta.

Falando em papel e caneta, você sabia que foi assim que iniciou a análise dos jogos? A princípio, ela surgiu na década de 50, quando um contador inglês chamado Charles Reep, apaixonado por futebol, decidiu colocar no papel as observações que já fazia sobre o jogo a mais de uma década. Ele verificou, por exemplo, que a maioria das jogadas de gol tinham no máximo 3 passes. Isso levou os clubes a adotarem o que chamamos hoje de jogo com bolas longas, ou seja, poucos passes e muita verticalidade.

Dessa forma, o que Charles Reep observava, atualmente é chamado de dados quantitativos. Existem também as análises qualitativas. Vamos entender o que são e quais suas diferenças?

Dados quantitativos

Quando falamos em dados quantitativos estamos tratando de números, ou seja, tudo aquilo que podemos quantificar, por exemplo: número de passes errados num jogo, quantas finalizações foram em gol e quantas foram para fora, quantas roubadas de bola o time “A” teve, entre outras.

Afinal, você com certeza já conhecia os dados quantitativos, porém pode ter ouvido falar deles como estatísticas ou scout. Pois bem, isso tudo significa a mesma coisa.

Dados qualitativos

Já os dados qualitativos não têm a ver com números, mas sim com observações. Por exemplo: sistema de jogo do adversário é o 1-4-4-2, a forma como eles atacam é através de bolas longas para os atacantes, eles defendem muito bem pelas laterais, entre outras.

Como você pôde perceber, a forma qualitativa não terá uma resposta concreta para todas as perguntas. Ela será subjetiva aos olhos de cada um. Portanto, é importante que o analista saiba o que o técnico quer saber e quais as informações lhes trarão maior vantagem durante uma partida.

Dessa forma tanto as informações quantitativas quanto qualitativas podem ser analisadas de forma direta ou indireta. Mas o que é isso? Direta significa que é feita durante a partida, de forma paralela com o jogo. Já a forma indireta quer dizer que é feita após o jogo, por meio de filmagens.

Funções do analista de desempenho

  • Planejamento de treinos: Sim, ele participa do planejamento, construção; e do treino (mediante filmagem e análise ou auxiliando o treinador no repasse de informações e feedbacks aos atletas);
  • Recolhimento de informações de treinos e jogos: Já imaginou ter que recolher todas as informações que existem dentro de um jogo? Pois é, seria impossível. Por isso você conversará com o técnico anteriormente e definirá o que será colhido de dados naquele momento;
  • Análise: Após recolher as informações é hora de analisá-las;
  • Repassar: Depois de ter analisado tudo é hora de filtrar o que realmente é importante e repassar isso à comissão técnica e jogadores.

Enfim, após transmitir as informações é hora de começar tudo de novo. Planejamento, recolha de dados, análise e repasse da informação. Ou seja, um ciclo que nunca terá fim. Afinal, o trabalho em um time de futebol nunca está completo. Sempre tem algo que o time pode melhorar. E o trabalho do analista é auxiliar nisto da melhor forma.

Análise de desempenho no futebol brasileiro

O analista de desempenho demorou para chegar ao Brasil. Entretanto, hoje ele é peça fundamental em qualquer time de futebol. Os grandes times já possuem uma equipe de análise, visto a quantidade e riqueza de informações que podem ser adquiridas.

Do mesmo modo, quem deseja iniciar nessa função precisa ter muito conhecimento sobre um tema principal: o FUTEBOL. Você deve saber de tática, técnica, momentos do jogo, sistemas utilizados, tomada de decisão, entre outras centenas de aspectos que o jogo possui.

No mundo atual a informação é poder. E no futebol não é diferente. Quem tem mais e melhores informações já sai na frente.

Contato do autor : @Christopher_Suhre

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Como melhorar a comunicação na carreira esportiva

A comunicação é uma habilidade fundamental em todas as áreas da vida e especialmente na carreira esportiva, onde uma colaboração eficaz pode influenciar diretamente o desempenho individual e coletivo. Neste texto, vamos explorar as diferentes formas de comunicação e sua relevância no contexto esportivo. Portanto, citaremos aqui quatro tipos de comunicação: verbal; não verbal; escrita e ativa; além de dicas para você melhorar sua comunicação no esporte.

1.Comunicação verbal

A comunicação verbal refere-se à troca de mensagens por meio de palavras faladas. No contexto esportivo, é essencial para transmitir instruções claras, estratégias de jogo e motivação. Vale ressaltar a importância da escolha de palavras, entonação e velocidade ao se comunicar com colegas de equipe, treinadores e demais membros da equipe.

Exemplo: Um capitão de equipe que usa palavras de encorajamento durante uma partida para manter a moral e motivar seus colegas.

2.Comunicação não verbal

A comunicação não verbal inclui gestos, expressões faciais, postura e outros sinais sem o uso de palavras. No esporte, os atletas precisam estar cientes de como sua linguagem corporal pode influenciar a percepção dos outros e como interpretar esses sinais.

Exemplo: Um jogador de futebol que utiliza gestos para coordenar movimentos com seus colegas durante uma partida.

3.Comunicação escrita

A comunicação escrita é frequentemente subestimada no esporte, mas é crucial para registrar estratégias, criar planejamentos táticos e manter uma comunicação formal. Destaque como e-mails, mensagens de texto e anotações são ferramentas valiosas para transmitir informações importantes.

Exemplo: Um treinador que fornece um plano de treinamento por escrito, detalhando metas e objetivos individuais para os atletas.

4.Escuta ativa

A escuta ativa é uma habilidade muitas vezes negligenciada. Envolve não apenas ouvir, mas compreender, interpretar e responder de maneira significativa. Explique como os atletas podem aprimorar essas habilidades para entender melhor as instruções dos treinadores e as necessidades dos colegas de equipe.

Exemplo: Um atleta que presta atenção às orientações do treinador durante uma reunião estratégica e faz perguntas para esclarecimento.

Dicas práticas para melhorar a compreensão

Abaixo você confere algumas dicas de como você pode desenvolver um treinamento para ser mais assertivo na sua comunicação além de ajudar seus atletas.

Por exemplo, incentive os atletas a participarem de workshops e treinamentos específicos para aprimorar suas habilidades de comunicação verbal e não verbal.

Busque desenvolver a prática de escuta ativa. Sugira atividades que promovam a escuta ativa, como simulações de situações de jogo em que a comunicação é crucial.

Dê feedback construtivo. Sempre estabeleça uma cultura de feedback construtivo, incentivando os atletas a compartilharem observações sobre a comunicação da equipe.

Além disso, é essencial desenvolver uma comunicação escrita eficiente. Realce a importância de ser claro e conciso na comunicação escrita, especialmente em mensagens formais, para evitar mal-entendidos.

Ao compreender e aprimorar essas diferentes formas de comunicação, os atletas podem fortalecer os laços dentro da equipe e melhorar o desempenho global, construindo uma base sólida para uma carreira esportiva bem-sucedida.

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Fernando Brancatti é preparador mental de atletas com especialidade em mentalidade e comportamento.

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