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Como neurocientista vem ajudando jogadores do Palmeiras

No mundo competitivo do futebol, a busca pela excelência vai além do treinamento físico e tático. Cada vez mais, clubes de ponta estão incorporando a neurociência em suas estratégias para maximizar o desempenho dos atletas e promover sua recuperação.

E para entender melhor como clubes de Futebol vêm implementando os recursos das neurociências, convidamos Luciane Moscaleski, neurocientista do Palmeiras, para uma conversa exclusiva sobre o papel da neurociência no futebol profissional. Luciane é graduada em Educação Física Licenciatura e Bacharelado na USCS e ex-atleta Profissional de Basquetebol. Atualmente, é Neurocientista da Sociedade Esportiva Palmeiras no futebol profissional; Doutoranda em Neurociência e Cognição no Centro de Matemática, Cognição e Computação da Universidade Federal do ABC (UFABC) e Pesquisadora do NeuroSports Lab na USP.

Divulgação: SE Palmeiras

Esta entrevista aconteceu em nosso canal do Youtube e destacou o impacto da neurociência no futebol profissional, mostrando como técnicas avançadas estão sendo utilizadas para maximizar o desempenho dos atletas.

O trabalho como neurocientista no futebol

Luciane Moscaleski: Minha jornada na neurociência começou com questionamentos durante minha época de atleta e, posteriormente, nos meus estudos em Educação Física. À medida que avancei na carreira acadêmica, aprofundei-me no campo da neurociência, especialmente durante meu doutorado na Universidade Federal do ABC, em parceria com a EEFE-USP (NeuroSports_Lab, nosso laboratório de pesquisa) e o Instituto Internacional de Neurociências (ISD). Com o apoio dos professores Dr. Alexandre Okano, Dr. Alexandre Moreira e Dr. Edgard Morya, contribuí para projetos importantes que me levaram ao Palmeiras, um clube pioneiro que se empenha em inovar a cada temporada.

E como exatamente a neurociência se aplica ao futebol?

A neurociência oferece uma compreensão mais profunda do funcionamento do cérebro humano e como ele influencia o desempenho físico e mental dos atletas. No Palmeiras, utilizamos técnicas como a estimulação transcraniana para auxiliar na recuperação pós-jogo dos jogadores. Essa técnica envolve a aplicação de pequenos estímulos elétricos no cérebro para facilitar a atividade neuronal e acelerar a recuperação.

Temos um protocolo validado e estabelecido que inclui sessões de estimulação transcraniana após jogos e treinos. Acompanhamos de perto os atletas para avaliar os efeitos e ajustar conforme necessário. Além disso, trabalhamos em conjunto com outras áreas do Núcleo de Saúde e Performance (NSP), como a área médica, fisiologia, nutrição e psicologia, para garantir uma abordagem holística e transdisciplinar. Essa é uma cultura da qual não abrimos mão. Assim como uma equipe de futebol não joga sozinha, o coordenador científico Daniel Gonçalves valoriza a inovação e defende sempre a colaboração.

O que os estudo vem mostrando?

Nossos estudos mostraram benefícios significativos, incluindo uma recuperação mais rápida do dano muscular e uma melhoria geral no estado físico e mental dos atletas. Isso se traduz em um desempenho mais consistente ao longo da temporada.

Acredito que estamos apenas arranhando a superfície do que a neurociência pode oferecer ao esporte. À medida que continuamos a entender melhor o cérebro humano e suas interações com o corpo e o ambiente, teremos ainda mais oportunidades de otimizar o desempenho atlético e promover o bem-estar dos atletas.

Divulgação: SE Palmeiras

Quais as regiões do cérebro são estimuladas e como é feita essa seleção por atleta?

A escolha das regiões do cérebro a serem estimuladas é uma etapa essencial, que requer precisão e cuidado, e é baseada em vários fatores. Primeiramente, consideramos os objetivos específicos do treinamento ou intervenção. Por exemplo, se desejamos melhorar a recuperação pós-jogo, focamos em áreas relacionadas à recuperação, que podem ajudar na regulação do sono ou redução da fadiga. Também levamos em consideração as características individuais de cada atleta e adaptamos a estimulação de acordo com o objetivo. Isso pode envolver desde medições da cabeça para posicionar corretamente os eletrodos até avaliações mais detalhadas da atividade cerebral prévia do atleta. O objetivo é personalizar ao máximo a intervenção para obter os melhores resultados.

Luciane também trabalha com atletas de Basquetebol.
Acervo Peixoto/ Jorge Bevilaqua

Como lidar com a fadiga mental dos atletas?

Esse ano estamos focados em monitorar esse processo. Sabemos que ao final do ano há um aumento na fadiga mental e social entre os atletas, o que é algo que acompanhamos de perto. Em relação às condutas específicas, ainda estamos desenvolvendo nossas estratégias. No entanto, é possível utilizar ferramentas como a eletroencefalografia para medir a atividade cerebral pós-jogo e até mesmo intervenções como a estimulação cerebral por corrente contínua para lidar com a fadiga mental. Estamos monitorando todas as sessões pós-jogo e buscando desenvolver protocolos eficazes ao longo do tempo.

Óculos de realidade virtual ou realidade aumentada para o treinamento dos atletas

Atualmente, não estamos utilizando esses recursos de forma ampla no futebol profissional. Sabemos que alguns clubes, como o Palmeiras, têm explorado essa tecnologia, principalmente com as categorias de base. No entanto, ainda não implementamos essas práticas em nosso clube. É uma área que estamos considerando para o futuro, pois reconhecemos o potencial dessas ferramentas para o desenvolvimento técnico e tático dos atletas.

Divulgação: SE Palmeiras

A visualização guiada pode ter esse poder de influenciar o cérebro dos atletas. Quando praticamos exercícios de visualização, estamos ativando regiões cerebrais relevantes para a execução das ações desejadas. Por exemplo, se um atleta imagina que está realizando determinado movimento ou tomada de decisão durante uma partida, ele está estimulando áreas específicas do cérebro associadas a essas ações. Isso pode ajudar na automatização desses processos e na melhoria do desempenho durante os jogos, ou seja, estamos trabalhando a rede neuronal responsável por determinada tomada de decisão.

Você pode acompanhar essa entrevista completa em nosso LABTALKS em vídeo:

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Estudo evidencia novidades sobre dor no joelho em adolescentes

Você já ouviu falar na dor no joelho durante a adolescência? Para muitos jovens, especialmente aqueles ativos em esportes, essa dor pode ser mais do que apenas um incômodo temporário. Pode ocasionar sofrimento e desinteresse pela prática esportiva; somando-se ainda, em muitos momentos, ao desconhecimento da causa que pode fazer com que pais e treinadores não compreendam o que está acontecendo.

Mas o que é, e por que essa dor acomete jovens? É importante compreendermos que essa condição é decorrência de uma síndrome que vem sendo investigada por médicos e cientistas do esporte há alguns anos, conhecida como a Síndrome de Osgood-Schlatter.

O Que é a Síndrome de Osgood-Schlatter?

A síndrome de Osgood-Schlatter pode afetar cerca de 10% dos adolescentes durante o período de crescimento, e é caracterizada por uma dor no joelho associada ao rápido crescimento ósseo e muscular que ocorre nessa fase da vida, geralmente por volta da puberdade. Além de causar desconforto significativo, especialmente durante atividades físicas como correr e pular.

Recentemente, em maio de 2024, um recente estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Aalborg, na Dinamarca, trouxe novas descobertas sobre a síndrome de Osgood-Schlatter, oferecendo esperança e novas perspectivas para médicos e profissionais da saúde.

Como foi o estudo?

O estudo, intitulado A comprehensive MRI investigation to identify potential biomarkers of Osgood Schlatter disease in adolescents: A cross sectional study comparing Osgood Schlatter disease with controls“, (Tradução: “Uma investigação abrangente de ressonância magnética para identificar potenciais biomarcadores da síndrome de Osgood Schlatter em adolescentes: um estudo transversal comparando a síndrome de Osgood Schlatter com controles”), foi publicado na revista científica Scandinavian Journal of Medicine and Science in Sports pelos pesquisadores L. B. Sørensen e S. Holdenn, do Departamento de Ciência e Tecnologia da Saúde da Universidade de Aalborg, na Dinamarca.

Esta pesquisa representa um avanço significativo no entendimento da dor no joelho na adolescência e oferece esperança para aqueles que sofrem com a síndrome de Osgood-Schlatter.

Usando ressonância magnética, os pesquisadores examinaram os joelhos de 76 adolescentes praticantes de Futebol; 46 deles com sintomas da síndrome de Osgood-Schlatter e os compararam com 30 adolescentes sem dor. O objetivo era entender melhor as causas subjacentes da síndrome de Osgood-Schlatter e identificar possíveis biomarcadores associados à dor.

Principais Achados

Os resultados do estudo foram reveladores. Descobriu-se que os adolescentes com síndrome de Osgood-Schlatter apresentavam alterações significativas nos tecidos moles e nos ossos do joelho. Isso incluía edema ósseo na área onde o tendão patelar se conecta ao osso da perna e mudanças na espessura e inserção do tendão patelar. Essas alterações foram associadas a uma maior intensidade da dor, especialmente ao pressionar a tuberosidade da tíbia, que é o sintoma principal da síndrome.

Fonte da imagem: Artigo

Conclusão

Este estudo oferece resultados valiosos sobre a síndrome de Osgood-Schlatter e suas implicações clínicas. Agora, os médicos têm uma melhor compreensão das causas da dor no joelho durante a adolescência, o que abre caminho para estratégias de tratamento mais eficazes. Além disso, a pesquisa destaca a importância de identificar diferentes subgrupos de adolescentes com síndrome de Osgood-Schlatter, pois alguns podem não apresentar alterações significativas nos exames de ressonância magnética.

Para ler o artigo na íntegra, clique aqui

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Processo de recuperação pós-jogo

O que é recovery?

O futebol é um esporte que exige dos atletas, demandas físicas, fisiológicas e psicológicas muito altas. A elevada intensidade durante os jogos, aliada a um calendário competitivo e muito congestionado, leva os atletas a entrarem em processo de fadiga. Porém, estratégias para minimizar a fadiga, podem fornecer uma importante vantagem competitiva em relação aos adversários. Uma dessas estratégias é o recovery, que promove uma melhor e mais rápida recuperação pós-jogo.

O recovery é caracterizado, basicamente, por processos restaurativos que proporcionam uma recuperação musculoesquelética ou, até mesmo, recuperação psicológica. A recuperação depende do índice de estresse ao qual cada atleta é submetido e, também, ao perfil de personalidade.

Os modelos de recovery mais comuns são os passivos e ativos. Os modelos passivos são caracterizados por métodos externos, tais como massagens, alongamentos, crioterapia ou até a implementação de um estado completo de repouso. Já os modelos ativos, englobam atividades físicas de média e baixa intensidade executadas por um período curto de tempo, por exemplo: caminhadas ou trotes, jogos reduzidos, atividades na sala de musculação, entre outros.

Recuperação ativa e passiva

Geralmente, os estudos sobre a recuperação pós-jogo, ressaltam a eficiência da recuperação ativa em relação à passiva. Ademais, vejamos o estudo de liderado pelo pesquisador Grassi da Universidade Federal de Goiás, em que foi comparado três diferentes métodos de recuperação:

  • Passiva (RP): estado completo de repouso;
  • Banheira de gelo: 7 minutos a 14 graus;
  • Ativa (RA): trote com intensidade de 50% a 65% da frequência cardíaca máxima.

O estudo mostrou que a recuperação ativa apresentou uma diminuição da concentração de lactato sanguíneo relevante quando comparada com as demais alternativas, principalmente em relação à recuperação passiva. Portanto, podemos interpretar a diminuição da concentração de lactato na corrente sanguínea como uma redução da lesão tecidual, ou seja, uma melhor recuperação do músculo.

Da mesma forma, outro estudo realizado em 2013 liderado pelo pesquisador brasileiro Luís Inácio Silva, 20 atletas de futebol foram submetidos a um teste de 9 minutos e divididos em dois grupos: recuperação ativa (RA) e recuperação passiva (RP).

A concentração de lactato foi medida no início do teste, no final do teste, 5, 10 e 15 minutos após o término do teste. Os resultados foram compatíveis com o do estudo citado anteriormente. Para melhor ilustrar, podemos ver no gráfico que a recuperação ativa representada pela cor azul apresentou uma queda significante da concentração de lactato sanguíneo quando comparada com a passiva, principalmente no minuto 15 (Lac15), após o término do teste, passando de 4,10 mmol/L para 2,45 mmol/L.

Desta forma, a curva regressiva apresentada pela recuperação ativa continuaria no decorrer do dia, trazendo benefícios para a próxima sessão de treinamento e fazendo com que os atletas cheguem em melhores condições físicas para a realização de suas atividades.

Tipos de Recuperação ativa

Como percebemos até o momento, a recuperação ativa parece apresentar uma abordagem mais assertiva, o que mostra ser mais eficiente para a recuperação pós-jogo. Assim, dois protocolos de recuperação ativa pós esforço são comumente utilizados. Um de maior grau de especificidade com o futebol; e outro com menor especificidade.

  • Treino composto por jogos reduzidos de baixa intensidade; (maior grau de especificidade)
  • Treino composto por sessões de corridas com baixa intensidade, alongamentos e relaxamento muscular; (menor grau de especificidade).

O interessante é que ambos os protocolos apresentam melhoras no desempenho físico dos atletas, sendo, os treinos de sessões de corrida com baixa intensidade, alongamentos e relaxamento muscular; parecerem mais eficientes que o treino composto por jogos reduzidos de baixa intensidade.

Dessa forma, podemos considerar que a especificidade poderia indicar uma forte relação entre o desempenho físico e questões psicológicas. Treinos mais específicos (em formato de jogo, por exemplo) exigiriam maior concentração mental e física do atleta já fadigado em razão da partida anterior, o que poderia retardar a recuperação plena dos atletas pós-partida.

Relação entre fatores físicos e psicológicos

Sabemos que diversos fatores podem ser estressores para os atletas, por exemplo: as viagens mais longas; a privação de sono, que pode ocorrer em função dos deslocamentos; problemas pessoais ou com o grupo; dentre outros. Todas essas situações podem elevar o nível de estresse e gerar consequências fisiológicas que prejudicam a recuperação.

Do mesmo modo, a fadiga mental se configura como uma determinante importante para a tomada de decisão. Isso ocorre porque a tomada de decisão de uma pessoa é limitada. Durante um jogo de futebol, o atleta toma em média mais de duas mil decisões. Além disso, segundo a literatura científica sobre as funções cognitivas, a cada decisão tomada, ocorre uma fadiga que prejudica as decisões seguintes.

Com a tomada de decisão prejudicada pela fadiga mental, o desempenho do jogador tende a diminuir. Simultaneamente, o mau desempenho tende a configurar um maior nível de estresse, acarretando outros problemas que podem se manifestar até mesmo fisicamente. Portanto, a fadiga mental pode criar um ciclo de condições ruins que afetam diretamente a capacidade de resposta física e mental do atleta.

O bem-estar e a fadiga mental na recuperação pós-jogo

Estudos na área apresentam uma relação linear entre a fadiga e bem-estar, isto é, quanto menores os níveis de bem-estar, menor é o rendimento físico dos atletas.

Diante disso, é de suma importância reduzir as cargas de cobrança psicológica após a partida, optando por métodos de treinamentos que não exijam um grande número de tomada de decisões dos atletas. Assim, alinhando fatores físicos e psicológicos, de modo a acelerar a remoção de substâncias inflamatórias, e permitindo uma melhor recuperação dos níveis fisiológicos por parte dos atletas.

Desse modo, promoveremos uma recuperação adequada, para que o atleta esteja em plenas condições para sessões de treinamentos subsequentes, e também para a próxima partida.

Em resumo, percebemos uma grande vantagem no método de recuperação ativa, a qual podemos concluir que ajuda a acelerar o processo de recuperação dos atletas. Ainda nesse sentido, trabalhos com menor grau de especificidade demostraram ser uma boa alternativa para a montagem de sessões de treinamento com o objetivo de recuperação fisiológica e psicológica dos futebolistas.

Cada atleta lida de maneira peculiar com as diversas situações envolvendo fatores psicológicos, indicando a necessidade de um acompanhamento para que essas situações não acarretem mais problemas ao jogador e ao time.

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Como prevenir as lesões dos adutores em jogadores de futebol?

Ao longo dos últimos meses, aqui no Blog do Ciência da Bola, exibimos uma visão mais prática sobre a temática das lesões musculares no futebol. Assim, apresentamos nos textos até aqui produzidos, estudos científicos que mostram os principais exercícios utilizados na atualidade para prevenir e reabilitar lesões nos isquiotibiais e quadríceps. Dessa forma, seguiremos nessa proposta com estudos relacionados a exercícios preventivos no futebol para lesões dos músculos adutores.

Como mencionamos no texto anterior, não apontaremos uma resposta definitiva sobre o assunto, mas sim, fazê-los refletir e criar ainda mais questionamentos a respeito desse assunto. Então vamos ao texto!

Quais são os músculos adutores do quadril?

Os adutores do quadril (Figura 1 e 2) são um conjunto de músculos na região da coxa, formados pelo: pectíneo, grácil, adutor curto, adutor longo e adutor magno. É válido ressaltar que o adutor mínimo é parte do adutor magno, não sendo considerado o sexto músculo adutor do quadril.

Em jogadores de futebol, 35% das lesões na virilha ocorrem na musculatura dos adutores, sendo que 29% das lesões são de reincidência. Dentre os músculos dessa região, o músculo adutor longo foi considerado o que apresenta lesões com maior frequência. Isto é, 62% das lesões nesse grupo muscular ocorre, especificamente, nesse músculo.

Os adutores são muito estressados durante corridas de alta intensidade, intensas mudanças de direção com acelerações/desacelerações e, principalmente, durante os chutes. Lesões na virilha relacionadas aos adutores são o segundo tipo de lesão muscular mais comum no futebol. Além disso, também é a lesão mais comum na região do quadril / virilha, constituindo 63% de todas as lesões nesta região.

Figura 1. Músculos adutores da coxa em destaque, retirado do atlas de anatomia humana.
Figura 2. Músculos adutores da coxa em destaque, retirado do atlas de anatomia humana.

Como acontecem as lesões dos adutores?

As lesões nos adutores são causadas em razão do que chamamos de mecanismos estressores da região dos adutores do quadril. Conforme citado anteriormente, as corridas em alta intensidade, as mudanças de direção e os chutes são mecanismos estressores da região do quadril e, consequentemente, responsáveis pelas lesões.

Porém, existem outros fatores, por exemplo:

  • Relação de força menor a 90% entre adutores e abdutores;
  • ‘Deficit’ de força na região dos adutores, maior a 10% na comparação das extremidades inferiores, principalmente para jogadores em fase de reabilitação.
  • Redução da força de adução do quadril (força isométrica, excêntrica e isocinética);
  • Jogadores com um histórico lesivo nesse grupo muscular.

Desta maneira, até este ponto podemos perceber que um programa de prevenção de lesões deve incluir testes para verificar a relação de força de adução-abdução do quadril, e verificar os índices de força isométrica, concêntrica e excêntrica. Além disso, devemos incluir também exercícios para o fortalecimento dessa região, de modo a diminuir o estresse na unidade músculo-tendão adutora para evitar lesão por uso excessivo dessa musculatura.

Quais exercícios são indicados para prevenir/reabilitar lesões dos adutores?

Muitas vezes quando trabalhamos na readaptação de jogadores de futebol ou estamos montando um programa de trabalho preventivo de lesões em geral, nos perguntamos: qual é o melhor exercício que selecionaremos conforme a necessidade do atleta? Qual o mais indicado para alguém em fase inicial de recuperação? E em fase avançada? Ou para um programa preventivo com um jogador iniciante?

Portanto, para responder a essas e outras possíveis questões, apresentamos o estudo realizado pelo professor Serner da Universidade de Copenhagen. O estudo investigou a atividade muscular do adutor longo em oito exercícios de adução de quadril (6 tradicionais e 2 novos) (Figura 3); e analisou a ativação muscular de glúteos e abdominais.

Figura 3. Oito exercícios analisados no estudo proposto, adaptado de Serner (2013).

Resultados principais do estudo:

  1. O exercício isométrico com uma bola entre os joelhos (b) e o exercício Copenhagen (h) tiveram maior ativação na perna dominante para o músculo adutor longo, classificados como mais intensos;
  2. Por outro lado, a assimetria na ativação entre perna dominante (chute) e não dominante apresentada nos exercícios “c”, “e” e “h”, poderá ajudar na seleção de exercícios quando se desejar uma carga de treino diferenciada entre pernas;
  3. Por fim, os exercícios que apresentaram valores eletromiográficos similares para ativação do músculo adutor longo na perna dominante (chute) e não-dominante foram os exercícios “b”, “f” e “g”. Em suma, o exercício “b” apresentou uma similaridade alta (108 / 102), o exercício “f” apresentou uma similaridade intermediária (99 / 95) e o exercício “g” apresentou uma similaridade baixa (14 / 15). Dessa forma, interpretamos esses resultados e entendemos que quando não houver uma assimetria entre os membros inferiores e se tratar de um indivíduo iniciante ou que está passando por um trabalho de reabilitação, dependendo do estágio em que se encontre, poderemos utilizar esses três exercícios, realizando uma progressão.

O que aprendemos sobre lesões de adutores?

Em resumo até aqui, percebemos que diferentes exercícios possuem diferentes formas de ativação do músculo adutor longo; e diferentes formas de ativação entre a perna dominante (chute) e não-dominante. Essa informação tem relevância para o momento da escolha dos exercícios, levando em conta o momento em que se encontra o jogador e qual o objetivo a ser alcançado com o plano de treinamento. Porém, compreendendo que a variabilidade de exercícios possa ser a forma completa para prevenir e/ou reabilitar um jogador.

Assim, esse entendimento da variabilidade dos exercícios tem o apoio do estudo proposto pelo pesquisador Hölmich, o qual apontou uma redução no risco de lesão de 31%. Ainda sobre essa linha de raciocínio, o material de 2018 do Barça Guideline sugere que um programa de exercícios preventivos deve ser multidimensional. Ou seja, deve incluir não apenas exercícios direcionados ao músculo específico, como o caso do exercício Copenhagen (específico para adutores), mas também atividades específicas da modalidade e exercícios de condicionamento de desempenho.

Portanto, fica evidente que, assim como ocorre com a musculatura isquiotibial e na musculatura do quadríceps, não existe um padrão ouro de exercícios que evite totalmente o risco de lesões dos adutores. O caminho nesse caso é elaborar um plano de trabalho com variabilidade de exercícios, onde eles não sejam apenas específicos da musculatura em questão. Mas também com outros exercícios específicos da modalidade que ajudem na melhora da aptidão física geral e no fortalecimento de músculos secundários. Para assim evitar o aumento no risco de lesões dos adutores do quadril.

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Fontes e Referências

Eccentric strengthening effect of hip-adductor training with elastic bands in soccer players: a randomised controlled trial.

EMG evaluation of hip adduction exercises for soccer players: implications for exercise selection in prevention and treatment of groin injuries.

Contato do autor:
Instagram @pf_ricardosa
E-mail: ricardosa2506@gmail.com

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Lesões no futebol: uma visão psicofisiológica

O futebol é um esporte de contato, o qual exige dos atletas uma alta demanda física durante toda a temporada competitiva. Assim, a ocorrência de lesões no futebol é inevitável. Nesse texto abordaremos as lesões como um todo e, além disso, trataremos dos aspectos psicofisiológicos dessas lesões.

Mas, o que é Lesão?

Atualmente existem diversas definições de lesões no futebol, como exemplo, citaremos o trabalho do pesquisador Gonçalves, da Universidade do Porto. Gonçalves diz que a “lesão do futebolista será todo tipo de dano físico observado ao longo de uma época desportiva e ocorrido numa situação de treino ou competição”.

Para complementar, a partir de uma perspectiva da Psicologia do Esporte, a lesão é definida como trauma corporal que resulta no mínimo em uma incapacidade física e uma inibição temporária da função motora. Desse modo, a lesão é percebida como multifacetada e está intimamente ligada à dor.

Quais as principais lesões no futebol e suas causas?

Apesar de haver divergências no quesito definição e classificação, há um consenso na literatura sobre os tipos de lesões mais comuns no meio do futebol, as quais podemos conferir no quadro abaixo.

Adaptada do artigo Exposure and injury risk in Swedish elite football:a comparison between seasons 1982 and 2001

Nesse sentido, podemos constatar que lesões ligamentares e musculares são as que mais afetam atletas de futebol, seguidas de problemas em tendões e ossos. Além disso, foi constatado que o joelho e a coxa seriam as regiões com maior incidência de lesões por parte dos futebolistas.

Outro fator relevante sobre a ocorrência de lesões remete a como elas ocorrem. Estudos verificaram que a maioria das lesões são induzidas por contato entre atletas. No entanto, de maneira geral, estas lesões apresentam uma magnitude menor quando comparadas com as lesões ocorridas sem a presença de contato externo. Isso nos leva a pensar que, por muitas vezes, os atletas não estão aptos a suportar as demandas do jogo ou não obtiveram tempo necessário de recuperação entre jogos/competições.

Outros fatores que podem estar ligados às lesões no futebol

Embora a maior parte das lesões tenha uma origem física, há outros fatores que influenciam não somente o motivo das lesões, mas também o quão rápido os atletas poderão se recuperar. Por exemplo, fatores sociais, psicológicos e de personalidade contribuem para o aparecimento ou agravamentos de lesões.

Dentre os fatores citados, existem aspectos mais implícitos e outros mais explícitos no ambiente competitivo. Existe uma tendência em valorizar atletas que atuam “no sacrifício”, ou seja, que joguem sentindo dor ou lesionados. Isso é uma questão sociocultural que influencia nas decisões de atletas e treinadores. Similarmente, fatores psicológicos têm importância à medida que um atleta apresenta níveis de ansiedade e estresse que interferem na performance.

Ainda nesse sentido, fatores de personalidade influenciam à medida que cada atleta apresenta traços de ansiedade elevados ou baixa capacidade de enfrentamento em determinadas situações. Por exemplo, uma situação percebida como ameaçadora aumenta o estado ansioso, causando diversas mudanças na atenção e na tensão muscular (como distração e contração). Isso, por sua vez, aumenta a chance de lesão.

Ainda relativo aos fatores psicológicos, o aspecto emocional contribui à proporção que a tomada de decisão fica prejudicada. Dessa forma, com pequenos déficits no aspecto cognitivo, os gestos técnicos podem ficar prejudicados, podendo ter lances que causem lesões em jogos ou treinos.

Questões pessoais são, em geral, as principais causas dos problemas de ordem emocional de jogadores de futebol. Antes de serem atletas de alta performance, eles são pessoas comuns (pais, filhos, maridos, etc). Nesse sentido, todas essas questões contextualizadas permitem compreender de maneira mais ampla o problema relativo às lesões e recuperação.

Prevenção de lesões

Agora que já sabemos quais as principais lesões no futebol e quais os aspectos psicofisiológicos que podem causá-las ou retardar a volta do atleta, focaremos na prevenção e recuperação do jogador de futebol.

Nesse sentido, do ponto de vista físico, podemos pensar que prevenção de lesões e promoção de performance andam lado a lado e, desse modo, facilitam a compreensão de como os preparadores físicos podem promover o trabalho de prevenção de lesões.

Considerando que desequilíbrios musculares estão associados às lesões, citaremos a força como uma capacidade a ser trabalhada. Visto que, um atleta mais forte, além de ter maior probabilidade de obter grande desempenho, está menos propenso a lesão.

Além das capacidades físicas como a força, flexibilidade e condicionamento cardiovascular, as alterações anatômicas e de morfologia corporal também colocam o atleta em um grupo de risco e devem ser corrigidas.

Normalmente as capacidades envolvidas para a correção destes pontos envolvem:

  • Fortalecimento do core;
  • Fortalecimento excêntrico dos músculos da coxa;
  • Treinamento proprioceptivo;
  • Estabilização dinâmica;
  • Mobilidade articular;
  • Promoção da potencialização elástica, mecânica e reflexa ou ciclo de alongamento-encurtamento muscular.

Do ponto de vista psicológico, uma maneira de prevenir as lesões é manter a rotina de treinamento de habilidades psicológicas em dia. Em outras palavras, estar emocionalmente bem preparado e com saúde mental é a melhor forma de prevenir o aparecimento e/ou agravamento de lesões influenciadas pelo aspecto psicológico.

De forma análoga ao treinamento físico, a sobrecarga cognitiva deve ser considerada, já que a capacidade de tomada de decisão começa a reduzir com a fadiga mental. Portanto, é importante gerenciar treinamentos mais complexos e treinamentos de menor complexidade, a fim de fornecer uma forma de “descanso cognitivo” aos atletas.

Recuperação de lesões no futebol

Respostas dos atletas às lesões

O aspecto psicológico da recuperação é fundamental no que diz respeito às lesões no futebol. Tendo em vista que no esporte em geral as lesões podem findar as carreiras dos atletas, a lesão pode ter um peso enorme para cada pessoa. Didaticamente se dividem em 3 as respostas emocionais mais comuns às lesões:

  • 1 Processamento de informações relevantes à lesão: primeiramente, o atleta lesionado concentra-se em informações relacionadas a dor, à consciência da extensão da lesão e indaga como ela ocorreu, além de reconhecer as consequências negativas ou a inconveniência.
  • 2 – Revolta emocional e comportamento reativo: num segundo momento, quando o atleta percebe que está lesionado, pode se tornar emocionalmente agitado, experimentar emoções oscilantes, sentir-se emocionalmente esgotado, ficar em isolamento, sentir-se em choque, desacreditado, em negação ou ter autocompaixão.
  • 3 – Perspectiva e enfrentamento positivos: por último, o atleta aceita a lesão e lida com ela, iniciando os esforços de enfrentamento positivos, exibindo uma boa atitude e otimismo, ficando aliviado ao perceber o progresso.

Fases da lesão

Outra maneira didática de trabalhar a recuperação de lesões é a divisão da recuperação entre três fases descritas pelos pesquisadores Bianco, Malo e Orlick:

  • Fase aguda da lesão;
  • Fase de reabilitação e recuperação;
  • Fase de retorno à atividade total.

Para cada fase dessa existe uma estratégia de intervenção.

Para a fase aguda é necessário ajudar o atleta a lidar com as respostas emocionais que acompanham o aparecimento de lesão. Logo depois, na fase de reabilitação, ajudar o atleta a manter a motivação e a adesão aos protocolos de reabilitação. Finalmente, a fase de retorno à atividade total, na qual a recuperação só está completa quando o atleta consegue voltar ao seu funcionamento normal no esporte.

Nessas intervenções existem métodos e técnicas que contribuem para uma recuperação mais rápida dos atletas, como a mentalização. Entretanto, é importante ressaltar que cada aspecto da recuperação funciona melhor dentro de um planejamento transdisciplinar.

Por isso, além dos aspectos psicológicos, o conhecimento das demandas físicas e fisiológicas do jogo são de suma importância para o processo de reabilitação do jogador. Pois, submetendo o atleta a um programa de recuperação que contemple tais demandas de forma mais especifica, poderá fazer com que este futebolista regresse aos treinamentos já em melhores condições.

Outras formas de recuperação de lesões musculares

Portanto, alguns autores apresentam programas de reabilitação pós lesão pautadas principalmente acerca da lesão muscular. Em suma, os processos se dividem da seguinte maneira:

  • Imobilização da área afetada o mais rápido possível;
  • Exercícios estáticos (isométricos);
  • Exercícios concêntricos com baixo grau de resistência e velocidade;
  • Exercícios concêntricos com maior grau de resistência e velocidade;
  • Trabalho de força.

No entanto, os programas se diferem no que diz respeito à especificidade dos exercícios propostos. Gestos motores como passe, domínio, condução de bola e chute em alguns protocolos são deixados para uma fase posterior, já em outros, são incluídos dentro do processo de recuperação.

O que entendemos sobre as lesões no futebol?

As lesões no futebol apresentam nuances que, por vezes, não são percebidas com facilidade. Portanto, compreender esse fenômeno como complexo e multifatorial é o primeiro passo para uma boa análise. Uma avaliação psicofisológica é uma proposta de entendimento para melhorar a prevenção e tratamento de lesões.

A prevalência de transtornos psicológicos no futebol é maior que na população geral e, em grande, parte deriva do constante estresse ao qual os jogadores são expostos. Dentro dessa lógica, a depressão é um dos mais comuns e está constantemente ligada às lesões. Um exemplo famoso é o do ex-jogador e hoje comentarista Pedrinho, que teve quadro de depressão e viveu atormentado por lesões em sua carreira.

Referências:

Role of sports psychology and sports nutrition in return to play from musculoskeletal injuries in professional soccer: an interdisciplinary approach;

Lesões musculares no Futebol

Futebol: Ciência aplicada ao jogo e ao treinamento.

Contatos dos autores:

Matheus Padilha matheuspadilhaar@gmail.com – @28padilha

Felipe Endrigo – endrigof1@gmail.com – @ endrigo_f

Confira abaixo um episódio do Podcast sobre o assunto:

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Futebol feminino x Futebol masculino: diferenças fisiológicas e nutricionais

Cada vez mais nos deparamos com a realidade de um futebol feminino em ascensão no cenário nacional e internacional, resultando no aumento de sua visibilidade. Dessa forma, nesse texto você ficará por dentro das diferenças fisiológicas e nutricionais em relação ao futebol feminino x futebol masculino.

Primeiramente, vale ressaltar que, por ser uma área ainda pouco explorada, profissionais que trabalham com o futebol feminino ainda precisam utilizar, na maioria das vezes, referências criadas para o público masculino realizando adaptações quando necessário.

Aspectos fisiológicos

A primeira diferença que podemos apontar é quanto ao gasto energético. Sabemos que há uma diferença metabólica entre os sexos feminino e masculino, que nos sugere um gasto energético de 5% a 10% menor nas mulheres. Podemos explicar tal diferença, principalmente, em razão do metabolismo masculino ser de 15% a 20% mais acelerado quando comparado ao feminino. Além disso, outros dois pontos também auxiliam nessa questão: a primeira é a parte hormonal; e a segunda é a maior quantidade de massa muscular nos homens.

Em um jogo de alto nível no futebol masculino, a FIFA aponta um gasto médio em torno de 1000 kcal em um indivíduo de 60 kg. Quando comparado ao futebol feminino, os números são um pouco menores, variando em média de 650 a 850 kcal. O gasto energético tanto em homem quanto em mulheres durante o jogo varia conforme a tática utilizada pelo time, pelo adversário, nível de treinamento do atleta, nível de dificuldade e importância do jogo, condições climáticas e posição de jogo.

Aspectos Nutricionais

Do ponto de vista nutricional, temos necessidades parecidas para ambos os sexos. Os dois indivíduos precisam de 7 a 10 gramas de carboidrato por quilo de peso, 1,4 a 1,7 gramas de proteínas por quilo de peso e um consumo de lipídeos igual ou inferior a 30% do valor total das calorias ingeridas ao dia. Assim, esses valores são padrões, sendo utilizados apenas como referência e, dependendo da necessidade individual de cada atleta, devem ser ajustados.

Com relação aos micronutrientes, damos atenção especial a exames, acompanhando-os de perto. Isso porque, devido ao nível elevado de suor frequente, atletas, independente da modalidade e do sexo, podem apresentar deficiências de alguns minerais. Em mulheres atletas devemos prestar mais atenção ao controle de ferro, já que, além da perda no esporte, ainda há a perda no período menstrual.

Em relação à hidratação temos a mesma recomendação, tanto para homem quanto para mulheres. Nesse sentido, o American College Of Sports Medicine (ACSM) recomenda ingestão de 500mL de líquidos nas duas horas que precedem a partida. Depois de iniciada, devem haver paradas frequentes para hidratação. Após o término do jogo, recomendamos que o volume de água perdido seja reposto em, no máximo, duas horas. É importante realizar uma ingestão diária em torno de 40mL para cada quilo de peso.

Algumas das estratégias nutricionais muito comuns de serem utilizadas em atletas femininas tem relação com as mudanças hormonais decorrentes do período menstrual. Além disso, o público feminino deve ter atenção redobrada quando o assunto é transtorno alimentar, visto que mulheres e atletas são compreendidos como grupo de risco para esses transtornos.

Futebol feminino x Futebol masculino

Nesse texto vimos algumas das principais diferenças do ponto de vista da nutrição em relação à atletas de um mesmo esporte, mas sexos diferentes. Portanto, ressaltamos a importância da realização de mais estudos e consensos quanto as recomendações e protocolos para o futebol feminino, de modo a maximizar o rendimento das atletas que vem cada vez mais ganhando seu espaço dentro desse esporte.

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Exercícios preventivos no futebol para lesões de quadríceps

Em publicações recentes aqui no Blog do Ciência da Bola, apresentamos uma visão mais prática sobre esse assunto. Estudos científicos mostravam os principais exercícios utilizados na atualidade, para prevenir e reabilitar, principalmente, jogadores de futebol com lesões nos isquiotibiais. Dessa forma, manteremos esse direcionamento, mas, dessa vez, apresentaremos estudos relacionados com exercícios preventivos para lesões no quadríceps.

Assim como foi mencionado anteriormente, não é minha pretensão apontar uma resposta definitiva sobre o assunto. Mas sim, fazê-los refletir e criar ainda mais questionamentos a respeito dessa questão.

Musculatura do Quadríceps

Os músculos: vasto medial, vasto intermédio, vasto lateral e reto femoral; formam a musculatura do quadríceps. Frequentemente esses músculos são acometidos por lesões, principalmente em esportes que requerem repetidos chutes e esforços de corrida, como é o caso do futebol. Dentre os músculos citados, o reto femoral é o músculo mais comumente lesionado do quadríceps, ocorrendo, primariamente, em situações de chutes e corridas. Por tal motivo, daremos uma atenção especial a ele ao longo do texto.

Assim sendo, o reto femoral (Figura 1) é um músculo fusiforme longo, bi-articular, que forma a porção anterior superficial do quadríceps. O reto femoral proximal tem duas origens tendinosas: a cabeça direta (reta) e a cabeça indireta (refletida). As duas cabeças formam um tendão conjunto, localizado alguns centímetros abaixo de suas origens conforme a imagem abaixo.

Figura 1. A cabeça direta origina-se da espinha ilíaca anteroinferior (seta cinza) e se mistura com a fáscia anterior. A cabeça indireta origina-se mais posteriormente do acetábulo (seta preta) e mergulha no ventre do músculo reto femoral (Artigo publicado em 2008).

Mecanismos de lesões no quadríceps

Conforme citado anteriormente, os principais mecanismos de lesões no quadríceps são as ações de corrida e chute. Essas ações requerem uma atuação excêntrica do reto femoral que, combinadas com sua natureza bi-articular, o deixam vulnerável às lesões.

Na corrida, o risco de lesão do reto femoral pode ser maior durante as fases de aceleração e desaceleração. Na aceleração, o risco está relacionado com ações musculares excêntricas na fase inicial de balanço. É o momento em que o reto femoral alcança o comprimento máximo. Pois, os flexores do quadril geram força e o reto femoral precisa alongar-se para desacelerar a tíbia (ação excêntrica) conforme o joelho flexiona.

Já na desaceleração, o tronco assume uma postura mais ereta (em relação à parte inferior do corpo) e posterior, movimentando o centro de massa posterior à base de apoio. Isso resulta em forças de frenagem horizontais adicionais e, consequentemente, mais força excêntrica imposta ao quadríceps, predispondo o reto femoral às lesões.

Backswing e wind-up

Em relação ao chute (“swing“), o risco de lesão do reto femoral acontece durante as fases de “backswing” (fase inicial do swing, quando a perna está indo para trás) e wind-up (fase de swing quando a perna vai para frente). Isso para a perna de chute; e a fase de contato com o solo, para a perna de apoio.

Durante o backswing o reto femoral atua desacelerando a extensão do quadril e a flexão do joelho. Em contrapartida, durante o wind-up, o quadril começa a flexionar enquanto o joelho ainda está flexionando e o reto femoral se contrai excentricamente para neutralizar a flexão excessiva do joelho.

Por último, a fase de contato com o solo para a perna de apoio está associada a altas forças externas (força de reação do solo), mas, em simultâneo, há uma menor velocidade angular. Assim, a desaceleração durante um movimento de chute faz com que o corpo se incline para trás e a perna se mova mais atrás do corpo do que o normal, o que coloca um estresse adicional no reto femoral.

Até aqui, percebemos que o reto femoral atua de diferentes formas em diferentes momentos do jogo. Sendo, muitas vezes, exigido de forma excêntrica e requerendo de uma ótima flexibilidade.

Cadeia Cinética aberta ou fechada?

O estudo proposto por pesquisadores da Universidade da Suécia em 2003, examinou se os músculos do quadríceps eram ativados diferentemente em tarefas de cadeia cinética aberta e fechada.

Como resultado do estudo, na extensão do joelho em cadeia fechada, a ativação do quadríceps foi mais homogênea nas quatro diferentes porções desse grupo muscular em relação à cadeia aberta (Figura 2). Na cadeia cinética aberta, o reto femoral teve uma ativação mais cedo em relação ao vasto medial oblíquo, ativado por último (em torno de 7 a 13 milissegundos depois) e com amplitude menor do que em cadeia fechada.

Figura 2. Representação de dados brutos de atividade muscular em cadeias, aberta e fechada, de um único sujeito (Artigo publicado em 2003).

Em conclusão, o estudo mostrou que exercício em cadeira fechada promove uma ativação mais equilibrada do quadríceps do que em cadeia aberta. Isso pode ser importante na hora de elaborar programas de treinos direcionados para o controle da articulação patelofemoral. Entretanto, uma limitação apontada pelos autores é que os exercícios em cadeia fechada são, geralmente, realizados com flexão do quadril sendo mais relevantes para os músculos vastos do que, diretamente, para o reto femoral.

Até aqui percebemos que o tipo de cadeia cinética utilizada em cada exercício para o quadríceps influencia na forma de ativação do mesmo. Dessa forma, deveremos considerar isso no momento de prescrever treinos para prevenir/reabilitar jogadores de futebol.

Quais exercícios são indicados para prevenir/reabilitar lesões do quadríceps?

Para prevenir lesões de reto femoral é necessário incluir em um programa preventivo de exercícios de flexibilidade dos extensores de joelho e flexores do quadril. Bem como, o trabalho de força dos flexores do quadril, dos extensores do joelho em amplitude e do CORE. É preciso compreender que a redução da força/ativação dos flexores do quadril poderá resultar em uma compensação do reto femoral, o que aumentaria o risco de lesão nesse músculo.

Já para os extensores de joelho, os autores destacaram que é importante trabalhar em toda a amplitude muscular, pois se entende que as lesões por tensão muscular ocorrem quando os músculos são contraídos a um comprimento superior ao ideal. Assim, o exercício excêntrico (Figura 3) é o único treinamento que demonstrou aumentar, consistentemente, o desenvolvimento do comprimento ideal de tensão nos extensores do joelho, ajudando na prevenção de lesão. Outro ponto de destaque foi o de promover exercícios para aumentar a capacidade do corpo de produzir maiores forças de frenagem (Figura 4).

Figura 3. A – Nórdico reverso dominante de joelho. B – Estocada reversa com bola medicinal sobre a cabeça. Exemplos de exercícios excêntricos (Artigo publicado em 2014).
Figura 4. Etapas de desaceleração para frente. Exemplo para promover a técnica de desaceleração adequada ( Artigo publicado em 2014 ).

Por último, os autores mencionam que os músculos do CORE parecem ser importantes para prevenir tensões no quadríceps, pois ajudam a estabilizar a região lombo-pélvica, mantendo a postura adequada do tronco e quadril, além do equilíbrio e controle durante os movimentos estáticos e dinâmicos (Figura 5).

Figura 5. Arco de tensão. Exemplo de exercício dinâmico para reproduzir padrões e momentos de movimento de chute no tronco (Artigo publicado em 2014).

Musculatura do CORE e as lesões no quadríceps

Essa afirmação de que a musculatura do CORE pode ajudar a prevenir lesões no quadríceps é corroborado por outros pesquisadores. Em estudo liderado pelo pesquisador israelense Dello Iacono, os praticantes de um programa de treinamento do CORE, realizou uma rotina de aquecimento durante um período de 6 semanas. Ao final percebeu-se ser uma opção útil para aumentar a força dos flexores e extensores do joelho e as relações de pico de torque (flexão/extensão) em jovens jogadores de futebol bem treinados.

Por fim, conforme o material proposto pelo Barça Guideline publicado em 2018, é realçada a importância de uma proposta com uma variedade de exercícios com cadeia cinética aberta e fechada em superfícies estáveis e instáveis, de modo a fornecer uma ampla gama de estímulos aos jogadores. Destaque para exercícios com foco excêntrico, além de exercícios com padrões funcionais de treinamento e a prescrição de alongamento ativo do quadríceps antes, durante e após exercícios específicos. Os exercícios de campo incluem corrida em declive, pliometria e corrida com trenó.

Com isso, percebemos que, assim como ocorre com a musculatura isquiotibial, não existe um padrão ouro de exercícios que irão evitar totalmente o risco de lesões do quadríceps. Portanto, é necessário elaborar uma proposta com variabilidade de estímulos entre alongamentos dinâmicos, exercícios de cadeia cinética aberta e fechada, fortalecimento do CORE e trabalhos concêntricos e excêntricos. Ainda nesse sentido, tudo isso deverá ser complementado com estímulos de campo capazes de ajudar na prevenção de lesões para esse grupo muscular.

Para o próximo texto, abordaremos a mesma temática, mas agora direcionada a musculatura dos adutores. Então, se você gostou dos textos até aqui, não deixe de acompanhar as próximas publicações!

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Exercícios preventivos para lesões de isquiotibiais no Futebol

Se você é leitor do nosso blog do Ciência da Bola e acompanha as publicações relacionadas à Preparação Física de Futebol, saberá que comecei, há alguns meses, uma sequência de textos relacionados às lesões no Futebol. Dessa forma, daremos continuidade nessa temática, porém, com um enfoque mais prático. Portanto, com base na literatura científica atual, falaremos quais são os principais exercícios utilizados para a prevenção de lesões de isquiotibiais no futebol. Não é minha pretensão apontar uma resposta definitiva sobre o assunto, mas sim, fazê-los refletir e criar ainda mais questionamentos a respeito dessa questão.

Musculatura Isquiotibial

Conforme os pesquisadores da Universidade de Greenwich, as lesões de isquiotibiais no futebol são um fenômeno complexo, multifatorial e uma das mais comuns em muitos outros esportes, por diversas razões, por exemplo: a sua organização biarticular ou dupla inervação do bíceps femoral e, ainda, uma série de fatores de risco modificáveis (fadiga, déficits de força, desequilíbrio muscular, baixa flexibilidade, controle motor inadequado, etc.) e não modificáveis (idade, etnia, relações antropométricas, histórico de lesões prévias, etc.).

Com isso, todas essas variáveis terão um impacto sobre o risco de lesão, o que faz necessário uma abordagem integrada/holística de cada atleta, pois a possibilidade de lesão irá variar de caso a caso.

Os próprios autores afirmaram que existe um debate em torno da utilização do curl nórdico, porque a amplitude de movimento treinada efetivamente será restrita a ângulos mais próximos (< 30° de extensão do joelho) e não será transferida para todo o comprimento do músculo na sua porção mais longa. Ou seja, observamos que a cabeça longa do bíceps femoral e o semimembranoso foram significativamente menos ativados do que o semitendinoso durante o exercício nórdico.

Assim, os autores recomendam a utilização dos três exercícios descritos na Figura 1. Mas, devendo somar aos mesmos, outras alternativas de exercícios, incluindo do CORE.

Exercícios com diferentes padrões de ativação para os isquiotibiais

Em concordância com a interpretação dos autores anteriormente citados, estão um grupo de pesquisadores da Queensland University of Technology, que realizaram em 2016, um estudo para verificar o impacto seletivo de exercícios na ativação do músculo isquiotibial, mais especificamente no bíceps femoral na sua porção longa.

No estudo é possível verificar que os padrões de ativação dos isquiotibiais diferem acentuadamente entre os exercícios. Sendo que os exercícios de extensão do quadril visam, mais seletivamente, o bíceps femoral cabeça longa sem deixar de ativar o semimembranoso e o semitendinoso. Já o exercício nórdico recruta, preferencialmente, o semitendinoso.

Diferença de ativação da musculatura isquiotibial entre o exercício de flexão de quadril unilateral em 45° e o exercício curl nórdico. BF – Bíceps femoral; ST – Semitendinoso; SM – Semimembranoso. Fonte: (Artigo publicado em 2016)

Esse dado sugere que as estratégias de ativação dos isquiotibiais são parcialmente dependentes das articulações envolvidas em cada movimento. Isso tem implicação direta, por exemplo, na seleção de um exercício para a reabilitação e/ou prevenção de um jogador. Pois, se queremos prevenir lesões do bíceps femoral e realizamos um protocolo com curl nórdico, conforme o estudo, esse músculo terá uma baixa ativação e corremos o risco de não prevenir tal musculatura da forma que imaginamos.

Portanto, os exercícios de prevenção e reabilitação de lesão isquiotibial podem, potencialmente, ser direcionados ao local da lesão. Assim, os isquiotibiais são ativados de formas diferentes durante as tarefas baseadas no movimento do quadril e dos joelhos.

Visão holística sobre a prevenção da musculatura isquiotibial

Por outro lado, um estudo publicado recentemente, buscou uma abordagem holística de prevenção das lesões de isquiotibiais no futebol de elite. Eles realizaram o estudo num mesmo clube, durante 12 temporadas.

Os autores propuseram exemplos de intervenções semanais com exercícios de força, coletivos e individuais. Esse último, para aqueles casos com histórico de lesão do bíceps femoral cabeça longa. Então, propuseram um vasto repertório de exercícios em academia para todo o grupo e diferentes musculaturas do trem inferior , para ativar especificamente a cadeia posterior e para aqueles casos de histórico lesivo prévio.

Exemplo de trabalho coletivo na academia. 2 x 10 exercícios (entre 6 a 10 repetições por exercício) com foco no trem inferior. Fonte: (Artigo publicado em 2021)
Exemplo de exercícios utilizados durante ativação individual para a cadeia posterior antes do treinamento no campo em espaços amplos com alto volume de corridas em altas velocidades. Fonte: (Artigo publicado em 2021).
Exercícios utilizados durante treinamento individualizado de força para jogadores com histórico de lesão no bíceps femoral cabeça longa. Fonte: (Artigo publicado em 2021).

Como resultado, os protocolos propostos no estudo reduziram em torno de 3 vezes o número de lesões nos isquiotibiais, além de zerar a taxa de reincidência das mesmas para esse grupo muscular no chamado grupo de intervenção.

Porém, o estudo propõe uma abordagem holística desse tema, creditando o resultado positivo do programa de prevenção complexo de multicomponentes à combinação de diferentes fatores, tais como:

  • 1) Treino de força com exercícios específicos para a cadeia posterior;
  • 2) Controle do treino de campo;
  • 3) Tratamento fisioterápico;
  • 4) Gestão da carga de treino;
  • 5) Treino individual (pontos fracos);
  • 6) Comunicação entre o staff e gestão da carga individual dos jogadores.

O que aprendemos sobre as lesões dos isquiotibiais e os exercícios preventivos?

Assim sendo, com todo o exposto até aqui, entende-se que não existe um “padrão ouro” de exercícios que irão prevenir de forma cem por cento eficaz as lesões de isquiotibiais no futebol. Existem sim, fortes indícios científicos de que, conhecendo o exato local da lesão, alguns exercícios serão mais indicados do que outros para tratar e evitar a reincidência de lesões. Por outro lado, no caso de um atleta sem histórico lesivo, o mais indicado é um protocolo com vasto repertório de exercícios que ativem os diferentes músculos que compõem os isquiotibiais.

Também vale destacar que, esse tema requer uma abordagem complexa e holística, que considere múltiplos fatores e suas inter-relações implementadas eficazmente por profissionais capacitados e analisando cada caso individualizadamente.

Portanto, para o próximo texto, abordaremos a mesma temática, porém agora direcionada a musculatura do quadríceps.

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A nutrição no futebol infantil

A importância da nutrição no desempenho de atletas em diferentes práticas esportivas, incluindo o futebol, é incontestável. Entretanto, o papel da nutrição no futebol infantil não é tão valorizada quanto deveria, visto que é de suma importância para o bom desenvolvimento e desempenho das crianças. Uma nutrição correta na infância contribui essencialmente para as fases futuras, não só dentro do esporte, mas para uma boa qualidade de vida.

Por que incentivar a nutrição no futebol infantil?

Crianças e jovens geralmente tendem a se importar menos com a qualidade da sua alimentação, assim como o impacto e as consequências que a dieta tem no seu cotidiano. O metabolismo de crianças é mais intenso que o de adultos e, com isso, o gasto energético, principalmente para jovens atletas, é muito grande. Dessa forma, no futebol infantil é necessária uma nutrição de qualidade, contendo a quantidade de nutrientes suficientes para satisfazer todas as necessidades do organismo.

Além disso, a carência de nutrientes pode acarretar inúmeros problemas no desenvolvimento físico e até mental dos jovens, incluindo maior suscetibilidade às patologias, baixa estatura, que pode atrapalhar muito na realização da prática futebolística e acarretar perda de performance.

Composição de uma boa dieta para atletas infantis

Para satisfazer a demanda energética do organismo, a composição da dieta de um jovem jogador de futebol deve conter um balanço de macro e micronutrientes, acompanhado de uma hidratação adequada.

Hidratação

A perda de água através do suor é o meio mais efetivo do corpo em liberar calor produzido pelo organismo. Em atividades físicas intensas como o futebol, nosso corpo perde muito líquido pelo suor, sendo necessário a hidratação antes, durante e depois da atividade, a fim de repor a quantidade de água perdida. Ainda nesse sentido, crianças tendem a produzir mais calor por unidade de peso, quando comparado ao adulto. Portanto, julga-se indispensável uma boa hidratação dos jovens atletas, inclusive durante as atividades, como o treino nas escolinhas.

Macronutrientes

A fonte de energia para o atleta são os macronutrientes, sendo, basicamente, divididos entre carboidratos, proteínas e lipídeos.

Os carboidratos devem ser abundantes na dieta para atletas de futebol infantil, sendo esses o principal fornecedor de energia para uma atividade esportiva. Atletas mirins possuem menos reservas de glicogênio que adultos e, com isso, a ingestão de carboidratos deve ser correta e abundante. Em outras palavras, caso não for feita uma ingestão de qualidade de carboidratos antes de uma atividade física com alta demanda energética, os estoques de glicogênio ficarão vazios, acarretando sucessiva perda de desempenho.

Em relação a proteínas, crianças atletas devem possuir um balanço positivo de proteína no organismo. Esse aporte proteico em crianças deve ser maior que para adultos. Isso porque, além da quantidade necessária para recuperação muscular pós-atividade física, seja treino ou jogo, também é necessária uma quantidade direcionada para o desenvolvimento normal do corpo, que ainda está em formação. Deficiência de proteínas para atletas de futebol infantil pode acarretar problemas na estatura e peso corporal.

Em relação aos lipídeos, seu consumo é importante para atividades físicas de longa duração, sendo importante manter um consumo adequado de fontes boas desse macronutriente.

Micronutrientes

O bom desenvolvimento infantil está completamente ligado a ingestão correta de inúmeros micronutrientes, tais como zinco, cálcio, ferro, sódio, potássio e vitaminas. Para crianças praticantes de futebol, é necessário a manutenção de uma dieta balanceada de micronutrientes, principalmente os citados acima. 

  • O cálcio está ligado a manutenção e crescimento dos ossos. Desse modo, a deficiência em cálcio é perigosa para atletas infantis, em que aumenta o risco de lesões ósseas na atividade física.
  • O ferro se associa ao transporte de oxigênio nas células sanguíneas por todo o corpo, incluindo para os músculos. Assim, mostra-se a importância do ferro na alimentação de atletas infantis, que necessitam de um transporte eficiente de oxigênio efetivo durante a atividade física. Sua deficiência acarreta perda de desempenho do atleta mirim.
  • Já o zinco relaciona-se com a defesa imunológica do organismo e síntese proteica, em que sua deficiência pode ocasionar problemas no sistema imunológico da criança.
  • Sódio e potássio são dois minerais de extrema importância para o organismo. O primeiro é importante para a manutenção do equilíbrio hídrico normal do corpo. Já o segundo ajuda a manter o funcionamento normal de células, músculos e nervos. Ambos podem ser perdidos no suor, resultando em queda de desempenho pelo atleta.

Atenção na dieta de crianças

É importante ressaltar que, nessa fase, a nutrição no futebol infantil não deve exigir nenhuma meta do atleta ou realizar qualquer tipo de restrição alimentar. Mas deve, sim, ofertar a maior variedade de alimentos possível ao jogador, de modo a formar seu paladar e moldar bons hábitos alimentares. Além disso, a nutrição infantil deve explicar sobre a importância de pratos coloridos e equilibrados nutricionalmente, visando um desenvolvimento saudável.

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Lesões musculares no futebol

No texto anterior sobre Quais as Principais Lesões no Futebol?; vimos que uma alta porcentagem das lesões que ocorrem no futebol são as musculares. Esse tipo de lesão é frequente e representa um dos problemas médicos mais importantes no futebol de nível profissional.

Epidemiologia das lesões musculares no futebol

No futebol masculino de nível profissional, as lesões musculares são um dos maiores problemas enfrentados pelos jogadores, representando de 20% a 37% de todo o tempo ausente, ou seja, fora dos campos.

Assim, Jan Ekstrand, pesquisador da Universidade da Suécia, destaca que das 2.908 lesões musculares prospectadas durante os anos de 2001 a 2009 em seu estudo, 53% ocorreram durante jogos e 47% durante treinos. Além disso, essas lesões corresponderam a 31% de todas as lesões verificadas ao longo do estudo, sendo que 92% delas afetaram os 4 principais grupos musculares das extremidades inferiores, que são, por ordem: Isquiotibiais (37%), adutores (23%), quadríceps (19%) e panturrilha (13%).

Patologia da lesão muscular no futebol

Primeiramente, é importante saber que a lesão muscular, geralmente, está associada a uma contusão, distensão ou laceração, sendo esta última a mais incomum entre as 3 possíveis causas. Mas, independentemente da causa da lesão, a cicatrização do músculo esquelético segue uma espécie de padrão, onde 3 fases principais podem ser identificadas:

  1. Destruição;
  2. Regeneração;
  3. Remodelação. (ver Figura 1).
Figura 1. Representação esquemática do processo de cura do músculo esquelético, adaptado (Artigo publicado em 2005).

Dessa forma, verifica-se que a Fase de Destruição (Fase 1) está composta por 3 momentos que são: ruptura muscular, necrose das miofibras e a inflamação. No entanto, essa mesma distinção de momentos não vemos na Fase de Regeneração (Fase 2) e Fase de Remodelação (Fase 3). Isso ocorre porque são processos concomitantes, ou seja, a regeneração das miofibras e a formação da cicatriz ocorrem simultaneamente. Portanto, a progressão equilibrada de ambos os processos é fundamental para a recuperação correta da função contrátil do músculo.

Classificação das lesões

A princípio, existem três tipos para classificar as lesões musculares quanto à gravidade da lesão:

Tipo I (estiramento)

Causada por alongamento excessivo do músculo. Afeta menos que 5% das fibras; pequena hemorragia ou nenhuma e sem perda de função. Causa dor à contração e ao alongamento passivo, além de apresentar edema pequeno e danos mínimos ao tecido.

Tipo II (ruptura parcial)

Causada, na maioria das vezes, por uma contração máxima. Afeta entre 5% e 50% do músculo; apresenta edema, dor que piora contra a resistência, hemorragia moderada e função limitada pela dor.

Tipo III (ruptura total)

Ruptura completa das fibras musculares com presença de defeito visível ou palpável; grande edema e hemorragia com perda completa da função.

Outra terminologia, mas com semelhante significado são: leve (grau I), moderada (grau II) e severa (grau III).

Por outro lado, um estudo de 2012 propôs uma nova forma de classificação das lesões musculares, que considera as características de imagem (com base em ressonância magnética e ultrassonografia) das lesões musculares (tabela 2).

Portanto, cabe à cada clube, junto ao seu corpo médico, decidir qual a melhor forma de classificação das lesões musculares para a sua realidade.

Fatores de Risco e Mecanismos de Lesão

Existem diversos fatores de risco que influenciam para a ocorrência de uma lesão e, geralmente, são divididos em intrínsecos (relacionados ao jogador) ou extrínsecos (relacionados ao meio). Além disso, esses fatores podem ser categorizados em não-modificáveis e modificáveis (Tabela 3).

Entretanto, quando falamos em mecanismos de lesão, podemos dizer que, geralmente, as lesões musculares ocorrem na fase excêntrica do movimento e, dependendo do músculo em que ocorra a mesma, poderá manifestar-se durante um sprint, aceleração, desaceleração, chute, salto, etc.

Para resumir, entendemos que a lesão muscular ocorre da interação de diversos fatores, sendo a sua etiologia complexa, dinâmica, multifatorial e dependente do contexto.

Conforme o material proposto pelo FC Barcelona em 2018, os fatores associados as lesões formam uma teia de fatores determinantes e, certas associações entre essas causas, serão regularidades que contribuem para um padrão emergente, neste caso, a lesão muscular.

O que entendemos com as Lesões musculares no futebol

Portanto, vimos que a lesão muscular é uma das “dores de cabeça” dos jogadores, sendo responsável por cerca de 1/3 do período que estes permanecem fora de treinos e jogos ao longo de uma temporada. Vimos também que existem diferentes formas para classificá-las, mas sua recuperação segue sempre um mesmo padrão, diferentemente da sua origem, que como vimos, é multifatorial estando associada com fatores intrínsecos e extrínsecos, modificáveis ou não.

Assim, ao longo desse texto sobre as Lesões Musculares no Futebol, foi possível situar você leitor, resumidamente, sobre os principais pontos que circundam as lesões musculares.

Quais os principais fatores de risco de lesões?

Como vimos no texto anterior, a origem das lesões sem contato é multifatorial, podendo os fatores serem modificáveis ou não. Assim sendo, é difícil apontar a sua principal causa. No entanto, um estudo realizado em 2014 com 44 clubes profissionais de diferentes ligas do mundo, apontou 5 fatores de risco como sendo os principais, onde 4 são modificáveis e apenas 1 não, lesão prévia , como podemos ver na tabela 1.

Ainda nesse sentido, outro estudo realizado em 2016 com 33 clubes de elite da UEFA, apontou os 3 principais fatores de risco de lesão com base nos resultados coletados, dividindo-os em fatores intrínsecos e extrínsecos, como podemos observar na tabela 2.

ob o mesmo ponto de vista, mas com uma pesquisa em âmbito brasileiro em 2017, com 16 dos 20 clubes da 1ª divisão brasileira de 2015, os fisioterapeutas de cada clube responderam a um questionário estruturado e apontaram os principais fatores de risco das lesões sem contato. Em destaque os 3 primeiros na ordem de maior importância para menor importância, foram:

  1. Lesão prévia;
  2. Desequilíbrio muscular;
  3. Fadiga.

Dessa forma, fica evidente que tanto nacional como internacionalmente, o principal fator de risco é a lesão prévia. Além disso, a fadiga também é um fator importante a se destacar.

Quais os principais testes utilizados para identificar fatores de risco e prevenir lesões musculares no futebol?

As figuras apresentam gráficos indicando os principais testes utilizados para identificar os fatores de risco de uma lesão sem contato, com base nos estudos citados anteriormente aqui no texto que foram realizados no Brasil.

Assim, os testes mais utilizados para identificar o risco de lesão foram:

  1. Avaliação do desequilíbrio muscular lateral;
  2. Flexibilidade;
  3. Avaliação do pico de força muscular e avaliação da mobilidade / função articular.

Com base nas informações dos três estudos, é possível identificar que o teste presente no top 3 é aquele que faz referência à avaliação de músculos agonistas, antagonistas e membros contralaterais, além da avaliação do torque máximo, como é o caso do teste com o Dinamômetro Isocinético.

Por outro lado, com base nesses estudos citados, no futebol brasileiro todos os clubes utilizavam os marcadores bioquímicos como um fator para identificar o risco de lesão dos jogadores. Mas, no âmbito mundial, esse não é um dos testes mais utilizados.

Com que frequência se realiza os programas preventivos?

Quanto à frequência de realização dos programas preventivos, com base na literatura científica, durante a pré-temporada, 53% das equipes os realizam três vezes por semana. Entretanto, durante a temporada em semanas com um jogo, 33% das equipes realizam o protocolo duas vezes por semana e outros 33% realizam três vezes por semana. Já em microciclos com 2 jogos, 60% das equipes realizam duas vezes por semana tal programa.

Assim, 47% das equipes em pré-temporada realizam o programa de duas a cinco vezes por semana. No entanto, durante a temporada e em semanas com apenas um jogo, 40% das equipes realizam o programa duas vezes por semana. Já em semanas com 2 jogos, 55% das equipes realizavam apenas uma sessão de trabalho preventivo.

Dessa forma, podemos inferir que, durante a pré-temporada, um mínimo de duas a três sessões por semana parecem ser o mais utilizado. Já durante a temporada e com semanas completas, duas a três sessões parecem ser o mais comumente utilizado. Por outro lado, nas semanas com 2 jogos, a maioria dos clubes brasileiros realizam os programas preventivos duas vezes por semana. Diferentemente de clubes de elite de outras ligas do mundo que, em sua maioria, utilizam apenas uma sessão por semana.

Quais os principais exercícios de prevenção utilizados?

Quando falamos dos principais exercícios utilizados nos programas para prevenção de lesões, os estudos mostram gráficos com os 5 principais exercícios usados na prevenção de lesões sem contato (figura 3 e 4, respectivamente).

Conforme os resultados apresentados, apesar dos exercícios ocuparem posições diferentes na classificação em âmbito nacional e internacional, o top 5 de ambos parece ser muito similar. Com destaque para o exercício de equilíbrio / propriocepção, aparecendo como o exercício melhor classificado na comparação dos 2 estudos.

Portanto, com todo o exposto até aqui, verificamos que o fator de risco considerado como o mais importante pelos clubes internacionais e nacionais é o histórico de lesão prévia. Sendo que, o teste mais utilizado para identificar risco de lesão é aquele que faz uma avaliação muscular verificando desequilíbrios e o torque máximo de força, no caso o teste isocinético.

Quando falamos de exercícios de prevenção, aqueles de equilíbrio / propriocepção parecem ser os mais utilizados ao nível mundial, seguidos de exercícios de core, ativação de glúteo, excêntricos, etc (não necessariamente nessa ordem).

Entendimento das principais lesões

Uma vez feito todo o mapeamento das lesões musculares nos dois textos apresentados (Lesões Musculares no Futebol – Parte I e Parte II), ainda ficam perguntas no ar, como: quais exercícios são os mais indicados para prevenir lesões de isquiotibiais? Ou de adutores? Etc. Por isso, iremos falar nas próximas publicações sobre cada um dos grupos musculares e os melhores exercícios para prevenção das lesões específicas desse grupo. Desse modo, para iniciar, iremos abordar o grupo muscular dos isquiotibiais.

Fontes e Referências

https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/27849130/

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3940509/

https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/22864009/

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Confira um abaixo do nosso Podcast sobre esse assunto:

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