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Carga de trabalho no futebol: carga interna e carga externa

Cargas de trabalho no futebol

A quantificação da carga de trabalho no futebol é um processo essencial para obtenção de resultados satisfatórios quando falamos da performance dos atletas. Nos últimos anos, diferentes ferramentas vêm sendo desenvolvidas pela comunidade cientifica e por profissionais ligados ao futebol para auxiliar neste processo. As ferramentas de quantificação são divididas em duas esferas: instrumentos de carga interna e de carga externa.

Portanto, discutiremos os conceitos atrelados a esses tipos de ferramentas, além das diferenças na interpretação dos dados no cotidiano dos fisiologistas, preparadores físicos e treinadores.

Cargas Externas no futebol

Primeiramente, o conceito de carga externa atrelado ao futebol significa a quanto de treinamento realizamos, tanto do ponto de vista de volume (quantidade) e de intensidade (qualidade). Usamos diferentes ferramentas para realizar esse processo.

A ferramenta mais utilizada para monitorar a carga externa é a minutagem de treinamento. Assim, conseguimos mensurar o volume total da sessão de treinamento realizada. Mas, utilizar apenas esse método traz algumas limitações, por exemplo: não fornecer informações relacionadas a intensidade do treinamento.

Algumas outras ferramentas foram desenvolvidas para auxiliar nesse processo de monitoramento, como é o caso do GPS e acelerômetros.

GPS’s e acelerômetros

Os GPS’s são ferramentas que, inicialmente, foram desenvolvidas para serem utilizadas no ambiente bélico. Posteriormente, foram adaptados para o nosso cotidiano e para o futebol. Em suma, os aparelhos de GPS possibilitam, através da comunicação entre os dispositivos portado pelo indivíduo, e os satélites localizados na órbita da terra, informações de geolocalização. Com isso, eles transferem essas informações para coordenadas cartesianas e podemos inferir o quanto um corpo se deslocou no espaço, isso possibilita quantificar as distâncias totais percorridas. Portanto na imagem abaixo podemos observar um dispositivo sendo instalado na vestimenta de um atleta.

No futebol, os dados fornecidos pelos aparelhos de GPS passaram a ser mais frequentes na década de 90, aperfeiçoados por diferentes empresas ao longo dos anos. Além dos GPS’s, inserimos outros dispositivos nos aparelhos portados pelos jogadores, como os acelerômetros, giroscópios e magnetômetros. Eles fornecem uma infinidade de variáveis (distâncias percorridas em diferentes velocidades, acelerações, desacelerações, impactos, saltos, custo energético, entre outras).

Essas microtecnologias proporcionaram caracterizar as demandas físicas do jogo de futebol, facilitando o trabalho dos profissionais. Assim, as ações realizadas (tanto volume quanto intensidade) chegam em tempo real para os profissionais, sendo possível intervir nas sessões de treinamento caso ocorra um excesso ou déficit da carga de trabalho no futebol. Além disso, é importante saber como os organismos dos atletas reagem às cargas de trabalho.

Cargas internas no futebol

Além disso, podemos definir a carga interna como a resposta do organismo aos estímulos realizados (carga externa) durante o treinamento. Ainda nesse sentido, para quantificação utilizamos uma infinidade de ferramentas (escala de percepção de esforço, questionários psicométricos, frequência cardíaca, marcadores bioquímicos e termografia). Segundo um estudo cientifico publicado em 2016, os autores indicaram que a principal variável utilizada para quantificar e monitorar a carga interna em clubes de futebol é a percepção de esforço (PSE). Portanto, nesse texto daremos uma ênfase para o PSE.

Percepção de Esforço (PSE)

A PSE é uma ferramenta de fácil aplicação, validada cientificamente e que fornece informações relevantes para os treinadores. A escala mais utilizada no âmbito do futebol é a CR-10 de Borg, a qual utilizamos o método de Foster para quantificar a carga de treino no futebol (training load). Dessa forma, podemos realizar o cálculo do produto entre o valor de PSE da sessão e o volume da sessão (minutos). Esse método baseia-se na ideia de que as respostas fisiológicas são acompanhadas de respostas perceptivas. Em outras palavras, se a PSE da sessão for 5 e a duração for 70 minutos, a carga de trabalho é de 350 unidades arbitrárias. Abaixo podemos observar uma tabela com a carga de treino durante a semana e, a seguir, a imagem da escala adaptada de Borg.

Fonte: Criado pelo autor.
Imagem criada pelo autor

Além da PSE, podemos utilizar outras ferramentas. Entretanto, algumas delas necessitam de aparelhos mais sofisticados, como é o caso da frequência cardíaca. Essa ferramenta necessita de frequencímetros e receptores. Desse modo, ao utilizar esses aparelhos é possível observar em qual faixa de intensidade os indivíduos estão trabalhando de forma individualizada. Outro aparelho que comumente vem sendo utilizado são as câmeras termográficas. Elas possibilitam observar áreas do corpo que estão sob maior nível de estresse.

Por fim, no cotidiano dos preparadores físicos e fisiologistas o ideal é a utilização de parâmetros referentes à carga interna e externa. Assim, as informações são complementares e isso auxilia a tomada de decisão dos profissionais.

Fontes e Referências

https://journals.humankinetics.com/view/journals/ijspp/11/5/article-p587.xml

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Avaliações Físicas no Futebol

Sempre que iniciamos uma temporada em uma equipe de futebol (seja ela de base ou profissional), um dos primeiros passos a serem planejados pelos preparadores físicos, e que pautará o restante do trabalho dos mesmos, são as Avalições Físicas no Futebol. Mas, quando pensamos em Avaliações Físicas, é necessário que se entenda algumas questões como: Por que avaliar? Quando avaliar? O que avaliar? Como avaliar?

Assim, neste texto, tentaremos elucidar essas e outras questões para que você leitor, ao iniciar uma pré-temporada em um clube de futebol, saiba como desenhar um programa de Avalições Físicas para a sua equipe. Então vamos ao texto!

Por que realizar Avaliações Físicas no Futebol?

As Avaliações Físicas no Futebol são importantes para identificar o padrão físico onde a equipe se encontra. Além disso, nos permitem perceber as características individuais dos jogadores (quem é mais rápido, mais forte, mais resistente, etc.) e verificar possíveis indicadores físicos de lesão, como, por exemplo, assimetrias musculares.

Com os dados encontrados, poderemos prescrever treinamentos em busca de uma melhora do padrão físico geral da equipe, mas também será possível (e talvez o mais importante) segmentar os treinamentos de acordo com a necessidade de cada posição e de acordo com a necessidade individual dos atletas.

Nesse contexto, os preparadores físicos poderão ser mais assertivos no planejamento e aplicação dos treinamentos, a fim de que se alcance um estado de forma “ótimo”, seja coletivo ou individual, além de permitir potencializar as principais características físicas dos seus atletas.

Quando devem ser realizadas as Avaliações Físicas no Futebol?

Como citamos no texto, o início da pré-temporada é, tradicionalmente, marcado pela realização das Avaliações Físicas no Futebol. Onde os dados obtidos mostrarão o estado de forma da equipe, norteando assim o caminho a seguir do ponto de vista físico. Mas, uma vez que os dados sejam interpretados e a pré-temporada seja desenhada, quando devemos voltar a aplicar as Avaliações Físicas para continuar norteando o trabalho físico?

Para responder a essa questão, é necessário que cada preparador físico entenda o contexto em que se encontra. Isso porque quando falamos de categorias de base, a resposta provavelmente será uma e quando falamos de futebol profissional a resposta, provavelmente, será outra.

Nas categorias de base, onde o calendário de jogos é menos denso, talvez seja possível estabelecer datas para a realização de novas Avaliações Físicas, a fim de ter um acompanhamento da evolução física coletiva e individual da equipe. Por outro lado, no futebol profissional, esses períodos para reavaliação do grupo de atletas são mais difíceis de serem cumpridos. Além do calendário de jogos muito denso (pensando em um clube de Série A), existem outros fatores que pautam a realização ou não desses períodos de reavaliação física, que são, por exemplo, os resultados de campo.

Assim, não existe um período exato para a reavaliação física dos atletas, porém os períodos geralmente oscilam entre 8 e 12 semanas para testes físicos de campo e 30 dias para avaliações antropométricas.

O que se avalia no futebol?

Essa talvez seja a pergunta mais importante que deverá ser respondida antes de realizar as Avaliações Físicas no Futebol. Pois se criarmos um programa de avaliações sem entender o que iremos avaliar, apenas com o intuito de coletar dados, não fará o menor sentido realizá-las, porque simplesmente estaremos perdendo um precioso tempo de treinamento.

Cada teste selecionado para as avaliações físicas, deverá ter um porquê e um para quê. O dado obtido deverá ter um significado para o preparador físico e ser interpretado com o propósito de estabelecer um critério de referência na hora de prescrever os treinamentos.

Outro ponto muito importante na hora de decidir o que será avaliado, é que o preparador físico entenda o contexto onde o seu clube está inserido e as condições estruturais e humanas disponíveis nesse contexto. Ou seja, não deveremos aplicar testes para os quais não dispomos do material necessário para realizá-los, pois ferramentas improvisadas irão gerar dados de pouca fiabilidade. E, se não haver profissionais qualificados para interpretar os dados obtidos, esses resultados terão pouca ou nenhuma relevância dentro desse contexto.

Assim, antes de iniciar a aplicação de um programa de Avaliações Físicas no Futebol é necessário responder algumas questões como: quais as ferramentas que o clube oferece? Qual a formação e capacitação dos profissionais para interpretarem os dados obtidos? E o que farei com os resultados? Se conseguirmos esquematizar um programa respondendo a essas três perguntas, com certeza a possibilidade de estabelecer critérios para desenhar sessões de treinamentos mais ajustadas às necessidades da equipe e de cada atleta, será muito maior.

Quais testes físicos selecionar nas avaliações?

Conforme dito anteriormente, a seleção dos testes dependerá de alguns fatores. Com isso, a seguir destacaremos os principais testes utilizados em programas de Avaliações Físicas no Futebol, sem entrar no mérito se são úteis ou não, pois isso será estabelecido por cada preparador físico de acordo com as suas necessidades e a realidade do seu clube.

Testes Físicos no Futebol

1) Yo-Yo Test – Consiste em correr 40 metros (20 metros ida e 20 metros volta) em velocidades crescentes intercalando com pequenas pausas. Teste para avaliar a potência aeróbica.

2) Tapete de contato – chamado de ergo-jump, está constituído por um tapete com sensores de pressão conectados a um processador, que possui um programa informático que permite calcular a altura do salto, sendo que os saltos mais comumente avaliados são o Squat Jump e o Counter Movement Jump. Testes para avaliar a força explosiva e/ou potência.

3) Teste de velocidade 10, 20, 30 e 40 metros – Pode ser realizada com ou sem mudança de direção, sendo comumente utilizada em linha reta. Marca o tempo que o jogador leva para completar a prova e, assim, determinar quem é o mais veloz.

4) Teste de Agilidade – Existem vários testes, onde um dos mais comuns é o teste de Illinois, usado para determinar a capacidade de acelerar, desacelerar e mudar de direção em diferentes ângulos.

5) Rast test – Consiste em realizar 6 corridas máximas de 35 metros separados por intervalos de 10 segundos, sendo uma boa ferramenta para avaliar a potência anaeróbica.

6) Avaliação Antropométrica – Medição simples, barata e não invasiva que auxilia na avaliação do estado nutricional do jogador, sendo a técnica mais utilizada a de dobras cutâneas que serve para medir a gordura subcutânea.

7) Teste Isocinético – Máquina onde o indivíduo realiza um esforço muscular máximo ou submáximo que se acomoda à resistência do aparelho. A principal característica é a de possuir velocidade angular constante, permitindo realizar movimento na sua amplitude articular, servindo para identificar desequilíbrios musculares, mas devido ao seu alto custo, para muitos clubes, não é viável.

8) Teste FMS – Bateria de testes baseada na competência durante o movimento ativo, fornecendo uma medida clinicamente interpretável da “qualidade do movimento”. Serve para encontrar limitações e/ou assimetrias musculares, sendo uma opção mais em conta para clubes com recursos limitados.

9) 30-15 IFT – É um teste intermitente, onde os atletas correm 30 segundos e recuperam durante 15 segundos. Projetado para obter frequência cardíaca e VO2 máximos, mas também fornece medidas de reserva de velocidade anaeróbica, capacidade de recuperação entre esforços, aceleração, desaceleração e habilidades de mudança de direção.

Link de testes na seleção brasileira.

O que aprendemos sobre as Avaliações Físicas?

Em resumo, o que podemos perceber sobre as Avaliações Físicas no Futebol é que não existe certo ou errado em relação aos testes físicos que deverão ser escolhidos. É necessário ter clareza sobre o que se quer avaliar, quais os testes que se adaptam ao contexto estrutural e humano onde estou inserido, e como serão interpretados e aplicados os dados coletados.

Por fim, vale destacar que todos os testes escolhidos deverão ser aplicados, de preferência, sempre no mesmo local e sob as mesmas condições, ou seja, obedecendo sempre a um mesmo padrão. Isso fará com que os resultados sejam mais fidedignos e com maior fiabilidade, para que assim possam ser realizadas comparações entre os diferentes períodos das avaliações físicas.

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Os jogos reduzidos no futebol e a preparação física

O treinamento no futebol vem evoluindo e caminhando cada vez mais ao encontro da especificidade do jogo. Nesse sentido, os jogos reduzidos no futebol vêm sendo amplamente utilizados para aproximação entre o jogo e o treino.

Com base nisso, estudos já demostraram o aumento do desempenho físico e técnico em equipes que utilizam este método durante suas sessões de treinamento. Contudo, precisamos ter atenção ao caráter estrutural dos jogos reduzidos no futebol. Isso porque, existem diversos fatores que podem influenciar na resposta da demanda física e fisiológica dos atletas durante a realização das atividades. Por exemplo: a dimensão do campo, as regras do jogo, o incentivo verbal por parte da comissão, a duração do trabalho, a composição das equipes, o número de jogadores, entre outros fatores.

Relação entre número de jogadores e a demanda física e fisiológica.

Podemos dividir os jogos reduzidos no futebol em três grupos:

  • Pequenos jogos (1×1, 2×2, 3×3, 4×4);
  • Médios jogos (5×5, 6×6, 7×7, 8×8);
  • Grandes jogos (9×9, 10×10).

Diante disso, os jogos menores apresentam mais respostas fisiológicas (maior carga interna), quando comparado aos grandes jogos. Em outras palavras, valores de concentração de lactato, frequência cardíaca (FC) e PSE são mais elevados neste formato de jogo.

Nessa mesma linha, devido ao fato do trabalho ser realizado em alta frequência cardíaca, o formato de pequenos jogos é uma boa alternativa para o desenvolvimento da capacidade aeróbia dos atletas. Entretanto, jogos no formato de 4×4+goleiro também seriam uma boa alternativa para o treinamento da potência muscular, pois o contato constante com o centro do jogo e as poucas alternativas de passes, obrigam os jogadores a realizarem um grande número de acelerações e desacelerações.

Manipulação das dimensões do campo

As diferentes dimensões de campos nos jogos reduzidos impactam em mudanças nas movimentações dos atletas durante a atividade. As principais mudanças são em relação à velocidade máxima alcançada, distância total percorrida e distância percorrida em alta intensidade. Portanto, há uma relação linear entre o aumento do campo de jogo e o aumento das variáveis citadas.

Esta relação pode ser explicada pelo simples fato que, em campos com dimensões maiores, existe mais espaço para que os atletas percorram grandes distâncias e consigam atingir velocidades máximas. Assim, uma variável muito importante é a área ocupada por cada jogador (m²/jogador). Pois, com a manipulação desta variável, é possível trazer características presentes nos médios e grandes jogos para os pequenos jogos, e vice-versa.

Contudo, para se trabalhar com jogos reduzidos no futebol não basta elaborar exercícios visando apenas uma resposta fisiológica, desconsiderando as demais vertentes presentes no jogo, como a tática, por exemplo. Desse modo, a composição das equipes durante a realização dos jogos exerce uma grande contribuição para unificar estas vertentes, a fim de otimizar o desempenho da equipe durante as sessões de treinamento.

A composição das equipes nos jogos reduzidos no futebol

Como já foi visto em textos anteriores, diferentes posições requerem demandas físicas especificas durante a partida. Dessa forma, é necessário saber se os jogos reduzidos demandam comportamentos específicos em relação ao estatuto posicional durante suas realizações.

Nessa perspectiva, pesquisadores brasileiros, em estudo publicado em 2017, quantificaram a demanda física em função do estatuto posicional em pequenos jogos de futebol. Os resultados demonstraram que os pequenos jogos refletem a especificidade do jogar em função do estatuto posicional em formatos de jogos de 3×3, onde cada equipe era composta por um defensor, um meio campista e um atacante. Acreditamos que este modelo permita uma correlação com as demandas físicas específicas solicitadas aos jogadores pelo jogo. Dessa forma, a composição das equipes nos pequenos jogos demonstra ser uma variável de suma importância para o condicionamento físico de jogadores. No entanto, para atingir maiores níveis de desempenho é necessária a manipulação de outras duas variáveis, são elas: implementação de regras e o incentivo verbal.

Influência da modificação da regra e incentivo verbal nos jogos reduzidos

Desde os primórdios do jogo de futebol, a regra do jogo exerce uma influência direta sobre os comportamentos dos jogadores durante uma partida. Como exemplo, podemos citar o surgimento da regra do impedimento. Nesse sentido, alguns estudos se propuseram a analisar a influência da modificação das regras durante a realização dos jogos em campo reduzido. Algumas variações analisadas foram:

  • Número de toques na bola;
  • 3×3 e 4×4 para: jogo exclusivamente ofensivo, defensivo e misto;
  • Uso da marcação individual em fase defensiva.

Os autores relataram que, a manipulação da regra durante os jogos reduzidos, resulta em mudanças na intensidade dos jogos e nas ações técnicas e táticas. Por exemplo, os jogos sem restrição de números de toques na bola, estimulam os jogadores a realizarem mais duelos. Preservando, assim, a eficiência das ações técnicas. Por outro lado, essa manipulação da regra diminui o número de corridas em alta intensidade e sprints. Em contrapartida, a utilização da marcação individual aumenta cerca de 4,5% a FC durante a realização da atividade. O encorajamento verbal dos treinadores durante a realização dos jogos reduzidos também exerce uma influência no aumento da intensidade do jogo.

Modificações nos jogos reduzidos

Portanto, esses são apenas alguns exemplos de manipulações que podem ser feitas. Porém, podemos aplicar uma infinidade de modificações durante a realização dos jogos em campo reduzido, a fim de obter uma maior resposta física e fisiológica por parte dos atletas. A presença dos goleiros, presença de mini-gols, jogos contínuos e intermitentes são outros exemplos de manipulações nos mini-jogos.

Assim, conseguimos constatar que existem várias manipulações referentes a estrutura dos jogos em campo reduzidos, acarretando diferentes respostas físicas e fisiológicas. Percebemos que, quanto mais o jogo se aproxima do formato oficial, maiores serão as movimentações e menor será a intensidade fisiológica presente na atividade.

Treinamento aeróbio por meio dos jogos reduzidos

A capacidade aeróbia se resume basicamente em captar, transportar e metabolizar o oxigênio de modo a fornecer energia ao organismo, e superar a fadiga em determinado exercício ou atividade física. O trabalho aeróbio promove uma melhora do sistema respiratório e cardiovascular. Assim, devemos priorizar a montagem de exercícios que nos possibilite manter os atletas sobre frequência cardíaca mais elevadas durante maior tempo.

Nesse sentido, jogos reduzidos de 4 contra 4; e 5 contra 5 jogadores em uma área em torno de 150m² por jogador, parece ser uma boa opção para o treinamento aeróbio. Isso porque o contato constante com o centro do jogo, ou seja, com o local próximo à bola, permitirá que os jogadores realizem a atividade com maior intensidade física e fisiológica. 

Outros diferentes métodos de treinamento são também aplicado para o desenvolvimento do metabolismo aeróbio. Como exemplo, um estudo realizado pelos pesquisadores Casamichana, Castellano e Dallal em 2013, afirmou que os jogos contínuos seriam mais eficientes para esta finalidade, dado que, devido à duração prolongada, o desgaste físico, frequência cardíaca e Percepção Subjetiva de Esforço (PSE) demonstrariam valores mais elevados.

Além do formato dos jogos e dos métodos de treinamento, ainda devemos considerar que as regras inclusas nos jogos reduzidos no futebol é outro fator relevante. A restrição do número de toques na bola, por exemplo, pode induzir a uma maior frequência cardíaca durante a realização da atividade; assim como a restrição da presença de goleiros e da utilização de mini-gols.

Treinamento da potência através dos jogos reduzidos

A potência é a capacidade do sistema neuromuscular de alcançar altos níveis de força no menor tempo possível. Sendo assim, para conseguirmos desenvolver esta capacidade através dos jogos reduzidos no futebol, devemos dar ênfase em comportamentos que exijam maior tensão muscular durante sua realização. Por exemplo: mudanças de direções, acelerações e frenagens.

Tendo isso em vista, formatos de jogos reduzidos menores são mais indicados para o desenvolvimento da potência. Como os jogos de 2×2, 3×3 até 4×4 com menos de 140 metros quadrados por jogador. Além disto, deve-se priorizar jogos descontínuos, ou seja, menor tempo de atividade e um maior intervalo entre as séries de exercícios.

Utilizar a presença de mini gols, ou até mesmo de goleiros, como ferramentas para estimular o aumento do número de ações de força/tensão durante a atividade é uma opção. Pois, o objetivo de atacar e defender uma meta, motivam a execução destes comportamentos.

Treinamento da velocidade através dos jogos reduzidos

ara treinar velocidade por meio dos jogos reduzidos, devemos nos ater a uma variável fundamental, a metragem quadrada por jogador. Sabemos que nos grandes jogos a intensidade fisiológica é menor em comparação aos pequenos jogos. Assim sendo, os médios e grandes jogos tornam-se alternativas interessantes para podermos desenvolver esta capacidade. Em 2016 pesquisadores europeus constataram que, grandes jogos de cerca de 8 contra 8 mais goleiros, proporcionaram aos atletas realizarem mais sprints durante a realização da atividade.

As medidas oficiais de um campo de futebol profissional padronizadas pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) são de 105mX68m, isto resulta em uma área total de 324m² coberta por cada jogador. Portanto, para enfatizarmos a velocidade nos jogos reduzidos, devemos elaborar trabalhos com uma área coberta maior que 150m² por jogador. Isso porque deve haver espaço para atingir maiores velocidades no jogo.

Ainda podemos utilizar a presença de goleiros nestas atividades, a montagem de campos verticais, e trabalhos envolvendo jogos de transição, ultrapassagem e progressões.             

Afinal, como devemos treinar os jogos reduzidos?

Por fim, estes dois textos nos mostram o quão complexo é o método de treinamento por meio dos jogos reduzidos no futebol. Conhecemos as diversas variáveis envolvidas nesta metodologia e como manipulá-las para direcionarmos o treinamento ao alvo desejado.

Com uma montagem adequada, considerando o número de jogadores, a metragem quadrada coberta por cada atleta, a densidade do trabalho, a montagem das equipes, e as regras inclusas no exercício; será mais fácil ser assertivo em suas sessões de treinamento.

É importante ressaltar que os jogos reduzidos, apesar de apresentarem uma ótima correlação com o jogo, não necessariamente são a única e exclusiva metodologia de treinamento. Ou seja, eles podem ser conjugados com trabalhos de caráter analítico.

Cabe a cada profissional extrair o melhor de cada ferramenta, adaptando-se à realidade em que está inserido, para assim, atingir os melhores resultados possíveis.

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Fontes e Referências

Futebol Sistêmico.

https://journals.lww.com/nsca-jscr/Fulltext/2012/04000/Effects_of_the_Number_of_Players_and_Game_Type.13.aspx

https://www.researchgate.net/publication/6373696_Factors_influencing_physiological_responses_to_small-sided_games

https://journals.lww.com/nsca-jscr/Fulltext/2014/12000/Small_Sided_Games_in_Team_Sports_Training__A_Brief.36.aspx

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O desempenho físico no futebol muda conforme o estilo de jogo?

Como visto no texto anterior sobre as demandas físicas e fisiológicas, o jogo de futebol vem se tornando mais intenso com o passar dos anos, requerendo um melhor desempenho físico dos jogadores. Nesse sentido, um estudo realizado por pesquisadores europeus em 2015, aponta um crescimento de 30% a 50% nas ações de alta intensidade entre as temporadas 2006-2007 e 2012-2013 da Premier Legue.

Contudo, devemos compreender a natureza complexa e dinâmica do futebol, ou seja, as vertentes do jogo (técnica, tática, física e psicológica) estão correlacionadas e devem ser analisadas de uma forma sistêmica. Portanto, alguns fatores como a velocidade, distância percorrida e manutenção da posse de bola são relevantes para entendermos a intensidade e desempenho físico no futebol.

Desempenho físico no futebol: o impacto da posse de bola

Primeiramente, sabemos que ter somente a posse de bola não demonstra o modelo de jogo de uma equipe. Entretanto, jogar com ou sem a posse de bola faz parte da ideia de jogo do treinador e do modelo de jogo do clube. De modo geral, em uma visão sistêmica, estudos demonstraram que a posse de bola tem uma relação importante nas variáveis físicas e técnicas dos jogadores.

Um estudo publicado em 2019, ao analisar jogos da copa do mundo de 2018, por exemplo, concluiu que as seleções caracterizadas com jogo de maior posse de bola apresentaram maiores distâncias percorridas em alta intensidade e sprints, em comparação às seleções caracterizadas com jogo direto (menos posse de bola). Indicando, deste modo, uma relação entre fatores táticos e físicos, mais especificamente entre o percentual de posse de bola e a demanda física.

Em outros estudos, equipes com maior posse de bola percorreram maior distância em alta intensidade na fase ofensiva. Em contrapartida, as equipes que apresentam um jogo “reativo” percorrem maiores distâncias em alta intensidade quando se encontram em fase defensiva. Veja os dados na figura abaixo.

Figura 1. Em preto é a % com posse de bola/ Em branco a % sem posse de bola / WP= distância percorrida com posse / WOP= distância percorrida sem posse / BOP= fora de jogo Fonte: (Artigo publicado em 2016).

Assim, percebemos pelo gráfico que a distância total, distância em baixa velocidade (low speed), distância em média velocidade (medium speed) e distância em alta velocidade (high speed) não sofreram grandes alterações decorrentes do fator de posse ou não da bola. Todavia, as equipes com maior porcentagem de posse de bola (barras pretas), percorreram uma maior distância quando de posse da bola (WP). O contrário acontece com as equipes com menor percentual de posse de bola (barras brancas/WOP).

Posição e desempenho físico

Conforme vimos até aqui, a manutenção ou não da posse de bola pode influenciar as demandas físicas e fisiológicas dos jogadores. Assim, essa diferença, talvez seja em consequência, principalmente, das distintas posições e funções táticas exercidas pelos jogadores em campo.

Dessa forma, para entendermos melhor como os indicadores físicos por posição são influenciados pela posse ou não da bola, os estudos que citamos também mostraram dados interessantes. Foi constatado, por exemplo, que meio-campistas e atacantes apresentam uma demanda física maior quando a equipe joga com menos posse de bola. Esse resultado provavelmente ocorre pelo fato deles precisarem fechar espaços e pressionar opositores, de modo a recuperar a bola.

Por outro lado, um efeito contrário foi encontrado nos zagueiros. Nos zagueiros foi identificado uma maior porcentagem de corridas de alta intensidade nas equipes com maior posse de bola durante a fase ofensiva, pois há uma tendência destes jogadores permanecerem mais parte do tempo ocupando a metade ofensiva do campo, auxiliando na circulação da bola, conforme consta o gráfico na figura abaixo.

Figura 2. Comportamento dos zagueiros. Barra preta é a % com posse de bola / Barra branca é a % sem posse de bola. Fonte: (Artigo publicado em 2016).

A imagem acima mostra o percentual do tempo gasto dos zagueiros na metade ofensiva do campo de jogo. Desta forma, fica nítido perceber que os zagueiros pertencentes as equipes com maior posse de bola (barras pretas) se dispõem no campo ofensivo durante grande parte do tempo de jogo. Em outras palavras, há uma tendência destes jogadores executarem uma maior porcentagem de ações de alta intensidade em equipes com maior percentual de posse de bola.

Posse da bola x demanda física

Portanto, os estudos aparentam uma congruência, indicando que equipes com maior percentual de posse de bola executam maiores números de ações de alta intensidade, quando de posse da mesma. Além disso, mostram uma forte relação entre diferentes posições x estilos de jogo e a demanda física.

Entretanto, a ênfase ou não na posse de bola não parece influenciar significativamente nas demandas físicas gerais das equipes. Deste modo, fica a sugestão para mais trabalhos neste sentido, analisando a natureza complexa e dinâmica do futebol, a fim de procurarmos entender melhor como as vertentes se correlacionam e influenciam na performance durante o jogo.

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Fontes e Referências

https://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/02640414.2013.786185

https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/02640414.2015.1114660

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O fisiologista no futebol e os treinos semanais

O fisiologista possui um papel fundamental na construção da dinâmica de cargas em uma semana de treinamento no futebol, seja a semana com um ou mais jogos. Como discutido em textos anteriores, quantificar, monitorar e controlar as cargas dos atletas são funções inerentes ao fisiologista. No entanto, além dessas funções, o fisiologista auxilia a preparação física e a comissão técnica no planejamento de cargas que serão impostas em cada dia da semana.  Nesse texto, discutiremos como o ocorre essa relação entre preparação física e fisiologia no planejamento de treinos em cada dia da semana.

Cargas de trabalho e os dias da semana

As cargas de treino no futebol variam conforme os dias da semana. Consideramos dois fatores para selecionar o que devemos trabalhar em cada dia da semana, são eles: o dia do jogo anterior e o dia do próximo jogo. Assim, selecionamos os dias em que as cargas serão de recuperação, manutenção ou aquisição.

Na imagem abaixo vamos observar a dinâmica de cargas em duas situações. Em primeiro lugar, consideraremos uma semana cheia para treinamentos, com jogos apenas nos finais de semana. Em segundo lugar, exemplificaremos a semana com menos treinos, pois há dois jogos nesse período, sendo um no final de semana e outro no meio da semana.

Fonte: criado pelo autor

Podemos perceber que existe uma diferença entre a natureza das cargas de treino considerando essas duas situações. Neste sentido, o fisiologista tem o papel de determinar o volume e intensidade de cada dia de treino, buscando obter um ótimo nível de performance e recuperação dos atletas.

Fisiologista e as capacidades físicas

Além do volume e intensidade das sessões, no microciclo são selecionadas as capacidades físicas que devemos enfatizar em cada treino com natureza aquisitiva. Por exemplo, é comum fragmentar as sessões de aquisição em força, resistência e velocidade. Dessa forma, o fisiologista deve monitorar os atletas para entender se as exigências de carga externa atingiram o planejado para cada um deles, nos diferentes dias. Em casos de não obtenção do planejado, algumas decisões são tomadas, buscando realizar exercícios que são complementos físicos para atingir aquilo que foi estipulado.

Na imagem abaixo observamos os dias de treino e as capacidades físicas que são enfatizadas conforme o jogo anterior e próximo jogo. No primeiro gráfico há somente jogos aos domingos, já no segundo gráfico há jogos tanto nos finais de semana como no meio de semana. Como podemos observar, em cada dia da semana é visado uma capacidade física diferente. Além disso, as cargas variarão conforme o número de jogos na semana.

Fonte: Artigo publicado em 2020

Fisiologista no futebol

Por fim, o fisiologista deve ser figura presente no planejamento semanal das equipes de futebol. Sua presença no planejamento dos treinos irá auxiliar os preparadores físicos e treinadores. Como resultado, isso se refletirá na recuperação dos atletas, na manutenção do estado ótimo de desempenho e na redução do número de lesões na equipe. Isso porque a aplicação correta das cargas de treinos diárias podem “proteger” os atletas de situações de alto risco durante a temporada competitiva.

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Entenda como a ciência contribui para o Futebol

O futebol é um esporte que envolve uma variedade de conhecimentos, incluindo científico, popular e empírico. O conhecimento científico inclui estudos sobre fisiologia, biomecânica, nutrição e psicologia esportiva, que ajudam a entender como o corpo humano se comporta durante o jogo e como os jogadores podem se preparar e se recuperar melhor. Já o conhecimento popular se refere a técnicas, estratégias e tendências de jogo, amplamente compartilhadas entre jogadores, treinadores e fãs. Enquanto o conhecimento empírico é baseado na experiência prática de jogar e assistir a jogos de futebol.

Cada tipo de conhecimento tem sua importância no futebol. O conhecimento científico fornece uma base para melhorar a performance dos jogadores, enquanto o conhecimento popular e empírico fornecem uma compreensão da dinâmica do jogo e da forma como as equipes e jogadores se comportam em campo. A combinação desses três tipos de conhecimento é fundamental para entender o esporte como um todo.

Como o conhecimento científico auxilia no Futebol?

O conhecimento científico é fundamental para entender como o corpo humano se comporta durante o jogo de futebol e como os jogadores podem se preparar e se recuperar melhor. A ciência tem sido amplamente utilizada para melhorar o desempenho dos jogadores, incluindo estudos sobre preparação física, fisiologia, biomecânica, nutrição, psicologia esportiva, identificação de talentos, etc. A fisiologia estudam como o corpo humano funciona, incluindo as respostas fisiológicas ao exercício; a biomecânica se concentra na análise dos movimentos dos jogadores durante o jogo; a nutrição estuda como a dieta afeta o desempenho dos jogadores; e a psicologia esportiva ajuda os jogadores a lidar com o estresse e a pressão do jogo e auxiliar no processo de detecção de talentos.

Além disso, o conhecimento científico também é utilizado para desenvolver programas de treinamento e condicionamento físico específicos para o futebol, para ajudar os jogadores a alcançar seus objetivos de desempenho. A ciência também é usada para ajudar os jogadores a se recuperar de lesões e para prevenir lesões futuras. Usando esses conhecimentos, os jogadores e treinadores podem garantir que os jogadores estejam em ótimas condições físicas e mentais para jogar e se recuperar rapidamente após os jogos.

Algumas áreas de estudos científicos no futebol

A fisiologia do esporte é a área da ciência que estuda como o corpo humano responde ao exercício físico. Aplicando esses conhecimentos no futebol, os treinadores podem planejar programas de treinamento que maximizem a capacidade aeróbica, força e resistência dos jogadores. Isso é especialmente importante para jogadores de futebol, que precisam desenvolver uma boa condição física para suportar as exigências do jogo.

A biomecânica é a ciência que estuda como o corpo se move e como os movimentos são produzidos. Ela pode ajudar a entender como os jogadores podem melhorar sua técnica, como chutar a bola com mais precisão e potência. Os especialistas em biomecânica podem analisar os movimentos dos jogadores e identificar quaisquer problemas técnicos que possam estar afetando o desempenho.

A psicologia desempenha um papel importante no futebol, tanto para os jogadores quanto para os treinadores. A psicologia do esporte estuda como as emoções e a motivação afetam o desempenho dos atletas. Os jogadores que conseguem controlar suas emoções e manter a concentração durante o jogo são mais propensos a ter sucesso. Além disso, os treinadores podem usar técnicas de psicologia para motivar seus jogadores e melhorar o desempenho de sua equipe.

A estatística é outra ciência importante no futebol. Ela pode ser usada para analisar dados de jogos e treinamentos para entender como os jogadores e as equipes estão se desenvolvendo. Isso pode ajudar os treinadores a identificar áreas de fraqueza e força, bem como a planejar melhor as estratégias de jogo.

Os estudos científicos para detecção de talentos no futebol envolvem a utilização de diferentes ferramentas e técnicas para avaliar as habilidades e características dos jogadores jovens. Esses estudos podem incluir testes físicos, como medidas de força, velocidade, flexibilidade e resistência, assim como testes psicológicos, como avaliações de personalidade e inteligência. Os estudos também podem incluir a observação de jogos e a análise de vídeo, para avaliar as habilidades técnicas e táticas dos jogadores.

Além disso, existem diversas outras áreas que envolvem estudos sobre nutrição, medicina, fisioterapia, gestão e administração, direito esportivo e organização empresarial.

Os estudos científicos também podem utilizar ferramentas avançadas, como a análise de movimento e a tecnologia de rastreamento, para avaliar as habilidades dos jogadores em detalhes. Essas ferramentas permitem aos cientistas do esporte medir a velocidade, a distância, a direção e a intensidade dos movimentos dos jogadores durante o jogo, e usar esses dados para identificar as habilidades e características que são importantes para o sucesso no futebol.

É importante notar que, estes estudos científicos são somente uma das formas de avaliar e detectar talentos no futebol, porém, a detecção de talentos no futebol também envolve outros aspectos como observação de jogos, treinadores e outros profissionais do futebol, com experiência e conhecimento empírico no assunto.

Como trabalhar com ciência no futebol

Para trabalhar no futebol aplicando estudos científicos, os profissionais precisam estar capacitados para entender e utilizar as ferramentas e técnicas das ciências. Isso pode ser alcançado através de cursos e programas de formação específicos.

No Brasil, existem diversas instituições de ensino superior que oferecem cursos relacionados ao futebol e às ciências do esporte. Por exemplo, a Universidade de São Paulo (USP) oferece um curso de pós-graduação em Ciências do Esporte, enquanto a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) oferece um curso de graduação em Educação Física com ênfase em Futebol, e na Universidade Federal de Viçosa (UFV) há um curso de especialização em Futebol. Além disso, há várias escolas de treinadores e academias de futebol que oferecem cursos específicos para treinadores e profissionais da área, como o Ciência da Bola.

É importante destacar que estudar futebol no Brasil não é só para quem deseja ser jogador ou treinador, mas também para aqueles que desejam trabalhar com performance, preparação física, nutrição, entre outras áreas da ciência do esporte. E com a crescente preocupação com a saúde e o bem-estar dos jogadores, a medicina esportiva tem se tornado uma área cada vez mais importante no futebol brasileiro.

Para estudar táticas e psicologia no futebol, é importante ler livros e assistir a jogos de futebol. Além disso, é importante participar de treinamentos e discussões com outros profissionais de staff para compreender as diferentes abordagens e opiniões.

Confira abaixo um episódio do Podcast sobre o assunto:

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Desafios da preparação física nas categorias de base

O assunto agora são os desafios da preparação física nas categorias de base. Formar e revelar grandes atletas sempre foi característica do futebol brasileiro. Contudo, nos últimos anos, acerca de críticas e maus resultados, o nosso cenário formador passou por uma grande revolução. Mas, será que por aqui estávamos formando os atletas ou apenas dando a oportunidade dos mesmos mostrarem o seu talento? Será que trabalhávamos para melhor preparar e desenvolver o jovem atleta ou deixávamos essa função a carga do ambiente? Entretanto, poderíamos melhorar este cenário?

Formar x revelar

A princípio é necessário conceituar dois termos distintos: formar e revelar. Formar um atleta significa desenvolvê-lo como tal, em todas as suas vertentes. Revelar, por sua vez, é o ato de lançar o jovem atleta na equipe profissional, dar a ele a oportunidade de jogar no alto nível.

Assim, junto a esses questionamentos iniciais, a evolução do futebol como um todo serviu de companhia para uma mudança de pensamento a respeito das categorias de base por aqui. Logo, desenvolver o jovem indivíduo em sua totalidade passou a ser o foco. Desse modo, a ideia é identificar talentos e prepará-los taticamente, tecnicamente, fisicamente, emocionalmente e socialmente através de um conteúdo pedagógico bem desenvolvido.

Preparação física na base

Além disso, são muitos os tópicos e procedimentos que fazem parte do processo de formação do atleta. No presente artigo, teremos como foco a preparação física. Primeiramente, é necessário ter fixa a ideia de que cada jovem atleta é um individuo diferente (princípio da individualidade biológica).

Em outras palavras, frente a esse conceito básico, é de extrema importância que a preparação física nas categorias de base respeite o nível de maturação de cada atleta. Para isso, devemos considerar o efeito da idade biológica: o grau de maturação do jovem pode não ter ligação com sua idade cronológica (anos). Deste modo, dois jovens atletas podem possuir a mesma idade, mas níveis de desenvolvimento corporal (massa muscular, estrutura óssea e articular, estatura…) totalmente distintos. Resumidamente, a maturação biológica representa todo o processo que o corpo humano e suas estruturas passam para chegar à fase adulta. Portanto, esse é o primeiro passo para sermos mais assertivos em programas de preparação física nas categorias de base.

Sobretudo a puberdade é um ocorrido determinante nessa fase. É ela que vai determinar o grau de maturação e consequentemente o que o atleta necessita em relação a treinamento para o seu desenvolvimento. Assim, podemos dividir os atletas em pré-púberes, púberes ou pós-púberes. Para isso, podemos submetê-los á avaliações clínicas ou somáticas (cálculo do Pico de Velocidade de crescimento-PVC) através da massa corporal, estatura, comprimento tronco-encefálico, comprimento dos membros inferiores e idade cronológica.

Etapas de formação na base

Da mesma forma, nas categorias de base, o jovem atleta deve passar por algumas etapas distintas, cada qual com seu objetivo específico. A primeira etapa é a iniciação esportiva (6 a 10 anos), a segunda é a especialização (11 a 15 anos), e por fim o rendimento (16 a 20 anos). Lembrando que nem sempre a idade cronológica equivale à idade biológica; a segunda deve ser considerada.

Certamente, na iniciação o foco é o contato com o esporte (não somente o futebol). São componentes muito importantes como se movimentar de maneiras distintas, bem como expor a criança a estímulos que desafiem o seu corpo. O objetivo é a construção de um amplo repertório motor. Correr, pular, saltar, rastejar, agachar, puxar, chutar, aterrissar, lançar, apanhar… a criança precisa se movimentar de maneira global. Dessa forma, ela irá adquirir uma base sólida de habilidades motoras gerais que servirão de suporte neuromotor nas habilidades especificas do futebol que serão exigidas nas próximas etapas.

Enquanto que na especialização, o foco passa a ser o futebol e suas respectivas habilidades motoras.  A ênfase está agora no que é especifico, tanto em questão de habilidade motora quanto capacidade física.

Por fim, no rendimento, a regra de ação é potencializar gradualmente tudo que o jovem atleta construiu até ali. A aprendizagem vai saindo de cena e o rendimento começa a tomar conta do processo.

Meios e métodos

Como vimos, existem etapas e indivíduos diferentes. Afinal, o método das “janelas de oportunidade” ou “períodos sensíveis” tem se mostrado o mais usual quando o falamos em preparação física nas categorias de base.  Tal metodologia propõe qual capacidade física está mais sensível ao treinamento para cada fase do desenvolvimento infantil. Recomendo a leitura do livro “Long-Term Athlete Development” para maior aprofundamento.

Em contrapartida, essa abordagem passou a ser questionada nos últimos anos. Pesquisadores holandeses contestaram tais ideias em um artigo interessante publicado este ano. Segundo o estudo, os períodos sensíveis devem enfatizar habilidades motoras e não capacidades físicas. Reportam que, cada movimento realizado para determinado esporte necessita da integração de diferentes capacidades físicas e não destas isoladas.

Outro conceito contestado pelo estudo é que não existem evidências de que um atleta não chegará ao ápice do rendimento se não trabalhar cada capacidade física no seu hipotético período sensível. Portanto, ter em mente ambos os conceitos é essencial para a elaboração de um programa de preparação física na base que vá de encontro à sua realidade.

Treinamento de força na base

Certamente, parece-nos que aqui está o ponto de diferenciação. A força é a capacidade física que rege as ações determinantes do futebol e seus benéficos para performance e redução do índice de lesões.

Se a considerarmos de maneira simplista, ela depende de hormônios que o corpo só começa a produzir pós puberdade. Afirmação esta que não deixa de estar correta. Contudo, estímulos neurais também integram essa capacidade física e possuem seu alto grau de importância.

Pensando dessa forma, podemos introduzir o trabalho de força já nos primeiros anos de especialização. Coordenação intra e inter muscular e força de estabilização são componentes treináveis nessa fase. Já força máxima, resistência de força e potência necessitam de componentes endócrinos e devem ser treinados pós puberdade. Em suma, o trabalho da força deve ser constante durante todo o processo de preparação física nas categorias de base.

Desafio para a preparação física na base

Resumidamente, ensinar e potencializar gradualmente. Esse é o ponto chave da preparação física nas categorias de base. Saber respeitar os limites do jovem atleta e individualizar o trabalho é o grande desafio. Integrá-lo ao desenvolvimento tático, técnico, psicológico e social também. Nessa perspectiva, muitos clubes passaram a enxergar as categorias de base como investimento e não custo. O trabalho com os garotos precisa ser de excelência e os cuidados devem ser até maiores do que com os atletas profissionais. No Brasil demos os primeiros passos, mas ainda temos muito a percorrer. Seguimos na construção de uma categoria de base forte, formadora e que respeite as raízes brasileiras, esse é o caminho.

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Confira um episódio do Podcast Ciência da Bola que fala sobre o assunto:

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Como a fisiologia no futebol ajuda outras áreas do clube?

A fisiologia no futebol já está presente a algum tempo. No entanto, não é novidade que nas equipes de futebol existem outros departamentos profissionais importantes. Esses profissionais possuem a função de apresentar informações para os treinadores, visando ajudar na melhora do rendimento dos jogadores e, consequentemente, da equipe. Como resultado, é comum a interação entre as diferentes áreas que compõe o núcleo de futebol de um clube. Mas, como isso ocorre na prática? Quais as informações que devem ser compartilhadas por profissionais da fisiologia e de outros setores?

Quais as informações que possuímos?

No futebol moderno a utilização de dados cresce exponencialmente. Desse modo, diariamente geramos diferentes informações para processarmos e interpretarmos. Por exemplo, é comum a filmagem de todos os treinos e jogos,o monitoramento dos atletas através de aparelhos de rastreamento em contexto de treino ou jogos, etc. Ainda no cotidiano desses atletas, incluímos também algumas medidas de recuperação e bem-estar, além de informações nutricionais e de características psicológicas. Logo, precisamos processar os dados coletados, a fim de possibilitar tomadas de decisões assertivas.

Entendendo a quantidade de informações geradas recorrentemente, os profissionais devem relacioná-las, para que, juntamente dos treinadores, possam tomar as melhores decisões para o rendimento da equipe. Portanto, a aplicação de uma visão sistêmica na modalidade se torna cada vez mais presente, a qual entenderá o atleta na totalidade e relaciona os diferentes componentes do desempenho desses atletas, buscando um equilíbrio entre saúde e desempenho.

Como a fisiologia pode auxiliar outros departamentos no futebol?

Fisiologista e analistas de desempenho

Uma das funções dos fisiologistas é quantificar a carga externa durante os jogos, utilizando aparelhos de GPS. Somado a isso, podemos relacionar os dados de corrida durante os jogos com as informações técnico-tática recrutadas pelos analistas de desempenho. Por exemplo, é interessante entender quais são as características das ações técnica e tática que os jogadores realizam quando estão correndo em altas velocidades. Como resultado, isso pode auxiliar os treinadores na melhor transferência dessas análises para as atividades de treino.

Abaixo observamos uma proposta de autores ingleses, através da abordagem integrada para interpretação dos dados de corrida dos jogadores de futebol durante as partidas.

Fonte: imagem adaptada do artigo: Are Current Physical Match Performance Metrics in Elite Soccer Fit for Purpose or is the Adoption of an Integrated Approach Needed?

Fisiologistas e nutricionistas

Ainda, os fisiologistas podem relacionar informações com o departamento de nutrição do clube. As medidas antropométricas, além de hidratação e alimentação, são tópicos inerentes aos profissionais da nutrição. No entanto, precisamos realizar os ajustes com a interação entre os departamentos. É comum nos clubes alguns atletas apresentarem necessidades de ajustes corporais de forma específica, seja para incrementos na massa muscular magra ou até mesmo uma redução na porcentagem de tecido adiposo.

Para que essas adaptações aconteçam são necessários ajustes tanto por parte da ingestão de alimentos, como nas cargas de treino desses atletas. Dessa forma, é preciso que ocorra uma constante interação entre os membros dos departamentos. Na imagem abaixo podemos observar a avaliação das dobras cutâneas para cálculo do percentual de gordura.

Fisiologistas e psicólogos

Por último, mas não menos importante, podemos destacar que com o passar dos anos o departamento de psicologia tem sido cada vez mais presente em equipes de futebol. Algumas informações recrutadas pelos fisiologistas podem auxiliar o trabalho desses profissionais.

Diariamente é comum os atletas realizarem questionários de características psicométricas, ou seja, esses questionários remetem ao bem-estar e estado de humor dos indivíduos. Assim, ao identificarmos algumas alterações no perfil dos jogadores podemos minimizar os efeitos negativos de altas cargas de treinamento. Essas avaliações do estado de humor podem ser realizadas com a interação entre os profissionais das diferentes áreas, melhorando o diagnóstico e, consequentemente, a tomada de decisão. A seguir, observamos na imagem exemplos de questionários utilizados no dia-a-dia de atletas.

Já sabíamos da importância da fisiologia no futebol. E, depois desse texto, percebemos que outros departamentos têm igual relevância no clube. Portanto, é necessário que o fisiologista relacione os dados coletados diariamente com as diferentes áreas, isso poderá elevar o nível de assertividade nas escolhas que envolve a saúde e performance dos atletas de futebol.


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Qual é o VO₂ máximo em jogadores de Futebol?

A capacidade aeróbia é um dos principais fatores que possibilitam a sustentação de altas taxas de trabalho durante os 90 minutos de uma partida. Desta forma, é de suma importância quantificá-la para entender melhor como se encontram os atletas em condições cardiovasculares para fazer uma preparação adequada.  Sendo assim, o melhor indicador para fazer este monitoramento é conhecido como VO₂ máximo. 

O VO₂ máximo é a capacidade do sistema respiratório em captar, metabolizar e transportar oxigênio a fim de proporcionar energia para o corpo durante uma contração muscular. Resumidamente, é o maior volume de oxigênio que uma pessoa consegue captar por um determinado período durante um exercício. O VO₂ máximo é expresso em mililitros de oxigênio por quilograma por minuto (ml/kg/min) relativamente ao peso corporal do avaliado. 

E pelo futebol ser um esporte predominantemente aeróbio, um maior pico de VO₂ máximo traz informações importantes a respeito de como o atleta pode performar durante a partida. 

Como calcular/medir o VO₂ máximo de um atleta?

Para fazer este controle de desempenho, existem alguns protocolos que podem ser utilizados para avaliar o VO₂ máximo no Futebol. Os testes de VO₂ máximo variam entre protocolos de laboratório e testes de campo. Dentre as opções de protocolos utilizados para esta finalidade temos alguns conhecidos, como, por exemplo:

Teste ergoespirométrico:

Este é um teste ergométrico de laboratório e deve ser realizado em uma esteira ou bicicleta. Este é um exame que fornece dados fisiológicos e traz consigo a grande vantagem da quantidade de informações (oxigenação, frequência cardíaca, troca de gases, limiares, etc.). Além disso, os dados obtidos durante o teste são muito precisos. Por outro lado, exige uma infraestrutura maior por parte do clube e demanda mais tempo para realizá-lo. 

Teste de Cooper:

O teste de Cooper consiste em um protocolo de campo bem simples, onde o atleta deve percorrer durante 12 minutos, a maior distância possível.  Este teste é realizado em pistas de atletismo e tem por objetivo calcular o VO₂ máximo em função da distância percorrida pelo tempo.

Yoyo Test

Yoyo teste também é um teste de campo, que preconiza corridas de ida e volta entre uma distância de 20 metros. O ritmo da corrida é demarcado por um sinal sonoro, e seu fim é caracterizado quando o atleta não consegue mais acompanhar o ritmo imposto pelo teste. Portanto, o VO₂ máx do atleta é obtido neste momento.

Ainda sobre o Yoyo teste, existem algumas variações do teste tradicional (Yoyo endurance) como o Yoyo intermintent e o Recovery intermitente. Assim, vale destacar que uma vantagem deste teste, é que ele pode ser aplicado em campo, tornando mais acessível a sua aplicação. Além disso, a sua característica é intermitente, em que se assemelha melhor às demandas impostas por uma partida de futebol.

VO₂ no Futebol

Agora que já entendemos o que é VO₂ máximo e como predizê-lo, entenderemos como ele se manifesta durante a partida de futebol. 

Os valores de VO₂ máximo podem variar conforme a faixa etária analisada. Estudos demostraram que uma boa capacidade aeróbia, possibilita ao atleta suportar melhor exercícios de longa duração, assim como aumentar a velocidade da ressíntese dos fosfatos (ATP-CP) responsáveis por fornecer energia para os períodos de alta intensidade. Desta forma, o valor mínimo considerado ideal para a prática do futebol seria de 55ml/kg/min.

Vale destacar que além da idade, fatores como: sexo, dimensão da composição corporal e a posição exercida pelos atletas, também influenciam nos valores de VO₂ máximo. Entretanto, a correlação entre VO₂ máximo e posição, está mais ligada a jogadores profissionais, não apresentando evidencias tão significativas nas categorias de base.

Desta forma, em equipes profissionais os valores de VO₂ máximo variam de 47ml/kg/min até 70ml/kg/min segundo a posição do jogador.  Nesse caso, os valores encontrados nos meio campistas e laterais geralmente são superiores aos demais valores encontrados nas outras posições. Em suma, estes resultados estão relacionados às diferenças entre as funções exercidas por cada posição durante o jogo.


VO₂ máximo e relação com frequência cardíaca (FC) e limiar anaeróbio (LA)

O futebol é um esporte com características energéticas mistas. Assim, definir limiares é um procedimento importante para o melhor conhecimento individual de seus atletas. Além disso, é essencial para o conhecimento das características presentes em diferentes posições. Nesse sentido, duas métricas estão atreladas ao VO₂ máximo: a frequência cardíaca e o limiar anaeróbio.

No geral, o que podemos perceber é uma relação linear entre Frequência Cardíaca e VO₂ máximo, haja vista que valores próximos do máximo da Frequência cardíaca, indicam uma maior percentagem de VO₂ sendo utilizada para a realização de determinada atividade.  

Deste modo, podemos entender que o controle da FC durante treinamentos e jogos, nos permite compreender qual o grau de esforço que o atleta está sendo submetido. E assim predizer limiares para direcionar o treino da melhor forma para o objetivo proposto. 

Já o limiar anaeróbio pode ser definido como uma transição de metabolismos, ou seja, uma mudança na via energética predominante na produção de energia, onde passa de aeróbio para anaeróbia. Basicamente, ela é provocada por exercícios com uma intensidade muito elevada, onde o nível de produção de lactato é maior que a capacidade do corpo em removê-lo. Provocando assim uma hiperventilação e uma sensação de queimação muscular, não conseguindo ser suportado por um período muito elevado de tempo.

Portanto, um Limiar Anaeróbio elevado permite ao atleta realizar atividades com intensidades mais elevadas, sem haver o acúmulo progressivo de ácido lático no sangue. Ou seja, permite ao atleta se manter em uma intensidade maior durante um período também maior. Desta forma, o atleta que consegue utilizar maior porcentagem do seu VO₂ máximo sem entrar em acidose metabólica e por isso tem vantagens competitivas em relação a seu adversário.

Entretanto, na literatura não há um consenso de valores absolutos de VO₂ máximo e Limiar anaeróbio em atletas de futebol, os estudos citam porcentagens entre 75% até 86% de VO₂ máximo para atingir o Limiar Anaeróbio. 

O que podemos entender sobre o VO₂ máximo?

Devido à complexidade do tema, não há um consenso na literatura referente a algumas questões relacionados ao assunto. Porém, entender a base do VO₂ máximo e conhecer sobre relação dos fatores que podem influenciá-lo, são características importantes para um bom profissional que atuará no futebol. 

Portanto, neste texto conseguimos ter uma noção maior de um dos principais índices fisiológicos presentes no futebol. Entendemos o que é VO₂ e como podemos mensurá-lo.

Ainda foi citado alguns valores de referência e a sua relação com demais indicadores fisiológicos como Frequência Cardíaca e Limiar Anaeróbio.

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Processo de recuperação pós-jogo

O que é recovery?

O futebol é um esporte que exige dos atletas, demandas físicas, fisiológicas e psicológicas muito altas. A elevada intensidade durante os jogos, aliada a um calendário competitivo e muito congestionado, leva os atletas a entrarem em processo de fadiga. Porém, estratégias para minimizar a fadiga, podem fornecer uma importante vantagem competitiva em relação aos adversários. Uma dessas estratégias é o recovery, que promove uma melhor e mais rápida recuperação pós-jogo.

O recovery é caracterizado, basicamente, por processos restaurativos que proporcionam uma recuperação musculoesquelética ou, até mesmo, recuperação psicológica. A recuperação depende do índice de estresse ao qual cada atleta é submetido e, também, ao perfil de personalidade.

Os modelos de recovery mais comuns são os passivos e ativos. Os modelos passivos são caracterizados por métodos externos, tais como massagens, alongamentos, crioterapia ou até a implementação de um estado completo de repouso. Já os modelos ativos, englobam atividades físicas de média e baixa intensidade executadas por um período curto de tempo, por exemplo: caminhadas ou trotes, jogos reduzidos, atividades na sala de musculação, entre outros.

Recuperação ativa e passiva

Geralmente, os estudos sobre a recuperação pós-jogo, ressaltam a eficiência da recuperação ativa em relação à passiva. Ademais, vejamos o estudo de liderado pelo pesquisador Grassi da Universidade Federal de Goiás, em que foi comparado três diferentes métodos de recuperação:

  • Passiva (RP): estado completo de repouso;
  • Banheira de gelo: 7 minutos a 14 graus;
  • Ativa (RA): trote com intensidade de 50% a 65% da frequência cardíaca máxima.

O estudo mostrou que a recuperação ativa apresentou uma diminuição da concentração de lactato sanguíneo relevante quando comparada com as demais alternativas, principalmente em relação à recuperação passiva. Portanto, podemos interpretar a diminuição da concentração de lactato na corrente sanguínea como uma redução da lesão tecidual, ou seja, uma melhor recuperação do músculo.

Da mesma forma, outro estudo realizado em 2013 liderado pelo pesquisador brasileiro Luís Inácio Silva, 20 atletas de futebol foram submetidos a um teste de 9 minutos e divididos em dois grupos: recuperação ativa (RA) e recuperação passiva (RP).

A concentração de lactato foi medida no início do teste, no final do teste, 5, 10 e 15 minutos após o término do teste. Os resultados foram compatíveis com o do estudo citado anteriormente. Para melhor ilustrar, podemos ver no gráfico que a recuperação ativa representada pela cor azul apresentou uma queda significante da concentração de lactato sanguíneo quando comparada com a passiva, principalmente no minuto 15 (Lac15), após o término do teste, passando de 4,10 mmol/L para 2,45 mmol/L.

Desta forma, a curva regressiva apresentada pela recuperação ativa continuaria no decorrer do dia, trazendo benefícios para a próxima sessão de treinamento e fazendo com que os atletas cheguem em melhores condições físicas para a realização de suas atividades.

Tipos de Recuperação ativa

Como percebemos até o momento, a recuperação ativa parece apresentar uma abordagem mais assertiva, o que mostra ser mais eficiente para a recuperação pós-jogo. Assim, dois protocolos de recuperação ativa pós esforço são comumente utilizados. Um de maior grau de especificidade com o futebol; e outro com menor especificidade.

  • Treino composto por jogos reduzidos de baixa intensidade; (maior grau de especificidade)
  • Treino composto por sessões de corridas com baixa intensidade, alongamentos e relaxamento muscular; (menor grau de especificidade).

O interessante é que ambos os protocolos apresentam melhoras no desempenho físico dos atletas, sendo, os treinos de sessões de corrida com baixa intensidade, alongamentos e relaxamento muscular; parecerem mais eficientes que o treino composto por jogos reduzidos de baixa intensidade.

Dessa forma, podemos considerar que a especificidade poderia indicar uma forte relação entre o desempenho físico e questões psicológicas. Treinos mais específicos (em formato de jogo, por exemplo) exigiriam maior concentração mental e física do atleta já fadigado em razão da partida anterior, o que poderia retardar a recuperação plena dos atletas pós-partida.

Relação entre fatores físicos e psicológicos

Sabemos que diversos fatores podem ser estressores para os atletas, por exemplo: as viagens mais longas; a privação de sono, que pode ocorrer em função dos deslocamentos; problemas pessoais ou com o grupo; dentre outros. Todas essas situações podem elevar o nível de estresse e gerar consequências fisiológicas que prejudicam a recuperação.

Do mesmo modo, a fadiga mental se configura como uma determinante importante para a tomada de decisão. Isso ocorre porque a tomada de decisão de uma pessoa é limitada. Durante um jogo de futebol, o atleta toma em média mais de duas mil decisões. Além disso, segundo a literatura científica sobre as funções cognitivas, a cada decisão tomada, ocorre uma fadiga que prejudica as decisões seguintes.

Com a tomada de decisão prejudicada pela fadiga mental, o desempenho do jogador tende a diminuir. Simultaneamente, o mau desempenho tende a configurar um maior nível de estresse, acarretando outros problemas que podem se manifestar até mesmo fisicamente. Portanto, a fadiga mental pode criar um ciclo de condições ruins que afetam diretamente a capacidade de resposta física e mental do atleta.

O bem-estar e a fadiga mental na recuperação pós-jogo

Estudos na área apresentam uma relação linear entre a fadiga e bem-estar, isto é, quanto menores os níveis de bem-estar, menor é o rendimento físico dos atletas.

Diante disso, é de suma importância reduzir as cargas de cobrança psicológica após a partida, optando por métodos de treinamentos que não exijam um grande número de tomada de decisões dos atletas. Assim, alinhando fatores físicos e psicológicos, de modo a acelerar a remoção de substâncias inflamatórias, e permitindo uma melhor recuperação dos níveis fisiológicos por parte dos atletas.

Desse modo, promoveremos uma recuperação adequada, para que o atleta esteja em plenas condições para sessões de treinamentos subsequentes, e também para a próxima partida.

Em resumo, percebemos uma grande vantagem no método de recuperação ativa, a qual podemos concluir que ajuda a acelerar o processo de recuperação dos atletas. Ainda nesse sentido, trabalhos com menor grau de especificidade demostraram ser uma boa alternativa para a montagem de sessões de treinamento com o objetivo de recuperação fisiológica e psicológica dos futebolistas.

Cada atleta lida de maneira peculiar com as diversas situações envolvendo fatores psicológicos, indicando a necessidade de um acompanhamento para que essas situações não acarretem mais problemas ao jogador e ao time.

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