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Como desenvolver jogadores criativos?

A criatividade é uma palavra recorrente no futebol e muitas vezes está relacionada ao ataque, com jogadas plásticas e gols bonitos. Jogadores criativos embelezam o esporte. Mas afinal, existe uma maneira de desenvolver jogadores criativos? Essa pergunta nos leva a outro questionamento: a criatividade é inata ou adquirida? Primeiramente, para responder essas perguntas é preciso entender o que é criatividade.

O que é criatividade?

Pode-se compreender a criatividade como a capacidade de gerar respostas inesperadas para uma situação-problema. Assim, jogadores criativos são aqueles que conseguem ter uma tomada de decisão surpreendente e efetiva. Mas como tomar decisões mais efetivas no campo de jogo?

Uma tomada de decisão efetiva parte de alguns pontos básicos: analisar a situação, decidir uma ação e executá-la. Em outras palavras, mais precisamente nas palavras do treinador Jorge Jesus:

“A primeira qualidade do jogador é saber pensar o jogo. A segunda é saber decidir. E, só na terceira, vem a execução. Se não faz bem a primeira e a segunda, não é Jesus que vai te fazer executar. Primeiro tem que pensar o jogo, entender o jogo. Depois tem que saber decidir em quem passar. E depois é que vem a execução”.

A boa tomada de decisão refere-se à escolha de uma ação técnica/tática que seja benéfica para o time. De modo similar ao que falou Jorge Jesus, Vanderlei Luxemburgo criou polêmica ao dizer: “Eu não posso entrar em campo e decidir por eles”, referindo-se aos jogadores. Ambas as falas revelam a autonomia que jogadores tem em campo para tomar determinadas decisões.

A criatividade na tomada de decisão

Conforme dito anteriormente, a criatividade refere-se à capacidade de resolução de problemas através de respostas inesperadas. No futebol é comum que gestos técnicos como o drible, passes que “quebram” linhas, fintas que confundam a marcação e finalizações acrobáticas sejam consideradas ações criativas. Nesse sentido, existe uma tendência em classificar mais ações ofensivas do que defensivas como criativas.

Relacionando a tomada de decisão e a criatividade, podemos compreender que, para tomar uma decisão criativa, é necessário pensar de maneira divergente. Durante todo o tempo de jogo, inúmeras situações forçam os jogadores a decidirem sobre várias opções disponíveis. Ou seja, existem milhares de oportunidades de tomar uma decisão criativa dentro de uma partida. Porém, como treinar para tomar uma decisão inesperada?

Como desenvolver jogadores criativos?

A criatividade, para muitos, é algo inato. Entretanto, a literatura sobre o tema revela que a criatividade pode ser, sim, desenvolvida. Segundo o conceito trazido neste texto, a criatividade é uma ação que busca respostas incomuns. Em outras palavras, um atleta pode aprender a avaliar rapidamente as circunstâncias e tomar uma decisão menos óbvia. Quanto mais conhecimento de jogo (processual, pelo menos) e velocidade de raciocínio o jogador possuir, mais opções de ação ele terá.

Outro aspecto importante que devemos considerar é a capacidade de percepção do jogador. Durante a partida, inúmeros estímulos estão presentes disputando a atenção do atleta, por exemplo: a bola, os jogadores do próprio time, os adversários, as vozes do técnico e assim por diante. Diante desses estímulos o jogador pode estar com o foco de atenção amplo ou estreito, observando muitos ou poucos indicadores em simultâneo. Então, não basta ter conhecimento de jogo e rapidez na decisão se não houver uma seleção adequada dos estímulos importantes naquele momento.

Desenvolvendo o conhecimento de jogo

Para desenvolver a velocidade na tomada de decisão são necessários treinamentos com algumas especificidades, bem como que, para desenvolver o conhecimento de jogo é necessário treinamento. A diferença, todavia, é na forma de condução dos treinamentos. Alguns treinadores comandam treinos onde eles apenas ordenam os jogadores a executar ações ou cumprir objetivos. Faltando, assim, explicação aos jogadores sobre o treinamento e suas funções.

De maneira análoga, existem treinadores que explicam demais o treino. Como resultado, em ambas situações mencionadas, os atletas deixam de pensar o jogo por conta própria. Outro problema comum são os treinadores que “narram” o jogo, dizendo as ações que cada jogador com a bola tem que fazer. Isso condiciona os jogadores a serem meros repetidores.

Diante disso, pode-se compreender que, para terem expertise (especialidade) no futebol, os jogadores têm de ser ensinados a avaliar o contexto e escolher suas ações. Isso, por sua vez, se dá através do ensino tático, ressaltando a importância de uma boa tomada de decisão. Entretanto, a decisão criativa nem sempre condiz com as ideias do modelo de jogo. Em alguns momentos os atletas esperam que a jogada tenha um desfecho, porém o jogador criativo faz algo diferente. Por isso é preciso aprender a pensar o jogo, ratificando as palavras de Jorge Jesus.

O treinador e os jogadores criativos

Durante os treinamentos é essencial que o treinador explique algumas funções da atividade, bem como os objetivos, porém deixe algumas informações em aberto. Desse modo, os jogadores terão de pensar em como agir para chegar ao objetivo, desenvolvendo estratégias e exercitando o pensamento crítico. Algo similar ao que o treinador José Mourinho desenvolveu e pode ser melhor compreendido no livro “Mourinho: a descoberta guiada”.

Em conclusão, podemos indicar que o desenvolvimento da criatividade passa por uma ampliação da expertise do jogador, fornecendo-lhe maior capacidade de resposta aos problemas de jogo. Ou seja, quanto maior capacidade de resposta, menos obvio será seu comportamento e mais criativa poderá ser sua ação em campo.

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Os jogos reduzidos no futebol e a preparação física

O treinamento no futebol vem evoluindo e caminhando cada vez mais ao encontro da especificidade do jogo. Nesse sentido, os jogos reduzidos no futebol vêm sendo amplamente utilizados para aproximação entre o jogo e o treino.

Com base nisso, estudos já demostraram o aumento do desempenho físico e técnico em equipes que utilizam este método durante suas sessões de treinamento. Contudo, precisamos ter atenção ao caráter estrutural dos jogos reduzidos no futebol. Isso porque, existem diversos fatores que podem influenciar na resposta da demanda física e fisiológica dos atletas durante a realização das atividades. Por exemplo: a dimensão do campo, as regras do jogo, o incentivo verbal por parte da comissão, a duração do trabalho, a composição das equipes, o número de jogadores, entre outros fatores.

Relação entre número de jogadores e a demanda física e fisiológica.

Podemos dividir os jogos reduzidos no futebol em três grupos:

  • Pequenos jogos (1×1, 2×2, 3×3, 4×4);
  • Médios jogos (5×5, 6×6, 7×7, 8×8);
  • Grandes jogos (9×9, 10×10).

Diante disso, os jogos menores apresentam mais respostas fisiológicas (maior carga interna), quando comparado aos grandes jogos. Em outras palavras, valores de concentração de lactato, frequência cardíaca (FC) e PSE são mais elevados neste formato de jogo.

Nessa mesma linha, devido ao fato do trabalho ser realizado em alta frequência cardíaca, o formato de pequenos jogos é uma boa alternativa para o desenvolvimento da capacidade aeróbia dos atletas. Entretanto, jogos no formato de 4×4+goleiro também seriam uma boa alternativa para o treinamento da potência muscular, pois o contato constante com o centro do jogo e as poucas alternativas de passes, obrigam os jogadores a realizarem um grande número de acelerações e desacelerações.

Manipulação das dimensões do campo

As diferentes dimensões de campos nos jogos reduzidos impactam em mudanças nas movimentações dos atletas durante a atividade. As principais mudanças são em relação à velocidade máxima alcançada, distância total percorrida e distância percorrida em alta intensidade. Portanto, há uma relação linear entre o aumento do campo de jogo e o aumento das variáveis citadas.

Esta relação pode ser explicada pelo simples fato que, em campos com dimensões maiores, existe mais espaço para que os atletas percorram grandes distâncias e consigam atingir velocidades máximas. Assim, uma variável muito importante é a área ocupada por cada jogador (m²/jogador). Pois, com a manipulação desta variável, é possível trazer características presentes nos médios e grandes jogos para os pequenos jogos, e vice-versa.

Contudo, para se trabalhar com jogos reduzidos no futebol não basta elaborar exercícios visando apenas uma resposta fisiológica, desconsiderando as demais vertentes presentes no jogo, como a tática, por exemplo. Desse modo, a composição das equipes durante a realização dos jogos exerce uma grande contribuição para unificar estas vertentes, a fim de otimizar o desempenho da equipe durante as sessões de treinamento.

A composição das equipes nos jogos reduzidos no futebol

Como já foi visto em textos anteriores, diferentes posições requerem demandas físicas especificas durante a partida. Dessa forma, é necessário saber se os jogos reduzidos demandam comportamentos específicos em relação ao estatuto posicional durante suas realizações.

Nessa perspectiva, pesquisadores brasileiros, em estudo publicado em 2017, quantificaram a demanda física em função do estatuto posicional em pequenos jogos de futebol. Os resultados demonstraram que os pequenos jogos refletem a especificidade do jogar em função do estatuto posicional em formatos de jogos de 3×3, onde cada equipe era composta por um defensor, um meio campista e um atacante. Acreditamos que este modelo permita uma correlação com as demandas físicas específicas solicitadas aos jogadores pelo jogo. Dessa forma, a composição das equipes nos pequenos jogos demonstra ser uma variável de suma importância para o condicionamento físico de jogadores. No entanto, para atingir maiores níveis de desempenho é necessária a manipulação de outras duas variáveis, são elas: implementação de regras e o incentivo verbal.

Influência da modificação da regra e incentivo verbal nos jogos reduzidos

Desde os primórdios do jogo de futebol, a regra do jogo exerce uma influência direta sobre os comportamentos dos jogadores durante uma partida. Como exemplo, podemos citar o surgimento da regra do impedimento. Nesse sentido, alguns estudos se propuseram a analisar a influência da modificação das regras durante a realização dos jogos em campo reduzido. Algumas variações analisadas foram:

  • Número de toques na bola;
  • 3×3 e 4×4 para: jogo exclusivamente ofensivo, defensivo e misto;
  • Uso da marcação individual em fase defensiva.

Os autores relataram que, a manipulação da regra durante os jogos reduzidos, resulta em mudanças na intensidade dos jogos e nas ações técnicas e táticas. Por exemplo, os jogos sem restrição de números de toques na bola, estimulam os jogadores a realizarem mais duelos. Preservando, assim, a eficiência das ações técnicas. Por outro lado, essa manipulação da regra diminui o número de corridas em alta intensidade e sprints. Em contrapartida, a utilização da marcação individual aumenta cerca de 4,5% a FC durante a realização da atividade. O encorajamento verbal dos treinadores durante a realização dos jogos reduzidos também exerce uma influência no aumento da intensidade do jogo.

Modificações nos jogos reduzidos

Portanto, esses são apenas alguns exemplos de manipulações que podem ser feitas. Porém, podemos aplicar uma infinidade de modificações durante a realização dos jogos em campo reduzido, a fim de obter uma maior resposta física e fisiológica por parte dos atletas. A presença dos goleiros, presença de mini-gols, jogos contínuos e intermitentes são outros exemplos de manipulações nos mini-jogos.

Assim, conseguimos constatar que existem várias manipulações referentes a estrutura dos jogos em campo reduzidos, acarretando diferentes respostas físicas e fisiológicas. Percebemos que, quanto mais o jogo se aproxima do formato oficial, maiores serão as movimentações e menor será a intensidade fisiológica presente na atividade.

Treinamento aeróbio por meio dos jogos reduzidos

A capacidade aeróbia se resume basicamente em captar, transportar e metabolizar o oxigênio de modo a fornecer energia ao organismo, e superar a fadiga em determinado exercício ou atividade física. O trabalho aeróbio promove uma melhora do sistema respiratório e cardiovascular. Assim, devemos priorizar a montagem de exercícios que nos possibilite manter os atletas sobre frequência cardíaca mais elevadas durante maior tempo.

Nesse sentido, jogos reduzidos de 4 contra 4; e 5 contra 5 jogadores em uma área em torno de 150m² por jogador, parece ser uma boa opção para o treinamento aeróbio. Isso porque o contato constante com o centro do jogo, ou seja, com o local próximo à bola, permitirá que os jogadores realizem a atividade com maior intensidade física e fisiológica. 

Outros diferentes métodos de treinamento são também aplicado para o desenvolvimento do metabolismo aeróbio. Como exemplo, um estudo realizado pelos pesquisadores Casamichana, Castellano e Dallal em 2013, afirmou que os jogos contínuos seriam mais eficientes para esta finalidade, dado que, devido à duração prolongada, o desgaste físico, frequência cardíaca e Percepção Subjetiva de Esforço (PSE) demonstrariam valores mais elevados.

Além do formato dos jogos e dos métodos de treinamento, ainda devemos considerar que as regras inclusas nos jogos reduzidos no futebol é outro fator relevante. A restrição do número de toques na bola, por exemplo, pode induzir a uma maior frequência cardíaca durante a realização da atividade; assim como a restrição da presença de goleiros e da utilização de mini-gols.

Treinamento da potência através dos jogos reduzidos

A potência é a capacidade do sistema neuromuscular de alcançar altos níveis de força no menor tempo possível. Sendo assim, para conseguirmos desenvolver esta capacidade através dos jogos reduzidos no futebol, devemos dar ênfase em comportamentos que exijam maior tensão muscular durante sua realização. Por exemplo: mudanças de direções, acelerações e frenagens.

Tendo isso em vista, formatos de jogos reduzidos menores são mais indicados para o desenvolvimento da potência. Como os jogos de 2×2, 3×3 até 4×4 com menos de 140 metros quadrados por jogador. Além disto, deve-se priorizar jogos descontínuos, ou seja, menor tempo de atividade e um maior intervalo entre as séries de exercícios.

Utilizar a presença de mini gols, ou até mesmo de goleiros, como ferramentas para estimular o aumento do número de ações de força/tensão durante a atividade é uma opção. Pois, o objetivo de atacar e defender uma meta, motivam a execução destes comportamentos.

Treinamento da velocidade através dos jogos reduzidos

ara treinar velocidade por meio dos jogos reduzidos, devemos nos ater a uma variável fundamental, a metragem quadrada por jogador. Sabemos que nos grandes jogos a intensidade fisiológica é menor em comparação aos pequenos jogos. Assim sendo, os médios e grandes jogos tornam-se alternativas interessantes para podermos desenvolver esta capacidade. Em 2016 pesquisadores europeus constataram que, grandes jogos de cerca de 8 contra 8 mais goleiros, proporcionaram aos atletas realizarem mais sprints durante a realização da atividade.

As medidas oficiais de um campo de futebol profissional padronizadas pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) são de 105mX68m, isto resulta em uma área total de 324m² coberta por cada jogador. Portanto, para enfatizarmos a velocidade nos jogos reduzidos, devemos elaborar trabalhos com uma área coberta maior que 150m² por jogador. Isso porque deve haver espaço para atingir maiores velocidades no jogo.

Ainda podemos utilizar a presença de goleiros nestas atividades, a montagem de campos verticais, e trabalhos envolvendo jogos de transição, ultrapassagem e progressões.             

Afinal, como devemos treinar os jogos reduzidos?

Por fim, estes dois textos nos mostram o quão complexo é o método de treinamento por meio dos jogos reduzidos no futebol. Conhecemos as diversas variáveis envolvidas nesta metodologia e como manipulá-las para direcionarmos o treinamento ao alvo desejado.

Com uma montagem adequada, considerando o número de jogadores, a metragem quadrada coberta por cada atleta, a densidade do trabalho, a montagem das equipes, e as regras inclusas no exercício; será mais fácil ser assertivo em suas sessões de treinamento.

É importante ressaltar que os jogos reduzidos, apesar de apresentarem uma ótima correlação com o jogo, não necessariamente são a única e exclusiva metodologia de treinamento. Ou seja, eles podem ser conjugados com trabalhos de caráter analítico.

Cabe a cada profissional extrair o melhor de cada ferramenta, adaptando-se à realidade em que está inserido, para assim, atingir os melhores resultados possíveis.

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Fontes e Referências

Futebol Sistêmico.

https://journals.lww.com/nsca-jscr/Fulltext/2012/04000/Effects_of_the_Number_of_Players_and_Game_Type.13.aspx

https://www.researchgate.net/publication/6373696_Factors_influencing_physiological_responses_to_small-sided_games

https://journals.lww.com/nsca-jscr/Fulltext/2014/12000/Small_Sided_Games_in_Team_Sports_Training__A_Brief.36.aspx

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Formas de ataque no futebol: quais são e como analisar?

O futebol se manifesta como uma modalidade com pouca eficácia quando comparado aos outros esportes coletivos. Dessa forma, o grande professor Castelo, mostra que a relação entre o número de ações ofensivas e os gols obtidos é muito reduzido. Cerca de 10% dos ataques terminam em finalizações e apenas 1% em gol.

Essa desvantagem do futebol é um motivo de interesse que nos desperta uma vontade de perceber os métodos ofensivos, visto que, um ataque que resulte em gol, GERALMENTE, é reflexo de um futebol agradável.

Mas afinal, o que são, quem criou e de onde surgiram os métodos ofensivos?

As formas de ataque no futebol

Em primeiro lugar, a forma geral de organização das dinâmicas dos jogadores no ataque é definida como: métodos de jogo ofensivo (MJO), que são compostos por um conjunto de princípios contidos no modelo de jogo. Este termo foi concebido em Portugal e teorizado pelo estudioso Jorge Castelo, classificando os MJO em três formas fundamentais:

  1. Contra-ataque;
  2. Ataque rápido;
  3. Ataque posicional.

Contudo, vale destacar que além da equipe poder realizar mais de um MJO, ela também pode conseguir interagir um método no outro. Por exemplo, começar o processo ofensivo com ataque rápido para posteriormente atacar posicionalmente, como o Liverpool do Klopp em algumas ocasiões.

Por isso, cabe aos analistas de jogos classificarem o método mais predominante que o time executa para decodificar as ideias do treinador.

Contra-ataque

O contra-ataque é uma ação tática durante a transição ofensiva, em que, logo após ter conquistado a posse de bola, a equipe chegará o mais rápido possível à baliza adversária, mas sem que o oponente tenha tempo para se organizar defensivamente.

Comportamentos:

  • Rápida transição das atitudes e comportamentos individuais e coletivos, após a recuperação da posse de bola;
  • Elevada velocidade da transição da zona de recuperação da posse de bola até o terço final do campo;
  • Número reduzido de jogadores que contactam a bola.

Ataque rápido

Enquanto no contra-ataque os oponentes estão desorganizados defensivamente, no ataque rápido, o processo ofensivo é preparado com a defesa adversária já organizada.

Comportamentos:

  • Circulação da bola predominantemente em profundidade, com passes rápidos e com poucas utilizações de jogadores;
  • Curto tempo de realização do ataque;
  • Ritmo de jogo elevado.

Ataque posicional

Este MJO parte da filosofia de que o jogo tem apenas uma bola, ou você fica com ela, ou ela estará com o time adversário. Se você tem a bola, o outro time não tem como marcar gols

Portanto, a fase de construção torna-se mais demorada, apresentando desmarcações de apoio, coberturas ofensivas e passes curtos.

Em sua autobiografia, Cruyff evidencia ser de extrema importância instruir os jogadores de como realizar os passes no ataque posicional. Se a bola está lenta, o rival tem tempo de se aproximar um pouco mais. Se a bola estiver sendo passada rapidamente, há uma boa chance do rival chegar tarde demais. Poucos técnicos conseguem ensinar isso aos jogadores e, como resultado, eles ficam mais estressados.

Comportamentos:

  • Circulação da bola predominantemente em largura do que em profundidade;
  • Elevado dispêndio temporal;
  • Muitos jogadores e passes envolvidos na organização ofensiva.

Mas cuidado! Ataque posicional e jogo de posição não significam a mesma coisa. Então, se você não tem conhecimento destes conceitos, ao final do texto, sugiro a seguinte leitura: qual a diferença entre Jogo de Posição e Ataque Posicional.

Analisando os métodos de jogo ofensivo

Primeiramente, gostaria de destacar que há inúmeras formas para se analisar um jogo de futebol. Então, o que for descrito a seguir são apenas sugestões que facilitaram a minha leitura de jogo. Ou seja, você pode as usufruir ou não, basta refletir e utilizar a metodologia com a qual mais lhe convém.

Para analisar as formas de ataque da equipe no futebol, primeiramente, divido o campo em 3 sub-fases: fase de construção, fase de criação e fase de finalização.

Em seguida, em cada uma dessas fases, realizo as seguintes perguntas: como, com quantos e por onde a equipe progride?

Diante disso, a resposta a essas perguntas o JOGO que nos dará! Assim, você interpretará o MJO mais predominante, bem como os padrões ofensivos mais frequentes do coletivo.

Mas no final, a grande questão é entender como os jogadores geram vantagens em determinadas defesas e como eles aproveitam as vulnerabilidades do adversário, pois entendendo a parte tática do jogo, você consegue entender o porquê de cada ação, argumenta o treinador Rodrigo Leitão.

Dessa forma, a partida inteira se torna interessante, e não apenas o momento do gol, que como disse Carlos Alberto Parreira, é só um detalhe.

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Referências:

  • Castelo, J. (1994). Futebol, Modelo Técnico – Tático do Jogo. Edições F.M.H.
  • Castelo, J. (1996): Futebol – “A organização do jogo”. Lisboa. Edição do autor.
  • Garganta, J. (1997): Modelação táctica do Futebol. Estudo da organização ofensiva de equipas de alto nível de rendimento. Dissertação de doutoramento (não publicada). FCDEF-UP.
  • Castelo, J. (2004). Futebol – organização dinâmica do jogo. Lisboa: FMH-UTL.

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Quais as diferenças entre Técnica e Tática no Futebol?

O futebol é um esporte coletivo que exige uma série de habilidades e competências dos jogadores. Dentre essas, a técnica e a tática são fundamentais para o sucesso de uma equipe. Mas existe diferenças entre técnica e tática?

Dessa maneira, de forma simples, podemos definir a técnica como a capacidade do jogador em realizar movimentos com precisão e eficiência. São as ações motoras do atleta. Já a tática é a execução das ações de jogo, visando alcançar um objetivo, gerindo o espaço e o tempo naquela situação em campo.

O Que é Técnica no Futebol?

A técnica no futebol se refere à habilidade individual de um jogador em lidar com a bola. Ela abrange uma ampla variedade de aspectos, incluindo dribles, passes, chutes, domínio de bola e controle. A técnica é a base sobre a qual o jogo é construído, pois cada jogador deve ser capaz de realizar essas habilidades de forma consistente e precisa.

Confira algumas das principais técnicas utilizadas no Futebol:

Domínio de Bola

O domínio de bola é uma parte essencial da técnica no futebol. Envolve a capacidade de receber e controlar a bola com os pés, coxas, peito e cabeça. Jogadores com excelente domínio de bola são capazes de parar a bola instantaneamente, independentemente da velocidade ou direção do passe. Isso lhes dá uma vantagem significativa em situações de jogo.

Dribles

Os dribles envolvem um jogador em posse da bola precise passar habilmente pelos adversários. Dribles eficazes requerem controle de bola excepcional, velocidade, agilidade e um toque suave.

Chutes

Os chutes são um dos aspectos essenciais da técnica no futebol. Um jogador precisa ser capaz de chutar a bola com precisão tanto em curta quanto em longa distância, e em bolas paradas como cobranças de falta e penalidades. A técnica de chutar envolve o uso adequado do pé, incluindo o pé dominante e o pé mais fraco.

Passes

Passar a bola com precisão é uma das habilidades mais importantes no futebol. Um jogador deve ser capaz de entregar a bola a um companheiro de equipe no momento certo e no local certo. Isso envolve a técnica de pé interno, pé externo e outros tipos de passes.

O que é Tática no Futebol?

A princípio, a tática no futebol pode ser entendida de forma simples é a gestão do espaço de jogo. Ela pode ser dividida em dois grandes grupos:

  • Tática ofensiva: refere-se às ações da equipe com a posse de bola, como construção de jogadas, finalização, etc.
  • Tática defensiva: refere-se às ações da equipe sem a posse de bola, como marcação, recomposição, etc.

Além disso, vários estudos sobre os princípios táticos existem no futebol atualmente. Como sugestão, o Glossário da CBF traz conceitos evidenciados e detalhadamente pela literatura científica, abordando tanto a técnica quanto os aspectos táticos.

Resumidamente, destacamos aqui abaixo alguns dos aspectos presentes dentre da tática no futebol:

Tipos de Marcação

A marcação é uma prática defensiva, no qual tem o objetivo de seguir de perto os jogadores adversários para impedir que recebam a bola ou criem oportunidades. Ela pode envolver tipos de marcação pressão, quanto os jogadores de defesa buscar roubar a bola dos atacantes no campo todo; Ela ainda pode ser individual, coletiva e mista, sempre tendo como referência a recuperação da bola.

Movimentos Coordenados Ofensivos

Movimentos coordenados são parte integrante da tática no futebol. Isso inclui corridas, passes em profundidade, deslocamentos e trocas de posição entre os jogadores. Esses movimentos são projetados para criar espaço, confundir a defesa adversária e criar oportunidades de gol.

Transições

Outro aspecto crucial da tática é a capacidade de realizar transições rápidas entre defesa e ataque. As equipes de sucesso muitas vezes são capazes de recuperar a posse de bola e rapidamente passar para o ataque, pegando a defesa adversária desorganizada.

Além do mais, uma das das principais manifestações estruturais de tática no futebol é a formação tática da equipe. Isso determina como os jogadores se posicionam em campo e como eles interagem entre si. Formações populares incluem o 4-4-2, o 4-3-3 e o 3-5-2, cada um com suas próprias vantagens e desvantagens.

Entretanto, vale destacar as diferenças entre sistemas e esquemas táticos, que embora façam parte da tática, eles representam conceitos estruturais e não devem ser sinônimos de tática, como erroneamente vemos em alguns locais.

A relação entre Técnica e Tática no Futebol

É importante entender que a técnica e a tática no futebol não são conceitos isolados. Na verdade, eles estão intrinsecamente interligados e se complementam. Uma equipe com jogadores tecnicamente bons tem mais recursos para executar táticas complexas.

Desse modo, podemos dizer que técnica e tática são conceitos complementares no futebol, como duas faces da mesma moeda. A técnica é a base para a tática, pois é necessária para que o jogador possa executar as ações táticas. Já a tática, pode ajudar o jogador a aprimorar sua técnica. A exemplo, um jogador que treina passes e dribles em um contexto tático, terá mais chances de melhorar essas habilidades.

Por outro lado, a tática pode potencializar as habilidades técnicas de um jogador. Uma equipe bem organizada cria espaços e oportunidades para que os jogadores usem suas habilidades técnicas com eficiência.

Para além da técnica e tática no Futebol

No futebol atualmente, a técnica e a tática são cada vez mais importantes. Os jogadores precisam conseguir realizar movimentos complexos e de se adaptar a diferentes situações de jogo. Mas é importante destacar que além dos conceitos básicos de técnica e tática, existem outros aspectos importantes para o futebol.

Dentre esses, destacam-se os aspectos físicos, mentais e psicológicos. Por isso, muitos métodos de treinamento no futebol buscar unir todos os conceitos das vertentes do futebol. A ideia é que a complexidade dos fatores permita o desenvolvimento integral das habilidades dos atletas na especificidade do esporte. Portanto, é crucial saber sobre a importância e relação entre técnica e tática.

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Inter-relação entre pais, atletas e treinadores

A família tem um papel fundamental no processo de crescimento, educação e desenvolvimento de seus filhos, e no esporte não é diferente. No esporte, a relação dos familiares tem influência direta no rendimento e motivação de seus filhos na modalidade em que está inserido.

A inter-relação entre pais, atletas e treinadores tem de ser transparente, saudável e que seja em prol do bem-estar e desenvolvimento do aluno.

De acordo com BECKER estudo, o pai é a figura que tem maior influência no ingresso da criança no esporte. A conduta dos pais diante da participação de seus filhos no esporte, tem relação direta com a qualidade da participação da criança na atividade esportiva. É comum que os pais criem expectativas em seus filhos, por enxergar uma possível realização que não foi possível a ele, ou até mesmo por enxergar o filho como um ativo que pode transformar a vida socioeconômica da família. Devemos sempre nos lembrar que o principal interesse é do aluno que está inserido na prática esportiva, mas em alguns casos, não é o que acontece.

O primeiro ponto de destaque nessa situação é compreender qual o real interesse da criança, qual esporte ela quer praticar, atendendo suas expectativas e necessidades, sendo ela responsável pela escolha de seu esporte, assim, fazendo algo que lhe interessa. Mas infelizmente, alguns pais inserem seus filhos em um esporte sem consultá-lo, muita das vezes não há um critério para a escolha da atividade, fatos comuns são dos pais quererem inserir em certa modalidade, pelo seu maior interesse pessoal, e/ou pelo motivo de que aquele horário os pais tem compromissos profissionais ou sociais impedindo-os de ficar com a criança, dessa maneira, as escolinhas de esporte passam a ser “depósitos de crianças” conforme citado por pesquisador como Becker.

O envolvimento dos pais no esporte

De acordo com a literatura científica o envolvimento dos pais no esporte pode ser considerado em três etapas diferentes: o subenvolvimento, o envolvimento moderado e o superenvolvimento.

O subenvolvimento pode ser considerado como a falta de comprometimento emocional, financeiro ou funcional dos pais, que tem relação com a falta de comparecimento nos treinos, nos jogos, eventos e pouquíssimo contato com os treinadores. No envolvimento moderado, são os pais que dão suporte necessário a seus filhos, orientam, estabelecem metas realistas e ajudam financeiramente. E no superenvolvimento são os pais que excedem os limites de sua participação diante da vida esportiva de seus filhos, colocam seus desejos e necessidades criando expectativas e pressões desnecessárias.

Perfis de Pais e mães de jovens esportistas

Podemos também comprender na literatura científica que os perfis de pais podem influenciar o desenvolvimento. Pais desisteressados, por exemplo, levam o filho ao esporte como uma forma de ocupar o tempo da criança, inscrevendo-a em atividades sem preocupar-se se o filho aprecia ou não. Eles vêem no técnico uma espécie de “babá”, delegando a ele a obrigação de cuidar da criança. Como consequências, são apontados não apenas uma grande possibilidade de abandono ao esporte, como também futura intolerância à modalidade escolhida pelo pai.

Os pais mal-informados conduzem o filho ou filha à prática esportiva, com uma primeira conversa com o técnico, mas não participa mais do processo.

Já os pais exaltados, tendem a participar ativamente do cotidiano do seu filho no ambiente esportivo, colaborando de forma adequada com o técnico. Entretanto em situações competitivas, é comum que torçam de forma exagerada, dirigindo palavras inadequadas aos árbitros, prejudicando o ambiente e constringindo seus filhos; ressalta-se que é comum que os pais não se percebam como inadequados.

E por fim, temos os pais fanáticos. São considerados os mais problemáticos, por esperarem dos filhos atitudes de “heróis no esporte”. Estão sempre insatisfeitos com o desempenho da criança e interferem no processo de preparação, cobrando excessivamente e gerando pressões sobre o filho. Se exaltam facilmente com as decisões dos árbitros e atitudes do técnico, gerando hostilidade e perturbação no ambiente, podendo desfazer a relação de prazer da criança com o esporte.

A motivação para prática esportiva

A motivação pode ser definida como uma força interior, impulso, intenção que leva a pessoa a fazer algo ou agir de certa forma, e que afeta a compreensão da aprendizagem de habilidades, motoras devido a seu papel na iniciação. A motivação é um fator determinante quando um indivíduo quer realizar algo segundo estudos de Fonseca e Stela.

A forma como os pais se portam durante as competições irá despertar uma reação na criança. Em caso de reações negativas, comentários infelizes podem intereferir diretamente no desempenho da criança. Alguns exemplos de relatos de jovens no esporte são como esses:

“Um dos únicos dias em que via meu pai era no sábado, quando ele vinha me ver jogar futebol. Mas isso me deixava nervoso, pra dizer a real. Meu pai era meu herói. E, no começo, ele me cobrava muito. Às vezes, ele até mesmo dizia: “Tô cansado de ver você perder. Você pode comer mais um hambúrguer hoje, mas só se o seu time ganhar”.

[…] Ficava tão agitado na noite anterior aos jogos que tinha dores de estômago e começava a vomitar. Eu tinha dor de cabeça e febre às vezes e não conseguia dormir. Quando eu jogava, ao invés de jogar “leve”, eu me preocupava em estragar tudo. Sempre que eu jogava um jogo pra valer, era como se meu coração estivesse sempre batendo mais rápido. Era um bloqueio psicológico.

Em entrevista ao The Players Tribune, Bruno Guimarães, jogador da seleção brasileira, relata sobre a cobrança excessiva que seu pai lhe fazia:

[…] o meu treinador, Mário Jorge, estava assistindo do lado de fora com o pessoal mais velho. Depois do jogo, ele entrou na quadra e disse: “Bruno, deixa eu te perguntar uma coisa: Por que você nunca joga assim quando é pra valer?”.

Eu respondi: “Não sei o motivo. Não fico à vontade. É complicado”.

Ele disse: “Preste atenção, não fica preocupado. Jogue como se fosse para se divertir e veja o que acontece”.

Depois disso, conversei com meu pai e disse a ele a verdade. Pedi pra ele parar de me pressionar tanto quando eu jogava, porque estava me deixando muito tenso. Quando é seu herói pressionando você, às vezes, é demais. Graças a Deus meu pai aceitou numa boa e a partir daquele dia tudo mudou.”

Estudo de Barbantei, cita que motivar e apoiar os filhos, sem forçá-los na modalidade esportiva; concentrar-se na dedicação e esforço mais que no resultado final dos jogos; ensinar que a honestidade vale mais que a vitória em si; não ridicularizar os erros do filho; aplaudí-los; lembrar que seus filhos participam do esporte para seus próprios interesses e alegria e não para a sua; não questionar a decisão ou honestidade do árbitro em público; reconhecer o valor e apoiar os treinadores; todos esses comportamentos citados, são comportamentos que ajudariam no desempenho, satisfação e continuidade de seus filhos na prática esportiva.

Por fim, o principal ponto desta relação entre pais, atletas e treinadores é que o principal é o jovem, toda atitude a ser tomada tem de ser pensada em prol do bem-estar dele ou dela, da satisfação na prática na modalidade, na motivação, ajudando-os em seu desenvolvimento, crescimento e educação, tudo de uma forma saudável. E entender que o sucesso no esporte infantil não está atrelado ao resultado de uma partida, ao desempenho esportivo, a vitória no esporte infantil se conquista todos dias, dando liberdade e autonomia a criança, para desenvolver seu real potencial, se autoconhecer, conhecer seus limites, brincar, se divertir , sociabilizar, tudo de uma forma leve e lúdica, mantendo o prazer, satisfação e alegria na prática esportiva.

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Gabriel Santiago atualmente é professor de futebol no Esporte Clube Pinheiros

REFERÊNCIAS

Almeida, Dione, and Rafael Machado de Souza. “A influência dos pais no envolvimento da criança com o esporte durante a iniciação esportiva no futebol 27 em uma escolinha de Campo Bom-RS.” RBFF-Revista Brasileira de Futsal e Futebol 8.30 (2016): 256–268.

https://www.rbff.com.br/index.php/rbff/article/view/422

Barbanti, Valdir J. Formação de esportistas. Editora Manole Ltda, 2005

BECKER JR, Benno, and Elenita TELÖKEN. “A criança no esporte.” Especialização esportiva precoce: perspectivas atuais da psicologia do esporte. Jundiaí, SP: Fontoura (2008): 17–34.

https://pt.everand.com/book/438630660/Especializacao-esportiva-precoce-perspectivas-atuais-da-psicologia-do-esporte

Fonseca, Gerard Maurício Martins, and Erika Spritze Stela. “Família e esporte: a influência parental sobre a participação dos filhos no futsal competitivo.” Kinesis 33.2 (2015).

https://periodicos.ufsm.br/kinesis/article/view/20723

Moraes, Luiz Carlos, André Scotti Rabelo, and John Henry Salmela. “Papel dos pais no desenvolvimento de jovens futebolistas.” Psicologia: reflexão e crítica 17 (2004): 211–222.

https://www.scielo.br/j/prc/a/ZcdcVGpBB6KLwybtRHVKVZh/?lang=pt&format=pdf

PAES, R. R., FERREIRA, H., GALATTI, L., & SILVA, Y. (2008). Pedagogia do esporte e iniciação esportiva infantil: as inter-relações entre dirigente, família e técnico. Especialização esportiva precoce: perspectivas atuais da psicologia do esporte. Jundiaí: Fontoura, 49–66.

https://pt.everand.com/book/438630660/Especializacao-esportiva-precoce-perspectivas-atuais-da-psicologia-do-esporte

https://www.theplayerstribune.com/br/posts/carta-bruno-guimaraes-brasil-newcastle-premier-league

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Modelo de Jogo no Futebol: o que é e para que serve?

Este texto abordará o que é modelo de jogo no futebol e complementa a publicação sobre periodização tática, feita anteriormente. Aliás, se você quiser saber mais sobre o assunto, também publicamos um texto que apresenta a importância dos fractais na periodização tática. Assim, a primeira questão que o treinador precisa desenvolver para iniciar a Periodização Tática é a criação de um Modelo de Jogo no futebol. Esse modelo norteará os treinamentos e a competição.

O que é Modelo de Jogo no futebol?

Fonte: criado pelo autor.

Primeiramente, citaremos o entendimento do próprio Prof. Vitor Frade acerca do assunto, em entrevista:

“Portanto, para mim, modelo é o que existe em termos estruturais e funcionais, que proporciona que regularmente uma equipa se identifique como equipa. Que mesmo quando você mete umas camisolas da cor “do burro quando foge” ao ela estar a jogar mal você diz: “Não, este é o Barcelona”. O modelo é este lado, esta evidência empírica.”

O Modelo de Jogo no futebol, em síntese, é a “descrição do jogar” da equipe. Ou seja, está no imaginário do técnico. Portanto, será a maneira como ele idealiza que os jogadores desta equipe se comportem em cada momento do jogo, como interajam entre si para solucionar os problemas que aparecem durante a partida, etc.

Modelo de jogo ideal vs concepção de jogo.

O Modelo de Jogo, também chamado de Modelo de Jogo Ideal, será o norteador da equipe nos treinos e competições. Segundo o livro de Israel Teoldo, se o futebol se joga por conceitos, é o modelo de jogo que dá ou retira significados a esses conceitos, que os agrega ou separa.

Assim como vimos acima, o Modelo está presente na cabeça do treinador, tendo, a sua disposição, um cenário perfeito, com os melhores jogadores do mundo, semanas inteiras para treinar, condições ótimas de treinamento, etc. Porém, isso nunca será possível. Dessa forma, a Concepção de Jogo ou Modelo de Jogo Adaptado será a forma como o técnico prevê que a equipe jogue, mas considerando os itens a seguir:

  • Característica dos jogadores;
  • Cultura do clube;
  • Cultura da região;
  • Estrutura do clube;
  • Pretensões do clube nas competições que há de disputar;
  • Ideia de jogo do treinador.

Portanto, após o técnico ter criado um estilo de jogo “perfeito” (Modelo de Jogo), ele irá adequá-lo às condições citadas acima (Concepção de Jogo). Segundo Israel Teoldo, a concepção de jogo é influenciada pelo modelo de jogo ideal e, simultaneamente, condicionada por vários constrangimentos.

Mas, por que “modelar o jogo”?

Ora, já sabemos acerca da complexidade do jogo de Futebol e que, como tal, precisa ser tratado com olhares sistêmicos. Então, partindo disso, como criamos parâmetros para que os jogadores compreendam o jogar a que se pretende e consigam sintonia coletiva? Para responder, vamos nos aproveitar do trecho de Lê Moigne citado em “Abordagem sistêmica do jogo de futebol: moda ou necessidade?”: 

“Se pretendemos construir a inteligibilidade de um sistema complexo, devemos modelá-lo.” Ou seja, precisamos criar modelos que possam ser compreendidos pelos jogadores, de modo que eles reproduzam determinados padrões no jogo.

As duas características principais ao modelá-lo são:

Unicidade

Não existe um modelo genérico, pois o jogo é complexo e há todo um contexto, também complexo, ao seu entorno. Portanto, cada modelo é único, sem a possível aplicação do mesmo em diferentes locais e momentos. 

Pense com você mesmo: sempre teremos à disposição a mesma estrutura, os mesmos jogadores e objetivos iguais? Todos os clubes e cidades possuem a mesma cultura? Bom, assim você consegue entender a tal da unicidade que citamos. Aliás, nem no mesmo clube, na mesma temporada, mas em alturas diferentes desta, teremos sucesso com um mesmo modelo, mas esse é um assunto para o próximo tópico.

Sem fim em si mesmo

Primeiro, há o costume de se falar que um modelo não tem fim em si mesmo. Mas o que isso quer dizer? Significa que não é fechado, sendo suscetível a otimizações e adaptações. E tudo isso se deve a influência do tempo, já que, por exemplo, as pretensões do clube podem variar ao longo da competição, assim como nem sempre todos os jogadores estarão disponíveis. Além desses fatores também existe a busca constante pelo melhor “ajuste” possível (otimização). 

Cabe aqui citar outro trecho da entrevista do Prof. Vitor Frade: “o modelo é qualquer coisa que não existe em lado nenhum, todavia eu procuro encontrá-lo”.

Enfim, não existe um molde genérico, um modelo aplicável em diferentes contextos e cenários, afinal, falamos de um jogo complexo sob a influência do tempo.

O modelo de jogo na Periodização Tática

A tática, representada pelo Modelo de Jogo, é tida como uma “supradimensão” da Periodização Tática. Mas o que isso quer dizer? Ora, que as demais dimensões (técnica, física e mental/psicológica) são levadas de arraste ao se treinar a dimensão tática. Ou seja, quando treinamos o jogar, tomando em consideração o que queremos propor como Modelo de Jogo, acabamos também treinando indiretamente as demais vertentes. 

Da mesma forma que o citado antes, Mourinho, no livro Porquê de tantas vitórias, deixa isso claro ao mencionar que sua preocupação desde o primeiro dia de treinamento é fazer com que a equipe possua um conjunto de princípios que deem organização a ela (equipe), e as preocupações técnicas, físicas e psicológicas surgem por arrastamento.

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Contato dos autores:

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Roberto Augusto Lazzarotto Pereira
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Entenda como a ciência contribui para o Futebol

O futebol é um esporte que envolve uma variedade de conhecimentos, incluindo científico, popular e empírico. O conhecimento científico inclui estudos sobre fisiologia, biomecânica, nutrição e psicologia esportiva, que ajudam a entender como o corpo humano se comporta durante o jogo e como os jogadores podem se preparar e se recuperar melhor. Já o conhecimento popular se refere a técnicas, estratégias e tendências de jogo, amplamente compartilhadas entre jogadores, treinadores e fãs. Enquanto o conhecimento empírico é baseado na experiência prática de jogar e assistir a jogos de futebol.

Cada tipo de conhecimento tem sua importância no futebol. O conhecimento científico fornece uma base para melhorar a performance dos jogadores, enquanto o conhecimento popular e empírico fornecem uma compreensão da dinâmica do jogo e da forma como as equipes e jogadores se comportam em campo. A combinação desses três tipos de conhecimento é fundamental para entender o esporte como um todo.

Como o conhecimento científico auxilia no Futebol?

O conhecimento científico é fundamental para entender como o corpo humano se comporta durante o jogo de futebol e como os jogadores podem se preparar e se recuperar melhor. A ciência tem sido amplamente utilizada para melhorar o desempenho dos jogadores, incluindo estudos sobre preparação física, fisiologia, biomecânica, nutrição, psicologia esportiva, identificação de talentos, etc. A fisiologia estudam como o corpo humano funciona, incluindo as respostas fisiológicas ao exercício; a biomecânica se concentra na análise dos movimentos dos jogadores durante o jogo; a nutrição estuda como a dieta afeta o desempenho dos jogadores; e a psicologia esportiva ajuda os jogadores a lidar com o estresse e a pressão do jogo e auxiliar no processo de detecção de talentos.

Além disso, o conhecimento científico também é utilizado para desenvolver programas de treinamento e condicionamento físico específicos para o futebol, para ajudar os jogadores a alcançar seus objetivos de desempenho. A ciência também é usada para ajudar os jogadores a se recuperar de lesões e para prevenir lesões futuras. Usando esses conhecimentos, os jogadores e treinadores podem garantir que os jogadores estejam em ótimas condições físicas e mentais para jogar e se recuperar rapidamente após os jogos.

Algumas áreas de estudos científicos no futebol

A fisiologia do esporte é a área da ciência que estuda como o corpo humano responde ao exercício físico. Aplicando esses conhecimentos no futebol, os treinadores podem planejar programas de treinamento que maximizem a capacidade aeróbica, força e resistência dos jogadores. Isso é especialmente importante para jogadores de futebol, que precisam desenvolver uma boa condição física para suportar as exigências do jogo.

A biomecânica é a ciência que estuda como o corpo se move e como os movimentos são produzidos. Ela pode ajudar a entender como os jogadores podem melhorar sua técnica, como chutar a bola com mais precisão e potência. Os especialistas em biomecânica podem analisar os movimentos dos jogadores e identificar quaisquer problemas técnicos que possam estar afetando o desempenho.

A psicologia desempenha um papel importante no futebol, tanto para os jogadores quanto para os treinadores. A psicologia do esporte estuda como as emoções e a motivação afetam o desempenho dos atletas. Os jogadores que conseguem controlar suas emoções e manter a concentração durante o jogo são mais propensos a ter sucesso. Além disso, os treinadores podem usar técnicas de psicologia para motivar seus jogadores e melhorar o desempenho de sua equipe.

A estatística é outra ciência importante no futebol. Ela pode ser usada para analisar dados de jogos e treinamentos para entender como os jogadores e as equipes estão se desenvolvendo. Isso pode ajudar os treinadores a identificar áreas de fraqueza e força, bem como a planejar melhor as estratégias de jogo.

Os estudos científicos para detecção de talentos no futebol envolvem a utilização de diferentes ferramentas e técnicas para avaliar as habilidades e características dos jogadores jovens. Esses estudos podem incluir testes físicos, como medidas de força, velocidade, flexibilidade e resistência, assim como testes psicológicos, como avaliações de personalidade e inteligência. Os estudos também podem incluir a observação de jogos e a análise de vídeo, para avaliar as habilidades técnicas e táticas dos jogadores.

Além disso, existem diversas outras áreas que envolvem estudos sobre nutrição, medicina, fisioterapia, gestão e administração, direito esportivo e organização empresarial.

Os estudos científicos também podem utilizar ferramentas avançadas, como a análise de movimento e a tecnologia de rastreamento, para avaliar as habilidades dos jogadores em detalhes. Essas ferramentas permitem aos cientistas do esporte medir a velocidade, a distância, a direção e a intensidade dos movimentos dos jogadores durante o jogo, e usar esses dados para identificar as habilidades e características que são importantes para o sucesso no futebol.

É importante notar que, estes estudos científicos são somente uma das formas de avaliar e detectar talentos no futebol, porém, a detecção de talentos no futebol também envolve outros aspectos como observação de jogos, treinadores e outros profissionais do futebol, com experiência e conhecimento empírico no assunto.

Como trabalhar com ciência no futebol

Para trabalhar no futebol aplicando estudos científicos, os profissionais precisam estar capacitados para entender e utilizar as ferramentas e técnicas das ciências. Isso pode ser alcançado através de cursos e programas de formação específicos.

No Brasil, existem diversas instituições de ensino superior que oferecem cursos relacionados ao futebol e às ciências do esporte. Por exemplo, a Universidade de São Paulo (USP) oferece um curso de pós-graduação em Ciências do Esporte, enquanto a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) oferece um curso de graduação em Educação Física com ênfase em Futebol, e na Universidade Federal de Viçosa (UFV) há um curso de especialização em Futebol. Além disso, há várias escolas de treinadores e academias de futebol que oferecem cursos específicos para treinadores e profissionais da área, como o Ciência da Bola.

É importante destacar que estudar futebol no Brasil não é só para quem deseja ser jogador ou treinador, mas também para aqueles que desejam trabalhar com performance, preparação física, nutrição, entre outras áreas da ciência do esporte. E com a crescente preocupação com a saúde e o bem-estar dos jogadores, a medicina esportiva tem se tornado uma área cada vez mais importante no futebol brasileiro.

Para estudar táticas e psicologia no futebol, é importante ler livros e assistir a jogos de futebol. Além disso, é importante participar de treinamentos e discussões com outros profissionais de staff para compreender as diferentes abordagens e opiniões.

Confira abaixo um episódio do Podcast sobre o assunto:

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Treinadora de futebol e a atuação no mercado

O Futsal e o Futebol são modalidades dinâmicas em sua essência. Apesar de tornar-se com o tempo umas das modalidades mais praticadas e de fácil acesso para as pessoas, algumas estruturas de organização social e cultural refletem o conjunto de trabalhadores que atuam nestes espaços, em especial as mulheres como treinadora de futebol.

A ascensão e permanência de mulheres liderando equipes esportivas no Brasil tem baixa representatividade e isso só contribui para o predomínio masculino nesse campo profissional.

Infelizmente, há poucos estudos e pesquisas referentes a esta representatividade feminina no âmbito esportivo. De acordo com uma pesquisa realizada em 2013, das 259 federações esportivas de 22 modalidades no Brasil, apenas 7% dos técnicos esportivos são mulheres. E do total de federações pesquisadas, 71,4% não possuem mulheres cadastradas como técnicas.

Retrato social na Liga Nacional de Futsal e Brasileirão Feminino

A Liga Nacional de Futsal, por exemplo, é considerada a mais importante da América do Sul e uma das mais disputadas do mundo. No ano de 2021 a categoria masculina contou com a participação de 22 equipes, de mais de sete estados enquanto a categoria feminina, contou com 12 equipes ao total. Nas 12 equipes femininas, os resultados indicaram a presença de apenas 3 mulheres como treinadoras de futsal,  enquanto 9 homens eram treinadores em equipes femininas da competição acima descrita.

Além disso, os resultados no Futsal apresentam semelhanças com os resultados encontrados no futebol. A Série A do Brasileirão Feminino, considerada principal Liga Brasileira de Futebol profissional entre clubes do Brasil, disputada desde 2013, conta atualmente com 16 equipes, sendo 09 delas comandadas por treinadores  e apenas sete por treinadoras.

Por que a baixa representatividade de mulheres como treinadora de futebol?

Uma prática incompatível com a natureza feminina

Reportando a construção histórica, a participação feminina no Futsal foi negada na década de 40, com base no Decreto de Lei 3.199, que afirmava em seu artigo 54 que: “as mulheres não se permitirão a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza”. Um pensamento retrógrado que permanece em alguns momentos ainda na atualidade.

O domínio masculino e a aceitação social

É notório que a medida em que avançamos para o alto rendimento, o número de mulheres reduz simbolicamente como membras da comissão técnica. Três motivos merecem destaque para essa redução. O primeiro motivo é o domínio masculino que não permite que a mulher suba de posição, restringindo-as à base da pirâmide familiar ou de trabalho (na maioria das vezes). O segundo motivo é a própria mulher acomodar-se, pois quanto mais elevado o nível, maior será a dedicação a vida esportiva. Em contraponto com a vida pessoal e familiar, cuidado com os filhos, as mulheres optam pelas bases da pirâmide familiar. E o terceiro motivo é  a Aceitação feminina da exclusão, em que é possível observar que a maioria acaba se acomodando e interiorizando o domínio masculino, não se aventurando e enfrentando os obstáculos. Portanto, este torna-se bem mais ardiloso do que para os homens.

O perfil para o cargo

É incutido na sociedade, sobretudo no ambiente do futebol,  que para ser técnico é preciso ter vivenciado a modalidade como atleta para identificar as emoções em quadra ou do campo com mais ênfase. Também é construído que a postura firme e o comportamento mais “agressivo” do treinador estejam presente nos treinamentos e partidas oficiais. Entretanto, sabemos que normalmente, a treinadora de futebol têm uma sensibilidade e um carisma mais evidente, que por muitas vezes transparece aos olhos de quem está fora, que a equipe está sem comando ou algo relacionado.

Para conseguir uma posição na comissão técnica de alto rendimento, uma mulher teria que possuir, não só o que é explicitamente exigido pela descrição do cargo, como todos os atributos que os profissionais  masculinos determinam que são: uma estatura física avantajada, uma voz ou aptidões agressivas, segurança,  autoridade dita como natural para quais os homens foram preparados e treinados enquanto homens.

A realidade Feminina nos espaços masculinizados

No entanto, cabe ressaltar que há mulheres afirmando-se enquanto treinadora de futebol. No Brasil a treinadora Maria Cristina, contribuiu para a estruturação do Futsal Feminino brasileiro. Foi no clube Sabesp, em São Paulo, que ela teve seu maior destaque enquanto técnica. Entre os anos 1996 e 2009, foi campeã da Copa Algarve/Portugal (considerado como um mundial de clubes), hexacampeã estadual, octacampeã da Copa Topper Série Ouro, pentacampeã da Taça Brasil, entre muitos outros títulos.

Também chegou ao comando da primeira seleção de Futsal feminina para participar de um desafio internacional contra o Paraguai nos jogos que aconteceram na cidade de Londrina e Cornélio Procópio (PR) em dezembro de 2001. Maria Cristina permaneceu como técnica até o ano de 2019, acumulando mais 101 títulos em sua trajetória profissional.

Na mesma linha do assunto mencionamos a técnica Cris Souza, que ficou entre as 10 melhores treinadoras de futsal do mundo entre homens e mulheres no ano de 2019. Cris atua como técnica da equipe Lince/Taboão da Serra- SP e já conquistou títulos estaduais e nacionais.

É desafiador  encontrarmos mulheres referências a frente de grandes trabalhos no Futsal, porém, alguns nomes já estão presentes na história servindo de exemplo para outras serem escritas.

Como contribuir para a maior representatividade da mulher nos espaços esportivos?

Encontrar a solução do problema não se constitui como tarefa individual, mas coletiva. A escola como espaço transformador pode ser um aliado.

Como proposição nas aulas de Educação Física, citamos a abordagem com temas sobre gênero, sobre a exclusão dos menos habilidosos, na prática do futsal, questionamentos sobre o motivo pelo qual se criou essas barreiras com as mulheres se firmando enquanto treinadora de futebol, e /ou jogadoras, entre outros. Estes vêm de encontro a pedagogia transformadora, possibilitando no currículo escolar um diálogo com maior embasamento e esferas superiores da objetivação humana.

Portanto, estes temas quando discutidos de forma contextualizadas podem auxiliar e amenizar estes embates sobre gênero, referindo-se ao esporte como um espaço para ser ocupado por todos (as), em especial mulheres treinadoras.

Links de Referências

As mulheres e o esporte olímpico brasileiro entre as décadas de 1930 a 1960 – as políticas públicas do esporte e da educação física

Novo Futsal Brasileiro

O Percurso de mulheres como técnicas esportivas no Brasil.

A baixa representatividade de mulheres como técnicas esportivas no Brasil.

Futsal e Futebol: Bases metodológicas.

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O Talento no futebol é treinável?

O que é talento no futebol? Primeiramente, palavra “talento” serve para classificar um indivíduo que demonstra um conjunto de aptidões para o desenvolvimento de uma atividade específica. No futebol usamos a expressão “jogador talentoso”, os quais são alvos dos scouts desde a base. Por vezes, o fator tempo não é devidamente respeitado, o que influencia diretamente na evolução do atleta.

Talento no futebol: Inato ou adquirido?

Até ao final do seculo XX, o talento era exclusivamente considerado inato. No entanto, a partir dessa época, registrou-se uma mudança de paradigma. Dessa forma, devido à intensificação dos estudos, começamos a perceber a lógica do desenvolvimento, do treino e do contexto ambiental. Sendo isso a base da evolução do talento, surgiu assim o fator “contexto”.

O contexto é onde ocorre a exposição da prática, sendo ele essencial para o desenvolvimento do desempenho do jogador. Assim, para explicar as diferenças intra-individuais no desempenho dos jogadores, o papel do contexto e a prática da atividade assume destaque, em detrimento das influências genéticas.

Segundo Coyle em seu livro publicado em 2012, a motivação é um consenso para o desenvolvimento do talento no futebol e em outras áreas. Ele cita que o talento começa em pequenos e poderosos encontros. Ou seja, estimulando a motivação e vinculando a nossa identidade a uma pessoa ou grupo de alto desempenho. Isto é chamado ignição, em outras palavras, um pequeno pensamento de mudança que ilumina o nosso inconsciente, dizendo: “eu poderia ser eles”.

Esta linha de pensamento foi decisiva na forma como se passou a perceber e conceber o talento, sendo as variáveis de mais destaque nesta temática:

  • Contexto (treino e prática);
  • Social (influência dos pais, situação econômica, treinadores, colegas…);
  • Psicológica (motivações).

Ao acreditar-se no talento inato põe-se em desconfiança o papel da aprendizagem, do treino e da capacidade transformadora, sendo elas capacitadoras dos jogadores.

Identificação de talento

O futebol é um meio muito competitivo. Portanto, a identificação de talento, principalmente numa fase precoce, torna-se uma vantagem competitiva para os clubes, tanto ao nível desportivo como financeiro. Dessa forma, permite que estes tenham, nos seus elencos, bons jogadores sem despender recursos financeiros na sua aquisição.

No entanto, o processo de identificação de talento é bastante subjetivo, pois os jogadores têm fases de maturação diferentes. Neste sentido, o autor Júlio Garganta em 2009 disse que, no processo de recrutamento e seleção, o foco dos scouts recai essencialmente nos jogadores com um rendimento acima da média ou, ainda, sobre aqueles que demonstram condições de evolução num processo de treino estruturado. Num estudo publicado em 2009 realizado com oito treinadores de formação da seleção nacional dinamarquesa, eles mencionaram que utilizam a sua intuição e experiência para identificar padrões nos jogadores. Sendo os dois fatores mencionados por Garganta como base para suas decisões.

No processo de treino, mesmo que um atleta tenha uma orientação adequada, oportunidades precoces e muito incentivo, o sucesso nem sempre estará garantido. Apesar de atrativa e apelativa, a ideia na qual a prática leva à perfeição não parece ser realista. Porém, as explicações em termos práticos são insuficientes, valorizando também as características hereditárias.

Outro fato importante é a predisposição genética do indivíduo que pode interferir no desempenho desportivo. Nem todas as crianças conseguem responder positivamente às oportunidades e incentivos.

O que aprendemos sobre talento no futebol

Portanto, desempenhos elevados não estão em uma fórmula mágica. Há muitas formas de chegar lá, sendo extremamente difícil associar os fatores em questão.

A excelência no esporte é o resultado da conjugação entre genética e o ambiente envolvente. Mesmo pressupondo que existem influências genéticas no alto desempenho, elas devem ser entendidas de forma probabilística para obtenção do sucesso, sendo necessárias condições ambientais apropriadas para que o indivíduo se destaque. Deste modo, concluímos que o talento é algo inato e adquirido, ou seja, todos os indivíduos têm essa capacidade. Porém, depende do aperfeiçoamento, do interesse do praticante, de uma boa capacidade de relacionamento interpessoal, adaptações a diferentes contextos e disciplina.

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Como ser um treinador de futebol

Com o tempo gerou-se uma discussão entre treinadores ex-atletas e os treinadores graduados, sobre quais as melhores formações para um treinador de futebol. Ao mesmo tempo um é detentor da prática e o outro da teoria acadêmica e científica. Dessa forma, trago para vocês trajetórias diferentes de dois técnicos brasileiros de futebol: Tiago Nunes e Renato Portaluppi (guarde esses nomes).

Utilizando parte do seu conhecimento acadêmico, Tiago triunfou diversos títulos em sua carreira sob o comando do clube Athletico Paranaense. Assim como ele, Renato também obteve várias conquistas no Grêmio e Flamengo. Mas, por outro lado, não percorreu o mesmo caminho que o outro treinador. A princípio, ambos são colegas de profissão. Entretanto, apresentam inúmeras diferenças. Sendo assim, uma delas, em que destacarei, são as respectivas formações para adquirirem esse cargo.

Graduação em educação física

O primeiro passo é apresentar o registro no CREF (Conselho Regional de Educação Física). Dessa forma, bioquímica, anatomia e fisiologia são algumas das diversas matérias que você terá ao decorrer do curso de graduação. Em suma, é de extrema importância, no mínimo, saber as estruturas, os sistemas e a funcionalidade do corpo humano durante o treinamento.

Licenças da CBF

Caso você queira progredir nesse âmbito, é aconselhável (não obrigatório) obter as Licenças da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Essa confederação disponibiliza cursos de capacitação, buscando qualificar o profissional que almeja atuar como treinador de futebol. Por isso, a CBF Academy oferece 4 cursos: Licença C, Licença B, Licença A e Licença PRO. Ao passo que uma depende da outra.

Detalhes sobre as licenças

A qualificação referente a Licença C possui uma grade curricular que abrange diversas matérias. Tais como: gestão de escolas de futebol; aspectos gerais do desenvolvimento do talento brasileiro; futebol, cultura, infância e juventude. Ao final da formação, você poderá atuar em escolas de futebol para crianças e adolescentes.

Contendo a Licença C, você poderá garantir a Licença B. Treinamento de campo nas categorias de base e características do jogo brasileiro, são algumas das matérias que compõem essa capacitação. Portanto, o profissional habilitado com a Licença B, terá permissão para lidar com as categorias de base.

Ter o certificado de conclusão da Licença B, permite aos treinadores ingressarem no curso da Licença A. Os conteúdos dessa licença visam equipes profissionais. Bem como: gestão de equipes profissionais; treinamento de campo no futebol profissional; treinamento de goleiros. Dessa maneira, com a Licença A em mãos, o técnico é autorizado a treinar clubes de alto rendimento.

Por último, há a Licença PRO, em que a qualificação é atribuída apenas para os convidados, além de apresentar conteúdos bem densos. Como por exemplo: gestão de crises e conflitos; planejamento técnico plurianual; legislação esportiva internacional, etc.

Isso posto, os cursos não são baratos. Nos dias de hoje, o investimento total se aproxima dos R$ 40 mil – aproximadamente R$ 5.600,00 pela Licença C, R$ 6.170,00 pela Licença B, R$ 8.840,00 pela Licença A e R$ 19.130,00 pela Licença PRO (informações obtidas no site da CBF Academy em 2020).

Outros caminhos para ser um treinador de futebol

Se você apresentar experiências como atleta profissional, não há necessidade de seguir as instruções citadas acima. Portanto, dependendo da duração da sua vivência como esportista, pode-se criar alguns atalhos. Afinal, essa situação é frequente com jogadores que se aposentam, e posteriormente desejam atuar como treinadores de futebol.

Além disso, é possível executar o cargo de técnico dessa modalidade em outros países. Contudo, “ainda” não é permitido trabalhar em equipes internacionais profissionais apenas com as Licenças da CBF. Isto significa que, é exigido realizar os cursos de outras confederações, pois não há equivalência das Licenças da CBF com as Licenças do exterior.

Treinador de futebol graduado ou ex-atleta?

Lembra-se daqueles nomes citados no início do texto? Perfeito!

Tiago Nunes, seguiu a trajetória acadêmica, sendo graduado em educação física e realizando várias especializações. Em contrapartida, Renato Portaluppi optou pelo caminho mais rápido, visto que já teve experiências como jogador de futebol profissional.  Para isso, o argumento utilizado foi que, os ex-atletas possuem vivências o suficiente dentro de campo para comandar uma equipe.

Portanto, apesar de apresentarem diferentes percursos de formação, não há um perfil totalmente certo ou errado. Já que, Paulo Freire, apontado na literatura como o mentor da educação, argumenta que, a teoria sem a prática vira “verbalismo”, bem como a prática sem teoria, vira ativismo. Logo, quando se une a prática com a teoria tem-se a práxis, a ação modificadora da realidade.

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Fontes e Referenciais

Contato do Autor Instagram: g_tadashi

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