Publicado em

Estudo revela benefícios do Treinamento de Futebol na Estrutura Cerebral

Um novo estudo científico liderado pelo pesquisador Ju Li do Colégio de Educação Física e Esportes da Universidade de Pequim, China, empregou uma abordagem inovadora para investigar os efeitos do treinamento de futebol na estrutura cerebral dos jogadores. Utilizando tanto a análise de VBM (Voxel-Based Morphometry) quanto a SBM (Surface-Based Morphometry), os pesquisadores identificaram mudanças significativas em regiões-chave do cérebro.

O estudo com o título com o título: “Progressive increase of brain gray matter volume in individuals with regular soccer training” foi publicado na revista Scientific Reports da conceituada revista Nature, e contou com a participação de um total de 77 indivíduos, sendo 36 no grupo de futebol e 41 no grupo de controle. Os participantes do grupo de futebol eram estudantes universitários que praticavam futebol profissionalmente, treinando pelo menos três vezes por semana durante 2 horas e meia cada sessão, por um período variando de 1 a 15 anos. O grupo de controle consistia em estudantes universitários da mesma idade que nunca praticaram futebol. Todos os participantes eram saudáveis, destros, com visão normal, sem histórico de doenças mentais e aptos para exames de ressonância magnética (MRI).

O que o estudo apontou?

Os resultados apontaram para aumentos significativos de massa cinzenta cerebral com destaque para maior volume do cerebelo, tálamo e córtex calcarino. Esta pesquisa marca a primeira vez que ambas as abordagens são empregadas para investigar as mudanças morfológicas no cérebro devido ao treinamento de futebol.

Os resultados também indicaram que as mudanças mais significativas ocorreram no cerebelo, uma região crucial para funções motoras, equilíbrio e aprendizado motor. Estudos anteriores já haviam demonstrado que atletas especialistas em diversos esportes apresentam volume de matéria cinzenta cerebelar significativamente maior em comparação com não atletas.

Fonte: Artigo

Além disso, o estudo revelou aumentos no volume de matéria cinzenta no tálamo e na região calcarina. O tálamo desempenha um papel crucial na integração de informações e na transmissão de sinais para áreas motoras do cérebro, enquanto a região calcarina é fundamental para o processamento visual espacial.

Em resumo, esta pesquisa proporciona uma visão aprofundada dos efeitos do treinamento de futebol na estrutura cerebral, destacando a importância de abordagens integrativas para entender as complexas adaptações do cérebro humano.

Para ler o artigo na íntegra, clique aqui

Para receber conteúdos como esse em seu e-mail, participe da nossa Newsletter.

Publicado em

O papel do Psicólogo na comissão técnica

Sabemos que a comissão técnica de uma equipe de futebol conta com profissionais de diversas áreas, sendo algumas com maior ou menor interação com atletas. Isso se dá de acordo com a natureza de cada área do conhecimento.

Em particular, o papel do psicólogo no futebol não é bem definido para muitos dos profissionais que atuam no futebol. Embora algumas atribuições do Psicólogo sejam entendidas, muitas outras são desconhecidas.

Quais as possibilidades de intervenção de um psicólogo no futebol?

Quando se fala de Psicologia no Futebol a ideia mais comum é a da intervenção direta com atletas. Isso ocorre geralmente devido ao fato de a Psicologia ser comumente lembrada pela prática clínica.

No entanto, dentro da Psicologia do Esporte o profissional de psicologia pode ter diferentes atribuições e contribuir com equipes de formas distintas. Vejamos a seguir quais são as atribuições do psicólogo no futebol:

Elaboração de perfis psicológicos e aplicação de testes

O Psicólogo no futebol geralmente trabalha realizando avaliações psicológicas relacionadas ao esporte. Esse processo é conhecido como Psicodiagnóstico e serve de base para estabelecer perfis dos atletas. Esses perfis, por sua vez, indicam as maneiras mais adequadas de trabalhar com cada atleta.

Através de testes e outros métodos, o profissional avalia aspectos como concentração, atenção e estresse, por exemplo. Assim, consegue ter dados relativos aos construtos psicológicos que se correlacionam com o desempenho esportivo.

Desenvolvimento de treinamentos

O trabalho conjunto com treinador e demais membros da comissão suscita questões e amplia visões acerca dos processos de trabalho. Nesse sentido a multidisciplinaridade pode ocorrer no desenvolvimento de treinos analíticos que mesclem aspectos cognitivos e físicos/técnicos/táticos. Um exemplo disso são os treinos para melhorar a velocidade de tomada de decisão.

Trabalhos de transição

O psicólogo acompanha a transição de atletas da base para o elenco profissional, fornecendo suporte e tornando a transição mais tranquila. Lidar com mudanças, por vezes bruscas, envolvendo muito dinheiro, fama repentina, alteração de rotina, pode ser difícil para jovens atletas.

Desenvolvimento do Treinamento de Habilidades Psicológicas

O THP (treinamento de habilidades psicológicas) é uma série de métodos e técnicas que incluem exercícios como mentalização, controle da ativação, dentre outros. O treinamento é um processo de ensino-aprendizagem de trabalhar os aspectos psicológicos mais presentes no esporte.

Acompanhamento de atletas lesionados

Atletas lesionados tendem a um abatimento, desesperança, dificuldades de lidar com a quebra do ritmo e as incertezas relativas à carreira. Por isso um ponto crucial do trabalho com jogadores é auxiliar no processo de recuperação de atletas lesionados.

Trabalhos psicoeducativos

Equipes de esportes coletivos necessitam de fatores grupais como coesão, comunicação e liderança. Algumas dessas questões podem ser desenvolvidas ou aperfeiçoadas. Assim outra atribuição do Psicólogo é identificar as potencialidades e as vulnerabilidades desses aspectos nos atletas e no time. Posteriormente, adequar atividades e trabalhos psicoeducativos que contemplem o que fora observado.

Como inserir o psicólogo na comissão técnica?

Além de elaboração de perfis e realização de testes psicológicos, é crucial que o Psicólogo acompanhe a rotina do clube. Observações de treinos, jogos, preleções e até mesmo momentos de “resenha” são boas fontes de informação para o trabalho. Por isso o trabalho do Psicólogo requer uma interação com os atletas in loco.

Um exemplo interessante de situação derivada dessa aproximação Psicóloga/atletas ocorreu na Sociedade Esportiva Palmeiras. O técnico Abel Ferreira demonstra apreço pelo trabalho psicológico e estreita bastante a relação com a Psicóloga do clube. Por esse motivo, através de uma observação da Psicóloga e uma conversa com o treinador, foi criada uma forma peculiar de passar as informações aos atletas.

A psicóloga percebeu uma relativa dificuldade de entendimento de algumas instruções e sugeriu que o treinador desenhasse para os atletas. Após a sugestão, o treinador passou a trabalhar com mais elementos visuais para explicar aos seus atletas o que deseja. Abel costuma usar um “bloquinho” com desenhos de campos e entregar durante os jogos, além de utilizar cones em um campo desenhado no solo para instruir seus jogadores.

Esses são exemplos simples de como a presença mais próxima do Psicólogo pode fornecer elementos potencializadores ao trabalho da comissão técnica.

Quais as Dificuldades enfrentadas pela Psicologia do Esporte?

Uma das dificuldades enfrentadas é o desconhecimento das possíveis atribuições de um Psicólogo do Esporte. Esse desconhecimento, por vezes, restringe a atuação mais ampla que deveria ter o Psicólogo. Porém cabe ao próprio profissional realizar um trabalho “psicoeducativo” na medida do possível e revelar as contribuições que tem a oferecer.

Mesmo que em muitos lugares o futebol esteja submisso ao resultado “cru”, novas perspectivas sobre desempenho e sobre análises mais elaboradas estão ganhando força. Pensar o futebol como um esporte complexo, cheio de nuances e interdependente de profissionais de várias áreas é o primeiro passo para um bom trabalho.

Para receber conteúdos como esse em seu e-mail, participe da nossa Newsletter.

Confira abaixo um episódio do Podcast sobre o assunto:

Links e Referências:

https://www.cienciadabola.com.br/podcast/87-a-psicologia-do-esporte-no-futebol-joao-ricardo-cozac

https://www.psicologia.pt/artigos/textos/A0273.pdf

Publicado em

Como acontece a Tomada de Decisão no Futebol?

O futebol é um esporte extremamente dinâmico e rápido, o que exige que os jogadores tomem decisões em frações de segundo durante toda a partida. A tomada de decisão é uma habilidade fundamental para o sucesso no futebol, e os jogadores precisam ser capazes de avaliar as situações rapidamente, considerando uma variedade de fatores antes de decidir a melhor ação a ser tomada.

O que observar em campo?

O processo de tomada de decisão começa com a coleta de informações. Os jogadores de futebol precisam estar atentos às informações que recebem do campo, incluindo a posição dos jogadores adversários, a posição da bola, o tempo restante no jogo, o placar e a posição de seus próprios companheiros de equipe. Eles também precisam avaliar as condições do campo e a textura da superfície.

Assim, após coletar essas informações, os jogadores precisam analisá-las rapidamente para identificar a melhor opção. Eles precisam avaliar os riscos e benefícios de cada opção disponível, considerando a situação específica do jogo e a estratégia geral da equipe. Eles também precisam estar cientes de suas próprias habilidades e limitações, bem como as de seus companheiros de equipe.

No entanto, com base nessas informações, os jogadores precisam tomar uma decisão e agir rapidamente. Essa decisão pode ser tão simples quanto passar a bola para um companheiro de equipe ou tão complexa quanto decidir o ângulo exato e a força necessária para fazer um chute em direção ao gol. A velocidade de execução é fundamental, pois o tempo de reação dos jogadores adversários é limitado e pode mudar rapidamente.

O que acontece no cérebro do jogador ao tomar uma decisão?

Quando um jogador de futebol toma uma decisão durante uma partida, uma série de processos cognitivos ocorrem em seu cérebro.

Por exemplo, durante a percepção, o cérebro processa informações sensoriais provenientes do ambiente, como a posição dos jogadores adversários, a localização da bola e o tempo restante no jogo. A atenção é necessária para selecionar as informações mais relevantes e filtrar as informações irrelevantes. A memória é usada para lembrar padrões e experiências anteriores que podem ser úteis na tomada de decisão. O raciocínio é necessário para avaliar as opções disponíveis e prever as possíveis consequências de cada escolha. E, finalmente, a tomada de decisão é o processo de escolher a melhor opção com base nas informações disponíveis.

Dessa maneira, vários estudos têm sido realizados para investigar a neurociência da tomada de decisão em jogadores de futebol, e de maneira geral mostram que a tomada de decisão em jogadores de futebol é um processo complexo que envolve várias regiões do cérebro e vários processos cognitivos. A percepção, a atenção, a memória, o raciocínio e a tomada de decisão trabalham juntos para permitir que os jogadores avaliem rapidamente as opções disponíveis e escolham a melhor estratégia para a situação. Essas descobertas são úteis para treinadores de futebol e jogadores que desejam aprimorar suas habilidades de tomada de decisão em campo.

O que dizem estudos sobre a tomada de decisão no futebol?

A tomada de decisão é uma habilidade essencial para o desempenho dos jogadores de futebol. Vários estudos têm explorado os processos cognitivos envolvidos na tomada de decisão em futebol. Por exemplo, um estudo de pesquisadores dos Estados Unidos, analisou a tomada de decisão em jogadores profissionais de futebol e constatou que ela depende de fatores como a capacidade de processar e interpretar informações visuais e auditivas em tempo real, além da percepção da localização dos outros jogadores e da bola em relação a si mesmos e ao campo.

Além disso, outro estudo ainda na década de 90 sugeriu que a antecipação é um processo importante na tomada de decisão em futebol. Os jogadores precisam estar cientes da localização dos outros jogadores e da bola em relação a si mesmos e ao campo para poder antecipar as ações dos adversários e dos companheiros de equipe.

A experiência também é um fator importante na tomada de decisão em futebol. Por exemplo, um estudo do pesquisador Abernethy e sua equipe mostrou que jogadores com mais experiência tendem a tomar decisões mais rápidas e precisas em situações de jogo.

O contexto em que a tomada de decisão ocorre é importante, pois pode afetar a percepção e a antecipação do jogador. A comunidade científica concorda que a tomada de decisão em situações de jogo que em jogadores de futebol jovens a qualidade da decisão é influenciada pelo nível de dificuldade do jogo e pela habilidade do jogador.

Portanto, os estudos também indicam que a tomada de decisão em futebol pode ser influenciada por fatores como idade, nível de habilidade, tática da equipe e posição do jogador. Desse modo, jogadores mais experientes e com melhor desempenho em testes de cognição visual tendem a tomar decisões melhores em campo.

Decisões em diferentes cenários do jogo

Durante uma partida de futebol, há uma série de cenários diferentes que os jogadores precisam avaliar para tomar a melhor decisão. Alguns desses cenários incluem:

  1. Contra-ataque: Quando a equipe recupera a posse da bola e começa a avançar rapidamente em direção ao gol adversário, é importante que os jogadores avaliem rapidamente as opções disponíveis para continuar o ataque. Eles podem optar por passar a bola para um companheiro de equipe ou fazer uma jogada individual, dependendo da situação.
  2. Bola parada: Quando há uma falta, um escanteio ou um pênalti, os jogadores precisam avaliar as melhores opções para aproveitar ao máximo a oportunidade. Isso pode envolver a escolha de um jogador para fazer o chute, decidir se é melhor chutar diretamente ao gol ou fazer uma jogada ensaiada.
  3. Defesa: Quando a equipe está defendendo, os jogadores precisam avaliar rapidamente a posição dos jogadores adversários e a localização da bola para decidir como melhor fechar os espaços e impedir a progressão do ataque adversário.
  4. Posse de bola: Quando a equipe está com a posse de bola, os jogadores precisam avaliar a melhor opção para manter a posse, avançar em direção ao gol adversário ou criar uma oportunidade de gol. Isso pode envolver a escolha de um passe preciso, fazer uma jogada individual ou chutar ao gol.

O que esperar do futuro de treinamento e melhoria da tomada de decisão no futebol?

A tomada de decisão é uma habilidade essencial no futebol, e é natural que técnicos, jogadores e pesquisadores busquem formas de treinar e aprimorar essa habilidade. No futuro, podemos esperar avanços significativos na tecnologia que permitirá a análise e treinamento da tomada de decisão em futebol.

Desse modo, uma das tendências atuais na área é a utilização de tecnologias de análise de dados para coletar informações sobre as ações dos jogadores em campo. Essas tecnologias podem ajudar a identificar padrões no comportamento dos jogadores e permitir que técnicos e jogadores desenvolvam estratégias para melhorar a tomada de decisão.

Outra tendência é o uso de tecnologias de realidade virtual (RV) e realidade aumentada (RA) para simular situações de jogo e permitir que os jogadores experimentem e pratiquem a tomada de decisão em um ambiente seguro e controlado. Isso pode ajudar a aprimorar a habilidade dos jogadores de processar e interpretar informações visuais e auditivas em tempo real e a antecipar as ações dos adversários e dos companheiros de equipe.

Além disso, os avanços em neurociência e inteligência artificial também podem ter um papel importante no treinamento da tomada de decisão em futebol. Estudos recentes têm explorado as bases neurais da tomada de decisão em situações de jogo e podem ajudar a desenvolver novas abordagens para treinar e aprimorar essa habilidade.

No entanto, é importante lembrar que a tomada de decisão em futebol é uma habilidade complexa que depende de vários fatores cognitivos, perceptuais e contextuais. Embora a tecnologia possa ajudar a aprimorar a habilidade dos jogadores, ela não pode substituir completamente a experiência e a prática no campo.

Em resumo, no futuro, podemos esperar avanços significativos na tecnologia que permitirá a análise e treinamento da tomada de decisão em futebol. No entanto, é importante lembrar que a tecnologia é apenas uma ferramenta e que a prática no campo e a experiência ainda são fundamentais para aprimorar essa habilidade.

Para receber conteúdos como esse em seu e-mail, participe da nossa Newsletter.

Confira abaixo um episódio do Podcast sobre o assunto:

Publicado em

Inter-relação entre pais, atletas e treinadores

A família tem um papel fundamental no processo de crescimento, educação e desenvolvimento de seus filhos, e no esporte não é diferente. No esporte, a relação dos familiares tem influência direta no rendimento e motivação de seus filhos na modalidade em que está inserido.

A inter-relação entre pais, atletas e treinadores tem de ser transparente, saudável e que seja em prol do bem-estar e desenvolvimento do aluno.

De acordo com BECKER estudo, o pai é a figura que tem maior influência no ingresso da criança no esporte. A conduta dos pais diante da participação de seus filhos no esporte, tem relação direta com a qualidade da participação da criança na atividade esportiva. É comum que os pais criem expectativas em seus filhos, por enxergar uma possível realização que não foi possível a ele, ou até mesmo por enxergar o filho como um ativo que pode transformar a vida socioeconômica da família. Devemos sempre nos lembrar que o principal interesse é do aluno que está inserido na prática esportiva, mas em alguns casos, não é o que acontece.

O primeiro ponto de destaque nessa situação é compreender qual o real interesse da criança, qual esporte ela quer praticar, atendendo suas expectativas e necessidades, sendo ela responsável pela escolha de seu esporte, assim, fazendo algo que lhe interessa. Mas infelizmente, alguns pais inserem seus filhos em um esporte sem consultá-lo, muita das vezes não há um critério para a escolha da atividade, fatos comuns são dos pais quererem inserir em certa modalidade, pelo seu maior interesse pessoal, e/ou pelo motivo de que aquele horário os pais tem compromissos profissionais ou sociais impedindo-os de ficar com a criança, dessa maneira, as escolinhas de esporte passam a ser “depósitos de crianças” conforme citado por pesquisador como Becker.

O envolvimento dos pais no esporte

De acordo com a literatura científica o envolvimento dos pais no esporte pode ser considerado em três etapas diferentes: o subenvolvimento, o envolvimento moderado e o superenvolvimento.

O subenvolvimento pode ser considerado como a falta de comprometimento emocional, financeiro ou funcional dos pais, que tem relação com a falta de comparecimento nos treinos, nos jogos, eventos e pouquíssimo contato com os treinadores. No envolvimento moderado, são os pais que dão suporte necessário a seus filhos, orientam, estabelecem metas realistas e ajudam financeiramente. E no superenvolvimento são os pais que excedem os limites de sua participação diante da vida esportiva de seus filhos, colocam seus desejos e necessidades criando expectativas e pressões desnecessárias.

Perfis de Pais e mães de jovens esportistas

Podemos também comprender na literatura científica que os perfis de pais podem influenciar o desenvolvimento. Pais desisteressados, por exemplo, levam o filho ao esporte como uma forma de ocupar o tempo da criança, inscrevendo-a em atividades sem preocupar-se se o filho aprecia ou não. Eles vêem no técnico uma espécie de “babá”, delegando a ele a obrigação de cuidar da criança. Como consequências, são apontados não apenas uma grande possibilidade de abandono ao esporte, como também futura intolerância à modalidade escolhida pelo pai.

Os pais mal-informados conduzem o filho ou filha à prática esportiva, com uma primeira conversa com o técnico, mas não participa mais do processo.

Já os pais exaltados, tendem a participar ativamente do cotidiano do seu filho no ambiente esportivo, colaborando de forma adequada com o técnico. Entretanto em situações competitivas, é comum que torçam de forma exagerada, dirigindo palavras inadequadas aos árbitros, prejudicando o ambiente e constringindo seus filhos; ressalta-se que é comum que os pais não se percebam como inadequados.

E por fim, temos os pais fanáticos. São considerados os mais problemáticos, por esperarem dos filhos atitudes de “heróis no esporte”. Estão sempre insatisfeitos com o desempenho da criança e interferem no processo de preparação, cobrando excessivamente e gerando pressões sobre o filho. Se exaltam facilmente com as decisões dos árbitros e atitudes do técnico, gerando hostilidade e perturbação no ambiente, podendo desfazer a relação de prazer da criança com o esporte.

A motivação para prática esportiva

A motivação pode ser definida como uma força interior, impulso, intenção que leva a pessoa a fazer algo ou agir de certa forma, e que afeta a compreensão da aprendizagem de habilidades, motoras devido a seu papel na iniciação. A motivação é um fator determinante quando um indivíduo quer realizar algo segundo estudos de Fonseca e Stela.

A forma como os pais se portam durante as competições irá despertar uma reação na criança. Em caso de reações negativas, comentários infelizes podem intereferir diretamente no desempenho da criança. Alguns exemplos de relatos de jovens no esporte são como esses:

“Um dos únicos dias em que via meu pai era no sábado, quando ele vinha me ver jogar futebol. Mas isso me deixava nervoso, pra dizer a real. Meu pai era meu herói. E, no começo, ele me cobrava muito. Às vezes, ele até mesmo dizia: “Tô cansado de ver você perder. Você pode comer mais um hambúrguer hoje, mas só se o seu time ganhar”.

[…] Ficava tão agitado na noite anterior aos jogos que tinha dores de estômago e começava a vomitar. Eu tinha dor de cabeça e febre às vezes e não conseguia dormir. Quando eu jogava, ao invés de jogar “leve”, eu me preocupava em estragar tudo. Sempre que eu jogava um jogo pra valer, era como se meu coração estivesse sempre batendo mais rápido. Era um bloqueio psicológico.

Em entrevista ao The Players Tribune, Bruno Guimarães, jogador da seleção brasileira, relata sobre a cobrança excessiva que seu pai lhe fazia:

[…] o meu treinador, Mário Jorge, estava assistindo do lado de fora com o pessoal mais velho. Depois do jogo, ele entrou na quadra e disse: “Bruno, deixa eu te perguntar uma coisa: Por que você nunca joga assim quando é pra valer?”.

Eu respondi: “Não sei o motivo. Não fico à vontade. É complicado”.

Ele disse: “Preste atenção, não fica preocupado. Jogue como se fosse para se divertir e veja o que acontece”.

Depois disso, conversei com meu pai e disse a ele a verdade. Pedi pra ele parar de me pressionar tanto quando eu jogava, porque estava me deixando muito tenso. Quando é seu herói pressionando você, às vezes, é demais. Graças a Deus meu pai aceitou numa boa e a partir daquele dia tudo mudou.”

Estudo de Barbantei, cita que motivar e apoiar os filhos, sem forçá-los na modalidade esportiva; concentrar-se na dedicação e esforço mais que no resultado final dos jogos; ensinar que a honestidade vale mais que a vitória em si; não ridicularizar os erros do filho; aplaudí-los; lembrar que seus filhos participam do esporte para seus próprios interesses e alegria e não para a sua; não questionar a decisão ou honestidade do árbitro em público; reconhecer o valor e apoiar os treinadores; todos esses comportamentos citados, são comportamentos que ajudariam no desempenho, satisfação e continuidade de seus filhos na prática esportiva.

Por fim, o principal ponto desta relação entre pais, atletas e treinadores é que o principal é o jovem, toda atitude a ser tomada tem de ser pensada em prol do bem-estar dele ou dela, da satisfação na prática na modalidade, na motivação, ajudando-os em seu desenvolvimento, crescimento e educação, tudo de uma forma saudável. E entender que o sucesso no esporte infantil não está atrelado ao resultado de uma partida, ao desempenho esportivo, a vitória no esporte infantil se conquista todos dias, dando liberdade e autonomia a criança, para desenvolver seu real potencial, se autoconhecer, conhecer seus limites, brincar, se divertir , sociabilizar, tudo de uma forma leve e lúdica, mantendo o prazer, satisfação e alegria na prática esportiva.

Para receber conteúdos como esse em seu e-mail, participe da nossa Newsletter.

Contato do Autor:
E-mail: gsantisantos@gmail.com

Gabriel Santiago atualmente é professor de futebol no Esporte Clube Pinheiros

REFERÊNCIAS

Almeida, Dione, and Rafael Machado de Souza. “A influência dos pais no envolvimento da criança com o esporte durante a iniciação esportiva no futebol 27 em uma escolinha de Campo Bom-RS.” RBFF-Revista Brasileira de Futsal e Futebol 8.30 (2016): 256–268.

https://www.rbff.com.br/index.php/rbff/article/view/422

Barbanti, Valdir J. Formação de esportistas. Editora Manole Ltda, 2005

BECKER JR, Benno, and Elenita TELÖKEN. “A criança no esporte.” Especialização esportiva precoce: perspectivas atuais da psicologia do esporte. Jundiaí, SP: Fontoura (2008): 17–34.

https://pt.everand.com/book/438630660/Especializacao-esportiva-precoce-perspectivas-atuais-da-psicologia-do-esporte

Fonseca, Gerard Maurício Martins, and Erika Spritze Stela. “Família e esporte: a influência parental sobre a participação dos filhos no futsal competitivo.” Kinesis 33.2 (2015).

https://periodicos.ufsm.br/kinesis/article/view/20723

Moraes, Luiz Carlos, André Scotti Rabelo, and John Henry Salmela. “Papel dos pais no desenvolvimento de jovens futebolistas.” Psicologia: reflexão e crítica 17 (2004): 211–222.

https://www.scielo.br/j/prc/a/ZcdcVGpBB6KLwybtRHVKVZh/?lang=pt&format=pdf

PAES, R. R., FERREIRA, H., GALATTI, L., & SILVA, Y. (2008). Pedagogia do esporte e iniciação esportiva infantil: as inter-relações entre dirigente, família e técnico. Especialização esportiva precoce: perspectivas atuais da psicologia do esporte. Jundiaí: Fontoura, 49–66.

https://pt.everand.com/book/438630660/Especializacao-esportiva-precoce-perspectivas-atuais-da-psicologia-do-esporte

https://www.theplayerstribune.com/br/posts/carta-bruno-guimaraes-brasil-newcastle-premier-league

Publicado em

O momento psicológico do jogo

O “momento psicológico do jogo” é uma expressão bastante ouvida quando falamos de futebol. Embora seja de senso comum, o conceito é objeto de estudos na Psicologia e ajuda a explicar fenômenos relacionados à performance de atletas.

Você já ouviu algum atleta falar que dependendo do seu primeiro lance na partida, o desempenho dele pode melhorar ou piorar naquele jogo? Ou algum atleta que dá um drible genial e se sente confiante para uma finalização difícil?! Isso pode ter a ver com o momento psicológico.

O que é o momento psicológico e como ele influencia num jogo de futebol?

Definimos o momento psicológico como uma alteração positiva ou negativa nos aspectos cognitivos, emocionais, fisiológicos e comportamentais, causados por um evento ou uma série de eventos. Essa alteração pode resultar em uma mudança no desempenho e no resultado da competição.

Existem duas teorias mais difundidas sobre o Momento Psicológico:

  • Modelo Multidimensional (Multidimensional Model): é um modelo complexo, pois desdobra a análise da relação Momento Psicológico-performance em uma sequência de eventos;
  • Modelo Antecedente-consequência: modelo mais simples, do estilo causa e consequência.

Vamos explicar com mais detalhes os dois modelos acima.

Modelo Multidimensional

Segundo o modelo multidimensional, a relação entre momento psicológico e desempenho pode ser analisada como uma sequência de fatos. Tal sequência é desencadeada por uma reação a um evento ou a uma série de eventos precipitadores, por exemplo, quando um jogador recebe um passe de um companheiro (evento precipitador) e a melhor jogada que pode realizar nesse lance é driblar um adversário (reação ou resposta a esse acontecimento).

De acordo com essa resposta, o atleta faz uma avaliação do seu desempenho no lance como significativamente superior ou inferior às suas exigências no contexto da situação. O atleta avalia como positivo, se ele considerar sua performance no lance bem sucedida. Assim sendo, sentirá um aumento na autoconfiança, na emoção, na motivação, na atenção concentrada e na sensação de controle da jogada.

Dessa forma, ele se sente mais confiante, aumenta sua autoestima e seus músculos se enrijecem com maior intensidade. Essa mudança positiva influencia seu comportamento, ou seja, o jogador corre mais rápido e realiza a jogada com mais vigor e, consequentemente, melhora o seu desempenho.

Além do estado mental positivo do atleta em questão, o modelo também ressalta a importância do momento psicológico do adversário. Nesse sentido, caso o defensor esteja num momento psicológico negativo, há maior possibilidade de êxito do atacante na jogada. O momento psicológico negativo pode fazer com que o defensor hesite na tomada de decisão e perca tempo, ou vá sem tanta confiança e vigor na jogada. Em resumo, a teoria ressalta que para que o momento psicológico influencie mais no lance, é necessário que o atacante esteja num momento positivo e o defensor num momento negativo.

Modelo Antecedentes-consequência

Similarmente, o modelo antecedentes-consequências afirma que momento psicológico se refere à percepção do jogador no que concerne a sua performance quando progride em seu objetivo numa jogada. Isso ocorre, pois, no início do lance, ele obteve um aumento da motivação, da percepção de controle, do otimismo, da energia e do sincronismo de suas ações. Se o atleta não for bem-sucedido no início da jogada, há uma redução desses mesmos aspectos. Isso explica a ideia de alguns atletas verbalizarem indicando que seu desempenho durante a partida está condicionado aos seus primeiros lances.

O Modelo Antecedentes-consequências nos diz que variáveis situacionais que antecedem uma jogada podem afetar o momento psicológico. Em outras palavras, circunstâncias que antecedem uma jogada ou mesmo a maneira como uma jogada começa, por exemplo, com uma grande roubada de bola, podem melhorar o momento psicológico. Experienciar um momento positivo onde o atleta esteja se sentindo motivado, otimista, com bastante energia, tendo controle e sincronismo em suas ações, pode originar uma melhora na performance. Da mesma forma, uma diminuição na motivação, no otimismo, na energia, etc., resultando num momento negativo, pode ser extremamente prejudicial ao desempenho do jogador no lance.

É crucial ressaltar que esses modelos não são fechados, definitivos e exclusivos. Eles auxiliam didaticamente a compreensão do momento psicológico e sua influência na performance. Além disso, o momento psicológico não é o que determina o desempenho, mas sim um dos vários fatores neste cenário complexo. Outros aspectos psicológicos como ansiedade, estresse, satisfação no trabalho, dificuldade da tarefa, treinamento, apoio da torcida, e uma infinidade de outras variáveis influenciam no desempenho do jogador.

O momento psicológico do jogo e as estratégias

Sabendo da influência do momento psicológico no desempenho dos atletas, alguns treinadores utilizam estratégias que podem beneficiar sua equipe. Por exemplo, equipes que jogam numa proposta mais reativa são atacadas mais vezes durante um jogo. Comumente, há um entendimento de que quem é mais atacado está “sob pressão” ou situação vulnerável. No entanto, times reativos utilizam o discurso do “saber sofrer”, fazendo os atletas compreenderem que aquela situação faz parte do modelo de jogo. Nesse sentido, eles se sentem mais motivados quando são mais atacados (sem sofrer gol), porque compreendem que estão executando a estratégia proposta.

Similarmente, equipes que jogam com vantagem de gol(s) qualificado em jogos eliminatórios podem se preparar para partidas entendendo que sofrer gol não irá influenciar tanto no resultado. Dessa forma, os atletas podem jogar sem se abalar caso levem um gol.

Num âmbito individual não é raro observar diferença de comportamento e desempenho em jogadores de acordo com o momento psicológico numa partida. É o caso de jogadores que performam muito abaixo quando o time está perdendo, por exemplo. É importante observar esses detalhes, pois eles geram vulnerabilidades que o adversário pode se beneficiar.

Outro ponto comum são em jogos decisivos, onde alguns atletas mais jovens podem sentir maior influência do momento psicológico e performar mal por terem cometido algum erro em determinado momento da partida. Por exemplo, um jovem zagueiro que oferece um contra-ataque resultando em gol do adversário pode sentir negativamente o fato. Posteriormente ele poderá jogar excessivamente preocupado com o desempenho e acabar se desconcentrando na partida.

Como lidar com as influências do momento psicológico da partida?

Primeiramente, necessitamos que o atleta tenha um bom preparo psicológico. O treinamento de habilidades psicológicas ajuda a melhorar essas capacidades. Através dos métodos e técnicas do treinamento mental no futebol é possível ter um maior autocontrole, concentração e outras capacidades que auxiliam no controle emocional em momentos críticos. Por outro lado, é interessante aumentarmos a confiança do atleta após cada vantagem obtida, usando o momento psicológico de forma favorável.

No futebol de alto rendimento é necessário ter um alto nível de concentração na partida, eliminando distrações. Outro aspecto é conseguir lidar com alternâncias de placar, situações adversas e manter o controle. Dessa forma, podemos reduzir a influência negativa dos fatos do jogo.

O que aprendemos sobre o momento psicológico do jogo?

O Momento Psicológico no esporte é um conceito em desenvolvimento, mas que apresenta evidências científicas. No futebol existem várias “convenções empíricas”, ou seja, situações comuns percebidas pelos profissionais que ali trabalham, porém, carecem de explicações mais complexas e encaixadas. Nesse sentido, há campo para o desenvolvimento de estudos acerca deste tema.

No campo prático, observar a influência do momento psicológico numa partida de futebol pode contribuir para a elaboração de estratégias, aperfeiçoamento de deficiências inerentes a sistemas táticos ou modelos de jogo, bem como a potencialização destes. Simultaneamente, atletas que tomam consciência da influência do momento psicológico no seu desempenho podem ter melhores indicadores para treinar e analisar adequadamente sua performance.

Para receber conteúdos como esse em seu e-mail, participe da nossa Newsletter.

Referências e Links:

Excelência na produtividade: a performance dos jogadores de futebol profissional

How psychological momentum changes in athletes during a sport competition

Psychological Momentum: Why Success Breeds Success

Psychological Momentum within Competitive Soccer: Players’ Perspectives

Contato do Autor:
Matheus Padilha Abrantes Reis
Instagram: @28padilha
E-mail: matheuspadilhaar@gmail.com

Confira abaixo um episódio do Podcast sobre o assunto:

Publicado em

Por que alguns jogadores se sentem mais à vontade em determinadas posições?

O que quer dizer quando o jogador “se sente mais confortável” em determinada posição?

Muito se fala sobre atletas de futebol e suas capacidades para jogar em mais de uma posição ou desempenhar mais de uma função. Para o entendimento dessa diferença e uma introdução sobre tática, sugiro o texto “O que é tática no futebol?”.

Fato é que jogadores que tem uma posição “preferida”, ou “se sentem mais à vontade” em determinadas posições, são atletas que performam melhor em contextos mais específicos de jogo. O que isso quer dizer? Atletas que jogam “melhor” (ou têm essa percepção) em determinado contexto tendem a querer repetir as condições daquele contexto. Dessa forma eles se sentem mais confiantes e à vontade para desempenhar seu jogo tranquilamente.

Exemplificando o que foi dito: Um atleta canhoto acostumado a jogar na meia, com bom chute de média/longa distância começa a jogar numa equipe. Logo ele começa a fazer boas jogadas por dentro e finalizar com perigo durante os jogos.

Em um determinado momento, o treinador o coloca para jogar na ponta direita a fim de aproveitar o drible para dentro e a finalização. O atleta, porém, desacostumado a performar naquela região do campo, apresenta um rendimento menor e, consequentemente, tira de suas “preferências” jogar naquela parte do campo (ou naquela função).

O exemplo talvez seja um pouco extremo, mas serve como balizador para o entendimento das questões colocadas. Será utilizado apenas para fins didáticos.

Por que atletas preferem algumas posições?

A seguir, veremos possíveis explicações acerca de vários fatores que podem acarretar situações de preferência ou rejeição de uma posição/função por um atleta:

Como observado, a preferência por uma posição/função pode ser motivada pela autopercepção do atleta acerca do próprio rendimento. Caso se enxergue “menos capaz” de desempenhar um bom jogo, ele irá naturalmente rejeitar aquela posição. Caso compreenda que tem uma boa performance, o atleta irá buscar repetir as condições nas quais ele jogou bem.

Além da percepção de seu próprio desempenho, que é influenciada também por outros fatores (resultado, avaliação da torcida, da mídia, da comissão técnica,etc), existe outra influência mais direta. São os indicadores de desempenho necessários ou diferenciais para aquela determinada posição/função.

O que são indicadores de desempenho?

Em linhas gerais, os indicadores de desempenho são características de jogo que servem de referência para determinadas funções/posições. Para cada setor do campo, existem habilidades mais (ou menos) necessárias para um desempenho adequado ao modelo de jogo da equipe.

Nesse sentido, um atleta que apresenta bons indicadores para uma posição não necessariamente irá ter bom rendimento em outra posição, pois alguns indicadores são potencializados ou preteridos dependendo da posição/função.

Voltando ao caso do nosso atleta fictício, podemos supor que a construção de jogadas pelo meio e finalização de média e longa distância seriam seu forte. Tais características poderiam ser sustentadas por indicadores como a ‘facilidade de jogar entre as linhas adversárias’ e a ‘boa finalização sem constrangimento pelo opositor’.

Desse modo, ao ser deslocado para atuar na ponta, lhe seriam exigidos mais os indicadores de ‘drible em situações de 1×1’, ‘jogadas de linha de fundo com o pé não-dominante’ e ‘cobertura defensiva’, por exemplo. Desse modo, pela própria falta de familiaridade com os indicadores, o jogador pode ter mais dificuldade em atuar de maneira adequada ao modelo de jogo, ou o pedido do treinador.

Em resumo, as preferências de determinado atleta por posições/funções específicas têm relação direta com a autopercepção de seu próprio desempenho, associado à facilidade/dificuldade de apresentar os indicadores mais necessários àquela posição/função.

A partir das possíveis dissonâncias entre os fatores citados, podem ocorrer situações potencializadoras ou redutoras no que diz respeito ao rendimento do atleta.

O que acontece quando o jogador não joga em sua posição?

Um exemplo é o atleta que não consegue performar bem quando exigido em outra função e começa a estabelecer crenças sobre a função, diminuindo assim a percepção da própria capacidade e atuando sem confiança. Nesse caso é interessante perceber se há realmente dificuldade quanto às características do atleta (indicadores de desempenho) ou se há um componente de viés psicológico que atrapalha a concentração, confiança, controle da ativação, etc.

Outro lado da moeda é quando o atleta é colocado em uma função na qual não está habituado e pode:

1. Performar de fato melhor por apresentar indicadores necessários para a função, conseguindo resultados individualmente melhores por conta da maior adequação ao modelo; ou

2. Por motivos “terceiros*” performar melhor naquela posição e gerar a crença de que atuar naquela posição/função é mais adequado para si, aumentando assim a confiança, disposição ao esforço, tranquilidade para jogar, etc.

*Apoio da torcida, má fase do adversário de maior embate durante o jogo, condições favoráveis do jogo, etc

A compreensão do motivo que leva o próprio jogador a atribuir aspectos positivos ou negativos para uma posição nem sempre é clara e consciente. A preferência ou rejeição pode ter aspectos inconscientes, fazendo com que o atleta não saiba explicar o porquê de não se sentir confortável.

Sobre isso pode-se hipotetizar que existam marcadores somáticos atrelados ao contexto específico daquela função. Em outras palavras, existe algo que desagrade o atleta quando ele atua naquela posição, mesmo que ele não se dê conta.

Trazendo mais uma vez o nosso atleta fictício, podemos inferir que as situações de 1×1 e de lado de campo façam com que ele tenha menos tempo para tomar decisões. Dessa forma, ele pode ser mais exposto ao estresse e errar mais ações**. Isso, por sua vez, pode gerar uma reação negativa caso ele não possua estratégias para lidar com a ansiedade. Portanto, a partir dessas reações fisiológicas das quais ele não se dá conta, jogar numa determinada função/posição pode ser desprazeroso.

**Cabe ressaltar que não precisa que o atleta erre mais ações para que se sinta desconfortável no jogo. O simples fato de não executar as ações as quais está acostumado pode representar desprazer para aquele atleta. Ex: Um jogador que sempre constrói pelo meio e consegue assistências com passe na janela, caso deslocado para a ponta e não consiga mais dar assistências dessa maneira, pode sentir-se desconfortável. A mudança na forma que ao atleta interage com o jogo pode ser desprazerosa.

Como o atleta pode melhorar jogando em outra função?

Existe também uma nuance diferente acerca da temática da mudança de posição/função. Esta, por sua vez, conta com um caráter mais coletivo. Se dá quando o atleta é deslocado para executar outra função/posição por, dessa maneira, potencializar o jogo coletivo.

Em outras palavras, o jogador consegue melhorar o desempenho dos companheiros, de forma associativa, gerando um melhor rendimento coletivo.

Exemplificando: Um atleta pode ser deslocado para uma função diferente no campo, pois jogando dessa forma, consegue gerar espaço para companheiros do setor, ou promover coberturas eficientes, etc. Algumas das habilidades dos atletas podem conferir ao modelo de jogo, novas possibilidades que impactem de forma grupal a equipe.

Assim, o jogador em questão pode não ter o melhor rendimento que se entende que ELE teria, porém, ele consegue gerar vantagens para outros companheiros.

Quais fatores interferem na escolha da posição ou função?

Outro ponto relacionado às questões emocionais e individuais do esporte é relevante para a escolha do atleta de onde e como prefere jogar. Fatores como competitividade, cooperatividade, disposição ao esforço, entre outras, podem influenciar em maior ou menor grau.

Existem atletas mais ativos e mais inquietos, cuja preferência é sempre estar próximo ou no centro de jogo. Para estes, estar sem a bola não é interessante, fazendo com que por vezes estes diminuam o grau de concentração ou de ativação. Outros preferem funções mais competitivas, travando duelos físicos, por exemplo. Compreender o perfil de um atleta pode ajudar a encaixá-lo melhor em determinadas funções.

Como o próprio jogador se relaciona com o Futebol, de maneira geral, fornece indícios sobre como podemos potencializar suas virtudes, tanto para o jogo e resultados, quanto para o prazer de praticar o esporte. Para isso é preciso uma compreensão do ser humano, suas singularidades e as formas complexas de interação entre estes quanto atletas.

Em conclusão, a especialização, preferência ou adaptação em uma posição tem componentes individuais, táticos e psicológicos. Autopercepção de desempenho, habilidades relacionadas ao espaço de jogo, modelo de jogo, questões emocionais, como o atleta lida com o esporte, tudo isso pode influenciar as preferências de um atleta.

Contato do Autor:
Matheus Padilha Abrantes Reis
Instagram: @28padilha
E-mail: matheuspadilhaar@gmail.com

Para receber conteúdos como esse em seu e-mail, participe da nossa Newsletter.

Publicado em

As funções executivas nas modalidades coletivas

As funções executivas são denominadas como controle cognitivo, definidas por um conjunto integrado de habilidades que possibilitam a organização eficiente da realização de tarefas diárias. Assim, essas habilidades são requisitadas quando nos deparamos com uma situação nova e que precisa de resolução momentânea.

Quais são estas habilidades?

Algumas habilidades que compõe as nossas funções executivas são: memória de trabalho, inibição e flexibilidade cognitiva.

A memória de trabalho é a manutenção da informação e a habilidade de processar a mesma mentalmente e tomar uma atitude. Neste processo, o indivíduo estará relacionando ideias armazenadas a longo prazo, integrando a ordem dos fatos passados para um comportamento futuro, ou seja, ele poderá antecipar a ação por meio das vivências internalizadas.  

Logo, a inibição permitirá que o sujeito controle os comportamentos inapropriados ou irrelevantes para tal estímulo, sem agir no impulso.

E, por fim, a flexibilidade cognitiva se caracteriza pelas múltiplas informações que nosso cérebro processa diariamente. Quando compreendidas e vivenciadas ricamente no ambiente, possibilita que o indivíduo se adapte ao meio em que está e aos problemas que surgirem. Sendo assim, o indivíduo identifica o problema e gera soluções para resolvê-lo de forma rápida, eficiente e criativa.

A partir da integração dessas três habilidades, são derivadas outras funções superiores, como raciocínio, planejamento e resolução de problemas.

Como o Futsal contribui no desenvolvimento das funções executivas?

Os esportes coletivos requerem uma rápida antecipação e organização no espaço de jogo, alternância entre defesa e ataque, sintonia entre colegas de equipe, etc. Isso caracteriza um ambiente rico de estímulos. Portanto, o futsal é uma modalidade vasta destes estímulos.

Em princípio, precisamos encontrar maneiras de favorecer a evolução dessas habilidades citadas acima. Uma dessas maneiras é a organização de aulas/treinos. Podemos utilizar jogos que facilitem o aprimoramento das funções executivas, desenvolvendo inteligência tática, autonomia, criatividade, poder de decisão, percepção e resolução de problemas dos atletas.

Posteriormente a isso, entende-se que desenvolvemos as funções executivas a todo momento.  A capacidade de percepção durante o jogo, por exemplo, consiste em selecionar as informações essenciais para poder orientar uma ação técnica e tática que a situação exige. O poder da tomada de decisão é constituído como uma das principais potencialidades do atleta. Nesse sentido, o futsal oferece inúmeras possibilidades de ações, sempre tendo uma nova decisão a ser tomada de forma rápida.

Dessa forma, compreendemos que tais estímulos devem estar presentes durante as sessões de treino em uma rotina organizada, contextualizada em uma sequência pedagógica desafiadora e com jogos situacionais. O que permitirá uma maior segurança dos atletas no momento do jogo propriamente dito.

Sobretudo é importante ressaltar o controle emocional. Indivíduos com pouco controle das emoções demoram para reorganizar informações quando algo está instável, o que pode prejudicar a equipe.

Importância das funções executivas

Em síntese, todas essas funções mencionadas são fundamentais à aprendizagem e ao funcionamento do comportamento do indivíduo em distintos contextos diários. Quando não abordadas e desenvolvidas podem acarretar dificuldade de elaborar ações mentais e práticas, dificuldades para terminar uma atividade proposta (desatenção), irritabilidade, descontrole de emoções e etc.

Assim, a flexibilidade cognitiva, caracterizada por uma das principais habilidades das funções executivas, permite a capacidade de mudar a linha de raciocínio ou executar outra ação contextual de jogo. Seja para antecipar uma linha de passe, identificar uma superioridade numérica durante as transições de ataque e defesa, compreender as movimentações para o espaço vazio, entre outras situações que o futsal requer.

Afinal, o desenvolvimento dessas funções e/ou habilidades segue um longo trajeto desde a infância até a fase adulta. Seguindo esta premissa, é importante enaltecer o olhar sensível e pedagógico crítico na infância quando se aborda as modalidades coletivas. Já que não se trata apenas de propiciar um ambiente rico de estímulos para as crianças, mas sim contextualizado, devendo vir ao encontro com a especificidade da modalidade, caso contrário será um jogar por jogar.

E toda a memória de trabalho internalizada (memória a longo prazo), a compreensão do que não fazer e do que fazer, somados a ação intencional durante o jogo, só serão eficientes se treinadas e estimuladas. O caminho é complexo e solicita a busca constante de conhecimento por parte do profissional, bem como o futsal é uma ótima ferramenta para o desenvolvimento dessas funções.

Fontes e Referências

Funções executivas: desenvolvimento e intervenção. Temas sobre Desenvolvimento 2013;

https://www.annualreviews.org/doi/10.1146/annurev-psych-113011-143750


Contato da autora:
Instagram: @Torettifaveri

Confira abaixo um episódio do Podcast sobre o assunto:

Para receber conteúdos como esse em seu e-mail, participe da nossa Newsletter.

Publicado em

A motivação no futebol

A motivação no futebol é um termo muito presente no citado esporte. Porém, o que é motivação ou estar motivado? É possível motivar um jogador? Ou como disse Muricy Ramalho certa vez: A maior motivação é o salário depositado na conta no fim do mês” !?

Antes de tudo, é preciso entender do que estamos falando. O conceito de motivação, didaticamente explicando, é simples. A motivação pode ser definida como a direção e a intensidade dos nossos esforços. Em primeiro lugar, a direção do esforço refere-se ao fato de um indivíduo buscar, aproximar-se ou ser atraído por certas situações. Em segundo lugar, a intensidade do esforço refere-se a quanto esforço uma pessoa coloca em determinada situação para conseguir aquele objetivo.

As três abordagens principais da motivação

Em conformidade com essa definição, pode-se compreender as três abordagens principais sobre a motivação:

A visão centrada no traço:

A visão centrada no traço (também chamada de visão centrada no participante) afirma que o comportamento motivado se dá, principalmente, em função de características individuais. Ou seja, a personalidade, as necessidades e os objetivos de um atleta são os determinantes principais do comportamento motivado. Em suma, a motivação está no atleta.

A visão centrada na situação:

Em contraste direto com a visão centrada no traço, a visão centrada na situação afirma que o nível de motivação é determinado principalmente pela situação.

A visão interacionista:

A visão de motivação mais aceita hoje em dia por psicólogos do esporte e do exercício é a visão interacional entre indivíduo–situação. Para resumir, é uma abordagem que leva em considerações fatores da personalidade e do ambiente.

Diretrizes para desenvolver a motivação

De maneira resumida, a motivação possui componentes relacionados ao atleta e outros relacionados à tarefa. Entretanto, existem várias maneiras de desenvolver a motivação visando ambos domínios. Alguns exemplos estão dispostos a seguir.

Enquanto treinador/membro da comissão:

Levar em consideração que tanto as situações como os traços motivam as pessoas. Isto é, existem jogadores mais ou menos motivados intrinsecamente do que outros, bem como existem jogos ou competições mais motivadoras do que outras.

Entender que as pessoas têm vários motivos para fazer algo. Isso significa que cada atleta tem seus motivos para ser jogador profissional, tem seus objetivos de carreira, suas metas. Nesse sentido, cabe aos membros da comissão compreenderem e usarem isso a favor na questão motivacional.

Alterar o ambiente para aumentar a motivação. Existem várias formas de criar competitividade ou união dentro de um grupo de jogadores. Portanto, é necessário ajustar o ambiente para aumentar a motivação de maneira geral.

Dar incentivo à motivação. Em outras palavras, é servir de exemplo e manter-se motivado. Isso porque é comum que grupos de pessoas que convivem percebam alterações no estado emocional de algum dos integrantes. Caso a própria comissão não esteja motivada, isso pode acabar reverberando no grupo de atletas.

Enquanto atleta:

Buscar compreender os aspectos que o motivam à tarefa. Em alguns casos é fundamental acompanhamento com profissional da Psicologia através do treinamento de habilidades psicológicas (THP). Porém, alguns atletas já possuem um bom autoconhecimento, conseguindo se motivar com mais facilidade.

Buscar uma orientação à tarefa e não ao resultado. A orientação à tarefa mais frequentemente do que a orientação ao resultado, pode levar a uma forte ética de trabalho, à persistência em face de fracasso e à excelência no desempenho. Essa orientação pode proteger o atleta contra decepções, frustrações e falta de motivação quando os outros superarem seu desempenho. Explicando: uma orientação ao resultado é quando o atleta tem como foco a comparação do seu desempenho com o dos outros. Em contrapartida, uma orientação à tarefa tem como foco a comparação do desempenho com padrões e aperfeiçoamento pessoais.

A fim de aumentar a motivação no futebol, é necessário observar e responder não somente à personalidade do jogador, mas também à interação entre características pessoais e a situação. Visto que as motivações podem mudar com o tempo, devemos continuar acompanhando a motivação dos atletas constantemente.

A complexidade da motivação no futebol

A motivação no futebol, portanto, tem uma maior complexidade do que apenas “receber em dia”. Ao passo que lembramos que os atletas e outros atuantes do futebol são seres humanos, conseguimos perceber que nada é tão simples. A manutenção da motivação cria condições para um melhor desempenho e saúde mental no esporte. Como resultado, ela ajuda a manter os níveis de concentração, a reduzir o estresse da rotina de jogos, diminuir a ansiedade, dentre outros aspectos positivos.

Em conclusão, a motivação no futebol não se resume a vídeos ou bilhetes enviados aos jogadores na véspera dos jogos, nem às lições de vida bradadas por atletas nas preleções. Ela vai muito além disso. E, caso seja bem trabalhada, pode mudar o “patamar” de uma equipe.

Contato do Autor:
Matheus Padilha Abrantes Reis
@28padilha
matheuspadilhaar@gmail.com

Para receber conteúdos como esse em seu e-mail, participe da nossa Newsletter.

Confira abaixo um episódio do Podcast sobre o assunto:

Fontes e Referências:

Fundamentos da Psicologia do Esporte e do Exercício.

Publicado em

A concentração no futebol

A concentração no futebol é um termo muito abordado. Porém, será que todos entendem o conceito de concentração da mesma forma? Além disso, existem maneiras de melhorar a concentração no futebol?

Durante um jogo de futebol, inúmeros estímulos são apresentados ao atleta, por exemplo: visuais (a bola, os adversários, companheiros), auditivos (gritos de companheiros, do treinador, som dos adversários se aproximando), e táteis (contatos). E dentre esses estímulos, o jogador deve selecionar os mais importantes para cada situação, já que é impossível “dar conta” de tudo.

O que é a concentração no futebol?

Primeiramente, uma definição útil de concentração no contexto esportivo e do exercício contém quatro partes:

  1. Focalização nos sinais relevantes no ambiente (atenção seletiva);
  2. Manutenção daquele foco de atenção por todo o tempo;
  3. Consciência da situação e dos erros de desempenho;
  4. Mudança do foco de atenção quando necessário.

Em outras palavras, a focalização nos sinais relevantes significa estar atento aos elementos do jogo (bola, jogadores, linhas de defesa, etc). E a manutenção do foco de atenção é a capacidade de permanecer “ligado” nesses elementos o tempo todo.

Contudo, como funciona o foco de atenção?

Em resumo, o foco de atenção pode ser classificado em amplo ou estreito, e interno ou externo.

  • Foco de atenção amplo: permite ao indivíduo a percepção de diversas ocorrências em simultâneo. Por exemplo: a bola, os companheiros e adversários, simultaneamente.
  • Foco de atenção estreito: ocorre quando o atleta reage a apenas um ou dois indicadores. Por exemplo: o atleta só foca na bola e no adversário à sua frente.
  • Foco de atenção interno: é dirigido ao interior. Exemplo: pensamentos, sentimentos.
  • Foco de atenção externo: dirige a atenção externamente para um objeto. Exemplo: a bola, os movimentos de um adversário.

Desse modo, durante a partida situações completamente diferentes podem ocorrer, requerendo do atleta a mudança de foco em alguns momentos. Estando concentrado no jogo, o atleta consegue alternar os focos de atenção de maneira a otimizar seu rendimento. Para tanto, o atleta deve estar consciente da situação e dos seus erros de desempenho, mantendo o foco de atenção nos sinais mais relevantes para cada situação.

Problemas de atenção comuns

Os problemas de atenção podem ser classificados como provenientes de distrações internas ou externas. As distrações internas incluem pensar em eventos passados ou futuros, “amarelar” sob pressão, sentir fadiga, ter falta de motivação e analisar de maneira excessiva a mecânica corporal. E as distrações externas incluem dois fatores: os visuais, como a torcida; e fatores auditivos, como o ruído da torcida ou provocações de jogo do adversário.

Nesse sentido, as distrações citadas levam à perda do foco de atenção e consequentemente queda no rendimento. Quando um atleta se preocupa excessivamente com um “jejum” de gols, ou quando ele “cai na pilha” do adversário, sua concentração nos elementos importantes da partida diminui, fazendo com que ele não consiga ter uma atuação no seu melhor nível.

Outro aspecto importante e mais atual da concentração no futebol é referente à questão cognitiva. Segundo Larry Rosen, professor da Universidade Estadual da Califórnia, o uso de celulares afeta a capacidade de concentração. Em outras palavras, o uso excessivo de celular diminui o tempo médio da capacidade de concentração. Por isso, entre outros motivos, vários treinadores como Guardiola, Christophe Galtier (Lille), Miguel Ángel Ramirez por exemplo, proíbem o uso de celulares nas dependências dos clubes e em dias de jogos. A medida estimula também a interação entre os atletas.

Melhorando a concentração no futebol

Existem formas de melhorar individualmente a concentração no futebol através do treinamento de habilidades psicológicas (THP). Outras alternativas mais abrangentes para atletas e comissões técnicas são:

  • O treinamento simulado, cujo objetivo é tentar criar um ambiente o mais próximo da competição real;
  • O uso de palavras sugestivas que tenham a função de instruir ou motivar, facilitando a concentração na tarefa em questão. Entretanto, essa prática necessita de embasamento, sendo conhecida e treinada com alguma função sabida por atletas e treinador. Mas não adianta só gritar à beira do campo “concentra, concentra!”;
  • Estabelecimento de rotinas, usadas para focalizar a atenção, reduzir a ansiedade, eliminar as distrações e aumentar a confiança;
  • Os planos de competição, que ajudam os atletas a se prepararem para os eventos e o que fazer em circunstâncias diferentes;
  • Aprender bem as habilidades. Em síntese, quando se aprende bem as habilidades necessárias para jogar futebol, estas ficam automatizadas. Isso faz com que o jogador não fique “pensando” em como vai executar um movimento, por exemplo. Dessa forma, ele consegue gerar uma “economia cognitiva”, fazendo com que ocupe mais o foco da atenção com elementos mais importantes.

A concentração, portanto, é um componente importantíssimo para a chegada e manutenção do alto rendimento. Está intimamente ligada com a atenção e também é influenciada por fatores como estresse, ansiedade e ativação. Apesar do amplo uso do termo, nem todos os profissionais compreendem bem o conceito e de que maneira funciona a concentração.

Nesse sentido, faz-se necessário aos profissionais do futebol compreender este e outros aspectos psicológicos do jogo, a fim de desenvolver de maneira global os atletas. Assim, com alternativas simples como as descritas acima, há a possibilidade de desenvolver a concentração.

Fonte e Referência:

Fundamentos da Psicologia do Esporte e do Exercício.

Contato do autor:
E-mail: matheuspadilhaar@gmail.com
Instagram: @28padilha

Confira abaixo um episódio em nosso Podcast sobre o assunto:

Para receber conteúdos como esse em seu e-mail, participe da nossa Newsletter.

Publicado em

As contribuições da psicologia esportiva para a posição de goleiro

A psicologia esportiva é o estudo científico de atletas e equipe técnica referente ao comportamento desses em contextos esportivos. Em outras palavras, o objetivo maior da psicologia esportiva é desenvolver e potencializar as habilidades e competências psicológicas dos praticantes do alto rendimento. Assim, os atletas manterão sua melhor performance durante a competição e terão um bem-estar psíquico na sua carreira.  

É visto que algumas equipes não contam com estes profissionais, ou por questões financeiras e/ou organização interna. Dessa forma, o trabalho psicológico fica ao encargo dos próprios treinadores e preparadores. Dentre todas as posições dos jogadores de futsal e futebol, sabemos que a posição de goleiro é única e com atribuições exclusivas. Bem como, compreendemos a importância do treinamento técnico-tático e a preparação física específica. Logo, identificamos uma posição que é constantemente cobrada, pressionada e, qualquer ação errada, irá interferir no resultado da sua equipe.

Desse modo, o goleiro precisa ter um alto equilíbrio emocional, preparado para enfrentar erros na partida e continuar com o mesmo rendimento até o final. Um atleta seguro gera confiança para os colegas e torcida. Mas como a psicologia esportiva pode auxiliar neste bom rendimento?

A psicologia esportiva e a posição de goleiro

O trabalho psicológico com o goleiro é fundamental nestas modalidades citadas acima, pois é uma posição que envolve ações do sistema nervoso a todo momento, como a concentração, disciplina e liderança, sendo ele um líder dentro de quadra e campo.

Obviamente há vários fatores que levam ao estado de excelência da performance. Uma delas é ação motora em realizar uma defesa correta e no tempo certo. Contudo, o autocontrole emocional é de suma importância. Para isso, o ideal é que o treinamento envolva situações táticas-técnicas específicas da posição, mas também bons diálogos para identificar pensamentos de tensão e medo destes atletas.

Ainda nesse sentido, a psicologia esportiva aborda algumas técnicas que auxiliam no desenvolvimento do autocontrole do goleiro e potencializam suas qualidades no jogo. São elas: técnicas de respiração, ensaio mental, estabelecimento de metas, controle de frustração após o erro e auto avaliação.

Técnicas de respiração

A maior parte dos atletas respiram de forma insuficiente e inadequada e, por ser um processo natural, nem sempre é observado. Sabemos que uma boa respiração resulta na oxigenação mais completa, aliviando a tensão e o estresse. Como resultado, esse fator auxilia os jogadores antes e durante o jogo.

Ensaio mental

O ensaio mental refere-se a palavra “visualização”. Podemos considerar o ensaio mental como uma ação de movimento correta, ou visualizar o alcance dos objetivos que almeja.

Estabelecimento de metas

Estabelecer metas auxilia o atleta a saber onde quer chegar. Esse planejamento pode ser feito com o treinador de goleiros ou comissão técnica. Em síntese, seria o que o atleta busca durante o treino e/ou jogo competição.

Controle de frustração

O controle da frustração após um erro é fundamental para qualquer atleta, ainda mais para um goleiro. No futsal e no futebol precisamos entender de forma clara que qualquer erro interfere no resultado, e que todas as posições falham. Falhar é um processo natural do ser humano, mas é necessário aprender a lidar com estas falhas. Ou seja, não podemos acreditar que os erros são uma tragédia irreparável, mas sim uma jogada que não deu certo. Dessa forma, isso não pode influenciar no comportamento do atleta até o final. O goleiro precisa aprender a conviver com os erros e frustrações, potencializando o controle emocional, gerando autoconfiança.

Auto avaliação

E, por último, a auto avaliação. A análise de vídeos pode ser crucial para observar o que está errado e o que está certo, observando sua progressão. Os vídeos do próprio treinamento são importantes para tal.

Como abordar estas técnicas no treinamento?

É de suma importância que o preparador tenha claro o planejamento, estando organizado em uma periodização de treinamento adequado para a realidade dos atletas. Isso deve ser somado aos objetivos e metas estipulado pelos goleiros e preparador no início de temporada. O primeiro passo para o sucesso é estabelecer metas:

  • Como quero estar ao final da temporada?
  • Onde quero chegar a partir dos treinamentos?
  • Como se dará este percurso?
  • O que preciso fazer para alcançar o que almejo?

Essas são algumas questões norteadoras que potencializam o bom rendimento nos treinamentos, ou seja, o planejamento está ligado diretamente com o objetivo a ser alcançado e com o desempenho do atleta. Treinamento amplo, intenso e adequado levam o goleiro a um nível ideal de concentração e motivação.

Os goleiros podem evoluir muito através do auxílio de observações e registros. As análises qualitativas também são atuantes neste processo, pois permitem identificar ações motoras e tomadas de decisão que sofreram influência por conta do nervosismo e ansiedade, por exemplo.

A importância do autocontrole no jogo competição

O goleiro precisa tomar decisões apropriadas ao jogo a todo momento, e alguns mecanismos úteis para manter a concentração são:

  • Ajustar a posição em relação ao adversário;
  • Ficar preparado para enfrentar um rápido contra-ataque;
  • Estar em constante contato com o jogo e passar informações e estímulos para a defesa.

Sabemos que o medo é produto da imaginação humana. Mas, quando o atleta está a frente de uma situação X no jogo, ele deve ter a compreensão que executar a melhor ação motora é uma forma de diminuir erros. Assim, quanto mais repertório o goleiro obtiver nos treinamentos, mais facilmente combaterá o medo, tendo maior domínio de suas ações corporais no espaço e da parte emocional.

Em síntese, o goleiro deve lidar com o aqui e o agora. Erros passados devem servir de aprendizado. O preparador precisa enfatizar habilidades positivas dos atletas. Além de todas as estratégias citadas acima, outra opção é induzir o goleiro a terminar cada exercício com uma boa defesa. E, acima de tudo, é importante que o goleiro sempre tenha uma meta definida, obrigando-o a treinar de forma consistente. O treinamento deverá estar atrelado ao planejamento, deve ser motivador. A autoconfiança é o mais importante de um goleiro, sendo requisito fundamental para almejar o sucesso.

Fontes e Referências

Contato do Autor:
Instagram: @Torettifaveri

Confira abaixo um episódio em nosso Podcast sobre o assunto:

Para receber conteúdos como esse em seu e-mail, participe da nossa Newsletter.