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Qual é o VO₂ máximo em jogadores de Futebol?

A capacidade aeróbia é um dos principais fatores que possibilitam a sustentação de altas taxas de trabalho durante os 90 minutos de uma partida. Desta forma, é de suma importância quantificá-la para entender melhor como se encontram os atletas em condições cardiovasculares para fazer uma preparação adequada.  Sendo assim, o melhor indicador para fazer este monitoramento é conhecido como VO₂ máximo. 

O VO₂ máximo é a capacidade do sistema respiratório em captar, metabolizar e transportar oxigênio a fim de proporcionar energia para o corpo durante uma contração muscular. Resumidamente, é o maior volume de oxigênio que uma pessoa consegue captar por um determinado período durante um exercício. O VO₂ máximo é expresso em mililitros de oxigênio por quilograma por minuto (ml/kg/min) relativamente ao peso corporal do avaliado. 

E pelo futebol ser um esporte predominantemente aeróbio, um maior pico de VO₂ máximo traz informações importantes a respeito de como o atleta pode performar durante a partida. 

Como calcular/medir o VO₂ máximo de um atleta?

Para fazer este controle de desempenho, existem alguns protocolos que podem ser utilizados para avaliar o VO₂ máximo no Futebol. Os testes de VO₂ máximo variam entre protocolos de laboratório e testes de campo. Dentre as opções de protocolos utilizados para esta finalidade temos alguns conhecidos, como, por exemplo:

Teste ergoespirométrico:

Este é um teste ergométrico de laboratório e deve ser realizado em uma esteira ou bicicleta. Este é um exame que fornece dados fisiológicos e traz consigo a grande vantagem da quantidade de informações (oxigenação, frequência cardíaca, troca de gases, limiares, etc.). Além disso, os dados obtidos durante o teste são muito precisos. Por outro lado, exige uma infraestrutura maior por parte do clube e demanda mais tempo para realizá-lo. 

Teste de Cooper:

O teste de Cooper consiste em um protocolo de campo bem simples, onde o atleta deve percorrer durante 12 minutos, a maior distância possível.  Este teste é realizado em pistas de atletismo e tem por objetivo calcular o VO₂ máximo em função da distância percorrida pelo tempo.

Yoyo Test

Yoyo teste também é um teste de campo, que preconiza corridas de ida e volta entre uma distância de 20 metros. O ritmo da corrida é demarcado por um sinal sonoro, e seu fim é caracterizado quando o atleta não consegue mais acompanhar o ritmo imposto pelo teste. Portanto, o VO₂ máx do atleta é obtido neste momento.

Ainda sobre o Yoyo teste, existem algumas variações do teste tradicional (Yoyo endurance) como o Yoyo intermintent e o Recovery intermitente. Assim, vale destacar que uma vantagem deste teste, é que ele pode ser aplicado em campo, tornando mais acessível a sua aplicação. Além disso, a sua característica é intermitente, em que se assemelha melhor às demandas impostas por uma partida de futebol.

VO₂ no Futebol

Agora que já entendemos o que é VO₂ máximo e como predizê-lo, entenderemos como ele se manifesta durante a partida de futebol. 

Os valores de VO₂ máximo podem variar conforme a faixa etária analisada. Estudos demostraram que uma boa capacidade aeróbia, possibilita ao atleta suportar melhor exercícios de longa duração, assim como aumentar a velocidade da ressíntese dos fosfatos (ATP-CP) responsáveis por fornecer energia para os períodos de alta intensidade. Desta forma, o valor mínimo considerado ideal para a prática do futebol seria de 55ml/kg/min.

Vale destacar que além da idade, fatores como: sexo, dimensão da composição corporal e a posição exercida pelos atletas, também influenciam nos valores de VO₂ máximo. Entretanto, a correlação entre VO₂ máximo e posição, está mais ligada a jogadores profissionais, não apresentando evidencias tão significativas nas categorias de base.

Desta forma, em equipes profissionais os valores de VO₂ máximo variam de 47ml/kg/min até 70ml/kg/min segundo a posição do jogador.  Nesse caso, os valores encontrados nos meio campistas e laterais geralmente são superiores aos demais valores encontrados nas outras posições. Em suma, estes resultados estão relacionados às diferenças entre as funções exercidas por cada posição durante o jogo.


VO₂ máximo e relação com frequência cardíaca (FC) e limiar anaeróbio (LA)

O futebol é um esporte com características energéticas mistas. Assim, definir limiares é um procedimento importante para o melhor conhecimento individual de seus atletas. Além disso, é essencial para o conhecimento das características presentes em diferentes posições. Nesse sentido, duas métricas estão atreladas ao VO₂ máximo: a frequência cardíaca e o limiar anaeróbio.

No geral, o que podemos perceber é uma relação linear entre Frequência Cardíaca e VO₂ máximo, haja vista que valores próximos do máximo da Frequência cardíaca, indicam uma maior percentagem de VO₂ sendo utilizada para a realização de determinada atividade.  

Deste modo, podemos entender que o controle da FC durante treinamentos e jogos, nos permite compreender qual o grau de esforço que o atleta está sendo submetido. E assim predizer limiares para direcionar o treino da melhor forma para o objetivo proposto. 

Já o limiar anaeróbio pode ser definido como uma transição de metabolismos, ou seja, uma mudança na via energética predominante na produção de energia, onde passa de aeróbio para anaeróbia. Basicamente, ela é provocada por exercícios com uma intensidade muito elevada, onde o nível de produção de lactato é maior que a capacidade do corpo em removê-lo. Provocando assim uma hiperventilação e uma sensação de queimação muscular, não conseguindo ser suportado por um período muito elevado de tempo.

Portanto, um Limiar Anaeróbio elevado permite ao atleta realizar atividades com intensidades mais elevadas, sem haver o acúmulo progressivo de ácido lático no sangue. Ou seja, permite ao atleta se manter em uma intensidade maior durante um período também maior. Desta forma, o atleta que consegue utilizar maior porcentagem do seu VO₂ máximo sem entrar em acidose metabólica e por isso tem vantagens competitivas em relação a seu adversário.

Entretanto, na literatura não há um consenso de valores absolutos de VO₂ máximo e Limiar anaeróbio em atletas de futebol, os estudos citam porcentagens entre 75% até 86% de VO₂ máximo para atingir o Limiar Anaeróbio. 

O que podemos entender sobre o VO₂ máximo?

Devido à complexidade do tema, não há um consenso na literatura referente a algumas questões relacionados ao assunto. Porém, entender a base do VO₂ máximo e conhecer sobre relação dos fatores que podem influenciá-lo, são características importantes para um bom profissional que atuará no futebol. 

Portanto, neste texto conseguimos ter uma noção maior de um dos principais índices fisiológicos presentes no futebol. Entendemos o que é VO₂ e como podemos mensurá-lo.

Ainda foi citado alguns valores de referência e a sua relação com demais indicadores fisiológicos como Frequência Cardíaca e Limiar Anaeróbio.

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Processo de recuperação pós-jogo

O que é recovery?

O futebol é um esporte que exige dos atletas, demandas físicas, fisiológicas e psicológicas muito altas. A elevada intensidade durante os jogos, aliada a um calendário competitivo e muito congestionado, leva os atletas a entrarem em processo de fadiga. Porém, estratégias para minimizar a fadiga, podem fornecer uma importante vantagem competitiva em relação aos adversários. Uma dessas estratégias é o recovery, que promove uma melhor e mais rápida recuperação pós-jogo.

O recovery é caracterizado, basicamente, por processos restaurativos que proporcionam uma recuperação musculoesquelética ou, até mesmo, recuperação psicológica. A recuperação depende do índice de estresse ao qual cada atleta é submetido e, também, ao perfil de personalidade.

Os modelos de recovery mais comuns são os passivos e ativos. Os modelos passivos são caracterizados por métodos externos, tais como massagens, alongamentos, crioterapia ou até a implementação de um estado completo de repouso. Já os modelos ativos, englobam atividades físicas de média e baixa intensidade executadas por um período curto de tempo, por exemplo: caminhadas ou trotes, jogos reduzidos, atividades na sala de musculação, entre outros.

Recuperação ativa e passiva

Geralmente, os estudos sobre a recuperação pós-jogo, ressaltam a eficiência da recuperação ativa em relação à passiva. Ademais, vejamos o estudo de liderado pelo pesquisador Grassi da Universidade Federal de Goiás, em que foi comparado três diferentes métodos de recuperação:

  • Passiva (RP): estado completo de repouso;
  • Banheira de gelo: 7 minutos a 14 graus;
  • Ativa (RA): trote com intensidade de 50% a 65% da frequência cardíaca máxima.

O estudo mostrou que a recuperação ativa apresentou uma diminuição da concentração de lactato sanguíneo relevante quando comparada com as demais alternativas, principalmente em relação à recuperação passiva. Portanto, podemos interpretar a diminuição da concentração de lactato na corrente sanguínea como uma redução da lesão tecidual, ou seja, uma melhor recuperação do músculo.

Da mesma forma, outro estudo realizado em 2013 liderado pelo pesquisador brasileiro Luís Inácio Silva, 20 atletas de futebol foram submetidos a um teste de 9 minutos e divididos em dois grupos: recuperação ativa (RA) e recuperação passiva (RP).

A concentração de lactato foi medida no início do teste, no final do teste, 5, 10 e 15 minutos após o término do teste. Os resultados foram compatíveis com o do estudo citado anteriormente. Para melhor ilustrar, podemos ver no gráfico que a recuperação ativa representada pela cor azul apresentou uma queda significante da concentração de lactato sanguíneo quando comparada com a passiva, principalmente no minuto 15 (Lac15), após o término do teste, passando de 4,10 mmol/L para 2,45 mmol/L.

Desta forma, a curva regressiva apresentada pela recuperação ativa continuaria no decorrer do dia, trazendo benefícios para a próxima sessão de treinamento e fazendo com que os atletas cheguem em melhores condições físicas para a realização de suas atividades.

Tipos de Recuperação ativa

Como percebemos até o momento, a recuperação ativa parece apresentar uma abordagem mais assertiva, o que mostra ser mais eficiente para a recuperação pós-jogo. Assim, dois protocolos de recuperação ativa pós esforço são comumente utilizados. Um de maior grau de especificidade com o futebol; e outro com menor especificidade.

  • Treino composto por jogos reduzidos de baixa intensidade; (maior grau de especificidade)
  • Treino composto por sessões de corridas com baixa intensidade, alongamentos e relaxamento muscular; (menor grau de especificidade).

O interessante é que ambos os protocolos apresentam melhoras no desempenho físico dos atletas, sendo, os treinos de sessões de corrida com baixa intensidade, alongamentos e relaxamento muscular; parecerem mais eficientes que o treino composto por jogos reduzidos de baixa intensidade.

Dessa forma, podemos considerar que a especificidade poderia indicar uma forte relação entre o desempenho físico e questões psicológicas. Treinos mais específicos (em formato de jogo, por exemplo) exigiriam maior concentração mental e física do atleta já fadigado em razão da partida anterior, o que poderia retardar a recuperação plena dos atletas pós-partida.

Relação entre fatores físicos e psicológicos

Sabemos que diversos fatores podem ser estressores para os atletas, por exemplo: as viagens mais longas; a privação de sono, que pode ocorrer em função dos deslocamentos; problemas pessoais ou com o grupo; dentre outros. Todas essas situações podem elevar o nível de estresse e gerar consequências fisiológicas que prejudicam a recuperação.

Do mesmo modo, a fadiga mental se configura como uma determinante importante para a tomada de decisão. Isso ocorre porque a tomada de decisão de uma pessoa é limitada. Durante um jogo de futebol, o atleta toma em média mais de duas mil decisões. Além disso, segundo a literatura científica sobre as funções cognitivas, a cada decisão tomada, ocorre uma fadiga que prejudica as decisões seguintes.

Com a tomada de decisão prejudicada pela fadiga mental, o desempenho do jogador tende a diminuir. Simultaneamente, o mau desempenho tende a configurar um maior nível de estresse, acarretando outros problemas que podem se manifestar até mesmo fisicamente. Portanto, a fadiga mental pode criar um ciclo de condições ruins que afetam diretamente a capacidade de resposta física e mental do atleta.

O bem-estar e a fadiga mental na recuperação pós-jogo

Estudos na área apresentam uma relação linear entre a fadiga e bem-estar, isto é, quanto menores os níveis de bem-estar, menor é o rendimento físico dos atletas.

Diante disso, é de suma importância reduzir as cargas de cobrança psicológica após a partida, optando por métodos de treinamentos que não exijam um grande número de tomada de decisões dos atletas. Assim, alinhando fatores físicos e psicológicos, de modo a acelerar a remoção de substâncias inflamatórias, e permitindo uma melhor recuperação dos níveis fisiológicos por parte dos atletas.

Desse modo, promoveremos uma recuperação adequada, para que o atleta esteja em plenas condições para sessões de treinamentos subsequentes, e também para a próxima partida.

Em resumo, percebemos uma grande vantagem no método de recuperação ativa, a qual podemos concluir que ajuda a acelerar o processo de recuperação dos atletas. Ainda nesse sentido, trabalhos com menor grau de especificidade demostraram ser uma boa alternativa para a montagem de sessões de treinamento com o objetivo de recuperação fisiológica e psicológica dos futebolistas.

Cada atleta lida de maneira peculiar com as diversas situações envolvendo fatores psicológicos, indicando a necessidade de um acompanhamento para que essas situações não acarretem mais problemas ao jogador e ao time.

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Métodos de Treinamento Físico no Futebol

No futebol, os jogadores precisam estar em boas condições físicas para lidar com as demandas do jogo. O treinamento físico é crucial para desenvolver as habilidades necessárias para jogar em níveis competitivos. Isso inclui treinamento de força, equilíbrio e agilidade, que melhoram o desempenho dos jogadores em vários aspectos, como saltos verticais e sprints. O treinamento neuromuscular também pode ser realizado de forma unilateral ou bilateral, ambos eficazes para melhorar a força das pernas.

Um estudo de revisão sistemática mostrou que a combinação de diferentes métodos resultou em melhorias significativas em diversos aspectos em jogadores de futebol.

Com base neste estudo, confira quais os métodos de treinamento utilizados para otimizar a condição física dos jogadores de futebol.

Treinamento Neuromuscular

O treinamento neuromuscular é uma estratégia que inclui força, equilíbrio e agilidade para melhorar o desempenho atlético de jogadores de futebol adolescentes. Estudos mostram que um programa de treinamento neuromuscular de 6 a 12 semanas pode melhorar medidas de desempenho, como altura do salto vertical, equilíbrio e força muscular em jogadores de futebol jovens.

Além disso, o treinamento neuromuscular pode ajudar a melhorar o padrão de movimento durante determinadas tarefas, como saltos. Por meio de um programa de treinamento neuromuscular, jogadores de futebol jovens podem melhorar sua capacidade de sprint e agilidade, o que pode ser útil durante as partidas.

Treinamento Unilateral e Bilateral

Estratégias de treinamento unilateral e bilateral têm surgido para melhorar a força e a potência das pernas em atletas de futebol. Estudos mostram que ambas as formas de treinamento são igualmente eficazes na indução do aumento de força e potência. Em um estudo, por exemplo, os participantes foram divididos em grupos que realizaram treinamento unilateral e bilateral, e ambos os grupos apresentaram aumento significativo em algumas variáveis de força medidas.

No entanto, a combinação dos dois tipos de treinamento mostrou resultados ainda mais significativos em atletas de futebol. Portanto, a combinação de treinamento unilateral e bilateral pode ser mais benéfica para melhorar o desempenho em exercícios explosivos de alta intensidade e curta duração.

Treinamento Balístico

O treinamento de bola é importante para jogadores de futebol que precisam de força e velocidade para ações explosivas, como chutar e saltar. O treinamento balístico é uma forma de exercício dinâmico que envolve atividades motoras, como arremessos, saltos e corridas, usando resistência externa ou autorresistência. Estudos mostram que a combinação de exercícios balísticos e pliométricos é eficaz para aumentar a força e a velocidade dos jogadores de futebol.

Além disso, o uso de exercícios específicos, como saltos com agachamento e meio agachamento, também pode melhorar a aceleração e a altura do salto dos jogadores. O treinamento balístico é uma estratégia importante para melhorar a capacidade dos jogadores em ações explosivas.

Treinamento Pliométrico

O treinamento pliométrico é um programa de exercícios que aumenta a força e a velocidade, muito importante para jogadores de futebol, que precisam ter a habilidade de responder rapidamente e com força tanto no ataque quanto na defesa. Vários estudos mostram que esse tipo de treinamento pode melhorar a ação explosiva dos jogadores, incluindo saltos, sprints e mudanças de direção. No entanto, os resultados variam dependendo da forma como o treinamento é realizado e se é combinado com outros exercícios.

Por exemplo, a combinação de treinamento de peso e treinamento pliométrico pode ser mais eficaz do que apenas o treinamento de peso. Além disso, a adição de uma carga ao treinamento pliométrico pode produzir resultados diferentes. É importante ajustar o volume e a intensidade do treinamento pliométrico conforme a idade e o nível dos jogadores de futebol para obter resultados favoráveis.

Treinamento de Força

O treinamento de força é importante para melhorar o desempenho muscular e reduzir lesões em jogadores de futebol. Diversas formas de treinamento são usadas, como o treinamento excêntrico, neuromuscular e exercícios de força, flexibilidade, equilíbrio e estabilidade. Estudos mostraram que o treinamento de força é eficaz em melhorar o desempenho e reduzir as taxas de lesão em jogadores jovens de futebol, mesmo em idades diferentes.

A combinação de treinamento de força com outros tipos de treinamento, como o treinamento de potência, pode aumentar ainda mais o desempenho em velocidade e em tarefas de mudança de direção. É recomendado fazer pelo menos duas sessões por semana para melhorar sprints e tarefas de mudança de direção, enquanto uma sessão por semana é suficiente para melhorar a capacidade de salto.

Treinamento Excêntrico

O treinamento excêntrico tem sido amplamente utilizado no futebol como uma forma de prevenir lesões musculares que ocorrem durante contrações excêntricas, quando o músculo é estendido ou alongado. O programa de treinamento inclui exercícios que melhoram o desempenho muscular, reduzem a incidência e a gravidade das lesões e aumentam a agilidade dos jogadores de futebol.

Além disso, o treinamento excêntrico também melhora a agilidade, conforme estudos que utilizaram treinamento de sobrecarga excêntrica combinado com outros tipos de exercícios. Portanto o treinamento excêntrico é, portanto, uma ferramenta importante para aprimorar o desempenho dos jogadores e prevenir lesões musculares.

Treinamento de Sprints repetidos

O treinamento de sprints repetidos é uma estratégia de exercício que consiste em uma série de sprints curtos, com duração de 3-7 segundos, cada um separado por um curto período de recuperação de menos de 60 segundos. O objetivo é desenvolver a função neuromuscular complexa, como o desempenho em sprints únicos, a função metabólica ou ambos simultaneamente.

Estudos demonstraram que em um período de 6-7 semanas, o treinamento de sprints repetidos pode melhorar o desempenho em sprints, a força das pernas e a resistência em jogadores de futebol jovens e profissionais. Em um estudo com jogadores profissionais juniores de 16 anos, mostrou melhoria na capacidade de recuperação entre sprints e aumento na resistência em um teste específico. Já em outro estudo com jogadores profissionais de 18 anos, melhorou o tempo de sprint e a força das pernas.

Treinamento de Corrida Resistido e Não Resistido

Treinamento de corrida resistido e não resistido são duas estratégias para melhorar a capacidade de corrida, incluindo velocidade, aceleração e agilidade. O treinamento de corrida resistido envolve o uso de pesos adicionais ou treinamento em subida, ou em dunas. Em um estudo com jovens jogadores de futebol com 16 anos de idade, o treinamento de corrida resistido aumentou o tempo de sprint.

Outro estudo revelou que o treinamento resistido não só aumenta a velocidade e aceleração, mas também pode ser usado para melhorar a agilidade e força. Os participantes realizaram exercícios de salto e um protocolo de corrida resistido ou não resistido. O grupo que realizou o treinamento resistido obteve melhorias significativas em várias distâncias de corrida, mudanças de direção, saltos verticais e horizontais.

Dessa forma, cabe dizer que o treinamento de corrida pode ser adaptado para atender às necessidades individuais dos atletas.

Treinamento de Resistência

O treinamento de resistência é importante para jogadores de futebol por ajudar a desenvolver músculos fortes, necessários para a realização de ações como correr, chutar e saltar. Esse tipo de treinamento estimula a produção de proteínas nas células musculares, o que aumenta a capacidade dos músculos em gerar força.

Em um experimento de 15 semanas com jogadores de futebol entre 18 e 20 anos, pesquisadores utilizaram um modelo de periodização não linear de treinamento de resistência e mostraram resultados significativos no aumento da força e potência muscular, sem comprometer a velocidade e agilidade.

Treinamento com Faixas elásticas

O treinamento com faixas elásticas pode ser uma opção segura e eficaz para aumentar a capacidade muscular em jogadores de futebol. Um estudo com jogadores profissionais mostrou que o treinamento com faixas elásticas durante 5 semanas aumentou a frequência máxima de movimento do joelho, sem afetar significativamente a força, salto e desempenho de corrida.

Os exercícios com faixas elásticas foram realizados com um parceiro, com um segurando uma faixa amarrada no tornozelo do outro. Isso sugere que o treinamento com faixas elásticas pode melhorar a capacidade funcional dos músculos.

Treinamento do Core

O treinamento do core é essencial para os jogadores de futebol, ao ser responsável por desenvolver a força do corpo e reduzir o risco de lesões. Estudos mostram que o treinamento do core pode melhorar a velocidade, salto vertical, equilíbrio, agilidade e flexibilidade dos jogadores. Experimentos em diferentes grupos de jogadores de futebol, com diferentes protocolos de treinamento, todos mostraram um aumento significativo no desempenho após o treinamento do core.

Portanto, é importante incluir o treinamento do core nos programas de treinamento de futebol para melhorar o desempenho e prevenir lesões.

Treinamento Intervalado Aeróbico

O treinamento intervalado aeróbico é um exercício que induz uma taxa metabólica aeróbica mais alta do que anaeróbica. Em um estudo, jogadores de futebol com 17 anos de idade realizaram treinamento intervalado aeróbico por 5 semanas com intensidade baseada no pico de velocidade (PV), com 4 séries de 4 minutos com intervalos de 3 minutos. Não houve resultados significativos na mudança do VO2max entre o período antes e depois do exercício, independentemente de haver mudança de direção ou não.

Outro estudo mostrou que treinamento intervalado aeróbico por 6 semanas, 2-3 sessões por semana, foi eficaz em manter a aptidão aeróbica de jogadores de futebol de 15 anos de idade. O treinamento intervalado aeróbico e os jogos em pequenos grupos foram igualmente eficazes na manutenção da aptidão aeróbica, mas os jogos em pequenos grupos aumentaram significativamente o nível de jogo dos jogadores.

Já em um estudo com jogadores de futebol amadores de 21 anos de idade, o treinamento intervalado aeróbico convencional por 6 semanas, com 5 séries de 6 minutos de trabalho na intensidade do limiar anaeróbico e 3 minutos de descanso entre as séries, aumentou os parâmetros de resistência anaeróbica.

Treinamento intervalado aeróbico com restrição de fluxo sanguíneo

O Treinamento intervalado aeróbico com restrição de fluxo sanguíneo (Blood Flow Restriction Aerobic Interval Training) é um exercício que combina o uso de uma braçadeira de pressão arterial com treinamento de baixa resistência para melhorar a adaptação nos músculos esqueléticos e nos vasos sanguíneos periféricos. Esse exercício é realizado com base em intervalos de energia aeróbica e pretende aumentar a capacidade aeróbica e prevenir a diminuição do VO2max em jovens jogadores de futebol com 23 anos de idade.

Um estudo demonstrou que após 2 semanas (4 sessões por semana) de exercícios com uma pressão de 140mmHg aumentando para 180mmHg, houve um aumento na capacidade aeróbica e RPE (escala de percepção subjetiva de esforço) dos jogadores.

Treinamento Intermitente

Os jogos de futebol são caracterizados por trechos de alta intensidade intercalados com momentos de descanso. Por isso, a capacidade de repetir treinos de alta intensidade é essencial para os jogadores. O treinamento intermitente pode ser utilizado para aumentar as demandas físicas segundo as necessidades da competição.

Um estudo realizado com um jogador jovem de futebol de 16 anos mostrou que, após 12 semanas de treinamento intermitente com sprints de 4-8 séries por sessão, duração de trabalho de 10-30 segundos e recuperação de 10-30 segundos, houve uma diferença significativa no desempenho aeróbico.

Esse tipo de treinamento é fácil de ser aplicado, inclusive para atletas jovens, por minimizar a produção de ácido lático e o risco de lesões. O estudo também ressalta a importância de prestar atenção na fase de recuperação, pois um tempo maior do que 30 segundos pode resultar em uma diminuição da frequência cardíaca.

Treinamento de Endurance de Velocidade Anaeróbica

O treinamento de endurance de velocidade anaeróbica é essencial para jogadores de futebol que precisam produzir esforço máximo em um curto período, intercalado com um breve período de recuperação. Existem duas subcategorias desse treinamento, SEP (Produção de Resistência de velocidade) e SEM (Manutenção da Resistência de Velocidade), que podem melhorar a performance em sprints repetitivos e intermitentes de alta intensidade.

Estudos mostraram que o SEP é mais eficaz em melhorar a capacidade de exercício intermitente intenso, enquanto o SEM aumenta a resistência à fadiga e mantém o desenvolvimento da velocidade durante exercícios curtos e repetitivos. O treinamento com SEP também é mais intenso do que com SEM e pode ser mais adequado para aumentar a resistência à fadiga.

Treinamento Intervalado de Alta intensidade

O treinamento intervalado de alta intensidade (HIIT) pode aumentar a capacidade cardiorrespiratória, bem como a resistência muscular e a flexibilidade. No entanto, os resultados podem variar dependendo do tipo de exercício e da combinação com outros tipos de treinamento. Alguns estudos mostram que a combinação de HIIT com jogos de pequenos grupos pode melhorar a resistência anaeróbica, a potência e a agilidade em jogadores de futebol jovens.

Por outro lado, o treinamento de pequenos grupos é eficaz para melhorar a habilidade técnica e a agilidade, enquanto o HIIT é mais adequado para a velocidade e o treinamento de resistência de sprints repetidos em jogadores de futebol jovens.

Treinamento Tabata

O treinamento Tabata é um método de treinamento de alta intensidade que pode melhorar o desempenho atlético. Este protocolo consiste em exercícios com uma intensidade alta, seguidos por um curto período de recuperação, em comparação com o tempo de execução. O Tabata dura 4 minutos e inclui 8 intervalos, com 20 segundos de trabalho seguidos por 10 segundos de recuperação, repetido 8 vezes.

Um estudo mostrou que um treinamento de Tabata sprint realizado por 12 semanas pode melhorar significativamente a velocidade de jogadores de futebol com idades entre 20 e 25 anos. O protocolo pode variar em termos de tempo de duração e número de repetições, mas geralmente é realizado em 1-3 séries. O treinamento Tabata pode ser uma ótima opção para melhorar a capacidade física em um curto período.

Treinamento com Trenó

O treinamento com trenó muito pesado é um tipo de treinamento de força que usa a massa corporal como carga. Em um estudo, foi observado que o uso de uma carga que reduziu a velocidade de sprint em cerca de 30% e 10% resultou em um aumento significativo no tempo de sprint de 5 e 10 metros.

Outro estudo mostrou que, após um treinamento de 8 semanas, o uso de uma carga ainda maior (80% da massa corporal) aumentou significativamente a produção máxima de força horizontal durante o sprint, em comparação com o treinamento padrão sem carga. Além disso, houve um aumento moderado no desempenho de sprint de 5 metros e 20 metros no grupo que usou o trenó muito pesado.

Treinamento de Pilates

O treinamento de Pilates foi desenvolvido para melhorar a flexibilidade e a saúde em geral, destacando a força do núcleo, postura, respiração e coordenação de movimentos. Os exercícios de Pilates são projetados para posicionar os participantes em posições que minimizam o recrutamento desnecessário de músculos e levam a uma diminuição da estabilidade, fadiga prematura ou recuperação prejudicada.

Um estudo realizado em jogadores de futebol com idades entre 17 e 20 anos mostrou que após 4 semanas de treinamento de Pilates, com exercícios como leg circles, leg ups and downs, scissocrs, sidekicks, the saw, spine stretch, soulder bridge, neck pulls e pilates push ups, houve um aumento na flexibilidade dos músculos isquiotibiais. Esse aumento na flexibilidade é alcançado por meio de mecanismos biomecânicos, neurológicos e moleculares que determinam resultados a longo prazo, tornando os músculos gradualmente mais elásticos.

Treinamento Funcional

O treinamento funcional é uma alternativa para melhorar vários aspectos da aptidão muscular, incluindo força, resistência, coordenação e equilíbrio. Consiste em movimentos físicos característicos para desenvolver a força em todo o corpo humano, levando a uma maior mobilidade e estabilidade do atleta e, consequentemente, reduzindo o risco de lesões.

Um estudo mostrou que o treinamento funcional realizado por 6 semanas, com 4 sessões por semana, em forma de circuitos, teve um efeito positivo na melhoria dos resultados de testes de agilidade. O treinamento foi dividido em diferentes fases, com durações crescentes de cada estação e pausas entre elas.

Qual tipo de treinamento escolher?

Com base neste estudo de revisão sistemática, vários programas de treinamento foram encontrados para melhorar a condição física de jogadores de futebol, como força, resistência aeróbica e anaeróbica, potência muscular, velocidade e aceleração, flexibilidade, agilidade e equilíbrio. Isso mostra haver uma variedade de opções disponíveis para os jogadores melhorarem seu desempenho e habilidades físicas no campo.

Além disso, é importante destacar que a escolha do programa de treinamento deve considerar o objetivo específico do jogador e a posição em que ele joga.

Também é fundamental que o programa de treinamento seja adaptado às necessidades individuais de cada jogador, considerando seu nível de condicionamento físico atual e possíveis lesões anteriores.

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Referências Científicas

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O GPS no Futebol: como funciona?

Você, que trabalha com futebol, já deve ter ouvido falar sobre o GPS no meio esportivo. O GPS vem ganhando cada vez mais espaço em clubes, visto que suas informações são muito úteis para identificarmos as cargas do treino ou jogo. Isto é, com o GPS podemos verificar quanto o atleta se desgastou, qual a distância percorrida, quantos sprints em alta/moderada intensidade foram feitos e, também, podemos saber se ele cumpriu o papel tático pedido pelo treinador. Se quiser entender mais sobre o GPS no futebol, acompanhe o texto.

Como funciona o GPS?

O GPS vem da sigla em inglês Global Position Sistem (sistema de posicionamento global). O GPS é um dispositivo que fica conectado a satélites. Atualmente, existem duas formas de calcular as distâncias e velocidades através dos satélites. São elas:

Diferenciação posicional

A diferenciação posicional é calculada através da latitude e longitude. Assim, os satélites calculam sua distância para o dispositivo e, em seguida, criam uma triangulação entre si, verificando onde estava o dispositivo em cada sinal emitido. Para saber a velocidade, é calculado a distância sobre o tempo.

Deslocamento Doppler

Já o método Doppler é um pouco diferente. Aqui, o satélite calcula as rotas do GPS através da frequência de sinal periódico que o dispositivo emite. Ou seja, o deslocamento Doppler trabalha com ondas de frequência. Portanto, dependendo da frequência das ondas emitidas pelo GPS, o satélite sabe a sua localização. O método Doppler possui uma precisão maior na velocidade e acelerações produzido pelo indivíduo.

Muitos dispositivos utilizam a Diferenciação Posicional para saber a trajetória do GPS e, ainda, o Deslocamento Doppler para saber a velocidade e aceleração do jogador.

O que influencia os sinais do GPS?

Como os satélites se comunicam com o GPS por sinais, é normal que ocorram interferências nesse meio. Algumas das interferências são:

  • Localização ou obstrução ambiental: caso o local da atividade tenha baixo acesso aos satélites ou algumas obstruções ambientais (como prédios, ginásios, montanhas, etc.), pode haver problemas entre os sinais. Assim, você pode perder alguns dados durante a atividade.
  • Número de satélites ligados ao receptor: é de suma importância que os satélites emitam um sinal de qualidade para o receptor. Além disso, é necessário no mínimo 4 satélites para haver a captação dos dados. No entanto, não é recomendado usar dispositivos com menos de 6 satélites.
  • Aparelhos diferentes: cada aparelho tem uma qualidade divergente de sinal emitido. Dessa forma, alguns estudos já comprovaram diferenças nos dados obtidos por dispositivos de marcas distintas. Cabe a você se informar, ver recomendações e escolher o dispositivo que melhor atenda suas demandas.

E para o Futebol, o que o GPS fornece?

Com o passar do tempo, as tecnologias vão se aperfeiçoando. E isso não foi diferente com o GPS. Atualmente, no futebol, podemos adquirir informações de distância percorrida, acelerações e desacelerações, distância em diferentes faixas de velocidade, impactos e dados posicionais. Para entendermos melhor cada uma dessas variáveis, faremos uma listagem abaixo.

  • Distância percorrida: qual a distância total que o jogador obteve na partida, somando as caminhadas, trotes, corridas de costas, deslocamentos laterais, sprints, etc.
  • Acelerações e desacelerações: quantas vezes os atletas aceleraram e desaceleraram durante uma partida.
  • Distâncias em diferentes faixas de velocidade: aqui podemos dividir as velocidades em diferentes faixas: parado, caminhando e trotando, a velocidade máxima é de até 11 km/h. De 11,1 km/h a 14 km/h é configurado como corrida de baixa intensidade, de 14,1 até 19 km/h é corrida moderada. De 19,1 até 23 km/h é corrida em alta intensidade e, após os 23 km/h é configurada de Sprint.

Tabela 1: distâncias obtidas em relação à ação e posição expressa em metros [m]

Fonte: adaptado de Junior (2004).

A partir dos dados acima, é possível identificarmos que a maioria dos esforços físicos acontecem em moderada intensidade. No entanto, há momentos em que o atleta irá acelerar e desacelerar, mudar de direção de forma rápida, atingir velocidades maiores (sprints), etc. Dessa forma, podemos dizer que o futebol é um esporte prioritariamente aeróbico, mas com momentos de grande esforço durante a partida.

O que fazer com as informações do GPS?

Através das informações adquiridas pelo GPS é possível que a comissão técnica verifique se aqueles jogadores atingiram as valências físicas do treino ou jogo. Além disso, podemos acompanhar o desempenho físico ao longo de uma temporada, identificando os momentos em que o atleta tem uma subida, queda ou estabilidade física.

Também podemos comparar as variáveis adquiridas no jogo com as variáveis do treino. Desse modo, é possível identificarmos se o atleta treina naquela intensidade com a qual está jogando. Caso o atleta tenha uma discrepância muito grande nos jogos em comparação aos treinos, podemos evitar futuras lesões, já que ele não treina na intensidade que joga, logo, o músculo pode sofrer uma demanda de carga muito grande e “estourar”.

Dados posicionais no GPS

Os dados posicionais de GPS vêm ganhando muita força no futebol. Mas, o que é isso? Os dados posicionais nada mais são do que identificar quais os locais do campo onde o jogador mais esteve presente. Dentro disso, podemos citar como exemplo o mapa de calor.

O mapa de calor é somente um dos exemplos que podemos citar. Podemos identificar o posicionamento do atleta a cada minuto de partida, é possível criar faixas de tempo onde vemos qual existe algum padrão seguido pelo atleta, dentre outras possibilidades.

O GPS no Futebol

Como podemos observar no texto, o GPS é uma ferramenta que traz inúmeros benefícios aos clubes e atletas, desde uma melhora física, passando pela prevenção de lesões e chegando até a parte da tática, onde o atleta pode melhorar posicionamentos no campo.

Portanto, o GPS é de fundamental importância para clubes que desejam exercer um trabalho de alto nível. Por outro lado, é necessário um pequeno aporte de dinheiro para conseguir esses equipamentos. Visto isso, procure no mercado os dispositivos que melhor atendam a sua demanda.

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Confira abaixo um episódio do Podcast sobre o assunto:

Referências

Unpacking the Black Box: Applications and Considerations for Using GPS Devices in Sports.

Utilização do GPS no futebol.

Contato do autor:

Instagram: @christopher_suhre

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Lesões no futebol: uma visão psicofisiológica

O futebol é um esporte de contato, o qual exige dos atletas uma alta demanda física durante toda a temporada competitiva. Assim, a ocorrência de lesões no futebol é inevitável. Nesse texto abordaremos as lesões como um todo e, além disso, trataremos dos aspectos psicofisiológicos dessas lesões.

Mas, o que é Lesão?

Atualmente existem diversas definições de lesões no futebol, como exemplo, citaremos o trabalho do pesquisador Gonçalves, da Universidade do Porto. Gonçalves diz que a “lesão do futebolista será todo tipo de dano físico observado ao longo de uma época desportiva e ocorrido numa situação de treino ou competição”.

Para complementar, a partir de uma perspectiva da Psicologia do Esporte, a lesão é definida como trauma corporal que resulta no mínimo em uma incapacidade física e uma inibição temporária da função motora. Desse modo, a lesão é percebida como multifacetada e está intimamente ligada à dor.

Quais as principais lesões no futebol e suas causas?

Apesar de haver divergências no quesito definição e classificação, há um consenso na literatura sobre os tipos de lesões mais comuns no meio do futebol, as quais podemos conferir no quadro abaixo.

Adaptada do artigo Exposure and injury risk in Swedish elite football:a comparison between seasons 1982 and 2001

Nesse sentido, podemos constatar que lesões ligamentares e musculares são as que mais afetam atletas de futebol, seguidas de problemas em tendões e ossos. Além disso, foi constatado que o joelho e a coxa seriam as regiões com maior incidência de lesões por parte dos futebolistas.

Outro fator relevante sobre a ocorrência de lesões remete a como elas ocorrem. Estudos verificaram que a maioria das lesões são induzidas por contato entre atletas. No entanto, de maneira geral, estas lesões apresentam uma magnitude menor quando comparadas com as lesões ocorridas sem a presença de contato externo. Isso nos leva a pensar que, por muitas vezes, os atletas não estão aptos a suportar as demandas do jogo ou não obtiveram tempo necessário de recuperação entre jogos/competições.

Outros fatores que podem estar ligados às lesões no futebol

Embora a maior parte das lesões tenha uma origem física, há outros fatores que influenciam não somente o motivo das lesões, mas também o quão rápido os atletas poderão se recuperar. Por exemplo, fatores sociais, psicológicos e de personalidade contribuem para o aparecimento ou agravamentos de lesões.

Dentre os fatores citados, existem aspectos mais implícitos e outros mais explícitos no ambiente competitivo. Existe uma tendência em valorizar atletas que atuam “no sacrifício”, ou seja, que joguem sentindo dor ou lesionados. Isso é uma questão sociocultural que influencia nas decisões de atletas e treinadores. Similarmente, fatores psicológicos têm importância à medida que um atleta apresenta níveis de ansiedade e estresse que interferem na performance.

Ainda nesse sentido, fatores de personalidade influenciam à medida que cada atleta apresenta traços de ansiedade elevados ou baixa capacidade de enfrentamento em determinadas situações. Por exemplo, uma situação percebida como ameaçadora aumenta o estado ansioso, causando diversas mudanças na atenção e na tensão muscular (como distração e contração). Isso, por sua vez, aumenta a chance de lesão.

Ainda relativo aos fatores psicológicos, o aspecto emocional contribui à proporção que a tomada de decisão fica prejudicada. Dessa forma, com pequenos déficits no aspecto cognitivo, os gestos técnicos podem ficar prejudicados, podendo ter lances que causem lesões em jogos ou treinos.

Questões pessoais são, em geral, as principais causas dos problemas de ordem emocional de jogadores de futebol. Antes de serem atletas de alta performance, eles são pessoas comuns (pais, filhos, maridos, etc). Nesse sentido, todas essas questões contextualizadas permitem compreender de maneira mais ampla o problema relativo às lesões e recuperação.

Prevenção de lesões

Agora que já sabemos quais as principais lesões no futebol e quais os aspectos psicofisiológicos que podem causá-las ou retardar a volta do atleta, focaremos na prevenção e recuperação do jogador de futebol.

Nesse sentido, do ponto de vista físico, podemos pensar que prevenção de lesões e promoção de performance andam lado a lado e, desse modo, facilitam a compreensão de como os preparadores físicos podem promover o trabalho de prevenção de lesões.

Considerando que desequilíbrios musculares estão associados às lesões, citaremos a força como uma capacidade a ser trabalhada. Visto que, um atleta mais forte, além de ter maior probabilidade de obter grande desempenho, está menos propenso a lesão.

Além das capacidades físicas como a força, flexibilidade e condicionamento cardiovascular, as alterações anatômicas e de morfologia corporal também colocam o atleta em um grupo de risco e devem ser corrigidas.

Normalmente as capacidades envolvidas para a correção destes pontos envolvem:

  • Fortalecimento do core;
  • Fortalecimento excêntrico dos músculos da coxa;
  • Treinamento proprioceptivo;
  • Estabilização dinâmica;
  • Mobilidade articular;
  • Promoção da potencialização elástica, mecânica e reflexa ou ciclo de alongamento-encurtamento muscular.

Do ponto de vista psicológico, uma maneira de prevenir as lesões é manter a rotina de treinamento de habilidades psicológicas em dia. Em outras palavras, estar emocionalmente bem preparado e com saúde mental é a melhor forma de prevenir o aparecimento e/ou agravamento de lesões influenciadas pelo aspecto psicológico.

De forma análoga ao treinamento físico, a sobrecarga cognitiva deve ser considerada, já que a capacidade de tomada de decisão começa a reduzir com a fadiga mental. Portanto, é importante gerenciar treinamentos mais complexos e treinamentos de menor complexidade, a fim de fornecer uma forma de “descanso cognitivo” aos atletas.

Recuperação de lesões no futebol

Respostas dos atletas às lesões

O aspecto psicológico da recuperação é fundamental no que diz respeito às lesões no futebol. Tendo em vista que no esporte em geral as lesões podem findar as carreiras dos atletas, a lesão pode ter um peso enorme para cada pessoa. Didaticamente se dividem em 3 as respostas emocionais mais comuns às lesões:

  • 1 Processamento de informações relevantes à lesão: primeiramente, o atleta lesionado concentra-se em informações relacionadas a dor, à consciência da extensão da lesão e indaga como ela ocorreu, além de reconhecer as consequências negativas ou a inconveniência.
  • 2 – Revolta emocional e comportamento reativo: num segundo momento, quando o atleta percebe que está lesionado, pode se tornar emocionalmente agitado, experimentar emoções oscilantes, sentir-se emocionalmente esgotado, ficar em isolamento, sentir-se em choque, desacreditado, em negação ou ter autocompaixão.
  • 3 – Perspectiva e enfrentamento positivos: por último, o atleta aceita a lesão e lida com ela, iniciando os esforços de enfrentamento positivos, exibindo uma boa atitude e otimismo, ficando aliviado ao perceber o progresso.

Fases da lesão

Outra maneira didática de trabalhar a recuperação de lesões é a divisão da recuperação entre três fases descritas pelos pesquisadores Bianco, Malo e Orlick:

  • Fase aguda da lesão;
  • Fase de reabilitação e recuperação;
  • Fase de retorno à atividade total.

Para cada fase dessa existe uma estratégia de intervenção.

Para a fase aguda é necessário ajudar o atleta a lidar com as respostas emocionais que acompanham o aparecimento de lesão. Logo depois, na fase de reabilitação, ajudar o atleta a manter a motivação e a adesão aos protocolos de reabilitação. Finalmente, a fase de retorno à atividade total, na qual a recuperação só está completa quando o atleta consegue voltar ao seu funcionamento normal no esporte.

Nessas intervenções existem métodos e técnicas que contribuem para uma recuperação mais rápida dos atletas, como a mentalização. Entretanto, é importante ressaltar que cada aspecto da recuperação funciona melhor dentro de um planejamento transdisciplinar.

Por isso, além dos aspectos psicológicos, o conhecimento das demandas físicas e fisiológicas do jogo são de suma importância para o processo de reabilitação do jogador. Pois, submetendo o atleta a um programa de recuperação que contemple tais demandas de forma mais especifica, poderá fazer com que este futebolista regresse aos treinamentos já em melhores condições.

Outras formas de recuperação de lesões musculares

Portanto, alguns autores apresentam programas de reabilitação pós lesão pautadas principalmente acerca da lesão muscular. Em suma, os processos se dividem da seguinte maneira:

  • Imobilização da área afetada o mais rápido possível;
  • Exercícios estáticos (isométricos);
  • Exercícios concêntricos com baixo grau de resistência e velocidade;
  • Exercícios concêntricos com maior grau de resistência e velocidade;
  • Trabalho de força.

No entanto, os programas se diferem no que diz respeito à especificidade dos exercícios propostos. Gestos motores como passe, domínio, condução de bola e chute em alguns protocolos são deixados para uma fase posterior, já em outros, são incluídos dentro do processo de recuperação.

O que entendemos sobre as lesões no futebol?

As lesões no futebol apresentam nuances que, por vezes, não são percebidas com facilidade. Portanto, compreender esse fenômeno como complexo e multifatorial é o primeiro passo para uma boa análise. Uma avaliação psicofisológica é uma proposta de entendimento para melhorar a prevenção e tratamento de lesões.

A prevalência de transtornos psicológicos no futebol é maior que na população geral e, em grande, parte deriva do constante estresse ao qual os jogadores são expostos. Dentro dessa lógica, a depressão é um dos mais comuns e está constantemente ligada às lesões. Um exemplo famoso é o do ex-jogador e hoje comentarista Pedrinho, que teve quadro de depressão e viveu atormentado por lesões em sua carreira.

Referências:

Role of sports psychology and sports nutrition in return to play from musculoskeletal injuries in professional soccer: an interdisciplinary approach;

Lesões musculares no Futebol

Futebol: Ciência aplicada ao jogo e ao treinamento.

Contatos dos autores:

Matheus Padilha matheuspadilhaar@gmail.com – @28padilha

Felipe Endrigo – endrigof1@gmail.com – @ endrigo_f

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Futebol feminino x Futebol masculino: diferenças fisiológicas e nutricionais

Cada vez mais nos deparamos com a realidade de um futebol feminino em ascensão no cenário nacional e internacional, resultando no aumento de sua visibilidade. Dessa forma, nesse texto você ficará por dentro das diferenças fisiológicas e nutricionais em relação ao futebol feminino x futebol masculino.

Primeiramente, vale ressaltar que, por ser uma área ainda pouco explorada, profissionais que trabalham com o futebol feminino ainda precisam utilizar, na maioria das vezes, referências criadas para o público masculino realizando adaptações quando necessário.

Aspectos fisiológicos

A primeira diferença que podemos apontar é quanto ao gasto energético. Sabemos que há uma diferença metabólica entre os sexos feminino e masculino, que nos sugere um gasto energético de 5% a 10% menor nas mulheres. Podemos explicar tal diferença, principalmente, em razão do metabolismo masculino ser de 15% a 20% mais acelerado quando comparado ao feminino. Além disso, outros dois pontos também auxiliam nessa questão: a primeira é a parte hormonal; e a segunda é a maior quantidade de massa muscular nos homens.

Em um jogo de alto nível no futebol masculino, a FIFA aponta um gasto médio em torno de 1000 kcal em um indivíduo de 60 kg. Quando comparado ao futebol feminino, os números são um pouco menores, variando em média de 650 a 850 kcal. O gasto energético tanto em homem quanto em mulheres durante o jogo varia conforme a tática utilizada pelo time, pelo adversário, nível de treinamento do atleta, nível de dificuldade e importância do jogo, condições climáticas e posição de jogo.

Aspectos Nutricionais

Do ponto de vista nutricional, temos necessidades parecidas para ambos os sexos. Os dois indivíduos precisam de 7 a 10 gramas de carboidrato por quilo de peso, 1,4 a 1,7 gramas de proteínas por quilo de peso e um consumo de lipídeos igual ou inferior a 30% do valor total das calorias ingeridas ao dia. Assim, esses valores são padrões, sendo utilizados apenas como referência e, dependendo da necessidade individual de cada atleta, devem ser ajustados.

Com relação aos micronutrientes, damos atenção especial a exames, acompanhando-os de perto. Isso porque, devido ao nível elevado de suor frequente, atletas, independente da modalidade e do sexo, podem apresentar deficiências de alguns minerais. Em mulheres atletas devemos prestar mais atenção ao controle de ferro, já que, além da perda no esporte, ainda há a perda no período menstrual.

Em relação à hidratação temos a mesma recomendação, tanto para homem quanto para mulheres. Nesse sentido, o American College Of Sports Medicine (ACSM) recomenda ingestão de 500mL de líquidos nas duas horas que precedem a partida. Depois de iniciada, devem haver paradas frequentes para hidratação. Após o término do jogo, recomendamos que o volume de água perdido seja reposto em, no máximo, duas horas. É importante realizar uma ingestão diária em torno de 40mL para cada quilo de peso.

Algumas das estratégias nutricionais muito comuns de serem utilizadas em atletas femininas tem relação com as mudanças hormonais decorrentes do período menstrual. Além disso, o público feminino deve ter atenção redobrada quando o assunto é transtorno alimentar, visto que mulheres e atletas são compreendidos como grupo de risco para esses transtornos.

Futebol feminino x Futebol masculino

Nesse texto vimos algumas das principais diferenças do ponto de vista da nutrição em relação à atletas de um mesmo esporte, mas sexos diferentes. Portanto, ressaltamos a importância da realização de mais estudos e consensos quanto as recomendações e protocolos para o futebol feminino, de modo a maximizar o rendimento das atletas que vem cada vez mais ganhando seu espaço dentro desse esporte.

Contatos do autor:
Instagram: @otaviohenriquenut
E-mail: otavioh12@live.com

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Jogador de Futebol perde peso durante o jogo?

Um dia após o jogo entre Flamengo e Atlético Mineiro pela Copa do Brasil de 2022, o Globo Esporte publicou uma matéria sobre o atacante Hulk, atleta que vem chamando atenção pelo nível elevado de performance desde que voltou ao Brasil. Na reportagem, o autor destaca a grande perda de peso sofrida pelo jogador ao término da partida, e sua demora para deixar as instalações do Maracanã, já que foi sorteado para fazer o exame antidoping e encontrou grande dificuldade em urinar nas horas que sucederam o espetáculo. Vale lembrar que essa não é a primeira vez que Hulk chama atenção pela perda de peso pós-jogo. Em 2021, o atleta foi tema de outra matéria do GE, pois chegava a perder até 5 kg por partida.

Hulk perdeu 6 kg de quê?

Direto ao ponto: água e glicogênio muscular, sendo a maior parte do peso perdido por desidratação. Em um jogo de futebol profissional, é normal e desejável que o atleta perca até 2% do seu peso através do suor, visto que, transpirar é importante para a termorregulação do nosso corpo. No entanto, a reidratação deve ser constante durante a atividade e se estende ao final da partida, quando o jogador inicia, ainda no vestiário, sua recuperação hídrica.

O jogador pode chegar a tomar até 32 copos de água nas horas que sucedem o jogo, seguindo a recomendação de recuperar o peso hídrico perdido ao longo da partida em até 4 horas pós termino do jogo. Além disso, é indicado que em até 2 dias seu peso total esteja o mesmo de quando iniciou a partida passada.

Segundo a literatura, perdas maiores do que 2% já podem comprometer o rendimento do indivíduo. Nesse caso em específico, Hulk parece ter uma predisposição maior à sudorese, e além disso, é um jogador que possui muita massa muscular, algo que, ajuda a aumentar sua temperatura corporal, fazendo com que ele precise transpire mais para se manter numa temperatura ideal.

O que influencia na desidratação do jogador?

Dentre os principais fatores que podemos destacar estão:

  • Condições climáticas (principalmente temperatura e umidade relativa do ar)
  • Importância da partida
  • Nível e característica do adversário
  • Estado do gramado
  • Posição e características do atleta
  • Estratégias táticas
  • Posse de bola

Como evitar a desidratação do jogador de futebol?

É necessário que se tenha em mente que a desidratação acarreta inúmeros prejuízos técnicos, cognitivos e motores em campo. Além do mais, coloca em risco a saúde desses atletas que são considerados desidratados crônicos. Portanto, nutricionistas e profissionais da saúde dos clubes, devem estar sempre atentos aos parâmetros bioquímicos para não haver carência de nenhum mineral perdido através do suor, garantindo assim sua saúde e máxima performance.

Autor: Otávio Henrique Ferreira

Formação: Nutricionista pós graduado em Nutrição Esportiva

Contato: @nutricionistaotaviohenrique

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Suplementos proteicos para jogadores de futebol

A nutrição esportiva é um aspecto importantíssimo para o desempenho dos atletas. Uma prática bastante comum entre jogadores de futebol é o uso de suplementos proteicos, a fim de melhorar a recuperação muscular e chegar na quantidade necessária de proteínas por dia, que, muitas das vezes, não é alcançada através da alimentação. No entanto, na grande maioria das vezes, essa suplementação não é devidamente prescrita por médicos ou nutricionistas e acabam por prejudicar o indivíduo que pensa estar se beneficiando com o suplemento.

No texto de hoje abordaremos as consequências não só do uso desses suplementos sem a indicação, mas, também, de uma dieta excessivamente proteica. Vem comigo!

Proteínas no nosso organismo

No nosso intestino existe uma grande quantidade de bactérias dos mais variados tipos, que auxiliam na digestão e absorção de nutrientes, sustentando suas espécies através dos alimentos ofertados. Em outras palavras, uma alimentação predominantemente proteica irá estimular a manutenção da vida de bactérias específicas a digestão e absorção deste tipo de nutriente. Como consequência dessa baixa diversidade de bactérias intestinais, temos uma significativa queda no rendimento do atleta. Além disso, podem significar também uma piora em quadros de lesões, queda de imunidade e, até mesmo, prejuízos psicológicos.

Quais os prejuízos de uma alimentação excessivamente proteica?

Primeiramente, a maior parte de proteínas absorvidas ao longo do nosso dia é de origem animal. Como as bactérias responsáveis por auxiliar no processo de digestão desse nutriente, em específico de origem animal, são produtoras de citocinas pró inflamatórias, temos como resultado uma inflamação sistêmica.

Outro ponto relevante sobre as proteínas é que elas são metabolizadas no fígado. Portanto, uma ingesta exagerada desse nutriente conseguiria ocasionar uma sobrecarga nas atividades hepáticas a longo prazo, podendo causar problemas nesse órgão.

Algo que poucas pessoas se atentam também, é que, ao contrário dos carboidratos, por exemplo, nosso corpo não consegue armazenar aminoácidos para formação de proteínas. Dessa forma, não importa a quantidade de proteínas que você ingira, seu corpo utiliza o necessário e elimina o restante através da urina, o que também pode resultar em sobrecargas renais.

Atualmente, o assunto intestino X performance tem sido base para diversos estudos, de modo a entender o quanto a saúde intestinal pode influenciar no rendimento dos jogadores de futebol. Não por acaso, observamos uma valorização da psicologia no futebol de alto rendimento como tendencia nos últimos anos. Isto se deve ao fato de pesquisas recentes terem demonstrado ampla ligação do eixo intestino-cérebro com o desempenho.

Suplementos proteicos

Quando se trata de performance, seja ela profissional ou amadora, o excesso de proteínas de origem animal pode levar a um quadro de inflamação sistêmica e, consequente, queda no desempenho, além de provocar uma possível sobrecarga hepática e uma urina bem cara! Em contrapartida, o uso de suplementos proteicos auxilia na praticidade de uma refeição. Dessa forma, o ideal é buscar a ajuda de um profissional qualificado para ajustar a exata quantidade de cada nutriente.

Contato do autor:
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Exercícios preventivos no futebol para lesões de quadríceps

Em publicações recentes aqui no Blog do Ciência da Bola, apresentamos uma visão mais prática sobre esse assunto. Estudos científicos mostravam os principais exercícios utilizados na atualidade, para prevenir e reabilitar, principalmente, jogadores de futebol com lesões nos isquiotibiais. Dessa forma, manteremos esse direcionamento, mas, dessa vez, apresentaremos estudos relacionados com exercícios preventivos para lesões no quadríceps.

Assim como foi mencionado anteriormente, não é minha pretensão apontar uma resposta definitiva sobre o assunto. Mas sim, fazê-los refletir e criar ainda mais questionamentos a respeito dessa questão.

Musculatura do Quadríceps

Os músculos: vasto medial, vasto intermédio, vasto lateral e reto femoral; formam a musculatura do quadríceps. Frequentemente esses músculos são acometidos por lesões, principalmente em esportes que requerem repetidos chutes e esforços de corrida, como é o caso do futebol. Dentre os músculos citados, o reto femoral é o músculo mais comumente lesionado do quadríceps, ocorrendo, primariamente, em situações de chutes e corridas. Por tal motivo, daremos uma atenção especial a ele ao longo do texto.

Assim sendo, o reto femoral (Figura 1) é um músculo fusiforme longo, bi-articular, que forma a porção anterior superficial do quadríceps. O reto femoral proximal tem duas origens tendinosas: a cabeça direta (reta) e a cabeça indireta (refletida). As duas cabeças formam um tendão conjunto, localizado alguns centímetros abaixo de suas origens conforme a imagem abaixo.

Figura 1. A cabeça direta origina-se da espinha ilíaca anteroinferior (seta cinza) e se mistura com a fáscia anterior. A cabeça indireta origina-se mais posteriormente do acetábulo (seta preta) e mergulha no ventre do músculo reto femoral (Artigo publicado em 2008).

Mecanismos de lesões no quadríceps

Conforme citado anteriormente, os principais mecanismos de lesões no quadríceps são as ações de corrida e chute. Essas ações requerem uma atuação excêntrica do reto femoral que, combinadas com sua natureza bi-articular, o deixam vulnerável às lesões.

Na corrida, o risco de lesão do reto femoral pode ser maior durante as fases de aceleração e desaceleração. Na aceleração, o risco está relacionado com ações musculares excêntricas na fase inicial de balanço. É o momento em que o reto femoral alcança o comprimento máximo. Pois, os flexores do quadril geram força e o reto femoral precisa alongar-se para desacelerar a tíbia (ação excêntrica) conforme o joelho flexiona.

Já na desaceleração, o tronco assume uma postura mais ereta (em relação à parte inferior do corpo) e posterior, movimentando o centro de massa posterior à base de apoio. Isso resulta em forças de frenagem horizontais adicionais e, consequentemente, mais força excêntrica imposta ao quadríceps, predispondo o reto femoral às lesões.

Backswing e wind-up

Em relação ao chute (“swing“), o risco de lesão do reto femoral acontece durante as fases de “backswing” (fase inicial do swing, quando a perna está indo para trás) e wind-up (fase de swing quando a perna vai para frente). Isso para a perna de chute; e a fase de contato com o solo, para a perna de apoio.

Durante o backswing o reto femoral atua desacelerando a extensão do quadril e a flexão do joelho. Em contrapartida, durante o wind-up, o quadril começa a flexionar enquanto o joelho ainda está flexionando e o reto femoral se contrai excentricamente para neutralizar a flexão excessiva do joelho.

Por último, a fase de contato com o solo para a perna de apoio está associada a altas forças externas (força de reação do solo), mas, em simultâneo, há uma menor velocidade angular. Assim, a desaceleração durante um movimento de chute faz com que o corpo se incline para trás e a perna se mova mais atrás do corpo do que o normal, o que coloca um estresse adicional no reto femoral.

Até aqui, percebemos que o reto femoral atua de diferentes formas em diferentes momentos do jogo. Sendo, muitas vezes, exigido de forma excêntrica e requerendo de uma ótima flexibilidade.

Cadeia Cinética aberta ou fechada?

O estudo proposto por pesquisadores da Universidade da Suécia em 2003, examinou se os músculos do quadríceps eram ativados diferentemente em tarefas de cadeia cinética aberta e fechada.

Como resultado do estudo, na extensão do joelho em cadeia fechada, a ativação do quadríceps foi mais homogênea nas quatro diferentes porções desse grupo muscular em relação à cadeia aberta (Figura 2). Na cadeia cinética aberta, o reto femoral teve uma ativação mais cedo em relação ao vasto medial oblíquo, ativado por último (em torno de 7 a 13 milissegundos depois) e com amplitude menor do que em cadeia fechada.

Figura 2. Representação de dados brutos de atividade muscular em cadeias, aberta e fechada, de um único sujeito (Artigo publicado em 2003).

Em conclusão, o estudo mostrou que exercício em cadeira fechada promove uma ativação mais equilibrada do quadríceps do que em cadeia aberta. Isso pode ser importante na hora de elaborar programas de treinos direcionados para o controle da articulação patelofemoral. Entretanto, uma limitação apontada pelos autores é que os exercícios em cadeia fechada são, geralmente, realizados com flexão do quadril sendo mais relevantes para os músculos vastos do que, diretamente, para o reto femoral.

Até aqui percebemos que o tipo de cadeia cinética utilizada em cada exercício para o quadríceps influencia na forma de ativação do mesmo. Dessa forma, deveremos considerar isso no momento de prescrever treinos para prevenir/reabilitar jogadores de futebol.

Quais exercícios são indicados para prevenir/reabilitar lesões do quadríceps?

Para prevenir lesões de reto femoral é necessário incluir em um programa preventivo de exercícios de flexibilidade dos extensores de joelho e flexores do quadril. Bem como, o trabalho de força dos flexores do quadril, dos extensores do joelho em amplitude e do CORE. É preciso compreender que a redução da força/ativação dos flexores do quadril poderá resultar em uma compensação do reto femoral, o que aumentaria o risco de lesão nesse músculo.

Já para os extensores de joelho, os autores destacaram que é importante trabalhar em toda a amplitude muscular, pois se entende que as lesões por tensão muscular ocorrem quando os músculos são contraídos a um comprimento superior ao ideal. Assim, o exercício excêntrico (Figura 3) é o único treinamento que demonstrou aumentar, consistentemente, o desenvolvimento do comprimento ideal de tensão nos extensores do joelho, ajudando na prevenção de lesão. Outro ponto de destaque foi o de promover exercícios para aumentar a capacidade do corpo de produzir maiores forças de frenagem (Figura 4).

Figura 3. A – Nórdico reverso dominante de joelho. B – Estocada reversa com bola medicinal sobre a cabeça. Exemplos de exercícios excêntricos (Artigo publicado em 2014).
Figura 4. Etapas de desaceleração para frente. Exemplo para promover a técnica de desaceleração adequada ( Artigo publicado em 2014 ).

Por último, os autores mencionam que os músculos do CORE parecem ser importantes para prevenir tensões no quadríceps, pois ajudam a estabilizar a região lombo-pélvica, mantendo a postura adequada do tronco e quadril, além do equilíbrio e controle durante os movimentos estáticos e dinâmicos (Figura 5).

Figura 5. Arco de tensão. Exemplo de exercício dinâmico para reproduzir padrões e momentos de movimento de chute no tronco (Artigo publicado em 2014).

Musculatura do CORE e as lesões no quadríceps

Essa afirmação de que a musculatura do CORE pode ajudar a prevenir lesões no quadríceps é corroborado por outros pesquisadores. Em estudo liderado pelo pesquisador israelense Dello Iacono, os praticantes de um programa de treinamento do CORE, realizou uma rotina de aquecimento durante um período de 6 semanas. Ao final percebeu-se ser uma opção útil para aumentar a força dos flexores e extensores do joelho e as relações de pico de torque (flexão/extensão) em jovens jogadores de futebol bem treinados.

Por fim, conforme o material proposto pelo Barça Guideline publicado em 2018, é realçada a importância de uma proposta com uma variedade de exercícios com cadeia cinética aberta e fechada em superfícies estáveis e instáveis, de modo a fornecer uma ampla gama de estímulos aos jogadores. Destaque para exercícios com foco excêntrico, além de exercícios com padrões funcionais de treinamento e a prescrição de alongamento ativo do quadríceps antes, durante e após exercícios específicos. Os exercícios de campo incluem corrida em declive, pliometria e corrida com trenó.

Com isso, percebemos que, assim como ocorre com a musculatura isquiotibial, não existe um padrão ouro de exercícios que irão evitar totalmente o risco de lesões do quadríceps. Portanto, é necessário elaborar uma proposta com variabilidade de estímulos entre alongamentos dinâmicos, exercícios de cadeia cinética aberta e fechada, fortalecimento do CORE e trabalhos concêntricos e excêntricos. Ainda nesse sentido, tudo isso deverá ser complementado com estímulos de campo capazes de ajudar na prevenção de lesões para esse grupo muscular.

Para o próximo texto, abordaremos a mesma temática, mas agora direcionada a musculatura dos adutores. Então, se você gostou dos textos até aqui, não deixe de acompanhar as próximas publicações!

Contato do autor:
Instagram: @pf_ricardosa
E-mail: ricardosa2506@gmail.com

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Exercícios preventivos para lesões de isquiotibiais no Futebol

Se você é leitor do nosso blog do Ciência da Bola e acompanha as publicações relacionadas à Preparação Física de Futebol, saberá que comecei, há alguns meses, uma sequência de textos relacionados às lesões no Futebol. Dessa forma, daremos continuidade nessa temática, porém, com um enfoque mais prático. Portanto, com base na literatura científica atual, falaremos quais são os principais exercícios utilizados para a prevenção de lesões de isquiotibiais no futebol. Não é minha pretensão apontar uma resposta definitiva sobre o assunto, mas sim, fazê-los refletir e criar ainda mais questionamentos a respeito dessa questão.

Musculatura Isquiotibial

Conforme os pesquisadores da Universidade de Greenwich, as lesões de isquiotibiais no futebol são um fenômeno complexo, multifatorial e uma das mais comuns em muitos outros esportes, por diversas razões, por exemplo: a sua organização biarticular ou dupla inervação do bíceps femoral e, ainda, uma série de fatores de risco modificáveis (fadiga, déficits de força, desequilíbrio muscular, baixa flexibilidade, controle motor inadequado, etc.) e não modificáveis (idade, etnia, relações antropométricas, histórico de lesões prévias, etc.).

Com isso, todas essas variáveis terão um impacto sobre o risco de lesão, o que faz necessário uma abordagem integrada/holística de cada atleta, pois a possibilidade de lesão irá variar de caso a caso.

Os próprios autores afirmaram que existe um debate em torno da utilização do curl nórdico, porque a amplitude de movimento treinada efetivamente será restrita a ângulos mais próximos (< 30° de extensão do joelho) e não será transferida para todo o comprimento do músculo na sua porção mais longa. Ou seja, observamos que a cabeça longa do bíceps femoral e o semimembranoso foram significativamente menos ativados do que o semitendinoso durante o exercício nórdico.

Assim, os autores recomendam a utilização dos três exercícios descritos na Figura 1. Mas, devendo somar aos mesmos, outras alternativas de exercícios, incluindo do CORE.

Exercícios com diferentes padrões de ativação para os isquiotibiais

Em concordância com a interpretação dos autores anteriormente citados, estão um grupo de pesquisadores da Queensland University of Technology, que realizaram em 2016, um estudo para verificar o impacto seletivo de exercícios na ativação do músculo isquiotibial, mais especificamente no bíceps femoral na sua porção longa.

No estudo é possível verificar que os padrões de ativação dos isquiotibiais diferem acentuadamente entre os exercícios. Sendo que os exercícios de extensão do quadril visam, mais seletivamente, o bíceps femoral cabeça longa sem deixar de ativar o semimembranoso e o semitendinoso. Já o exercício nórdico recruta, preferencialmente, o semitendinoso.

Diferença de ativação da musculatura isquiotibial entre o exercício de flexão de quadril unilateral em 45° e o exercício curl nórdico. BF – Bíceps femoral; ST – Semitendinoso; SM – Semimembranoso. Fonte: (Artigo publicado em 2016)

Esse dado sugere que as estratégias de ativação dos isquiotibiais são parcialmente dependentes das articulações envolvidas em cada movimento. Isso tem implicação direta, por exemplo, na seleção de um exercício para a reabilitação e/ou prevenção de um jogador. Pois, se queremos prevenir lesões do bíceps femoral e realizamos um protocolo com curl nórdico, conforme o estudo, esse músculo terá uma baixa ativação e corremos o risco de não prevenir tal musculatura da forma que imaginamos.

Portanto, os exercícios de prevenção e reabilitação de lesão isquiotibial podem, potencialmente, ser direcionados ao local da lesão. Assim, os isquiotibiais são ativados de formas diferentes durante as tarefas baseadas no movimento do quadril e dos joelhos.

Visão holística sobre a prevenção da musculatura isquiotibial

Por outro lado, um estudo publicado recentemente, buscou uma abordagem holística de prevenção das lesões de isquiotibiais no futebol de elite. Eles realizaram o estudo num mesmo clube, durante 12 temporadas.

Os autores propuseram exemplos de intervenções semanais com exercícios de força, coletivos e individuais. Esse último, para aqueles casos com histórico de lesão do bíceps femoral cabeça longa. Então, propuseram um vasto repertório de exercícios em academia para todo o grupo e diferentes musculaturas do trem inferior , para ativar especificamente a cadeia posterior e para aqueles casos de histórico lesivo prévio.

Exemplo de trabalho coletivo na academia. 2 x 10 exercícios (entre 6 a 10 repetições por exercício) com foco no trem inferior. Fonte: (Artigo publicado em 2021)
Exemplo de exercícios utilizados durante ativação individual para a cadeia posterior antes do treinamento no campo em espaços amplos com alto volume de corridas em altas velocidades. Fonte: (Artigo publicado em 2021).
Exercícios utilizados durante treinamento individualizado de força para jogadores com histórico de lesão no bíceps femoral cabeça longa. Fonte: (Artigo publicado em 2021).

Como resultado, os protocolos propostos no estudo reduziram em torno de 3 vezes o número de lesões nos isquiotibiais, além de zerar a taxa de reincidência das mesmas para esse grupo muscular no chamado grupo de intervenção.

Porém, o estudo propõe uma abordagem holística desse tema, creditando o resultado positivo do programa de prevenção complexo de multicomponentes à combinação de diferentes fatores, tais como:

  • 1) Treino de força com exercícios específicos para a cadeia posterior;
  • 2) Controle do treino de campo;
  • 3) Tratamento fisioterápico;
  • 4) Gestão da carga de treino;
  • 5) Treino individual (pontos fracos);
  • 6) Comunicação entre o staff e gestão da carga individual dos jogadores.

O que aprendemos sobre as lesões dos isquiotibiais e os exercícios preventivos?

Assim sendo, com todo o exposto até aqui, entende-se que não existe um “padrão ouro” de exercícios que irão prevenir de forma cem por cento eficaz as lesões de isquiotibiais no futebol. Existem sim, fortes indícios científicos de que, conhecendo o exato local da lesão, alguns exercícios serão mais indicados do que outros para tratar e evitar a reincidência de lesões. Por outro lado, no caso de um atleta sem histórico lesivo, o mais indicado é um protocolo com vasto repertório de exercícios que ativem os diferentes músculos que compõem os isquiotibiais.

Também vale destacar que, esse tema requer uma abordagem complexa e holística, que considere múltiplos fatores e suas inter-relações implementadas eficazmente por profissionais capacitados e analisando cada caso individualizadamente.

Portanto, para o próximo texto, abordaremos a mesma temática, porém agora direcionada a musculatura do quadríceps.

Confira abaixo um episódio do Podcast sobre o assunto:

Contato do autor:
Instagram: @pf_ricardosa
E-mail: ricardosa2506@gmail.com

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