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O fisiologista do esporte no futebol

O papel do fisiologista do esporte no meio do futebol é cada vez mais importante. Isso é reflexo das últimas décadas, onde as exigências das demandas físicas, técnicas, táticas e psicológicas no futebol têm sofrido acréscimos acentuados. Como resultado a esse aumento de exigências, também houve alterações significativas no volume de treinamento, ou seja, as cargas de treinos e jogos expõem os atletas a níveis elevados de estresse físico e emocional.

Da mesma forma que a modalidade se desenvolveu, surgiu a necessidade de controlar as cargas de treino e jogos referente às diferentes demandas. Além disso, a avaliação das necessidades individuais dos atletas também se tornou necessário. Assim, o fisiologista do esporte ou Sport Science é o profissional da área que realiza essas ações.

Neste texto iremos discutir quais são as funções de um fisiologista dentro da comissão técnica de futebol.

Qual a função do fisiologista do esporte no futebol?

A ciência usada na melhoria da performance e da recuperação dos atletas vem sendo tema de discussão no futebol moderno. Assim sendo, o fisiologista do esporte é o profissional responsável por aplicar os conhecimentos científicos nos processos de avaliação, controle, monitoramento e recuperação na pré-temporada e durante o período de jogos.

O fisiologista do esporte, de modo geral, possui duas principais funções: melhorar o desempenho e reduzir as chances de lesões nos atletas. Mas, como realizar essas funções?

Primeiramente, ao se apresentarem na pré-temporada, os atletas de futebol realizam diferentes avaliações físicas. Então, o profissional responsável pelo setor de fisiologia do clube gera um perfil do atleta, destacando as principais valências físicas que devem ser potencializadas durante o período de preparação, além de observar prováveis debilidades físicas dos atletas.

As avaliações físicas possuem diferentes características, por exemplo:

  • Capacidade de salto;
  • Teste de força no aparelho isocinético;
  • Sprint em linha reta (10, 20, 30 metros);
  • Sprint com curva;
  • Mudança de direção;
  • Resistência cardiorrespiratória.

Em um segundo momento, durante o período de treinos, o fisiologista é responsável por realizar a quantificação, monitoramento e controle das cargas que são prescritas pelos treinadores e preparadores físicos.

Ainda nesse sentido, para realizar esse controle de cargas são utilizados diferentes aparatos e a quantificação da carga é realizada utilizando marcadores de carga interna (marcadores bioquímicos, percepção de esforço, variabilidade da frequência cardíaca) e externa (distância percorrida, ações intensas, acelerações e desacelerações). Na imagem abaixo podemos observar um fisiologista realizando a coleta de sangue do dedo para análise de marcadores sanguíneos.

Competências e habilidades necessárias para um fisiologista

O profissional da fisiologia precisa possuir diferentes competências e conhecimentos. Em primeiro lugar, ele precisa ter de forma bem clara os conceitos atrelados a fisiologia do exercício que envolve a modalidade em questão. Em segundo lugar, é necessário ter habilidades que se referem à criação de bases de dados, podendo municiar as tomadas de decisões dos treinadores. E por fim, porém, não menos importante, é a capacidade de trabalho em equipe.

Assim, na comissão técnica o trabalho multidisciplinar é de extrema importância, pois os profissionais poderão tomar decisões baseadas em diferentes áreas do futebol. Na imagem abaixo podemos observar um organograma que se refere às funções do profissional fisiologista.

Organograma de atuação do fisiologista desportivo em um clube de futebol Fonte: (Artigo publicado em 2020)

Portanto, o fisiologista deve municiar os treinadores com informações sobre o estado dos atletas, realizando coleta de dados e um acompanhamento longitudinal, o que envolve avaliação, treinamentos e jogos, para poder potencializar o processo de treinamento aplicando metodologias científicas.

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Fonte e Referência:

https://www.scielo.br/pdf/rbme/v6n4/a08v6n4.pdf

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Como fazer o controle de carga no futebol?

O futebol é um esporte sistêmico que envolve demandas físicas, técnicas, táticas e psicológicas. E, para que haja otimização do desempenho nessas demandas durante as competições, os jogadores devem estar sempre aptos a realizar as exigências impostas pelo jogo. Por isso, nos últimos anos, o grande desafio de treinadores e profissionais do esporte é desenvolver estratégias de controle da carga de treinamento, com o intuito de gerar adaptações positivas e de potencializar o status de prontidão durante as competições, ao longo de temporada competitiva.

Nesse sentido, durante as temporadas competitivas, é através do processo sistematizado de treinamento que se torna possível desenvolver alterações funcionais e estruturais nos atletas de futebol. As adaptações positivas são consequência do equilíbrio entre estímulo e recuperação. Somado a isso, para que haja otimização da performance durante a temporada competitiva, é necessário o controle das cargas prescritas, pois os estímulos não devem ser demasiadamente intensos, ultrapassando os limites dos atletas. Por outro lado, não devem ser baixos, causando destreinamento.

Afinal, o que é carga de treinamento e como realizar o controle?

Primeiramente, no processo de planejamento do treino no futebol é necessário o conhecimento de alguns conceitos importantes que são inerentes ao treinamento desportivo, são eles:

  • Carga de treinamento: resultado da relação da quantidade de trabalho (volume), somado aos aspectos qualitativos (intensidade);
  • Sobrecarga: princípio do treinamento desportivo que significa realizar estímulos para a quebra da homeostase no organismo do atleta;
  • Overtraining: perda prolongada do desempenho esportivo, funcional e psicológico;
  • Overreaching não funcional: processo semelhante ao overtraining quanto aos sintomas, porém com menor duração.
  • Overreaching funcional: processo programado de intensificação do treinamento buscando uma diminuição temporária e reversível do desempenho.

Resumidamente, esses conceitos citados estão inseridos na rotina dos profissionais do esporte.Assim, estes profissionais possuem a função de programar as sobrecargas de forma controlada para evitar o processo de Overtraining e Overreaching não funcional. Além disso, para que haja maior precisão no controle do treino, algumas etapas devem estar inseridas nas rotinas dos profissionais

Dessa forma, podemos utilizar as seguintes etapas para realizar o controle das cargas estabelecidas do treinamento, como:

  • Monitoramento: observar as respostas dos atletas as cargas de treino que foram planejadas pelo treinador;
  • Quantificação: o somatório dos registros das cargas de treinamento planejadas e executada pelos atletas;
  • Regulação: os ajustes realizados conforme as circunstâncias e respostas apresentadas pelos atletas.

Além das etapas citadas, há mais formas de gerenciar a carga de treino. Uma estratégia muito utilizada, auxiliando os profissionais no entendimento de distribuição das cargas, é a observação de como os estímulos propostos e recebidos evoluem ao longo do tempo. Este processo tem sido realizado pela razão entre as cargas crônicas e agudas.

Razão agudo e crônica, o que é?

Alguns profissionais do esporte utilizam constantemente o conceito de razão agudo:crônica. Em outras palavras, é a relação entre as cargas de treino crônicas (semanas anteriores) e cargas de treino agudas (semana atual). Isto é, esse é um indicador que norteia o conceito de sobrecarga progressiva. Veja o gráfico abaixo para entendermos melhor a distribuição da carga semanal.

Fonte: criado pelo autor

Ao observar o gráfico podemos notar que não existe diferenças acentuadas entre as cargas da semana, se comparada a semana seguinte e a semana anterior. Ou seja, este equilíbrio é imprescindível para manter o nível de performance dos atletas.

Ainda nesse sentido, para entender melhor essa relação entre as cargas, os pesquisadores das ciências do esporte centraram esforços nos últimos anos para entender a dependência entre cargas aguda e crônica. O objetivo é auxiliar os treinadores com informações que pudessem aumentar o estado de performance dos atletas e diminuir os riscos de lesão.

Alguns autores da literatura científica como Tim Gabbet, Aaron Couts e Matthew Varley indicam que há momentos na temporada que os atletas podem estar com maior suscetibilidade para sofrer uma lesão. Esses períodos são conhecidos como zona de risco e requerem elevada atenção dos treinadores. Por outro lado, já se sabe que as previsões utilizando um alto índice da razão nem sempre indicam para maior risco de lesão. Portanto, é necessário cuidado ao interpretar os dados.

Na imagem abaixo podemos observar um gráfico de dispersão, no qual a zona vermelha, “Danger Zone”, ilustra momentos em que o atleta apresenta maiores valores de razão agudo:crônica. Em contrapartida, níveis ótimos de carga aguda:crônica indicam um estado de performance ideal, “Sweet Spot”, ilustrado pela parte verde no gráfico.

Fonte: Artigo publicado em 2017

Por que realizar o controle de carga no futebol?

Portanto, o objetivo principal do processo de controle de carga no futebol está em expor os atletas a cargas de treino que possam aumentar seu estado de fitness. Além disso, reduzir as chances de sofrer com a fadiga excessiva, no qual poderia acarretar numa lesão. Desse modo, os dados vão auxiliar os treinadores no gerenciamento das cargas durante a temporada competitiva.

Assim, para que o processo de controle de cargas no futebol obtenha resultados satisfatórios, é necessária uma abordagem holística, envolvendo no processo os atletas, treinadores, departamento médico, entre outros. No entanto, para que se tenha êxito no controle de carga no futebol é importante entender o contexto e as circunstâncias na qual o clube, profissionais e jogadores estão inseridos.

Fontes e Referências:

Has_the_athlete_trained_enough_to_return_to_play_safely_

https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/28463642/

Monitoramento_da_carga_de_treinamento_A_percepcao_subjetiva_do_esforco

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As demandas físicas e fisiológicas no jogador de futebol: como funcionam?

O futebol é esporte que exige várias capacidades dos jogadores, nas quais se destacam: a técnica, boa compreensão tática, bom controle psicológico e, claro, uma excelente preparação física.

Ao falar de preparação física, devemos compreender que as demandas físicas e fisiológicas dos jogadores em uma partida possuem muitas variações, dessa forma, o jogo se configura por uma atividade física intermitente. Ou seja, a energia (ATP) para a realização das ações derivam de diferentes fontes energéticas durante o jogo. Portanto, a quantidade de atividades de cunho aeróbio e anaeróbio trazem um parâmetro importante para a caracterização da demanda fisiológica do jogo.

A relação entre as demandas físicas e fisiológicas no futebol

A demanda fisiológica representa uma medida de faixa de trabalho dos jogadores de futebol; conforme a relação volume x intensidade dos movimentos executados pelos atletas durante o jogo / treino.

Desse modo, o perfil da demanda física de cada atleta pode ser utilizado como indicativo do percentual de contribuição dos três sistemas energéticos durante a partida. Conforme alguns estudos, notou-se que um atleta percorre em média 10 km durante os 90 minutos de uma partida de futebol. Ou seja, estas informações apontam para uma predominância do sistema energético aeróbio sobre o desempenho físico.

Por outro lado, nos últimos anos houve um aumento significativo nas ações realizadas em alta intensidade pelos futebolistas durante os jogos, onde, os mesmos, chegam a alcançar uma velocidade de 32 km/h. Portanto, isto nos leva a pensar que o aumento das ações intensas vem se tornando um diferencial na preparação física e desempenho das equipes.  

Neste sentido, a relação entre atividades de alta e baixa intensidade é, cerca de, 1 para 7. Ou seja, a cada 4 segundos em alta intensidade (anaeróbio) é gasto 28 segundos em atividades aeróbias. Além disso, é importante ressaltar que além das características biológicas, fatores como posições diferentes (figura 1), nível competitivo (figura 2), modelo de jogo, fadiga e o estado nutricional, também exercem influência sobre a demanda física dos futebolistas.

Demanda física por posição (Artigo publicado em 2013).

Da teoria à prática. Como as demandas físicas e fisiológicas se manifestam durante a partida?

Primeiramente, sabemos que a demanda física de um atleta profissional de futebol é muito alta, atingindo um volume de até 14 km percorridos por jogo, tendo sua maior parte percorrida durante o primeiro tempo. Assim sendo, podemos fazer a relação volume x intensidade da seguinte forma:

  • 22% – 24% da distância total percorrida em velocidade >15 km/h;
  • 8% – 9% >20 km/h;
  • 2% – 3% >25 km/h.

Por outro lado, há estudos que trazem a relação entre volume x intensidade considerando o tempo, indicando que o atleta tem a seguinte demanda física durante os 90 minutos:

  • 17,1% do tempo parados;
  • 40,4% andando;
  • 35% correndo em baixa intensidade;
  • 8,1% do tempo correndo em alta intensidade e sprints.

Além disso, o atleta realiza cerca de 1.400 mudanças de atividades e 700 mudanças de direção por partida, uma média de 40 ações superiores a 21 km/h e 600 acelerações e desacelerações por jogo. 

Nesse sentido, ocorre a realização de diferentes movimentos nas mais variadas intensidades (figura 3), no qual a frequência cardíaca (FC) média é de 75% a 85% da máxima, algo em torno de 160 – 175 bpm. Assim, com um percentual de 75% do seu VO₂ máx., podem ser queimadas mais de 1.500 kcal no decorrer da partida. Deste modo, solicitando altas demandas fisiológicas e energéticas aos atletas para superar os desafios impostos a eles durante o jogo.

(Artigo publicado em 2007).

Contribuição aeróbia, anaeróbia e a relação com o jogo.

A função de todos os sistemas são formar ATP’s para a contração muscular e, como pode ser notado pelos dados apresentados acima, as demandas físicas e fisiológicas no futebol consistem em um nível submáximo e máximo, no qual há um forte recrutamento do sistema aeróbio durante a partida. Dessa forma, cerca de 88% do tempo é utilizado o sistema aeróbico como a principal fonte de fornecimento energético, com os outros 12% ficando por conta do sistema anaeróbio.

Em contrapartida, sabemos que os lances decisivos são derivados de ações intensas, conexos as capacidades físicas de força, potência e velocidade. Nesse sentido, estudos mostraram que jogadores de elite se exercitam em uma intensidade maior do que jogadores de divisões inferiores. Contudo, isso nos leva a fazer uma relação direta entre a intensidade e qualidade do jogo (figura 4).

Concentração Lactato em jogadores de diferentes divisões (Artigo publicado em 1994).

Notamos então que, apesar de haver uma demanda energética aeróbia maior, não se pode indicar qual via é mais importante. Ou seja, é necessário o atleta estar apto a realizar as demandas físicas solicitadas durante a partida.

Sendo assim, cabe as comissões técnicas traçarem estratégias para, durante os treinamentos, potencializarem o desempenho global dos seus atletas, considerando todas as suas dimensões e fatores que possam influenciar neste processo (figura 5).

(Artigo publicado em 2009).

Fontes e Referências:

https://www.scielo.br/j/rbce/a/DLcfSG5TBqCswV6LBr8DRsF/?lang=pt

https://europepmc.org/article/med/8059610

https://www.researchgate.net/publication/6769686_Performance_Characteristics_According_to_Playing_Position_in_Elite_Soccer

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Fisiologia no futebol: quais metabolismos energéticos estão envolvidos?

Nesse texto iremos discutir, primeiramente, os aspectos da fisiologia no futebol. Entenderemos quais são as formas de obter energia durante o exercício e o quanto é exigente para o atleta participar de um jogo de futebol. Além disso, quais são os mecanismos responsáveis por causar o estado de fadiga no jogador de futebol.

O que é a fisiologia do exercício e sua ligação com o futebol?

A princípio, para compreendermos os aspectos fisiológicos no futebol, é necessário possuirmos conhecimento acerca dos conceitos fisiológicos atrelados a qualquer categoria de exercício. Sendo assim, o corpo humano possui duas grandes vias de obtenção de energia para se movimentar: anaeróbica e aeróbica. A utilização dessas duas vias é definida através da característica do próprio exercício. No entanto, é importante entender que essas vias são usadas simultaneamente e, a categoria do trabalho físico, definirá a predominância entre uma via e outra.

Sistema Anaeróbico

A via energética anaeróbica pode ser dividida em alática e lática. Ou seja, a via energética anaeróbica alática possui, predominantemente, característica de fornecer energia de forma rápida através da creatina fosfato sem a presença de oxigênio. Por exemplo, em exercícios de curta duração, como uma corrida em velocidade máxima em 10 segundos.

Já a via energética anaeróbica lática, está atrelada a exercícios um pouco mais longos, por exemplo, em corridas 400m. Haverá a presença de ácido lático e não utilizará oxigênio. 

Sistema Aeróbico

Já o sistema aeróbico é característico de exercícios de longa duração. Neste sistema, o corpo transforma substratos em energia com a utilização de oxigênio. Podemos citar aqui as corridas de maior duração, exemplo, 3000m, 5000m, 10000m.

  • Sprint de 100 m – 80% do ATP produzido vem da degradação da creatina fosfato, 15% da glicólise (anaeróbico) e 5% da oxidação (aeróbico);
  • Corrida de 800 m – cerca de 50% pela glicólise (anaeróbico) e 50% pela oxidação (aeróbico);
  • Corrida de 1.500 m – cerca de 70% da oxidação (aeróbico) e 30% pela glicólise (anaeróbico).

Mas no futebol é assim? Em princípio, esses conceitos descritos acima foram introduzidos para exercícios de caráter contínuo e cíclico, como as corridas e provas de natação. Desse modo, entende-se que em situações como essas que determinam o resultado de uma partida, a predominância é o metabolismo energético anaeróbico.

A fisiologia no Futebol

Antes de tudo, é necessário entendermos o que acontece durante uma partida de futebol. O jogo possui duração de, no mínimo 90 minutos. Dessa forma, pode-se afirmar que o metabolismo energético predominante é o aeróbico, pois é considerado um exercício de longa duração. No entanto, durante a partida existem momentos em que os jogadores necessitam realizar ações em altas intensidades, como: correr em velocidade máxima para fazer o gol; realizar uma transição defensiva; e, até mesmo, acelerar para fazer a marcação em um oponente mais próximo. Desse modo, entende-se que em situações como essa a predominância é o metabolismo energético anaeróbico.

Logo, o futebol é considerado um esporte misto do ponto de vista energético. Além disso, as ações físicas ocorrem de forma aleatória, por isso se torna importante observar quais são os tipos e a quantidade de movimento realizados pelos jogadores.

Intensidade e alterações fisiológicas no jogador

Uma das formas de identificar os padrões de movimentação dos jogadores é pelo rastreamento durante jogos. Um jogador de futebol percorre em média 8 km a 12 km por jogo. Durante as partidas, grande parte das ações são realizadas em baixa intensidade. Porém, há momentos de maior intensidade em que os jogadores realizam corridas em altas velocidades de forma intermitente. Desse modo, em média, a relação entre trabalho (contração) e repouso de um jogador durante um jogo é 1:12, mas há instantes que a solicitação física aumenta e essa taxa diminui para 1:2. Portanto, nesses momentos de maior intensidade ocorre por consequência:

  • Elevação da frequência cardíaca;
  • Acréscimo no consumo de oxigênio;
  • Aumento da concentração de lactato sanguíneo

Devido a essa alta intensidade das ações e os intervalos incompletos de recuperação ao longo da partida, a capacidade de realizar as ações sofre um decréscimo e isso acontece pela presença do processo de fadiga que ocorre nos jogadores de futebol.

Por fim, é notório que a fisiologia atrelada ao futebol possui suas particularidades. No entanto, o entendimento de conceitos gerais ajudam a interpretar as exigências do jogo e auxiliam na preparação dos atletas, visando otimizar o desempenho e diminuir as chances de sofrer alguma lesão que os afaste das atividades.

Fontes e Referências

http://baes.ua.pt/handle/10849/302

https://www.revistas.usp.br/revusp/article/view/76228

https://link.springer.com/article/10.2165%2F00007256-200535060-00004

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Treinamento físico no futebol: uma visão contemporânea e integrada

Hoje vamos falar sobre a complexidade do “treinamento físico”, termo muito usado no meio do futebol. Popularmente, ele faz referência às sessões de treino onde o enfoque se dá única e exclusivamente ao desenvolvimento das capacidades físicas do jogador. Desse modo, corridas intervaladas e contínuas, circuitos, tiros e sprints repetidos, são exemplos de exercícios que se encaixam nesse padrão de treino. A ausência ou a pouca presença da bola durante a sessão, é uma característica do denominado treinamento físico. 

O popular treino físico

A parte física do atleta integra mecanismos neuromusculares (força, potência, velocidade, agilidade, coordenação) e metabólicos (resistência aeróbia e anaeróbia). Contudo, é comum alguns atletas atribuírem ao treinamento físico somente aos trabalhos de campo, isto é, os exercícios isolados com foco no desenvolvimento da resistência. Na linguagem popular do futebol, o treino físico se refere àquela sessão onde o atleta vai suar a camisa e se desgastar ao máximo em corridas, tiros ou circuitos. Além disso, muitas vezes ele também é chamado apenas de “físico” e costuma não agradar muito a maioria dos atletas. No treinamento de força e suas manifestações (que também fazem parte do componente físico do atleta), os boleiros adotam a nomenclatura “treino na academia” ou “musculação”.

Especificidade do treinamento físico

A abordagem descrita até então, que separa as capacidades físicas dos componentes técnico e tático, denomina-se “analítica”. Portanto, podemos considerar que o treinamento físico descrito acima é uma sessão de treino analítico que visa desenvolver de forma separada somente o componente físico do atleta. Quando se trata do objetivo citado, o procedimento em discussão gera excelentes resultados. Treinar corridas intervaladas ou circuitos específicos com as variáveis bem manipuladas são excelentes métodos para desenvolver a aptidão cardiorrespiratória por exemplo. Porém, devemos observar o treinamento a partir de uma outra perspectiva: a especificidade.

A especificidade é uma teoria do treinamento desportivo. Ela nos diz que o treinamento deve respeitar ao máximo a demanda da competição/jogo para que as adaptações sejam favoráveis e específicas. Assim sendo, integrar a parte física das demais exigências do jogo (parte técnica, tática e psicológica) é de suma importância para desenvolver o atleta como um todo. Num único exercício, podemos abordar as capacidades físicas em foco com situações técnicas e táticas determinadas pelo modelo de jogo do treinador. Recomendo a leitura de artigos e livros do mestre Antônio Carlos Gomes para maior aprofundamento no tema.

Físico+ técnico+ tático

O objetivo em relação a parte física é tornar o jogador um atleta robusto. Com todas as capacidades físicas necessárias desenvolvidas em um estado ótimo, para que o jogador suporte as necessidades do jogo e não se lesione. Para isso, quanto mais específico, melhor.

Uma grande mudança de pensamento dos últimos anos em relação ao treinamento físico é a ideia de que treinamento técnico-tático também exige uma demanda física. O atleta se movimenta, trota, realiza sprints, acelera, desacelera, salta… Portanto, existem muitos componentes físicos dentro de um exercício desse caráter.

Nessa perspectiva, conseguimos aproximar a preparação física da preparação técnico-tática desejada pelo treinador. Assim , manipular e monitorar as ações físicas que ocorrem dentro de um treinamento técnico-tático, considerando o objetivo do exercício e o momento da temporada, também fazem dele um treinamento físico!

Treinamento físico na pré-temporada

A pré-temporada é o período onde o enfoque físico é maior. Nela, por mais que curta, deve-se preparar o atleta fisicamente para suportar as necessidades das sequencias de jogos da temporada. Atualmente, devido ao calendário, os clubes grandes possuem em média 3 semanas de pré-temporada e cerca de 45 semanas de período competitivo. Isto é, a desproporcionalidade é enorme, o tempo de preparação e de descanso entre jogos é mínimo. Não há tempo para trabalhar e muitos profissionais envolvidos ao futebol culpam esse fato pela decadência técnica do nosso futebol

Jogos reduzidos como treinamento

Os jogos reduzidos aparecem como uma estratégia interessante para essa abordagem integrada do treino. Neles, o treinador pode implantar as regras que quiser para potencializar alguma ação tática ou técnica da equipe. Ao mesmo tempo, o preparador físico pode alterar a dimensão do campo, o tempo de duração e o número de atletas participantes para atingir a demanda e as ações físicas específicas da sessão. Pesquisadores portugueses em um estudo de 2014 descrevem bem como as diferentes variáveis estruturais podem interferir nas respostas físicas dos jogos reduzidos.

Então descontextualizar o treinamento físico é errado?

A resposta para essa pergunta é não! O método escolhido para guiar as sessões de treino depende de muitos fatores. Momento da temporada/periodização, características do elenco, estrutura do clube e percepções da comissão técnica são alguns exemplos. Desde que as metas sejam bem claras e o planejamento seja coerente, nada impede uma comissão de trabalhar com o treinamento físico isolado.

Complemento pós-treino

Atualmente o complemento pós-treino é o que mais se assemelha ao popular “físico” temido pelos atletas. Jogadores que durante um treinamento integrado não se movimentaram de acordo com o esperado e não atingiram os níveis de carga física programada para a sessão, são submetidos a complementos que envolvem quase sempre exercícios analíticos, como corridas intervaladas. Portanto, é importante lembrar que a carga física da sessão depende do momento da periodização e dos objetivos pré-estabelecidos.

Treinamento de força

Em relação ao treinamento de força, a ideia é a mesma. Para a prescrição do treino, inicialmente é necessário considerar os movimentos que o atleta realiza durante o jogo. Com isso conseguimos enfatizar exercícios que se assemelhem com a mecânica dessas ações competitivas. Considerar as demandas também é indispensável. Sabemos que as ações em alta velocidade, sprint máximo ou saltos, são as ações decisivas. Ou seja, as ações que decidem uma jogada envolvem  potência, velocidade e agilidade, essa seria a força especifica ou especial do futebol.

Planejamento

Não existe melhor ou pior método. Existe o método que melhor se encaixa na sua realidade. As pesquisas recentes nos mostram um leque amplo de opções que auxiliam na evolução completa do atleta. Cabe a cada comissão analisar as possibilidades e necessidades da sua realidade e planejar. Por fim, independente da abordagem, estruturar coerentemente o programa de treino seguindo as teorias do treinamento desportivo é a chave.

Contato do autor: @prof.amstalden – ra.junior@hotmail.com

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