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Métodos de Ensino no Futebol

Neste texto, explicaremos sobre os principais métodos de ensino do Futebol para você compreender melhor a respeito deste assunto.

Modalidades coletivas como o Futebol, por exemplo, possuem como característica principal a organização do jogo entre ataque, defesa e transições. Entretanto, no Futebol também há a presença de princípios e intenções táticas pautadas dentro daquilo que o jogo oferece e exige. Portanto, o processo de ensino do Futebol requer a aplicação de princípios didáticos, pautados em metodologias e ações pedagógicas que contemplem um ensino eficiente.

De maneira geral, os métodos de ensino no futebol mais conhecidos na literatura e que exemplificaremos neste texto são os métodos: analíticos, globais e mistos. Porém, outros métodos e abordagens de ensino estão presentes na literatura com características que se encaixam ora nos métodos analíticos, ora nos globais. A exemplo, estão os métodos situacionais, os métodos dos jogos reduzidos, os métodos confrontacionais entre outros.

Mas quais as características predominantes nas ações dos principais métodos de ensino no Futebol?

Método Analítico

O método analítico é muito conhecido pela sequência de “exercícios técnicos¨ isolados. Caracteriza-se pela aprendizagem através das técnicas e fundamentos, sem o envolvimento de situações de jogo, ou seja, em alguns momentos, sem a presença de companheiros e do adversário.  Este método, dá ênfase à biomecânica do movimento, e a técnica é desenvolvida em um processo sequencial. Partindo do mais simples para o mais complexo, em uma perspectiva descontextualizada do jogo em si, pois a prioridade é o padrão do movimento.

Método Global

O método global fundamenta-se em desenvolver estruturas de jogos menos complexas que o jogo formal, como jogos pré-desportivos, recreativos, de iniciação, etc. Esta metodologia deverá promover atividades/jogos desafiadores, em que problemas táticos são constantemente exigidos durante os jogos. Assim, o jogador é estimulado a pensar e tomar decisões de forma contínua.  Ao invés de enfatizar a aprendizagem de fundamentos técnicos isolados, o método global estimula a capacidade de descoberta pela prática através do desenvolvimento do jogo.

Estes jogos, portanto, propiciam o contato direto do jogador com o adversário, em um ambiente instável com ou sem bola de forma dinâmica. Costuma-se afirmar, que este ensino se pauta em três fatores: comportamento tático; desenvolvimento técnico; e o domínio do espaço de jogo.

Método Misto

É a mescla entre os dois métodos de ensino explicitados acima. Parte da abordagem técnica no início da sessão de treino e finaliza com a prática de atividades em formato de jogos.  Este método possibilita mais vivências práticas contextualizadas se comparado ao analítico, pois quando o atleta não consegue executar tal função no jogo eficazmente, o treinador utiliza uma série de exercícios ou jogos com ênfase na melhora do processo, permitindo correções e evoluindo para o jogo formal.

Além destes, outros métodos também são estudados na literatura:

Método Situacional

Este método é caracterizado pela prática de situações de jogo semi-estruturadas (situações extraídas do jogo), que envolvem comportamentos individuais e coletivos. A ênfase deste método é desenvolver a capacidade cognitiva do atleta no seu espaço de jogo, como a percepção, antecipação, e tomadas de decisão; com e sem bola. Alguns autores denominam este ensino como jogos condicionados ou métodos de série de jogos. Na prática, o professor adapta espaço, número de atletas, regras, mas sem alterar os princípios do jogo.

De maneira geral, este método permite desenvolver competências para os atletas solucionarem os problemas específicos do esporte através do desenvolvimento das capacidades cognitivas, coordenativas e técnico-motoras.

Método dos Jogos reduzidos

Em princípio, alguns estudos contemplam também o método de jogos reduzidos, na qual são realizados jogos em espaços pequenos, onde os elementos da estrutura das modalidades coletivas devem estar presentes. São estes os elementos: bola; regras; espaço; adversários; colegas; meta. Os jogos vão sendo adaptados conforme o objetivo do treino e do treinador.

Métodos de confrontação ou jogo formal

Além disso, na literatura, encontra-se o método de confrontação, ou jogo formal. Este consiste em aprender o jogo com suas características formais, sem divisões de etapas, ou objetivos preliminares a serem trabalhados. Um exemplo clássico, é o “coletivo”, onde a aprendizagem se dá através da organização do jogo formal entre o confronto das duas equipes. A estruturação desta atividade está relacionada diretamente com a busca pela vitória, seja na divisão das equipes, na elaboração de estratégias, no confronto direto entre os jogadores, entre outros.

O que entendemos sobre Métodos de Ensino no Futebol?

Contudo, fica claro que o professor e/ou treinador precisa ter conhecimento sobre a existências destas metodologias, da pedagogia e dos processos de ensino aprendizagem, além de recorrer ao método de ensino conforme o momento e situação durante seus treinos e aulas. Pois, o professor/treinador é o agente mediador da compreensão do jogo com seus atletas. Desse modo, a utilização das metodologias vêm de encontro com a realidade social, com a adequação a faixa etária dos atletas, seja a abordagem em escolinhas, clubes, etc.

Durante as partidas é comum evidenciarmos que os atletas que mais se destacam em campo, são aqueles que melhor conseguem selecionar as informações, e antecipam melhor as situações específicas do jogo. E estas ações cognitivas e motoras devem ser treinadas. Por isso, é essencial que na sessão de treinamento o contexto de jogo e o comportamento inteligente do atleta/aluno sejam desenvolvidos. Mas qual o caminho para alcançar tal objetivo? As metodologias servem justamente para isso, para embasar o ensino do treinador.

Confira abaixo um episódio do Podcast sobre o assunto:

Referências para Leitura sobre métodos de ensino no futebol:

Cotta, Rafael Martins. Treino é jogo! E jogo é treino! A especificidade do treinamento no futebol atual- Rafael Martins Cotta.

Moreira, Renato Lopes. Tática no Futsal: anotações teóricas e práticas sobre o jogo.

Balzano, Otávio Nogueira. Futsal: Treinamento com jogos táticos por compreensão.

GRAÇA, A.; MESQUITA, I. A investigação sobre os modelos de ensino dos jogos desportivos. Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, v.7.

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A observação dos jogadores de futebol na base

O futebol é um meio de lazer e recreação para muitos jovens. Mas, para outros, o futebol é uma opção de carreira. Dessa forma, os treinos precisam ir ao encontro das respectivas categorias/idades dos atletas, desenvolvendo alguns aspectos específicos do jogador. Assim sendo, a observação dos jogadores de futebol precisa valorizar diferentes características consoante a cada faixa etária, visando sempre ser o mais assertivo possível.

Como fazer a observação dos jogadores de futebol em cada faixa etária?

Dos 5 aos 9 anos

Nas categorias mais jovens, ou seja, na fase da iniciação e lúdica, normalmente entre os 5 e 9 anos, é fundamental avaliarmos a sua relação com bola e, sobretudo, a sua paixão pelo jogo de futebol. Em outras palavras, tentar perceber se o menino está lá por amor ao esporte, ou apenas pelos amigos, se foi por influência dos pais, etc.

Dos 10 aos 13 anos

Numa outra fase, entre os 10 e os 13 anos, teremos de observar outros aspectos, como a técnica individual, na qual podemos englobar a qualidade do passe (curto, longo, vertical…), recepção, drible, remate, condução de bola, entre muitos outros aspectos. Também é importante analisarmos a coordenação motora do jogador, até porque, quanto mais evoluída for a coordenação motora, mais os atletas podem realizar as jogadas estratégicas e com velocidade. Além disso, a criatividade do jogador também é um fator essencial a observar em jogadores destas idades.

Dos 14 aos 15 anos

Entrando na fase da observação de jogadores entre os 14 e 15 anos, começamos a identificar mais a qualidade na execução da tarefa numa posição específica. Isso nas idades mais jovens se torna um pouco mais difícil, pois os jogadores geralmente não têm uma posição definida e experimentam um pouco de todas as posições nos primeiros anos de formação. Aliado ao fato de observarmos o jogador na posição que desempenha, também começamos a dar mais ênfase aos comportamentos táticos do jogador (individual). Essa importância tática acontece, pois, nessa idade, os treinos começarão a ser mais voltados a parte tática. Outros fatores importantes são a execução técnica das ações (se atentar para o uso dos dois pés) e o amadurecimento do jogador, porém este último depende de clube para clube.

Dos 16 aos 17 anos

Na observação de jogadores entre os 16 e 17 anos, juntando ao escrito nas outras fases, acrescentamos alguns pontos. Mas, serão observados também os aspectos psicológicos e sociais, como a atitude competitiva e a personalidade. Em outras palavras, veremos se o jogador “sente” o jogo, se gosta de assumir responsabilidades e de ter bola ou não. Além disso, a boa tomada de decisão deverá ser um dos aspectos a ser valorizado nesta faixa etária.

Categorias Sub-18 e sub-23

Nos escalões sub-18 a sub-23, onde entramos na fase da especialização, o perfil físico terá uma importância acrescida. Isso acontece porque, apesar dos atletas terem diferentes fases de maturação, nestes escalões os jogadores já atingiram o auge da sua maturação.

No futebol profissional, onde cada clube busca os melhores jogadores possíveis para o seu contexto, todas as variáveis (técnico, tático, físicos, sociais e psicológicos) têm de ser considerados. E as observações devem ser o mais completas e abrangentes possíveis. Pode conferir mais sobre esses aspectos aqui.

Os aspectos/características a observar num jogador de futebol em cada faixa etária é um pouco variável de clube para clube. No entanto, estas são algumas das características que considero fundamentais observar nas diferentes faixas etárias

Portanto, o processo de observação de jogadores nos escalões mais jovens, ocorre de mãos dadas com o processo do treino.

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Treinamento de goleiros na infância

Os Jogos Esportivos Coletivos como o futsal, futebol e handebol, são modalidades que contam com diversas posições. Sabemos que é muito comum a preocupação em organizar e ensinar as funções de cada posição desde a tenra idade para desenvolver suas potencialidades. No entanto, o treinamento de goleiro muitas vezes fica aquém, em comparação ao restante das posições.

Compreendemos também que é mais comum a influência dos pais e/ou responsáveis por seus filhos (as) para serem jogadores de linha, havendo pouca procura para ser goleiro. Mas, quando encontramos, é necessário ter um olhar pedagógico específico para tal.  

Mas como realizar uma abordagem educativa com esta posição?

Em princípio, nesta fase, o aluno precisa ter apreço por esta posição. Logo, compreendemos que dos 07 aos 10 anos os alunos começam a interiorizar os esquemas de ações, simples e concretas, por meio da diversidade de vivências.

Do mesmo modo, o jogo situacional comportamental deve ser enfatizado. O aluno precisa se situar dentro da área, ter noção espacial e de regras, entendendo ser o único que pode tocar na bola com as mãos no futebol e futsal, por exemplo. Bem como, identificar quem são seus colegas de equipe na reposição de bola.

Em suma, algumas reflexões pedagógicas são necessárias para o planejamento de aula:

  • Quais os movimentos mais importantes que os goleiros realizam durante as partidas?
  • Como realizá-los?
  • Onde o goleiro pode jogar dentro da quadra?
  • Como o goleiro deve se posicionar no momento do escanteio e reposição de bola?
  • O aluno (a) precisa gostar do que realiza e se sentir confiante.

Como realizar o treinamento de goleiro de futsal para a criança?

Empunhadura ou pegada

Sob o mesmo ponto de vista da premissa acima sobre o planejamento contextualizado, a ação do movimento precisa ter sentido para quem realiza. Dentre os fundamentos específicos da posição, a empunhadura ou pegada, movimento este realizado com as mãos para agarrar a bola, é um dos mais utilizados.

Nesse sentido, para desenvolver a técnica, o professor pode estar utilizando diversas bolas, de diferentes tamanhos, inclusive bolinhas de tênis que após o quique toma direções distintas, possibilitando a velocidade de reação do movimento.

As atividades com constantes mudanças de direções, sejam elas quicando a bola contra o chão e realizando a empunhadura, ou deslocamentos frontais e de costas lançando a bola para cima são importantes inclusive para o aquecimento inicial, caracterizando situações técnicas e de espaço temporal.

Base

Outro fundamento do goleiro de futsal é a base. Movimento importante para defesas de bolas rasteiras e saídas no 1×1. Logicamente que há todo uma complexidade envolvida nas situações de jogo e em qual situação tal fundamento será realizado. No entanto, movimentos simples de ações corporais trabalhados durante o treinamento auxiliam no processo de ensino aprendizagem global do aluno.

O profissional pode organizar atividades com deslocamentos e dois fundamentos em simultâneo, favorecendo a tomada de decisão rápida do aluno e a visão ampla do ambiente (espaço, traves, bola e jogador).

Trabalhos técnicos-táticos

Outro ponto importante são os trabalhos técnicos táticos de 1×1 com alunos (as) de linha. Estes desenvolvem a noção do tempo de chute do jogador, noção de como se deslocar conforme o espaço onde a bola está, além do enfrentamento com o adversário e defesas de finalizações dentro e fora da área.

A atividade denominada “espelho” também é essencial para automatização da ação corporal. Inicialmente, pode ser realizada sem bola, onde o profissional permanece de frente para os alunos (as) executando os movimentos com calma, enquanto estes repetem as ações. É um momento de correção, ajustes e automatização do movimento. Logo o elemento bola pode estar sendo introduzido e adicionado a empunhadura e/ou agarre.

As possibilidades de ensino são enormes. Assim, é importante que se tenha objetivos claros de aulas/treinos e sequência partindo do mais simples para o mais complexo.

Por fim, o mais importante é o goleiro (a) se sentir confiante debaixo das traves. Esta confiança se dá em um processo de reforço positivo entre treinos e jogos e, principalmente, ao ter a compreensão do que está fazendo dentro de quadra. Como resultado, o treinamento de goleiro de qualidade dará confiança e qualidades técnico-táticas fundamentais para a posição.

Fontes e Referências:

A epistemologia genética escrito por Jean Piaget

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A formação de atletas no futebol e futsal: influência dos professores e pais

Sabemos que a formação de atletas no futebol e no futsal vêm em ascensão desde as menores idades, sendo a proximidade e o incentivo familiar imprescindível neste percurso.

Compreendemos que todo núcleo de formação de atletas no futebol e futsal, seja particular ou em projetos sociais, baseiam-se em objetivos e metodologias pedagógicas visando o desenvolvimento global de seus alunos(as). Todas as aulas são planejadas com o intuito de potencializar as capacidades motoras e cognitivas dos praticantes. Ao mesmo tempo, muitas das sessões de treinos sofrem críticas dos olhares de fora na arquibancada por acreditarem que futebol são 11×11 e futsal são 5×5 apenas.  

Jogos fragmentados, brincadeiras diversas, correr pelo espaço com bola e brincar de pega-pega de forma contextualizada, são alguns dos exemplos diversos na infância que auxiliam na aprendizagem destas modalidades. Mas como dialogar com os pais a compreensão sobre a metodologia e a sua importância?

Treinos na formação de atletas no futebol e futsal

Em princípio, o jogo e as atividades situacionais propostas nos treinos possibilitam situações adversas que precisam de repostas. Então, a criança vai se adequando conforme o estímulo e respondendo aos constrangimentos do ambiente.

Veja no exemplo da brincadeira “Mãe na Rua”. Primeiramente, dividimos a quadra em três setores, são eles:  uma rua e duas avenidas. A brincadeira conta com pegadores e fugitivos. O ideal é que cada pegador tenha uma bola. Na rua ficarão os pegadores, e nas avenidas os fugitivos. O objetivo destes é passar de uma avenida para a outra sem ser pego. Se o espaço for reduzido, as chances dos pegadores encostarem em seus colegas é maior. Os constrangimentos do espaço serão muitos, tais como: espaço reduzido, todos com bola executando uma única ação, fundamentos de condução e controle de bola, percepção espacial, organização no espaço, visão em relação aos colegas. Todas as crianças estão, em simultâneo, gerando conflito de espaço. E o que fazer? Deverão achar as soluções para esses problemas, ou seja, tomar boas decisões.

Porém, nem sempre os pais e responsáveis compreendem essa dinâmica, acreditando ser um ensino frágil, o qual não contribuirá para seu filho(a). Assim, o modelo familiar estabelece as ideias e conceitos de forma geral na criança.

Outro ponto a ser refletido é que alguns pais têm um “saber” enraizado e acreditam que esse é o melhor jeito de ensinar, porque aprenderam a modalidade desta forma, ditando tais conhecimentos para as crianças. E estas? Seguem qual ensino? O do professor ou o pai/mãe que está gritando do lado de fora enquanto acompanha os jogos e/ou treinos? 

Relação benéfica entre processo de ensino e família?

Na infância é absolutamente normal que todas as crianças corram atrás da bola ou se aglomeram em um único espaço. A compreensão sobre a estrutura funcional do jogo vai sendo adquirida aos poucos por meio de uma sequência com coerência dos treinos. A lógica sistemática de posicionamento não se faz necessário nesta fase até os dez anos, pois seria o mesmo que mecanizar ações de movimento. Em suma, é importante que a criança goste e sinta prazer em jogar.

 Durante os treinos a voz de comando que deve prevalecer é a do professor. Informações advindas de fora de quadra do que se deve ou não fazer acabam sobrecarregando a criança de informação, e esta acaba repetindo o que lhe é dito, ao invés de decidir por conta própria.

A cobrança dos pais no processo de formação

De fato, há toda uma expectativa dos responsáveis para que seus filhos(as) tornem-se craques, e não há problema algum, nisso. No entanto, o excesso de cobrança influencia no desenvolvimento da criança e inibi sua criatividade e tomadas de decisões.

Criança tem que ser criança. Tem que abusar da sua criatividade, devendo explorar o espaço com bola nos pés. Quanto mais estímulos, mais desenvolvimento terá. Muitas vezes os pais ditam as regras e ações, sobressaindo-se aos treinadores(as), o que não é apropriado por todas as questões citadas acima, sejam elas, a busca pelo conhecimento ou a organização do treino que o profissional se dedica.

Palestras, uma roda de conversa explicando objetivos e metas dos treinos são boas opções para reflexão entre a relação alunos(as) e pais. A contextualização dos objetivos de trabalho reforça confiança.

Neste sentido, é importante que os pais entendam o processo pedagógico e que as atividades, por mais simples que sejam, todavia, contextualizadas, são partes fundamentais do jogo e das relações técnico-táticas.

A intervenção dos pais não pode tirar a autoridade dos professores nem prejudicar a aprendizagem de seu filho. Pois, a maior preocupação deve ser na formação, no processo, e não apenas no resultado com intuito de sobressair dos demais e torna-se um craque.

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A nutrição no futebol infantil

A importância da nutrição no desempenho de atletas em diferentes práticas esportivas, incluindo o futebol, é incontestável. Entretanto, o papel da nutrição no futebol infantil não é tão valorizada quanto deveria, visto que é de suma importância para o bom desenvolvimento e desempenho das crianças. Uma nutrição correta na infância contribui essencialmente para as fases futuras, não só dentro do esporte, mas para uma boa qualidade de vida.

Por que incentivar a nutrição no futebol infantil?

Crianças e jovens geralmente tendem a se importar menos com a qualidade da sua alimentação, assim como o impacto e as consequências que a dieta tem no seu cotidiano. O metabolismo de crianças é mais intenso que o de adultos e, com isso, o gasto energético, principalmente para jovens atletas, é muito grande. Dessa forma, no futebol infantil é necessária uma nutrição de qualidade, contendo a quantidade de nutrientes suficientes para satisfazer todas as necessidades do organismo.

Além disso, a carência de nutrientes pode acarretar inúmeros problemas no desenvolvimento físico e até mental dos jovens, incluindo maior suscetibilidade às patologias, baixa estatura, que pode atrapalhar muito na realização da prática futebolística e acarretar perda de performance.

Composição de uma boa dieta para atletas infantis

Para satisfazer a demanda energética do organismo, a composição da dieta de um jovem jogador de futebol deve conter um balanço de macro e micronutrientes, acompanhado de uma hidratação adequada.

Hidratação

A perda de água através do suor é o meio mais efetivo do corpo em liberar calor produzido pelo organismo. Em atividades físicas intensas como o futebol, nosso corpo perde muito líquido pelo suor, sendo necessário a hidratação antes, durante e depois da atividade, a fim de repor a quantidade de água perdida. Ainda nesse sentido, crianças tendem a produzir mais calor por unidade de peso, quando comparado ao adulto. Portanto, julga-se indispensável uma boa hidratação dos jovens atletas, inclusive durante as atividades, como o treino nas escolinhas.

Macronutrientes

A fonte de energia para o atleta são os macronutrientes, sendo, basicamente, divididos entre carboidratos, proteínas e lipídeos.

Os carboidratos devem ser abundantes na dieta para atletas de futebol infantil, sendo esses o principal fornecedor de energia para uma atividade esportiva. Atletas mirins possuem menos reservas de glicogênio que adultos e, com isso, a ingestão de carboidratos deve ser correta e abundante. Em outras palavras, caso não for feita uma ingestão de qualidade de carboidratos antes de uma atividade física com alta demanda energética, os estoques de glicogênio ficarão vazios, acarretando sucessiva perda de desempenho.

Em relação a proteínas, crianças atletas devem possuir um balanço positivo de proteína no organismo. Esse aporte proteico em crianças deve ser maior que para adultos. Isso porque, além da quantidade necessária para recuperação muscular pós-atividade física, seja treino ou jogo, também é necessária uma quantidade direcionada para o desenvolvimento normal do corpo, que ainda está em formação. Deficiência de proteínas para atletas de futebol infantil pode acarretar problemas na estatura e peso corporal.

Em relação aos lipídeos, seu consumo é importante para atividades físicas de longa duração, sendo importante manter um consumo adequado de fontes boas desse macronutriente.

Micronutrientes

O bom desenvolvimento infantil está completamente ligado a ingestão correta de inúmeros micronutrientes, tais como zinco, cálcio, ferro, sódio, potássio e vitaminas. Para crianças praticantes de futebol, é necessário a manutenção de uma dieta balanceada de micronutrientes, principalmente os citados acima. 

  • O cálcio está ligado a manutenção e crescimento dos ossos. Desse modo, a deficiência em cálcio é perigosa para atletas infantis, em que aumenta o risco de lesões ósseas na atividade física.
  • O ferro se associa ao transporte de oxigênio nas células sanguíneas por todo o corpo, incluindo para os músculos. Assim, mostra-se a importância do ferro na alimentação de atletas infantis, que necessitam de um transporte eficiente de oxigênio efetivo durante a atividade física. Sua deficiência acarreta perda de desempenho do atleta mirim.
  • Já o zinco relaciona-se com a defesa imunológica do organismo e síntese proteica, em que sua deficiência pode ocasionar problemas no sistema imunológico da criança.
  • Sódio e potássio são dois minerais de extrema importância para o organismo. O primeiro é importante para a manutenção do equilíbrio hídrico normal do corpo. Já o segundo ajuda a manter o funcionamento normal de células, músculos e nervos. Ambos podem ser perdidos no suor, resultando em queda de desempenho pelo atleta.

Atenção na dieta de crianças

É importante ressaltar que, nessa fase, a nutrição no futebol infantil não deve exigir nenhuma meta do atleta ou realizar qualquer tipo de restrição alimentar. Mas deve, sim, ofertar a maior variedade de alimentos possível ao jogador, de modo a formar seu paladar e moldar bons hábitos alimentares. Além disso, a nutrição infantil deve explicar sobre a importância de pratos coloridos e equilibrados nutricionalmente, visando um desenvolvimento saudável.

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As 4 vertentes do futebol: uma metodologia para desenvolver o jogador

Craig Simmons, ex-consultor da Federação inglesa, criou o modelo das 4 vertentes no futebol. Essa metodologia tem seu nome original de 4 cantos. A finalidade do projeto era auxiliar treinadores a planejar e realizar sessões de treinos, visando uma melhor aprendizagem e desenvolvimento dos jogadores. Desse modo, essa metodologia permite que os jogadores atinjam o seu potencial máximo.

A análise de Desempenho/performance permite que os treinadores analisem o desempenho do jogador em cada um dos quatro cantos. Isso ajudará o treinador a planejar sessões de treino futuras, de modo a melhorá-los.

Esta metodologia oferece uma ferramenta de reflexão. Ou seja, os treinadores podem usar para suas observações, reflexões e decisões sobre como melhor apoiar as necessidades individuais dos jogadores. Assim, pode-se verificar qual o nível de desenvolvimento do jogador, bem como suas capacidades de jogo, desempenho e potencial.

“A habilidade do treinador se baseia em como se adaptar para atender às necessidades individuais. Um jogador pode precisar de muito apoio no canto técnico, outro no físico e assim por diante. O processo de atender às necessidades individuais é muitas vezes referido como ‘diferenciação’, sendo a habilidade do treinador fornecer um suporte ligeiramente diferente, mas apropriado, para melhor atender às necessidades dos jogadores que ele treina.” Craig Simmons.

As 4 vertentes do futebol

A metodologia dos 4 cantos (ou 4 vertentes do futebol) engloba quatro partes principais que são vitais e fundamentais para qualquer jovem futebolista em desenvolvimento: elementos técnico-táticos, físicos, psicológicos e sociais. Estes são os 4 cantos que, apesar de se apresentarem em separado, estão sempre atuando em simultâneo, se influenciando. Entretanto, embora se enfatize a relação entre todos os cantos, o foco específico pode ser colocado em qualquer um deles, de modo a atender às necessidades individuais do jogador.

Este modelo pode ser aplicado a todos os jogadores, independentemente da idade ou capacidade. Todos são diferentes e os jogadores terão suas próprias necessidades individuais em qualquer ponto de seu desenvolvimento.

Entendendo os 4 cantos

Cada um dos cantos explora competências fundamentais e distintas num jogador de futebol. Vamos conhecer mais os detalhes de cada um dos cantos?

  • Técnico-tático: este canto reconhece as habilidades necessárias para o futebol, como o passe, recepção, remate, posicionamento ou a reação à transição ofensiva. Um exemplo deste canto pode ser a observação da posição corporal de um jogador e a técnica de remate. Uma filmagem pode permitir que o treinador analise como o jogador bate na bola e perceba a técnica usando câmera lenta.
  • Psicológico: aqui é visto a importância do processo de pensamento interno de um jogador, em outras palavras, analisando como ele pensa, toma decisões, a concentração, a criatividade, a atitude competitiva, entre outros atributos.
  • Físico: este canto reconhece como o corpo pode ajudar o jogador a ter melhor rendimento, por exemplo, na velocidade, resistência, aceleração, impulsão e coordenação.
  • Social: o canto social analisa a importância de trabalhar bem com outras pessoas, ao envolver-se no trabalho em equipe e espirito de entreajuda, comunicação e liderança. Por exemplo: o vídeo pode mostrar a confiança e o relacionamento entre jogadores. Esta análise pode auxiliar um treinador no planejamento de sessões com atividades lúdicas de equipe, com o intuito de ajudar a aumentar os índices de confiança e auto-estima ou para construir uma maior relação sócio-afetiva entre a equipe.

Portanto, o modelo inglês dos 4 cantos é uma estrutura que incentiva o desenvolvimento do jogador na totalidade. As 4 vertentes buscam aprimorar o jogador nos tópicos que estão presentes numa partida de futebol. Relembrando que todos os jogadores podem ser expostos a esta metodologia, independente da idade ou habilidade.

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O Fundamento passe na iniciação do Futsal

É natural que os professores de base sintam insegurança ao trabalhar esta habilidade do passe no futsal ainda na infância. Primordialmente, o professor precisa entender que esta fase é crucial para que a criança desenvolva sua motricidade globalmente, através de diferentes variedades de movimentos. Essa aprendizagem e experiências se dão a partir da ludicidade, de jogos, brincadeiras e, inclusive, ginástica.

Além do desenvolvimento motor, a compreensão das ações de jogo deve ser incentivada desde a tenra idade. E esta compreensão pode se dar por meio do fundamento passe. Mas como a abordagem deste, pode agregar conhecimento na iniciação?

O fundamento passe e seus princípios táticos na iniciação do futsal

Além disso, compreende-se que na iniciação do futsal, a aprendizagem dos fundamentos técnicos acontece de maneira natural com incentivo de uma pedagogia criativa e diversificada.

No entanto, a partir dos seis anos, a metodologia já deve consistir em abordar a ocupação de espaço, compreensão de regras, cooperação entre o grupo, etc. Afinal, o desenvolvimento dos fundamentos é inerente a coordenação motora, por isso, o treino deve pautar-se na organização de movimentos corporais que atendam uma necessidade ou um objetivo. Sendo assim, é preciso trabalhar o básico do movimento para enriquecer o repertório motor.

Durante a execução do fundamento passe, o aluno precisa ter a visão do jogo para encontrar seu colega em um espaço vazio ou sem marcação, além de precisar identificar a distância para saber a “força” que necessita colocar na bola, executando o passe no momento certo. E como a criança compreende toda essa dinâmica?

Quais atividades promovem situações táticas na iniciação a partir do fundamento passe?  

É essencial que nesta fase o treino não seja apenas com cargas unilaterais (exclusivo de uma modalidade), mas que venha enriquecer o acervo da criança. Por isso a atividade a seguir, trabalhará passes com as mãos, por exemplo.

Brincadeira do “Meinho”

O “meinho”, é uma brincadeira simples que pode ser realizada em pequenos grupos (trios, quartetos), facilitando assim maior contato com a bola. Em um espaço delimitado por cones, divida os alunos, um deverá ficar no meio interceptando o passe dos outros colegas, assim que interceptar, troca de posição com o último que realizou o passe. Iniciaremos esta atividade com as mãos. Ainda nessa brincadeira, podemos variar tamanhos da bola (Vôlei, tênis, etc.), ou com a inclusão da contagem de passes, regras de passar e movimentar para outro espaço, ou trabalhar com os pés. Dessa forma, o momento cria situações importantes para o desenvolvimento do jogo e compreensão cognitiva do aluno (a), por exemplo:

  • Manipulação de objetos;
  • Percepção espacial;
  • Movimentação no espaço;
  • Criação de linhas de passe (ataque) e o encurtamento de espaço (defesa).

Brincadeira “não deixe ser gol”

Ainda assim, outra atividade interessante para compreender a distância do colega que fará a recepção é o “não deixe ser gol”. Em duplas, um de frente para o outro e com pequenas goleiras atrás de cada criança, elas realizarão passes entre si, porém o objetivo é que a bola passe pelo colega e entre no gol. Esta atividade pode incluir os fundamentos de finalização e recepção. O professor pode estipular várias distâncias entre os dois alunos, para que estes percebam a força que deve ser colocada ao passar/chutar dependendo da distância em que está com a bola.  Além disso, alguns princípios de ataque e defesa são identificados nesta situação.

Brincadeira dos bambolês

Por fim, uma última brincadeira é a livre com bambolês: organize um espaço e distribua um bambolê para cada. Deixe as crianças brincarem livres: jogar no alto, segurar com uma mão apenas, girar e segurar, lançar o bambolê a sua frente, lançar o objeto para o colega e realizar a troca entre eles. Use a criatividade em sua aula.

Mas você deve estar se perguntando de que forma brincar de bambolê auxilia no desenvolvimento do fundamento passe, então imagine quantas ações de domínio corporal e cognitivo a criança estará realizando no espaço e como há relação com o passe no futsal:

  • Capacidade de processamento de movimentos (girar, agarrar, lançar);
  • Ordenação e elaboração da informação (material, espaço, colega, movimento);
  • Adaptação a variedade na atividade, adquirindo o hábito de prever possibilidades ou situações futuras.

A importância da organização metodológica na iniciação do futsal

Em síntese, a criança precisa manipular objetos, correr para um espaço vazio, estender o braço, segurar objetos de diversos tamanhos, sentar, saltar, etc. Dessa forma, quanto mais experiências a criança adquirir, mais capacidade de responder às situações do jogo ela terá futuramente, seja gestual ou cognitiva.

Desse modo, o professor precisa adaptar e compreender as reais necessidades da infância, afinal, o trabalho terá resultados a longo prazo. Quando falamos nas atividades acima: de linhas de passe e encurtamento de espaço, lógico que não utilizaremos estes termos em nossas falas. Porém, a criança começa a desenvolver, pelos estímulos recebidos, a compreensão de que longe do adversário receberá a bola com maior facilidade.

O passe é o fundamento que remete uma das características principais do futsal, o dinamismo. E a sua execução depende de uma série de conteúdos táticos, tais como ritmo de execução; informação (colega marcado ou não); controle do espaço (ocupar espaços vazios). Toda essa construção vai se dando gradualmente, mas precisa ser possibilitado contextualizadamente e lúdica, aproximando-se do jogo coletivo.

Portanto, atividades que trabalhem o fundamento passe tanto com as mãos quanto com os pés, juntamente com aquelas que desenvolvam a percepção do espaço e dos colegas se faz necessária.  Aprender a passar é aprender a socializar em grupo as habilidades individuais.

Contato da autora:

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Fontes e Referências

Escola da Bola. Um ABC Para Iniciantes nos Jogos Esportivos.

Corpo em movimento na Educação Infantil

A atividade pedagógica da Educação Física

Confira abaixo um episódio do Podcast sobre o assunto:

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Do futebol de rua ao treino estruturado

Quando falamos de futebol de rua, o que vem à nossa mente são os chapéus do Ronaldinho Gaúcho, as canetas do Ronaldo Fenômeno, e atualmente as lambretas do Neymar. Mas além de jogar na rua durante a infância, o que mais esses brasileiros têm em comum?

Sim, o pensamento rápido, a imprevisibilidade. Mas como eles fazem isso com tanta facilidade e com tanta maestria?

Uma pesquisa mostrou que a quantidade de horas envolvidas em jogos é um dos fatores no desenvolvimento de habilidades e da tomada de decisão em jogadores de futebol. Logo, a grande exposição às atividades do jogo estão relacionadas ao excelente repertório cognitivo-emocional e motor do indivíduo.

Diante disso, durante a infância destes talentosos atletas, era comum que as crianças desfrutassem do futebol nas ruas. A princípio, as árvores se tornavam traves, as calçadas limitavam o campo e o pequeno espaço exigia o raciocínio acelerado.

O futebol de rua era, e ainda é, um ambiente de imprevisibilidade e educação, pois existem elementos de não linearidade que são capturados para aprendizagem. Porém, essa cultura brasileira vem diminuindo cada vez mais, já que a tecnologia evolui exponencialmente, e consequentemente, os tablets vêm ocupando o lugar das bolas.

Então é por isso que as pessoas dizem que os brasileiros estão perdendo a sua essência? Basta levar a criançada para jogar nas ruas, certo?

A questão não é só o espaço entre as calçadas, mas sim a imprevisibilidade que a rua gera por conta da alta variabilidade no jogo. Sendo assim, como os treinadores podem transferir a rua para as sessões de treino?

Pedagogia Não-Linear

Partindo do pressuposto de que o jogo de futebol é um sistema complexo, dinâmico e não linear, em algum momento haverá instabilidade nas interações entre os elementos do jogo. E no treino não é diferente. Em outras palavras, as equipes oscilam entre ordem e desordem, representando assim, a teoria do caos no futebol.

Portanto, cabe ao treinador preparar o jogador para o desconhecido, guiando-os para a melhor escolha do que fazer e como fazer (descoberta guiada). Dessa forma, a Pedagogia Não-linear fornece princípios pedagógicos, que auxiliarão os treinadores:

  • Princípio da Representatividade: Simular o ambiente de jogo, pois trata-se deum ambiente caótico.
  • Acoplamento Informação-Ação: Proporcionar várias opções para o atletatomar a decisão mais certeira em determinados contextos;
  • Princípio da Aprendizagem Exploratória: Possibilitar ao atleta, a capacidade de modificar um gesto, sem perder a sua funcionalidade. Isto é, ao invés de prescrever um movimento ideal, deixe-o se auto organizar para solucionar o problema (abordagem ecológica).
  • Manipulação de Constrangimentos: Manejar os elementos do jogo paradesafiar as ações e as tomadas de decisões dos praticantes. Por exemplo: alterar o tamanho do campo, diminuir ou aumentar o número de jogadores, modificar as balizas etc.

Através destes princípios, o treinador aumenta a representatividade do jogo, insere a variabilidade funcional e simplifica a tarefa para aumentar o acoplamento informação-ação. Ou seja, a PNL nada mais é do que uma maneira de formar jogadores criativos e autônomos em um contexto mais estruturado.

O futebol de rua como Jogos Reduzidos?

Uma alternativa para os treinadores é o uso de Jogos Reduzidos, de modo a gerar o fractal do jogo. Mas será que essas atividades podem ser tarefas representativas?

João Machado, no episódio 48 do Podcast Ciência da Bola diz que “depende”. Para criar uma atividade representativa, é prudente respeitar as características e o nível dos jogadores. Se a criança não tem percepção-cognitiva o suficiente para aquela tarefa, não haverá aprendizagem.

Além disso, é importante considerar os princípios do modelo de jogo, e que a intenção da tarefa seja evidente.

Por exemplo, se o meu objetivo é proporcionar autonomia para os jogadores escolherem a melhor decisão, enquanto treinador, devo oferecer um ambiente com diversas opções de escolhas. Pensando nisso, um Jogo Reduzido de posse de bola com 2vs2 é viável neste contexto?

Acredito que não, uma vez que, com essa manipulação, o atleta terá poucas opções de escolha: 1) conduzir, 2) passar a bola para o único colega 3) driblar o adversário.

Convém destacar também que, ao manipular excessivamente a tarefa, o jogador perde a capacidade de se expressar (ludicidade). Elemento presente no futebol de rua e é primordial para a criatividade do indivíduo.

Portanto, a Pedagogia Não-Linear visa manter os elementos do futebol de rua para os atletas solucionarem o excesso de problemas táticos que o jogo caótico promove.

Logo, enquanto treinador, penso que a chegada da ciência aos treinamentos é de grande valia para o esporte. No entanto, devemos ter a consciência de que o futebol também é arte. Ou seja, o jogo de qualidade tem demasiado jogo para ser ciência, mas é demasiado científico para ser só jogo.

Contato do Autor: @g_tadashi

Fontes e Referências:

Tomada de decisão no desporto.

Pedagogia não-linear no futebol: análise do processo de criação de tarefas representativas

Confira um episódio do Podcast Ciência da Bola que fala sobre o assunto:

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Como são as transições de atletas nas categorias de base?

As transições de atletas nas categorias de base são evidentes e fazem parte do processo de formação do jogador de futebol. Como bem se sabe, cada categoria possui sua faixa etária e conta com competições específicas. Isso ajuda a manter uma equidade em competições com jogadores jovens. Consequentemente, à medida que envelhecem, os jogadores fazem as transições para as categorias posteriores.

As transições precoces

Muitos jogadores de base se destacam tanto em suas categorias, que são logo promovidos para a categoria maior. Ou seja, este jogador passa a atuar em treinos e competições com outros jogadores mais velhos. Porém, essas transições de categorias são muito perigosas caso não se tenha cuidado especial com o desenvolvimento global do jovem. Pois, mesmo com boa capacidade técnica, física e tática para jogar com jogadores mais velhos, devem-se considerar outros aspectos, como o processo maturacional, cognitivo e social.

Assim, as transições precoces dos atletas merece atenção especial por parte de profissionais como psicólogos, treinadores, auxiliares, dentre outros. Isso porque é necessário garantir uma transição adequada para que não se perca aquele talento.

Nas categorias de base a presença da Psicologia é fundamental. Um dos papéis do psicólogo do esporte é promover a autonomia daquele jovem. Uma boa intervenção do psicólogo na base, implica desenvolver as potencialidades e trabalhar formas de lidar com as vulnerabilidades do atleta. Ademais, para além do âmbito esportivo, formar atletas é um processo ético e social.

A transição da base para o profissional

A transição onde comumente ocorrem problemas é a transição base-profissional. Pois, o aproveitamento de jogadores da base na categoria profissional nem é sempre planejado. Em muitos casos, a necessidade cria a oportunidade para atletas jovens no “time de cima”. E geralmente acontece quando um clube está sem muito recurso para contratações ou quando há lesões/suspensões.

Nesse sentido, a transição da base para o profissional tem uma diferença muito maior em todos os aspectos. Isso porque, além do ritmo de jogos e treinos terem maior volume, outros aspectos também incrementam essa mudança. Por exemplo, ocorre uma visibilidade muito maior aos atletas e críticas mais negativas quanto positivas. Isso pode acabar minando a autoconfiança de um atleta ou o “deslumbrando”, gerando percepções distorcidas sobre seu potencial.

Além do mais, vale destacar que a dinâmica de jogo no futebol profissional requer um “profissionalismo” com cobrança diferente da base. Existem mais exames, dietas, restrições, rotinas puxadas, etc. Isso pode fazer com que um jovem craque tenha problemas de adaptação e oscilação de desempenho. Tais dificuldades, no entanto, nada tem a ver com qualidade técnica, física ou tática. Portanto, são as mudanças gerais que levam um tempo maior para serem assimiladas.

Problemas comuns nas transições de atletas no Brasil

É comum vermos equipes que são campeãs em torneios de base que não rendem muitos atletas aos profissionais. A falta de um planejamento nas categorias de base dos times brasileiros parece ser reflexo da falta de planejamento no futebol profissional. Por exemplo, pouquíssimos times possuem uma cultura de jogo definida. Isso, por sua vez, faz com que escolhas de técnicos não se baseiem numa filosofia de jogo ou mesmo no modelo de jogo. Neste sentido, a falta de um norteador acaba gerando diversos problemas, tais quais:

  • Categorias de base jogando com diferentes modelos de jogo. Isso, por si só não é um problema, já que é importante que atletas desenvolvam habilidades e conhecimento em diversas maneiras de jogar. O problema é a falta de critério para estabelecer esse “rodízio” de modelos de jogo.
  • A base não é vista como um processo de formação de jogadores, mas sim uma espécie de seleção daqueles que mais se destacam.
  • Os títulos têm grande importância, o que faz com que treinadores de base, por vezes, visem mais o resultado do que a formação.

Assim, esses e outros problemas oriundos das más gestões de muitos clubes culminam em dificuldades que afetam a formação de atletas. Além disso, atletas brasileiros saem cada vez mais novos para o exterior, a fim de socorrer os problemas financeiros dos clubes que os forçam a se desfazerem de suas joias muito cedo.

Como resolver os problemas das transições de atletas na base?

As transições nas categorias de base podem ser fruto de um desejo de acelerar o desenvolvimento de um jovem talento, bem como da necessidade de um clube. Em ambos os casos, é crucial um planejamento e acompanhamento de atletas em transição. A princípio, os clubes precisam gerir melhor seu departamento de futebol e alinhar o futebol de base ao profissional. E em segundo lugar, investir em profissionais qualificados que auxiliem a formação dos atletas em todos os sentidos.

Para concluir, o processo de transições de atletas nas categorias de base é natural, mas não deve ser forçado e sem critérios. Cabe aos agentes desse processo conduzirem-no cuidadosamente. Assim, portanto, teremos mais atletas bem formados e menos promessas desistindo do esporte por conta de fatores adaptativos.

Confira abaixo um episódio do Podcast sobre o assunto:

Contato do Autor: @28padilha
matheuspadilhaar@gmail.com

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Como ensinar Tática na infância?

A iniciação esportiva é o momento crucial na formação de um atleta, haja vista a demanda crescente na procura por escolinhas desde as menores idades. Logo, é importante refletir como ensinar tática na infância.  

Sabemos que na iniciação esportiva, o ensino deve-se pautar em um processo pedagógico com série de jogos e situações orientadas, onde se desenvolve a motricidade geral, servindo posteriormente como base para as habilidades esportivas específicas. Agora, perguntamos, é possível desenvolver tática na infância?

Em resumo, a lógica interna estrutural dos jogos coletivos conta com seis elementos comuns entre eles, que são: A bola, o espaço, o gol, as regras, colegas e os adversários. E a lógica funcional, caracterizada pelos princípios operacionais, as ações necessárias no ataque e defesa. Nesta última, há uma relação das situações chaves ao objetivo do jogo.

Portanto, sabemos que no ataque é necessário conservar a bola, progredir ao campo adversário e atacar a meta do oponente para se alcançar o objetivo. Em contrapartida, a defesa precisará recuperar a bola, impedir a progressão do adversário para o seu campo, e claro, evitar o gol.   

Seguindo essa premissa, é preciso desenvolver os elementos da tática por meio desta compreensão de estrutura das modalidades coletivas. São alguns dos componentes fundamentais no ensino da tática na infância os conteúdos como:

  • o controle de espaço;
  • a busca de superioridade;
  • informação;
  • ritmo de execução;
  • relação ataque/defesa.

Como abordar esses componentes no trato pedagógico na infância?  

De antemão, o professor precisa ter a consciência de ajustar a seleção de conteúdos ensino-treino para as crianças, adaptando a faixa etária e a compreensão cognitiva das mesmas.

A atividade do pega-pega é uma forma simples que manifesta os componentes de ocupação de espaço, fugida, ritmo de execução – ser mais rápido que o pegador-, entre outros. Uma variedade desta atividade, pode ser proposta em um espaço delimitado na quadra, dividido em três partes iguais. Nesta versão, teremos dois pegadores sem bola no centro e os demais alunos com a bola nos pés estarão dispersos nas outras duas partes. O objetivo é atravessar pelo centro, deslocando-se de um ponto ao outro com bola, fugindo dos pegadores. Os dois alunos do centro sempre permanecerão com coletes na mão, para facilitar a identificação visual de todos os alunos. E no momento em que consegue tocar em alguém, logo entregam o colete para seu colega e ocupam a função de fugitivo na brincadeira.

Certamente ao analisar esta atividade, conseguimos identificar fundamentos técnicos do futsal (Condução e controle de bola), e alguns componentes da ação tática do jogo, tais como: controle de espaço; observar o colega pegador; imprevisibilidade do ambiente. E claro, um pega-pega contextualizado com a estrutura interna das modalidades coletivas, contando com a bola, o espaço (delimitado), colegas, oponentes (pegadores) e regras da própria atividade.

Quais atividades aplicar para ensinar tática na infância?

Agora, veja outro exemplo, com a atividade do Caça ao Tesouro/Pique bandeira. A gestão do jogo discorre da seguinte forma: Em um espaço amplo, divide-se os alunos em duas equipes, com o mesmo número para cada. As duas equipes “esconderão” a bola (tesouro/bandeira) no próprio território. O objetivo é capturar a “bandeira” da equipe adversária e trazê-la pro seu campo. Para se defender, os alunos poderão “pegar” os oponentes que estiverem no seu território e enviá-los à “prisão” até que sejam libertados pelos aliados. A primeira equipe que capturar a bola vence a partida.

Dessa forma, este jogo possibilita a progressão para o campo adversário (Relação ataque-defesa). Além, do ritmo certo para adentrar no espaço do oponente e não ser pego. Bem como, possibilitar a divisão de um grupo para o ataque e o outro da defesa, ou seja, a distribuição da equipe no jogo, entre outros. Dessa maneira, identifica-se alguns dos conteúdos táticos e elementos da lógica interna das modalidades coletivas, ao desenvolver a capacidade de conhecer e reconhecer as situações que a atividade solicita, inclusive identificar a relação com o futsal.

Antes de mais nada, o professor (a) pode incluir fundamentos da modalidade específica na atividade acima. Como por exemplo, conduzir o tesouro (bola) até o seu campo, ao invés de usar apenas as mãos. Variações estas, que acontecem de acordo com a realidade social e cognitiva que a turma se encontra.

Como os jogos situacionais desenvolvem a compreensão tática na infância? 

Em suma, os jogos situacionais são extremamente importantes e contribuem para diversas modalidades coletivas. A metodologia de ensino quanto mais ampla e consistente, maior será o desenvolvimento do aluno (a). A especialização na infância com cargas unilaterais (um só tipo de esporte) pode inibir o desenvolvimento futuro para outras modalidades, pois o maior objetivo nesta fase é possibilitar que as crianças vivenciem de forma rica e variada as experiências em situações táticas.

Logo, a ênfase na diversidade e não apenas na repetição técnica específica, permite que o comportamento adequado para tais situações do jogo seja adquirido. Este comportamento adequado, nada mais é do que uma ação realizada de forma consciente pela criança, de modo que queira alcançar um objetivo.

O que aprendemos sobre ensinar tática na infância?

Portanto, na infância é a fase de desenvolver a aprendizagem para diferentes movimentos, a partir de um contexto situacional voltado para a inteligência motora e cognitiva, estruturas comuns das modalidades esportivas. Como resultado, há um processo de desenvolvimento da capacidade de jogo geral. A aprendizagem vai se moldando a partir das relações sujeito e bola, sujeito e jogo, mediados pelo professor (a). Visto que, na prática o aluno (a) precisa interagir bem com os seus colegas no espaço de jogo de forma inteligente, seja com ou sem bola, e o principal, dar sentido ao que estão fazendo e por quê estão fazendo.

Além disso, o jogo requer situações opositivas, buscando um objetivo em comum. E tem como essência, o controle da ação corporal do outro. Isto é, a tática é um conjunto de ações conscientes do indivíduo, a fim de solucionar os problemas que o contexto de situações de confronto oferece. Quanto mais incentivo e oferta de uma pedagogia contextualizada na infância, maior será o desenvolvimento do atleta.

Em síntese, o tema proposto é desenvolvido nesta fase, por meio de uma metodologia que sustente as intenções técnicas táticas do jogo propriamente dito, seja por meio dos jogos, brincadeiras e na ludicidade inclusive.

Fontes e Referências

A atividade pedagógica da Educação Física.

Pedagogia do Futsal: Jogar para aprender (Wilton Santana).

O Ensino do Desportos Coletivos (Claude Bayer). 

Confira um episódio do Podcast Ciência da Bola que fala sobre o assunto:

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