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Abordagem dos treinadores na especialização esportiva precoce

A especialização esportiva precoce é um tema bastante discutido na área de Educação Física. A especialização precoce é o processo pelo qual crianças tornam-se especializadas em um desporto em idade não apropriada.

Os megaeventos esportivos influenciam os jovens brasileiros a iniciarem no esporte cada vez mais cedo. Ou seja, a identificação com ídolos e a esperança de obter sucesso, resulta na quantidade crescente de “crianças-atletas”. Portanto, cabe ao treinador de futebol auxiliar esses jovens, através da iniciação esportiva.

Iniciação esportiva

A pressão dos pais e a ansiedade do treinador em encontrar um talento são fatores que devem ser controlados.

Desse modo, sem dúvidas, a iniciação esportiva traz diversos benefícios, e uma série de valores que podem agregar no desenvolvimento da criança. Por exemplo, desempenho motor, trabalho em equipe e disciplina. Porém, quando o treinador utiliza uma metodologia “resultadista”, dificilmente haverá uma iniciação adequada.

Então, é preciso respeitar as etapas de iniciação esportiva e suas fases de desenvolvimento na iniciação esportiva, veja abaixo as Fases:

  • I: 1º e 2º Infância (7-10 anos);
  • II: Primeira idade puberal (11-12 anos);
  • III: Pubescência (13-14 anos).

Portanto, este método busca o aprimoramento dos padrões motores por meio da ludicidade. Nessas fases, o desenvolvimento das capacidades biomotoras tornam-se favoráveis por conta da plasticidade do Sistema Nervoso Central. Logo, a criança constrói o seu próprio repertório motor sem a utilização de sobrecargas.

Conforme o indivíduo cresce, as atividades focam no refinamento da aprendizagem anterior. Lembrando que os exercícios não são especializados em nenhum esporte. Afinal, a prática intensa e competitiva ocasiona riscos ao organismo da criança.

Especialização Esportiva Precoce no Futebol

Atualmente, a Pedagogia Esportiva vem sendo assunto em muitas lives, palestras e webinars. No entanto, mesmo com inúmeros estudos, ainda há professores que não respeitam a saúde dos jovens.

Os adeptos da precocidade da especialização esportiva argumentam que é eficaz para descobrir novos talentos, principalmente em clubes e escolas. Diante disso, técnicos, pais e torcidas criticam os menores por erros cometidos, prejudicando-os em diversas dimensões.

Mas você sabe quais são os danos que resultarão na vida dos menores?

Em primeiro lugar, há prejuízos no âmbito psicológico durante a formação escolar, devido à exigência no êxito esportivo. Isto significa que os jovens se sentem mais pressionados, inseguros e desmotivados. Em outras palavras, originam-se níveis de ansiedade e estresse se o desempenho não for atingida.

Para mais, a saturação esportiva também pode ser ocasionada, ao passo que a criança apresentará desinteresse no desporto.

Além disso, o pior é que elas podem carregar lesões pelo resto da vida. Frequentemente, existem casos onde médicos pedem para alguns pararem de jogar, por conta da imaturidade óssea.

Sob a perspectiva motriz, a especialização precoce negligencia outros esportes. Pois, como já visto, a prática dos demais desportos oferece enriquecimento motor, auxiliando, portanto, o futuro jogador de futebol.

Respeitar o momento

Na iniciação/especialização esportiva, os treinadores devem proporcionar às crianças a abrangência de atividades recreativas e diversificadas. A frequência em escolinhas de futebol é válida, desde que haja algumas condições.

É importante promover exercícios com caráter lúdico, de modo a desenvolver as capacidades propícias à idade em que se encontram. Assim, o aprimoramento do desempenho é ordenado e sequencial. Portanto, após os 7 anos, cerca de, o desenvolvimento motor da criança corresponde a combinação de habilidades básicas.

Ainda, o jovem não pode ser visto como um “adulto em miniatura”. Logo, diminuir os feedbacks negativos nos treinos já é um começo. Faça-o pensar o porquê da ação realizada, visto que a reflexão ajudará em seu desempenho cognitivo. A glória e o fracasso precisam ser balizados, tendo como referência a evolução do indivíduo em relação ao seu processo.

Dados os fatos, primeiro o jovem deve desenvolver suas habilidades motoras básicas através de outras modalidades. Para que posteriormente, ela possa se especializar em apenas um esporte. Dessa forma, o esporte infantil é um fenômeno complexo, que não se reduz a metodologias simplistas, nem a procura e tentativa do modelo de atleta ideal.

Fontes e Referências:

Transformação didático-pedagógica do esporte.

Da alienação à estupidez: Especialização precoce e os danos causados à criança.

A iniciação esportiva e a especialização precoce à luz da teoria da complexidade – notas introdutórias.

Contato do autor – Instagram: g_tadashi

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Identificação de talentos nas peneiras

Você se lembra que formar atletas é uma das funções do treinador de futebol? Devido a isso, é necessário primeiramente selecionar e captar os indivíduos que agregarão a sua equipe. Este procedimento também pode ser exercido por um analista de desempenho ou olheiro. Assim, quanto mais profissionais qualificados neste processo, mais a avaliação será fidedigna. Porém, em muitos casos não são aplicados indicadores para a identificação de talentos no futebol. Daí entra o problema das avaliações com base em visões subjetivas.

Posto isto, vale destacar qual dos significados considerarei para “talento” ao decorrer do texto. Em razão de que, na literatura existem inúmeras definições para a talento, porém, não há verdades. Assim, o professor Próspero Paoli afirma que, o jogador talentoso é aquele que possui capacidades acima da média. Além de considerar também as condições que o meio oferece.

Dado que o desempenho depende de vários aspectos, sejam emocionais, cognitivos, técnicos, táticos, contextuais etc, é sabido que a vertente física também é determinante para um bom desempenho no futebol. Apesar disso, analisar somente o biotipo físico ou a quantidade de gols que o indivíduo realiza, demonstra uma interpretação equivocada.

Então antes de mais nada, cabe aos avaliadores diminuírem a margem de erro nos processos seletivos ao não avaliar o atleta de forma reducionista.

As desvantagens na seleção de talentos

Para muitos jovens brasileiros, a porta de entrada para as categorias de base são as peneiras. Regularmente, esta seletiva é avaliada pelos treinadores de futebol da instituição, a fim de selecionar os atletas que se sobressaem. Dessa forma, não é a minha responsabilidade mostrá-los como se deve fazer um processo seletivo. Já que, a operacionalização e os indicadores de avaliação diferem de clube para clube. Contudo, o meu dever é apresentar métodos através da ciência para que os erros sejam minimizados. Afinal, podemos estar subestimando algum talento.

Nas peneiras, verifica-se comumente a separação dos atletas em idade cronológica. Porém, a ciência do esporte traz que, tal segregação potencializa os cenários de desvantagens físicas e cognitivas. Diante disso, favorece o conceito presente na literatura intitulado como o efeito da idade relativa. Ou seja, os pesquisadores afirmam que no processo de seleção, os clubes acreditam ser mais vantajoso selecionar atletas nascidos nos primeiros meses do ano em relação aos nascidos nos últimos meses. Justamente pelo fato do indivíduo amadurecer mais precocemente.

Sendo assim, convém ressaltar que a variabilidade biológica se mostra exposta dentro de um grupo com a mesma idade cronológica. Portanto, é mais vantajoso você captar jogadores maturados ou aqueles que evidenciam alta capacidade de adaptação? Quem evoluirá mais ao decorrer das categorias de base?

Aspectos psicológicos na identificação de talentos no futebol

De forma simples, os avaliadores, em peneiras ou processos de seleção, raramente analisam os fatores psicológicos do atleta, por exemplo: liderança, união, ansiedade, entre outros. Assim, se justifica que a necessidade de uma equipe interdisciplinar é primordial nessas situações. Além disso, as seletivas de futebol costumam durar cerca de 1-2 dias, originando-se mais pressão no jovem.

Oportunidade e caminhos para seleção de atletas

Na intervenção das peneiras, haveria a possibilidade de separar os indivíduos em ordem biológica. Para isso, um jogador de 15 anos que não atingiu o seu estado maturacional, poderia jogar com jovens de 13 e 14 anos. Consequentemente, um jovem de 13 anos mais maturado, conseguiria competir com jogadores do perfil físico semelhante.

Caso não haja tempo para a divisão supramencionada, vale salientar um estudo realizado com alguns olheiros do clube PSV Eindhoven. Para o fácil acesso à idade dos jogadores, os pesquisadores separaram a idade cronológica utilizando os números dos coletes em ordem crescente. Logo, foi minimizado o efeito da idade relativa, pois a informação da idade foi transmitida adequadamente.

Já em relação aos fatores psicológicos, uma alternativa seria trazer os jovens das peneiras junto à equipe durante 2 semanas. Evidentemente não seriam todos de forma simultânea, mas sim havendo uma alternância entre os inscritos. Deste modo, os treinadores de futebol ofereceriam mais estabilidade emocional para os atletas. Como efeito, reduziria a pressão imposta pelo curto prazo do processo seletivo.

Tais medidas são importantes para promover uma captação de talentos mais justa e precisa. Por isso, é imprescindível que o treinador de futebol apresente uma visão mais pormenorizada. Bem como, sempre dialogar com as ciências do esporte, conseguindo contribuir para a melhor qualidade destes julgamentos. Afinal, o nosso capitão do penta participou de 9 peneiras.

Essas seletivas apresentaram muitos erros ou Cafu não tinha talento?

Links Relacionados

O processo avaliativo para captação de atletas de futebol nas categorias de base dos clubes profissionais do Rio Grande do Sul

U.S. Soccer Launches Bio-Banding Initiative Aimed At Developing Late-Blooming Prodigies

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Dicas para o ensino em escolinhas de Futsal

O Futsal é uma das modalidades que mais vem se difundindo no mundo e em nosso país, tanto no âmbito escolar, quanto fora dele. E consequentemente a procura por escolinhas de futsal também aumenta. Dessa maneira, acredita-se que este aumento pode ter como uma das suas origens, a aceleração do crescimento urbano nas grandes cidades.

Há tempos atrás era comum observar as crianças brincando livremente pelas ruas, jogando bola em terrenos vazios de seus bairros, havia espaço livre. No entanto, surgiram as fábricas, os prédios, as casas foram tomando conta dos campos de várzea. Depois disso foram desaparecendo os bobinhos, as peladas, as rebatidas.

Posteriormente, a alternativa foi se readaptar e buscar essa alegria em jogar bola, nas escolinhas, associações, projetos esportivos, entre outros que contam com o auxílio de profissionais capacitados para ensinar.

O futsal e a iniciação esportiva

A busca pelo treinamento se inicia principalmente na infância como descrito acima. Mas qual o caminho pedagógico a seguir na iniciação que possa englobar uma proposta específica da modalidade e uma proposta educativa em escolinhas de futsal?

Em primeiro lugar essa resposta é construída a partir do planejamento do professor, da metodologia e dos conteúdos aplicados no treinamento. Em suma estes princípios pedagógicos utilizados pelo profissional é que resultarão em determinados comportamentos dos alunos.

Além disso, é importante esclarecer que as modalidades coletivas são caracterizadas por uma estrutura lógica interna composta por seis elementos:

  • A bola,
  • o espaço,
  • as metas (gols),
  • as regras,
  • os colegas,
  • e os adversários.

Essa relação entre os elementos ocorre a partir do desenvolvimento da partida, chamada de lógica funcional, ou seja, o que vai acontecer no jogo durante as relações entre as duas equipes.

Assim, a estrutura da lógica funcional tem como base os princípios operacionais, que sustentam a dinâmica do ataque e defesa. Da mesma forma, estes princípios norteiam todo o processo de jogo e a realização das ações coletivas e individuais dos atletas.

Consequentemente estes princípios ficam muito próximos daquilo que quero ensinar no treino. Pois são estruturas do jogo de futsal e o professor tem uma base para definir a sua metodologia, o que ensinar e quais os conteúdos terão mais ênfase dentro do planejamento.

A importância da ludicidade nas escolinhas de futsal

A princípio devemos entender que na primeira infância, aos 06, 07 anos, o ambiente deve ser favorável à brincadeiras, com um repertório rico de gesto motor e possibilidades de conhecer vários materiais. Inclusive com uso de raquetes, diferentes tipos de bola, sem uma sistematização rígida.

Mas qual a importância das brincadeiras e do ambiente lúdico na iniciação?

Em síntese, a criança aprende quando está interessada na atividade, e logo ela precisa de situações desafiadoras. A aprendizagem é ativa, se dá pela assimilação e acomodação, momento em que a criança começa a criar novos recursos para determinadas situações problemas. As atividades lúdicas devem despertar o interesse da criança, pois a estimula a se adaptar a novos ajustes dentro da brincadeira, que resulta em conhecimento.

Em contrapartida, a atividade lúdica deve ser contextualizada e deve abranger os elementos da estrutura lógica da modalidade. Assim, o rondo ou o bobinho em movimento com poucos alunos, possibilita o desenvolvimento de fundamentos do Futsal dentro de situações próximas ao jogo. É uma atividade que exige mais do aluno, há uma relação constante entre adversário, colega, espaço e bola. Torna-se diferente de colocar dois alunos, um de frente para o outro, para treinar passe. Isso é monótono na maioria das vezes, criança gosta de brincar e isso a motiva.

Possibilidades de ensino na iniciação ao futsal

Contudo, o mais importante ao planejar a aula em uma escolinha de futsal, é que o ambiente de treino seja rico de possibilidades motoras, de experiências e vivências positivas para o aluno. Da mesma forma, o professor deve possibilitar esta diversidade sem descartar a importância da especificidade. Dentro do contexto tático é importante que as crianças vivenciem diversas situações dentro das fases de jogo e nas distintas posições na quadra: jogar próximo de quem tem bola; ocupar espaço para atacar e defender o seu gol, entre outros.

Os Jogos de 1×1, 2×1, 3×2 com objetivo de marcar gols, possibilitam desenvolver além dos fundamentos do futsal, situações reais do jogo, tais como: passar a bola para o colega, sair da marcação do oponente, proteger a sua trave, compreender o que são linhas de passes, entender a dinâmica de estar com e sem bola (ataque e defesa),  e demais situações.

É possível aplicar o 5×5 na iniciação? É possível, por outro lado deve ser adaptado dentro do nível de jogo da criança. Ao selecionar os conteúdos, os mesmos devem estar de acordo com a realidade social, a faixa etária e as possibilidades sócio cognitivas dos alunos. Ou seja, se faz necessário ajustar o treino dentro das possibilidades da criança, para que não se perca a lógica tática do futsal descrita anteriormente.  

Por fim, a prática do futsal em escolinhas de futsal deve ser abordada num ambiente em que os valores de cooperação, emoção positiva, respeito, encorajamento das crianças estejam presentes. Sobretudo, que o treino que se encaixe na “bagagem” de experiências dos alunos, pautando-se numa diversidade pedagógica e educativa.

Links de referência

Instagram da autora: @torettidefaveri

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Marketing em escolas de futebol

É mais comum ações de marketing envolvendo o time principal. Quase não se vê o marketing nas categorias de base. O fato do time principal dar um retorno financeiro maior para a instituição é um dos motivos para que isso aconteça. Porém, os clubes podem ver a base como um atrativo ou uma forma de engajar mais torcedores e atrair novos jogadores. Principalmente com o marketing em escolas de futebol.

Nesse sentido, mesmo os clubes de maior expressão possuírem maior poder aquisitivo, eles não realizam ações voltadas para o marketing em suas escolas de futebol. O marketing poderia ser utilizado como um recurso de captação de patrocínios também para a categoria de base. Além disso, poderia promover ações para aproximar os torcedores dos futuros craques, e com isso trazer um retorno a mais para o clube. Assim, as categorias de base se consolidariam importantes também para a formação dos atletas, onde surgem os grandes craques.

Como é o marketing em escolas de futebol?

A princípio, alguns clubes utilizam da internacionalização de marca para fazer com que as categorias de base sejam mais conhecidas dentro e fora do país. É possível através de ações ou jogos fora do país fazer com que cada vez mais pessoas sejam atraídas pelo clube. Assim como campeonatos mais atrativos e ações bem planejadas e executadas. Com isso os clubes podem ganhar mais recursos financeiros e consequentemente conseguir mais parceiros interessados em patrocinar a base.

Por fim, apesar de pouco explorado, o marketing em escolas de futebol necessita de mais interesse do clube. Porque se o clube demonstrar forte interesse, certamente os torcedores irão abraçar as categorias menores também. Algumas formas de impulsionar as categorias de base são o engajamento nas redes sociais do clube e ações antes dos jogos do profissional.

Veja abaixo um episódio em nosso Podcast sobre o assunto:

Contato da autora – Instagram: @borges_aline08

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