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Qual diferença entre Jogo de Posição e Ataque Posicional?

O jogo de posição é um termo que vem ganhando força no futebol moderno, porém muita confusão ainda é feita quando o relacionamos com o ataque posicional. Portanto, neste texto vou esclarecer as diferenças entre esses dois conceitos:

Ataque posicional

A princípio, o ataque posicional foi definido por Júlio Garganta em 1997, na sua tese de doutorado denominada Modelação Tática do Jogo de Futebol. Nesta tese o autor nos apresenta os três métodos ofensivos fundamentais: ataque posicional, ataque rápido e contra-ataque.

Conforme o professor Júlio Garganta, o ataque posicional é o mais demorado dos três. Possui, como principais características, os passes curtos, desmarques de apoio e coberturas ofensivas. Além disso, a literatura da área nos apresentam outras 5 particularidades desta forma de atacar:

  • 1 – a bola é conquistada no meio campo defensivo ou ofensivo e a equipa adversária apresenta-se equilibrada defensivamente;
  • 2 – a circulação da bola é realizada mais em largura do que em profundidade, com passes curtos e desmarcações de apoio;
  • 3 – realiza acima de 7 passes;
  • 4 – tempo de realização do ataque elevado (superior a 18 segundos);
  • 5 – ritmo de jogo lento em comparação aos dois outros métodos (menor velocidade de circulação da bola e dos jogadores).

Jogo de posição

Já o jogo de posição é uma cultura de futebol presente há muitos anos no esporte, no entanto, diferentemente do ataque posicional, sua origem não foi científica, mas no próprio esporte. Podemos verificar muitas literaturas, principalmente vindo da Europa, sobre o Jogo de Posição, além de muitos treinadores com relevância no cenário esportivo já terem falado sobre o tema. Porém ainda não temos este assunto aprofundado em termos acadêmicos, com validade científica.

O jogo de posição possui algumas características marcantes, como:

A bola vai até o jogador, e não o contrário

Os jogadores possuem zonas de campo em que devem se movimentar, ou seja, sua posição será pré-determinada pelo técnico e dependerá de onde está a bola. Dessa forma, os jogadores devem movimentar-se na sua faixa de atuação, não sendo possível sair dela para buscar a bola, por exemplo.

Sendo assim, um vídeo que relata muito bem essa situação é o de Henry, que explica num canal de TV como Guardiola pensava o Jogo de Posição.

Busca gerar vantagens (numérica, qualitativa, posicional, cenestésica e sócio afetiva)

O jogo de posição sempre visará criar vantagens. Desse modo, recomendo a leitura do texto 5 maneiras de criar vantagens no futebol. A partir deste texto vocês entenderão melhor cada uma das vantagens e em como podemos usá-las ao nosso favor.

Achar o jogador livre

No jogo de posição é incansável a busca pelo jogador livre. Para que isso ocorra é importante haver trocas de passes rápidos, que envolvam o adversário, além de tentar atrair o adversário para uma faixa de campo e, depois, soltar a bola em um local menos ocupado, com jogadores livres.

Assim, um meio muito utilizado para achar o jogador livre é o terceiro “homem”. Esse mecanismo irá interligar 3 jogadores, sendo o último a receber a bola o jogador livre.

Formar triângulos entre os jogadores

Você já deve ter ouvido falar sobre a criação de triângulos entre os jogadores. Portanto esses triângulos irão lhe proporcionar, pelo menos, duas opções de passe. Dessa forma será possível mover o time através de passes curtos, os quais são mais fáceis e possuem menos probabilidade de erro. Veja o esquema tático a baixo:

Fonte: Criado pelo autor usando o tactical-board.com

Boa gestão espaço-temporal

Futebol é um jogo de tempo e espaço. Se você conseguir ter espaço, terá tempo. Caso o seu time consiga criar espaços, haverá mais tempo para pensar e resolver aquela situação problema. Entretanto, ao contrário, se você não consegue achar os espaços, seu tempo para pensar será muito reduzido, o que aumenta as chances de erro.

Além disso, Xavi, ex-jogador do Barcelona, explica muito bem nesse vídeo como ele enxerga o futebol e como o tempo e espaço são os bens mais precioso desse esporte.

Compactação no ataque e na defesa

A compactação está presente tanto no ataque como na defesa. Mas por quê? É fácil de responder essa pergunta. Pois no ataque queremos os jogadores próximos para os passes serem mais preciso e rápidos. Já na defesa devemos estar compactados, a fim de reduzir os espaços entre os jogadores e, assim, diminuir os espaços para o adversário jogar.

Está presente tanto no momento ofensivo como defensivo

O jogo de posição não visa somente o momento ofensivo, ele também está presente na hora de se defender. Um dos princípios do jogo de posição é ter a bola, portanto, é importante recuperá-la o mais rápido possível quando a perdemos. Dessa forma, isso só é possível realizando uma pressão pós perda com jogadores próximos uns dos outros e de forma sincronizada. 

Marcação pressão zonal

Esse estilo de marcação também é uma característica do time adepto ao jogo de posição. O objetivo é pressionar o jogador e, para isso, cada defensor fica responsável por uma zona de marcação. Assim, um jogador pode pressionar o portador da bola enquanto os companheiros retirar suas linhas de passes.

O ataque posicional não está dentro do jogo de posição

Muitas pessoas acreditam que o ataque posicional é uma fase que está presente dentro do jogo de posição, se referindo ao primeiro com o momento ofensivo do segundo, porém isto não necessariamente é verdade. Os dois possuem características parecidas. Dessa forma, se a equipe que está atacando respeitar as características do ataque posicional e do jogo de posição, podemos falar sim que eles se interligam. Porém, se algumas das características não estiverem presentes no modelo da equipe atacar, eles não podem ser misturados.

Desse modo, é importante também ressaltar que o Jogo de Posição é uma cultura de jogo que engloba tanto as organizações ofensivas como defensivas, como as transições ofensivas e defensivas. Já o ataque posicional visa somente a organização ofensiva, sem se ater as outras fases do jogo.

Contato do Autor:

 @Christopher_suhre

Link de Referência

Jogo de posição x Ataque posicional – Rafael Marques Oliveira

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Futsal: Características do sistema tático ofensivo 3.1

O sistema tático ofensivo de uma equipe nada mais é que a distribuição dos atletas na quadra de jogo com o objetivo de propiciar, de forma organizada, a possibilidade de marcar um gol. Além disso, os sistemas de jogo de ataque visam facilitar tanto as situações coletivas – como a troca de passes e a ocupação efetiva de espaços; e situações individuais, buscando deixar jogadores mais habilidosos em melhores condições para o 1×1 (um contra um). De antemão, é sempre necessário lembrarmos que:

“Não existe melhor ou pior sistema tático ofensivo!”

A princípio, nós já falamos aqui sobre os principais sistemas táticos ofensivos do Futsal. Do mesmo modo, vimos que é de suma importância a definição de um desenho ofensivo que melhor se adeque à equipe. Assim sendo, hoje falaremos sobre as principais características do desenho ofensivo 3.1 (três-um).  

Fonte: criado pelo autor por TacticalPad

Distribuição das linhas do sistema 3.1

Em primeiro lugar, muitos avanços táticos no Futsal ocorreram a partir do desenvolvimento, versatilidade e eficácia do sistema 3.1. Nesse sentido, o 3.1 é um dos desenhos que os treinadores mais utilizam, pois, a partir dele, é possível realizar inúmeras jogadas ensaiadas, bem como atribuir diversas variações aos famosos “rodízios” de três e quatro jogadores.

Para tanto, o desenho 3.1 distribui suas linhas da seguinte forma:

  • A 1ª (primeira) linha é composta por um atleta, na qual, tanto o fixo quanto um dos alas ocupam a posição. Assim, o atleta que preenche este espaço tem função de armador.
  • A 2ª (segunda) linha, denominada linha de apoio, é composta por dois atletas. Por sua vez, é responsável pelas buscas e aproximações, que tendem facilitar a mobilidade da equipe, bem como assegurar o processo de posse de bola eficaz. Em suma, os alas, normalmente, ocupam esta linha.
  • A 3ª (terceira) linha, ou linha de sustentação ofensiva, é muito importante, devido a sua especificidade. Geralmente o pivô é o responsável por ocupar a linha, o qual, na maioria das vezes, atua de costas para o gol adversário. Assim, devido as características particulares, a posição de pivô requer atenção especial no que diz respeito ao jogo ofensivo.
Fonte: criado pelo autor por TacticalPad

Sistema 3.1 com sustentação ofensiva nas alas

O sistema tático 3.1 com sustentação ofensiva nas alas forma uma espécie de braço alongado para o ataque. Logo, este sistema possibilita as mais diversas formas de evolução ofensiva, dado que o pivô ganha mais liberdade para movimentar-se.

Ainda assim, o sistema 3.1, sem pivô de referência, possibilita movimentações dos quatro jogadores de linha na quadra. Nesse sentido, é possível ocorrer a rotação dos jogadores das 1ª e 2ª linhas para se infiltrarem na zona defensiva adversária; e do atleta, que antes ocupara a 3ª linha, recuar para o apoio ou armação.

Fonte: criado pelo autor por TacticalPad

Condições para aplicação do sistema tático ofensivo 3.1

Alguns autores defendem que os treinadores devam utilizar este sistema em quadras com dimensões média e grande, pois, acreditam que facilita o jogo de pivô, com infiltrações e tabelas. Contudo, não faremos juízo de valor quanto a essa questão. Fato é que, no sistema 3.1, os atletas se movimentam muito, portanto, acreditamos que equipes mal preparadas fisicamente ou que não possuam um plantel hábil para atacar, marcar e armar com a mesma eficácia, não devem utilizar o sistema.

Links de Referência

  • Futsal – Da Formação ao Alto Rendimento: Métodos e Processos do Treinamento

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Análise no Futebol deve ser quantitativa ou qualitativa?

O jogo de futebol é algo muito complexo para retirar muitas informações. Por isso, este texto abordará qual a melhor forma de realizar uma análise no futebol, deve ser quantitativa ou qualitativa? Portanto, vamos entender qual a melhor forma de analisar o jogo na área de análise de desempenho.

Primeiramente, explicarei o que são dados quantitativos e qualitativos, visto que muitas pessoas ainda confundem as nomenclaturas.

Dados Quantitativos

Os dados quantitativos são medidos, quantificados, ou seja, são representados através de números. Dessa forma, podemos citar os exemplos de posse de bola das equipes, quantidade de finalizações, desarmes, roubadas de bola, passes certos e errados, etc.

A análise quantitativa consiste na medição da performance e é geralmente expressa em números.

Dados Qualitativos

As informações qualitativas são um pouco diferentes, pois elas não são medidas, mas sim, avaliadas. Esse tipo de informação conta com uma subjetividade muito grande do analista de desempenho, pois, como não há uma “cartilha” do que é certo e errado, ele deverá identificar o acontecimento e analisar o que foi feito e/ou o que poderia ter sido realizado naquela situação. Portanto, vamos exemplificar isto com algumas situações: disposição dos atletas no momento de atacar e defender, como o jogador pressionou o adversário, qual a postura corporal adequada em determinadas situações, domínio orientado ou não, etc…

Na análise qualitativa, baseamos a nossa análise na impressão que retiramos daquilo que vemos!

Podemos perceber que, tanto as variáveis quantitativas quanto qualitativas, recolhem inúmeras opções de dados. Assim, o futebol nos apresenta tantos momentos, fases, princípios, subprincípios e afins que a nossas opções de coleta de informações é enorme.

Qual a melhor forma na análise no futebol?

Mas então, qual a melhor forma para obter as respostas sobre um jogo de futebol? Da maneira qualitativa ou quantitativa?

Imagine que você seja o responsável por analisar um treino ou jogo de futebol. Dessa forma, deverá recolher e levar para o treinador um relatório com as informações positivas e negativas. O que você priorizará? Dará mais ênfase aos aspectos quantitativos ou qualitativos?

Para ajudar você com essa dúvida irei esclarecer os pontos positivos e negativos sobre cada um desses modelos de análise.

Pontos positivos e negativas de análise no futebol

Dados Quantitativos

Os dados quantitativos lhe darão uma medição sempre objetiva das ações do jogo. Você poderá analisar, por exemplo, qual jogador do adversário mais comete erros de passe, a fim de pressioná-lo de uma forma mais intensa para recuperar a bola.

A análise estatística é como uma tentativa de corrigir o juízo subjetivo. Ou seja, alguns autores acreditam que a análise estatística é a melhor forma para analisar uma partida, visto que seu grau de erro é quase nulo, já que utiliza como base os indicadores objetivos, de acerto ou erro.

Porém, este método de análise também conta com aspectos negativos. Um desses pontos é a baixa compreensão geral de uma partida, pois seus dados apenas apresentam pontos específicos, ou seja, não nos apresentam em que situações ou como esses acertos ou erros ocorreram.

Dados Qualitativos

Os dados qualitativos lhe darão outra expectativa quanto a análise das partidas. Você não terá aquela precisão e objetividade das variáveis quantitativas, porém você conseguirá avaliar as ações tomadas de forma individual, grupal ou coletiva e, dessa forma, verificar se as decisões foram corretas ou se havia outras opções melhores.

Assim, caso você consiga identificar essas variáveis subjetivas e analisá-las da melhor forma, é possível dar feedbacks aos atletas e melhorar suas habilidades técnicas, táticas e cognitivas. O comportamento do Futebolista inteligente leva ao desenvolvimento de um comportamento táctico individual que se harmoniza com o resto da equipa, adaptando-se às variações de jogo, desenvolvendo a táctica coletiva.

Contato do autor : @Christopher_Suhre

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Como aprimorar o desempenho do jogador de futebol?

Normalmente escrevo somente sobre análise de desempenho. Mas dessa vez resolvi tocar em outro assunto: como podemos aprimorar o desempenho do jogador de futebol? Primeiramente, quando digo desempenho, estou me referindo a variáveis técnicas, táticas, físicas e cognitivas. Vamos ver alguns métodos de periodização de treinos que podemos aplicar para auxiliar o jogador a se desenvolver melhor.

A periodização do treinamento desportivo

Os treinamentos de futebol evoluíram muito com o passar dos anos. A princípio o método de treino denominado de Modelo Clássico, nasceu em 1950, tendo o russo Leev Pavlovtchi Matveev como grande influenciador. Portanto, Matveev é conhecido até hoje como pai da periodização do treinamento desportivo.

Naquela época, os treinos eram mais voltados ao atletismo e tinham poucas especificidades quando aplicadas no futebol, inclusive o método de Matveev. No entanto, por ser o pioneiro nessa área, ele acabou abrindo as portas para outros inúmeros métodos de treinos, cada um com características distintas. Ou seja, Matveev foi importantíssimo para a história do treinamento.

Periodização Tática no futebol

Atualmente vemos um grande apreço de profissionais do futebol para a periodização tática, criada por Vitor Frade, grande escritor e pesquisador de futebol Português. Desse modo, essa metodologia veio ganhando o mundo após Mourinho utilizá-la nas grandes equipes que treinou, resultando em muitos títulos.

Em resumo, essa metodologia de treino é baseada nos 4 momentos do jogo, Organizações ofensiva e defensiva e as transições ofensivas e defensivas. Além disso, ela é guiada pelo modelo de jogo da equipe.

Além desses aspectos, a Periodização Tática não discrimina a tática, a técnica, o físico ou o psicológico em detrimento de outro. Ou seja, ela visa trabalhar todos esses fatores de forma integrada, capacitando o atleta para todas essas questões dentro do jogo.

Diferenças entre as metodologias

A partir dessa observação breve sobre duas metodologias de treino, podemos verificar diferenças entre elas, assim como há diferenças entre os treinos analíticos, sistêmicos, microciclo estruturado, etc. Agora as perguntas que faço a você é: Como você irá extrair o melhor do seu atleta? Qual treino você utilizaria? Treinaria o todo ou alguns aspectos específicos?

Vemos que essas perguntas não são fáceis de serem respondidas, afinal, levam em consideração muitas variáveis e quesitos. Mas quero deixar aqui algumas respostas que podem melhorar sim o desempenho do jogador.

A busca visual e o desempenho do jogador de futebol

Após um estudo de Kyrre Fagereng, denominado “A Real Game Examination of Visual Perception in Soccer” (Um exame real de percepção visual no futebol). No qual visava verificar quantas vezes os jogadores olhavam ao seu redor antes de tomarem uma decisão e como ocorria essa correlação, foi verificado que, quanto mais vezes um jogador realiza a busca visual ao seu redor, a fim de conhecer o espaço e jogadores em volta, mais ações corretas ele tomará. Ou seja, a correlação é positiva e, se o jogador olhar mais ao seu redor, mais ele terá probabilidade de acertar passes, finalizar em gol, etc.

Assim, isto nos permite identificar um padrão de jogo dos melhores jogadores. No ano do estudo acima citado por exemplo, os jogadores com melhores índices nesses quesitos foram Lampard e Gerrard. Dessa forma, podemos treinar este fundamento com intuito de melhorarmos a tomada de decisão do nosso atleta e assim melhorar o desempenho do jogador de futebol.

Tomada de Decisão no futebol

Em resumo, a tomada de decisão é aquilo que você fará após analisar todas as outras possibilidades possíveis. Ou seja, você analisará o problema atual daquela situação e fará uma ação para resolver essa questão. Dessa forma, se você souber as principais “soluções” possíveis para aquele problema, será mais fácil de tomar a decisão “correta”.

Portanto, obviamente essa tomada de decisão ocorre em milissegundos quando falamos de uma partida de futebol. Ou seja, o jogador precisa cada vez ser mais rápido no diagnóstico do problema para resolvê-lo da melhor forma.

Isto está dentro dos três níveis de constrangimentos num jogo de futebol:  i) no plano perceptivo, enquanto os jogadores devem perceber e analisar a situação que se lhes depara; ii) no plano decisional, porque têm que conceber e escolher uma solução; iii) no plano motor, dado que devem agir numa situação de oposição, em crise de tempo e de espaço, utilizando os recursos disponíveis.

Dar feedbacks aos jogadores de futebol

Os feedbacks são uma das formas interessantes de ajudar o atleta a rever suas decisões tomadas e refletir se aquela realmente foi a melhor escolha. A instrução e a demonstração são normalmente fornecidos para melhorar a prática, dando ao aprendiz informações importantes no que diz respeito à execução de uma ação específica, e/ou ao objetivo da ação.

Assim, implica providenciar informação em relação a padrões de movimentos ótimos, e feedback para os erros em relação a determinados objetivos. Isso permitirá melhor desempenho do jogador de futebol.

Descoberta Guiada no desempenho do jogador futebol

Por fim, podemos também citar a descoberta guiada para auxiliar o jogador a melhorar seu desempenho. Essa teoria visa ajudar o jogador a chegar na melhor decisão, porém deixando que ele mesmo descubra como. O técnico, a partir dessa técnica, tem o papel de auxiliador, dando dicas de como seria melhor. Dessa forma o jogador terá que pensar no que fará e o porquê fará, dando a ele, melhores condições de resolver problemas futuros.

Fontes e Referências:

Modelação táctica do jogo de Futebol. Estudo da organização ofensiva em equipas de alto rendimento. Tese de Doutoramento. FCDEF-UP.

A análise do jogo em Futebol. Um estudo realizado em clubes da Liga Betandwin.com. Dissertação de Mestrado. Lisboa: FMH-UTL.

A Real Game Examination of Visual Perception in Soccer.

Autor: @christopher_suhre

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Como é a estruturação da análise de desempenho no Futebol?

A análise de desempenho no futebol é um tema muito comentado atualmente. Mas, você sabe o que mais pode ser encontrado em um Departamento de Inteligência de um clube? Com a análise de desempenho, outras sub-áreas cresceram e deram maior poder ao clube, como a análise de mercado e análise de dados. Então, entenderemos um pouco mais sobre como ocorre essa estrutura em um clube de futebol.

Como a análise de desempenho é estruturada?

A princípio, quando se iniciou o trabalho de análise de desempenho no futebol profissional não havia, necessariamente, um departamento para ela em cada clube. Ela era vista como algo a mais para as comissões técnicas. No entanto, com o passar dos anos, foi identificada a necessidade de estruturar um setor para essa nova área do futebol. Com isso, iniciou-se a formação de Departamentos de Inteligência ou Departamentos de Análise de Desempenho.

Para uma área tão nova (uma das últimas a entrar no meio do futebol), ter um departamento é um salto incrível. Contudo, essa área não ficou limitada somente à análise da sua equipe e do adversário. Assim, ela cresceu e, atualmente, conta com outros campos que interagem entre si e agregam conhecimento para maior assertividade das ações.

Em síntese, se pegarmos um grande clube europeu como exemplo, veremos que o departamento de análise é, normalmente, dividido em 4 setores, sendo os analistas de: 

  • Desempenho (Match Analysts),  
  • Mercado (Scouting),
  • Atletas Emprestados (Loan Analysts) e,
  • Dados (Data Analysts).

Vamos ver o que faz cada um desses subdepartamentos.

Analistas de desempenho (Match Analysts)

Os analistas de desempenho trabalham junto com a comissão técnica. Sua principal função é realizar a análise técnico-tática da própria equipe e do adversário, detectando padrões de movimentos em todas as fases do jogo. Além disso, também ajudam na construção dos treinos, fazem as filmagens dos jogos, análise direta e indireta, edição dos vídeos e transmitem as informações dos jogos e treinos para a comissão e jogadores. Normalmente há de 2 a 4 analistas trabalhando nesse setor.

Analistas de mercado (Scouting)

São os profissionais responsáveis por monitorar atletas para futuras contratações, composto de 3 a 5 profissionais nesta área. Assim como os analistas de desempenho, os analistas de mercado devem ter uma interação com a comissão técnica e time. Porém não tão próximo, visto que seu objetivo é encontrar lacunas existentes no time e, assim, poder verificar qual jogador do mercado se encaixará melhor naquela posição. Dessa forma, é importantíssimo uma boa comunicação com a diretoria do clube também. Pois é lá que se encontram os responsáveis por negociar e contratar atletas. Ela dará o aval se quer ou não aquele jogador. Portanto, quanto melhor a comunicação com comissão e diretoria, mais assertiva será a lista de monitoramento de atletas.

Analistas de atletas emprestados (Loan Analysts)

Como os clubes possuem muitos atletas emprestados, é interessante que se faça um mapeamento de como aquele atleta está atuando no novo time. Dessa forma, é possível verificar se, futuramente, ele poderá integrar o time detentor dos seus direitos ou se uma venda ou novo empréstimo é a melhor opção. Em média 3 profissionais atuam nesse setor.

Análise de dados (Data analysts)

Até 2 profissionais trabalham nesse subdepartamento. Eles serão responsáveis pela criação de relatórios (coletivos e individuais), do desempenho de atletas através da coleta de dados técnicos / métricas do jogo.  Além disso, podem ficar responsáveis por organizar a plataforma de dados (Big Data) do clube.

Assim, talvez o Liverpool seja a equipe referência, quando falamos em criação e uso da base de dados do clube. Como mostra a matéria do The New York Times, o Liverpool desenvolveu, com o Dr. em física teórica, Iam Graham, métricas de jogo que possibilitem uma melhor leitura e mapeamento de atletas. Um case contado pelo periódico é o de Naby Keitá, meio campista que vinha sendo acompanhado a algumas temporadas antes de ser contratado. Foi identificado nele, algumas métricas que aumentavam a expectativa de número de gols da equipe quando ele estava em campo.

Como trabalhar com análise de desempenho no Brasil

É importante ressaltar que usamos referências de grandes clubes do cenário Europeu na estruturação do departamento acima citado. No Brasil, por exemplo, a maioria das equipes não possui o setor de monitoramento de atletas emprestados ou análise de dados.

Também é importante ressaltar que em muitos clubes os setores de análise de desempenho e análise de mercado são de responsabilidade das mesmas pessoas. Visto as dificuldades financeiras dos clubes em pagar outros profissionais para executarem essas funções. Dessa forma, podemos identificar alguns percalços no trabalho do analista no Brasil, que, por muitas vezes, acumula tarefas de áreas paralelas à sua. Porém, é notório a evolução da análise de desempenho no Brasil. Ela está se tornando cada vez mais essencial e com ótimos profissionais envolvidos.

Terceirização de setores da análise de desempenho

Uma prática comum em alguns clubes de futebol é terceirizar setores. Por exemplo, contratar empresas que farão um mapeamento do mercado de atletas ou então de plataformas com bases de dados. Mas, como tudo, há o lado positivo e negativo.

Por vezes, terceirizar o setor acaba sendo algo mais barato, afinal você não terá uma quantidade elevada de funcionários. O que zera os encargos trabalhistas e afins, além de não necessitar criar softwares para armazenar esses dados. Dessa forma a terceirização vem como uma forma prática para os clubes adquirirem basicamente os mesmos benefícios do que criar um departamento.

Porém, também há o lado negativo. Não havendo esse setor no clube, acaba ocorrendo um distanciamento entre comissão técnica e diretoria para com a empresa contratada, visto que se estivesse no clube isso seria um facilitador. Por isso os clubes devem pesquisar muito bem antes de tomar as devidas decisões. Porque às duas formas possuem lados positivos e negativos, cabendo a instituição futebolística entender qual é a melhor para a sua realidade.

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Análise de redes: nova forma de identificar padrões em um jogo de futebol

A complexidade do Futebol faz com que o analisemos através da identificação de padrões. Desta forma apresentaremos a análise de redes, ou análise de redes sociais, que é uma das maneiras mais recentes aplicadas no Futebol para identificar padrões.

O que é a análise de redes sociais?

Em um breve resumo, a análise de redes sociais se utiliza da teoria dos grafos para analisar as relações presentes em estruturas sociais. Dito isto, temos que através desta, é possível com auxílio de grafos, observar as relações dentro de um grupo de amigos, clubes, etc.

Assim, de forma mais clara, há um exemplo conhecido dessas relações e da utilização de grafos para apresentá-las: uma imagem da antiga página do facebook. Esta imagem tem o intuito de mostrar que, através do site, é possível manter relações e interagir com conhecidos, independente da distância que está deles.

Entendeu agora o termo “redes sociais”? Sim, literalmente uma rede, onde cada indivíduo representa um vértice (ou nó) e se conecta com os outros através de arestas (ou linhas).

Por onde começar a análise de redes no futebol?

Para começar é necessário conhecer matriz de adjacência e softwares que, a partir dela, construam um grafo.

Matriz de adjacência

Primeiramente, a matriz de adjacência é a maneira mais utilizada para representar um grafo, mas não é a única. Assim sendo, também é possível através de uma lista de adjacência ou matriz de incidência.

Bom, mas afinal, o que seria uma matriz de adjacência?

A matriz de adjacência nada mais é que uma matriz que apresenta as conexões (ou frequência destas) entre os vértices (ou nós).

Ok, mas como a usaríamos no Futebol?

Então, com ela podemos apresentar as conexões entre os jogadores, sendo por meio do passe a mais empregada. Para contextualizar isso usaremos a imagem abaixo, onde a diagonal principal é composta por 0, pois nenhum jogador troca passes com ele mesmo, e as demais, apenas como exemplo, por 1, sinalizando 1 passe trocado entre os atletas.

Cabe ressaltar que para obter esta matriz será necessário desembolsar dinheiro em alguma plataforma (por exemplo o instat ou wyscout) ou registrar os passes manualmente.

A construção do grafo: os softwares

Após ter em mãos está matriz de adjacência, com auxílio de alguns softwares será possível obter os grafos que apresentem a relação entre os jogadores. Abaixo alguns dos softwares que tornam isso possível:

Caso tenha conhecimento de linguagens de programação, também conseguirá criar grafos com bibliotecas do python, por exemplo.

Partindo para a aplicação da análise de redes no futebol

Antes de começar, é necessário entender o grafo gerado

Então, com a matriz de adjacência em mãos e o auxílio do software escolhido, você conseguirá criar um grafo similar ao da imagem abaixo. Desta forma, será possível encontrar alguns padrões, mas citaremos isso mais adiante, primeiro é fundamental saber que:

  • Os vértices são os jogadores e as arestas a conexão através do passe;
  • Quanto mais grossa a aresta, maior a interação entre os vértices;
  • Quanto maior o diâmetro do círculo verde (que representa o vértice), mais conexões este estabelece com os demais.

Mas e agora, quais padrões podemos identificar?

Analisaremos um jogo!

Vamos usar a imagem acima como exemplo e, com base nela, identificar alguns padrões. Assim sendo, os padrões que, à primeira vista, saltam aos olhos são:

  • Jogador camisa 4 o mais acionado (maior diâmetro);
  • Jogador camisa 5 é quem mais estabelece fortes conexões com os demais;
  • Muita troca de passe entre defensores;
  • Goleiro com forte conexão com os zagueiros, o que pode sugerir uma saída de jogo apoiada com maior frequência;
  • Corredor esquerdo com maior conexão lateral-extremo/ponta, o que pode sugerir a prioridade do lateral direito em se conectar por dentro (mais construtor);
  • Laterais com boas conexões, o que pode sugerir grande auxílio deles na construção;

Beleza, esses são alguns dos vários pontos que conseguimos extrair da imagem, mas nunca se esqueça: a análise de apenas um jogo pode fornecer ideias erradas, pois vários dos padrões podem sofrer influências estratégicas. Ou seja, por exemplo, um jogador mais acionado, como aconteceu com o camisa 4, pode ter sido estratégia do adversário ou do próprio time. Então, não conclua nada após analisar apenas um jogo.

Além dos já citados, haveria outra enormidade de padrões identificáveis. Desta forma, citando apenas um, através da distância mais frequente dos passes seria possível identificar a preferência por um jogo mais apoiado ou direto.

Contato do autor – Instagram: @ralazzarottop


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O que é tática no futebol?

A análise tática no futebol vem sendo cada vez mais importante para os times e jogadores. Mas, para fazermos uma análise de qualidade, precisamos entender o jogo e os momentos nele presente. Logo, quanto mais conhecermos de futebol, melhor será nossa análise.

O que é tática no Futebol?

Vamos começar entendendo o que é essa palavra tão ouvida nos dias de hoje. Tática não é só a forma como o time se dispõem em campo, mas também a maneira que ele ataca e defende, tanto de maneira coletiva, grupal ou individual. Ou seja, se o time avança através do jogo apoiado ou ataque rápido. Se ele defende com duas linhas de 4 ou no 1-4-2-3-1. Se a marcação é individual, por zona ou mista, entre outras tantas formas de atacar e defender. Tudo isso é tática.

Estratégia x tática

Muitos confundem tática e estratégia, porém são coisas diferentes. A primeira está voltada ao todo, como vimos antes, já a estratégia são aspectos menores e usados em partidas específicas.

A estratégia é a maneira como o time irá maximizar seus pontos fortes e diminuir os fracos, além de conter os pontos fortes e explorar os pontos fracos do adversário. Dessa forma, a estratégia é montada com base na tática e visando questões importantes do adversário.

No entanto, vamos imaginar que o time A tem como ponto fraco o lado direito de defesa. Já seu próximo adversário possui o lado esquerdo muito forte no momento ofensivo, com jogadores rápidos e de bom drible. Visto isso, o treinador do time A terá que montar uma estratégia para jogo, visando bloquear o lado forte do adversário.

Quando falamos em tática devemos imaginar algo maior que somente o próximo jogo. Ou seja, ela estará presente em todas as partidas, será o modelo de jogo padrão da equipe nos momentos de atacar e defender.

Momentos e fases do jogo

Eu falei nos parágrafos acima sobre momentos e fases do jogo. Mas, o que são eles? Então, antes de explicar quais os momentos e fases presentes em campo, vamos defini-los.

Momentos: são períodos curtos de tempo, instantes. Eles ocorrerão entre as fases do jogo. Aqui se enquadram as transições ofensivas e defensivas.

Fase: são períodos de tempo mais duradouros que os momentos. Aqui entrará as organizações ofensivas e defensivas.

No futebol temos 5 momentos e fases: Organização ofensiva, transição ofensiva, organização defensiva, transição defensiva e bolas paradas. Vamos explicar cada uma delas.

Organização ofensiva

É a fase em que a equipe tem a posse da bola e irá atacar de forma organizada, ou seja, os jogadores ocupam sua posição/função no campo e buscam maneiras de chegar ao gol adversário.

Transição ofensiva

Momento da partida no qual a equipe recupera a posse da bola e busca atacar de forma muito rápida, procurando os espaços deixados pelo adversário. A partir do ponto que a equipe roubou a bola e iniciou o ataque, passará de transição para organização ofensiva, mesmo que essa não esteja devidamente “organizada”. Ou seja, a transição será somente um instante que precede a fase ofensiva.

Organização defensiva

Assim sendo, a organização defensiva se refere à fase em que o time está postado na defesa, visando roubar a bola e dificultar as ações ofensivas do adversário.

No exemplo abaixo vemos a equipe amarela se defendendo no 1 4-4-2 em linha. As formas de organização defensiva são diversas e ilimitadas. Cada equipe se ajusta conforme a tática planejada pelo treinador

tática no futebol
Fonte: criadopelo autor em www.tactical-board.com

Aqui usamos o exemplo da equipe defendendo em bloco baixo. Porém a organização defensiva pode ocorrer em qualquer faixa do campo, como em uma pressão na saída de bola, por exemplo, visto que a sua referência é a estruturação da equipe e não o local do campo em que está acontecendo.

Transição defensiva

Como vocês já devem ter percebido, esse momento se refere ao instante logo após perder a bola. Ou seja, assim que o adversário recupera a bola, você transita para a defesa, visando não permitir que o adversário chegue ao seu gol. 

Bolas paradas

Nestas situações entram todas as bolas paradas do jogo (escanteios, faltas, pênaltis e laterais), tanto ofensivas como defensivas. Visto que cada vez mais a bola parada é um meio de vencer partidas, a análise tática se preocupa muito em verificar padrões de movimentações dos adversários e estilos de cobranças, com objetivo de estar preparado para futuras jogadas. Assim como criar jogadas para sua equipe, afim de marcar gols.            

O mais interessante nos momentos do jogo é que eles acontecem muitas e muitas vezes na partida e em todos os locais do campo. Dessa forma a análise fica complexa, pois cada um desses momentos englobará diferentes atletas e quantidade de jogadores. Podemos então, através dessa visão, verificar a complexidade do jogo e dos momentos que ele nos proporciona.

Júlio Garganta disse que: “Durante uma partida surgem inúmeras situações cuja frequência, ordem cronológica e complexidade não podem ser previstas, exigindo uma elevada capacidade de adaptação e de resposta imediata por parte dos jogadores e das equipes a partir das noções de oposição presentes em cada fase de jogo.”

Criação de um modelo de jogo

Agora vocês já sabem o que é tática, estratégia e os momentos do jogo. Então irei citar um aspecto muito importante na criação do modelo de jogo. Os JOGADORES.

Todo jogador possui características próprias e diferentes dos demais. Ou seja, não podemos querer que atletas diferentes exerçam exatamente a mesma função, afinal, eles não são iguais. Portanto é de suma importância saber a “matéria prima” que se tem nas mãos.

Você não usa limões para fazer suco de uva, correto? Então analise o elenco que está a sua disposição, com objetivo de conhecer melhor cada atleta e colocá-lo em posições que renda mais, maximizando seus pontos positivos e minimizando os pontos fracos.

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Como analisar o jogo de futebol em sua máxima complexidade?

Complexo, por quê?

Um jogo oficial de Futebol é disputado simultaneamente por 22 atletas. Com o aumento do número de substituições devido à pandemia, esse número pode ser 32. O jogo também possui em média um espaço limitado de 7140m² (105 de comprimento por 68 de largura). Além disso, também há limitação temporal, 90 minutos, sem contar os acréscimos. E a limitação de conduta, através de várias regras que regem o jogo, cujo objetivo principal é ter vantagem no placar. Tudo bem, nada que vocês não saibam, mas é a partir disto que podemos falar sobre o quão complexo é este esporte. Portanto, entenderemos mais sobre a complexidade do jogo ao analisar o jogo de futebol.

A complexidade do jogo

Todos os atletas em campo possuem vivências, dentro e fora de campo completamente diferentes, características diferentes e personalidades diferentes. Porém durante o jogo todos precisam estar sintonizados e trabalhando conjuntamente. Isso por si só já não é algo complexo? Conseguir que pessoas tão diferentes e únicas estejam conectadas, e “falem o mesmo idioma” em prol de um objetivo comum é algo desafiador.

Ainda temos as inúmeras interações apresentadas durante a partida, sejam elas individuais, setoriais, intersetoriais ou coletivas, com e sem bola, de oposição, entre adversários, e cooperação entre companheiros. Isso tudo acontece simultaneamente em diferentes setores do campo e em distintas dimensões (física, técnica, tática e psicológica).

Dessa forma, podemos citar que o jogo de futebol não segue uma relação linear, de simples causa e efeito, onde a partir de uma ação é possível conhecer a ação posterior. Claro, por vezes podemos deduzir, mas nunca com convicção, pois existem inúmeras variáveis envolvidas na ação (climáticas, condições do gramado, etc.). Sendo assim, uma ação qualquer pode desencadear uma infinidade de diferentes ações.

O detalhe pode fazer toda a diferença

Você já deve ter escutado em algum lugar que o jogo é decidido em detalhes, não é mesmo? Pois bem, o jogo é coberto por diversas variáveis que interferem diretamente no desempenho das equipes. Sendo assim, um simples erro gestual, um posicionamento equivocado, uma desatenção, uma tomada de decisão errada, pode influenciar no resultado final. Isto é, um micro-fato pode causar uma macro-consequência, em outras palavras, algo à primeira vista sem tanta significância pode influenciar no resultado final da partida.

Então, como analisar o jogo de futebol?

A importância do olhar sistêmico

Para analisar o jogo de futebol, você deve se atentar primeiramente para um olhar sistêmico, pois, devido a complexidade do jogo, não é possível realizar uma análise com base em seus fragmentos. Afinal, os jogadores interagem uns com os outros há todo momento de diferentes formas e em diferentes zonas de jogo, com comportamentos modelados pelas convicções da sua equipe.

Em síntese, compreenda o que pode ter influência direta na ação, veja o todo com base nas partes e as partes com base no todo.

Identifique padrões de comportamento

Primeiramente podemos falar sobre análises quantitativas e qualitativas. Com a quantitativa apresentando a frequência das ações, e a qualitativa qualidade destas ações. A primeira mais objetiva e a outra com grande tom subjetivo. Mas, no fim das contas, buscamos por algo que identifique os padrões de comportamentos.

Planejamento e olho treinado

É importante frisar que analisar o jogo de Futebol não é fácil, requer, além do óbvio conhecimento do mesmo, planejamento e um “olho treinado”. O planejamento é necessário para saber o que se busca com a análise, estabelecendo parâmetros referenciais e criando um protocolo. Já o olho treinado, obtido através do estudo dos jogos, serve para reduzir o tempo gasto na identificação de padrões.

Analisar o jogo em toda sua complexidade

Estude o jogo, veja muitos jogos visando identificar padrões, faça cursos, leia publicações, assista palestras e participe de eventos sobre o esporte. Portanto, sempre busque conhecimento.

Na sequência, com a segurança de já possuir o conhecimento para começar, crie protocolos para você saber quais padrões identificar durante cada momento do jogo. O que de fato você quer saber?

  • Em Organização Ofensiva: Busca chegar rapidamente as zonas de finalização ou circula mais a bola?
  • Em Transição Defensiva: Como se comporta quando perde a bola? Perde e pressiona ou retarda para entrar rapidamente em Organização Defensiva?
  • Em Organização Defensiva: Qual altura do seu bloco de marcação?
  • Em Transição Ofensiva: Como se comporta quando recupera a bola? Busca primeiro sair da pressão ou já aciona companheiros com bola longa?
  • Como se comporta nos lances de Bola Parada Ofensiva? Quais padrões apresenta?
  • Como se comporta nos lances de Bola Parada Defensiva? Quais padrões apresenta?

Pergunte ao jogo

De antemão tenha em mente o que você procura, faça as perguntas certas ao jogo e procure os porquês das respostas obtidas.

Seguindo essa mesma lógica, nunca se limite a uma análise superficial, com dados frios e informações descontextualizadas. Afinal, o Futebol é complexo e necessita ser tratado como tal. Erros e acertos podem ser subjetivos, pois além de sofrerem a influência de infinitas variáveis, são suscetíveis às propostas de jogo. Portanto contextualize cada ação, se aprofunde na análise.

  • O que aconteceu?
    • Quem participou?
      • Quando aconteceu?
        • Onde aconteceu?
          • Como aconteceu?
            • Por que aconteceu?

Do mesmo modo, utilize tudo que tenha à disposição. Há várias plataformas e softwares que fornecem excelentes informações e servem como ferramenta. Portanto, tudo que venha a enriquecer sua análise é válido, mas também não se perca em um calhamaço de páginas, seja direto. Enfim, transmita a melhor informação possível, da forma mais direta e didática possível.

Fontes e Referências

Modelação tática do jogo de futebol – Júlio Garganta

Futebol e ciência. Ciência e futebol – Júlio Garganta

Abordagem sistêmica do jogo de futebol: moda ou necessidade? – Júlio Garganta e  Jean Francis Gréhaigne

Contato do autor – Instagram: @ralazzarottop

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Análise de desempenho ou análise tática?

O que é desempenho?

Faça uma reflexão. Para você, o que é desempenho no futebol?

Muitos anos atrás acreditava-se que o desempenho era medido pela técnica. Quanto maior sua técnica, melhor seu desempenho. O que faz sentido, correto? Afinal, se um jogador acerta mais passes, finaliza melhor ou dribla bem ele rendeu melhor que os outros, ou não?

Porém os anos se passaram e o aspecto físico ganhou muita importância. Ou seja, era necessário correr mais que os adversários e ser mais forte. Dessa forma sua performance seria melhor.

Atualmente se tem uma adoração pela parte tática. Ainda mais após o Brasil perder a copa de 2014. A partir desse momento falou-se que taticamente nós brasileiros estávamos atrasados e precisávamos nos desenvolver nesse quesito, afim de melhorarmos nosso desempenho.

Afinal de contas, algum desses pensamentos define o que é desempenho? Sim, esses conceitos estão dentro do desempenho. Porém não de forma avulsa, mas sim, de forma unificada. Além disso, a performance abrange mais que o físico, técnico e tático.

Definição de desempenho

A princípio, vamos definir o desempenho da seguinte forma. Ele engloba o físico, o técnico, o tático e o psicológico, e esses 4 itens estão dentro do contexto social que o indivíduo viveu. Ou seja, a performance é multifatorial e transdisciplinar.

Como assim psicológico? E o que é contexto social? Calma, vamos explicar cada um deles.

Primeiramente vamos falar do aspecto psicológico. Quem comanda o seu corpo é sua mente. Ou seja, ela que determina o que fazer e como fazer.

Vou te fazer uma pergunta. Você já esteve naqueles dias em que não conseguia parar de pensar em algum problema? Foi para o trabalho e seu cérebro não mantinha o foco no que era necessário?! Parecia estar em outro mundo. Isso já aconteceu com todos nós. Portanto, o seu psicológico afetou o seu desempenho.

Dessa forma, afim de solucionar estas questões, os times de futebol contratam psicólogos para auxiliarem seus jogadores a enfrentarem os problemas de pressão da torcida, questões pessoais, etc… Tudo isso visando um melhor desempenho.

“Mente sã, corpo são” Juvenal, poeta romano

O contexto social e a análise de desempenho

Contexto social não é nada mais e nada menos do que os locais e as pessoas que fazem ou fizeram parte da vida do indivíduo. Esses lugares e pessoas criarão crenças no indivíduo.

Imagine o seguinte, o jogador de futebol veio de um meio onde as pessoas diziam que ele não conseguiria realizar seu sonho, não o apoiavam, não acreditaram nele… Caso ele consiga se tornar um jogador, haverá no inconsciente dele a descrença que ele consegue. Isso é algo muito mais profundo do que parece. Podemos chamar isso de crenças limitantes, ou seja, são pensamentos que limitam o seu desempenho.

E isso não cabe somente a jogadores. Todas as pessoas têm crenças limitantes. Portanto, é importante treinar essas crenças, a fim de que elas lhe ajudem a melhorar sua performance, independentemente do que você faz.

Análise de desempenho é análise tática?

Portanto, depois de ver todas as vertentes do desempenho, te pergunto: é correto chamarmos o responsável pelo recolhimento e análise de informações de analista de desempenho? Afinal, ele consegue observar e dar feedbacks em todas essas áreas? Acredito que ainda não.

Por isso gosto de denominar essa vertente de análise tática, afinal, o que normalmente se analisa, são aspectos táticos e técnicos dos jogadores ou dos rivais.

Seria muita prepotência acharmos que somente um profissional da análise tática saberia mensurar e desenvolver por completo o desempenho do seu jogador. Por isso a comissão técnica é dividida em setores diferentes e, cada parte, tem uma grande parcela a acrescentar no desempenho do atleta.

Em síntese, como dizem em Portugal e em algumas regiões da Europa, todos da comissão técnica são treinadores auxiliares. Todos têm o dever e capacidade de, na sua área de especialização, contribuir para a melhora do atleta. Seja ela no âmbito físico, mental, tático, técnico, psicológico ou nutricional.

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Mercado de trabalho do analista de desempenho

A profissão analista de desempenho

O analista de desempenho é uma profissão relativamente nova nos esportes, principalmente no futebol. Ainda mais por ser algo tão recente, muitos mercados vêm se abrindo para essa nova área de atuação.

Atualmente as principais áreas de atuação dos analistas de desempenho são: trabalhos em clubes, mercado de atletas, formação de jogadores, geradores de conteúdos para TVs, rádios e mídias e profissionais que trabalham em big datas ou com softwares.

O que faz um analista de desempenho?

Ser analista de desempenho e trabalhar em clubes é o sonho de muitas pessoas. Em síntese, podemos citar como funções do analista:  planejamento de treinos (com o restante da comissão); registro dos eventos que acontecem em jogos e treinos do seu time e do adversário; e análise desses dados para repassá-los à comissão técnica e jogadores.

Dessa forma, visto os benefícios trazidos pelo analista de desempenho, os clubes investem cada vez mais nesse profissional. No entanto, o futebol acordou tarde para isso se compararmos a alguns outros esportes, como o basquete, futebol americano e beisebol (este último obteve mais visibilidade do público por causa do filme Moneyball: o homem que mudou o jogo).

Antes tarde do que nunca! Portanto, apesar da demora para essa nova forma de ver o futebol, hoje a análise de desempenho é de suma importância para qualquer equipe de alto rendimento que queira ter as melhores informações de seus jogadores, dos adversários e do mercado em geral.

Onde o analista de desempenho pode atuar?

1 – Mercado de atletas

A princípio, muitos analistas migram para outros campos de atuação e, um deles, é o mercado de atletas. Você também pode trabalhar por conta própria ou para empresas que recrutam jogadores. Portanto, em ambos casos é importante você ter um banco de dados com informações dos mais diversos atletas.

Imagine o seguinte: O time X quer contratar um zagueiro, porém não sabe quem. Eles te procuram e pedem jogadores daquela função que se encaixariam no time. Como proceder? Primeiramente você pode averiguar com o clube quais características que eles querem nesse atleta, exemplo: zagueiro canhoto, de no mínimo 1,88m, com bom jogo aérea defensivo e ofensivo e bom desarme. Após averiguar essas informações, você consulta seu banco de dados e verifica quais jogadores se enquadram nessas características. Vejam mais informações sobre isso no texto “importância dos dados para a análise de mercado”.

Nesse nicho de atuação também é imprescindível uma boa leitura de jogo e conceitos futebolísticos ao analista, visto que, quanto mais ele conhece de futebol, mais assertiva serão suas indicações de atletas.

2 – Na formação de atletas

Com certeza você já viu aquele atleta de 17, 18 ou 19 anos que é tido como uma promessa. Mas você sabe exatamente até onde ele pode chegar? Ele será tudo que imaginamos? Ele irá “vingar”? Talvez a análise de desempenho possa ajudar nessas perguntas.

Caso você tenha um atleta jovem, é interessante comparar seus dados com os de outros atletas. Desse modo você pode comparar os dados de um atleta que hoje tem 20 anos com os de diversos jogadores na mesma idade.

Poderá verificar os passes que o jogador dá, para qual direção os efetua, quais regiões do campo onde ele mais se movimenta, de qual local gosta de finalizar. Além das variáveis físicas como velocidade máxima, impulsão, força, entre outras tantas. Dessa forma haverá uma base de dados que pode prever até que ponto o jogador chegará no profissional.

Lembrando que não são só essas variáveis que definirão o atleta. O desempenho é formado por muito mais que o técnico, tático e físico. No entanto esses dados lhe darão um ótimo parâmetro se aquele atleta pode realmente suprir suas necessidades ou se é melhor investir em outro.

3 – Big datas e softwares

Primeiramente vamos diferenciar as duas coisas, pois muitas pessoas colocam tudo no mesmo cesto. Sites de BIG DATAS são grandes bancos de dados que armazenam informações de times e jogadores. Nele você encontra, por exemplo, quantos passes o time realiza por jogo, quais as redes de jogadores que mais se conectam, quantos sprints e qual a velocidade que atingiram os atletas, como são cobradas as bolas paradas dos times e quais os locais que a equipe mais finaliza. Podemos citar empresas como a InStat, Wyscout e  footstats.

Em contrapartida os softwares de análises são programas usados por analistas para esmiuçar os treinos e jogos. Neles você consegue editar o vídeo, fazer marcações de frequência e identificar padrões táticos das equipes. A maioria desses softwares são pagos, porém encontramos alguns gratuitos, como o longomatch, scoutub e GRAVOl.

Com o crescimento da análise de jogos essas empresas tendem a crescer e precisarem de mais mão de obra. E, obviamente, outras empresas virão, ou seja, deixará o mercado mais competitivo e com mais oportunidade de empreender.

4 – Geradores de conteúdo para a mídia

Uma nova geração de amantes do futebol está nascendo. Antigamente as pessoas gostavam de programas esportivos em que haviam debates aflorados, fofocas do meio futebolístico e afins. Mas parece que, cada vez mais, as pessoas buscam entender o jogo, conhecer os porquês das escalações, como os times jogam e as táticas por trás de cada equipe. E nesse contexto a análise de desempenho pode ser útil.

A cada dia que passa vemos mais a mídia querendo nos trazer scouts do jogo e, até em alguns momentos, fazendo aquelas análises táticas em painéis touch. Isso tudo para agradar ao seu espectador. Imagine que, para ter os dados ou fazer as análises, seja necessário alguém que entenda de software e de jogo. Portanto o analista pode se enquadrar nisto. Veja o exemplo do vídeo que Henry explica em uma emissora norte americana como o Barcelona de Guardiola jogava.

5 Analista pessoal

Muitos atletas de alto rendimento têm preparadores físicos particulares, fisioterapeutas e nutricionistas. Todos esses profissionais estão presentes no dia a dia do jogador para melhorar sua atuação em campo.

Do mesmo modo o analista de desempenho também terá lugar nesse meio. Visto que, toda informação que for agregada ao atleta, visando a sua melhora em campo, será útil. Apesar do analista do clube passar informações para o jogador sobre sua performance, é impossível transmitir esses feedbacks para todos os atletas de forma completa.

Certamente o analista pessoal do atleta e o do clube deverão ter uma boa comunicação. Assim ideias irão convergir ao mesmo objetivo. Afinal de contas os dois tem o mesmo objetivo: o melhor desempenho do atleta.

Todos esses mercados mencionados aqui já são de suma importância para o clube e atleta atingirem um bom desempenho. E cada vez mais serão essenciais, visto que surgirão novas tecnologias e novas técnicas de análise. Mas uma coisa sempre será essencial, o entendimento do jogo. Nada substitui esse conhecimento. P

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