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A mulher no esporte: qual o contexto histórico e social?

Analisando o percurso histórico social do futebol e futsal em nosso país, compreendemos que a construção do papel da mulher no esporte é o reflexo da própria sociedade que ela está inserida. Afinal, desde a infância é comum a diferença entre as brincadeiras de meninos e meninas, por exemplo: garotos jogam bola e meninas brincam de “casinha” ou boneca. Não é apenas uma simples afirmação, mas sim entender que as particularidades do gênero humano advêm de um caminho historicamente construído.

A partir desta consciência sobre a historicidade social, vamos relacioná-la com a cultura corporal, tema de estudo da Educação Física. Esta é parte da cultura do homem, é socialmente construída, materializando relações múltiplas nos contextos políticos, filosóficos, competitivos e sociais. Segundo o Coletivo de Autores (p. 130, 2012) “cultura é tudo que o homem faz e produz”. Logo, abordaremos algumas modalidades consideradas fenômenos culturais em nosso país, como o futebol e futsal, analisando as diferenças de gênero. Dessa forma, é necessário compreendermos a autonomia da mulher no esporte, dirigindo equipes ainda muito masculinizadas.

Mulheres treinadoras

Nesse ínterim, ressaltamos que o espaço esportivo consiste na afirmação da identidade masculina, sendo um dos espaços sociais que mais preserva a mesma. Nessa mesma linha, mulheres empoderando-se diante da quebra de paradigmas, impostos por meio do conhecimento científico e liderando equipes esportivas parece uma utopia. Porém, é uma ação afirmativa alcançada por poucas.

O envolvimento da mulher no esporte hegemônico se deu de forma lenta ao longo da sociedade. Nos primeiros conhecimentos históricos, era proibido a participação feminina nos eventos esportivos, inclusive como espectadora. Já no momento seguinte, elas passaram a ser peças importantes nos Jogos Olímpicos modernos, por exemplo.

De acordo com COI (Comitê Olímpico Internacional), dados do ano de 2012 afirmam que a representação das mulheres como competidoras em Jogos Olímpicos se equipara à dos homens. Nesse sentido, nos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012, competiram 4.676 mulheres e 5.892 homens. Na delegação brasileira observou-se também essa tendência de equiparação, visto que, de um total de 259 atletas, 123 (47%) eram mulheres.

Entretanto, cargos de liderança a frente de equipes, seja como treinadoras, coordenadoras, preparadoras e auxiliares técnicas ainda estão abaixo, em comparação com os homens. Assim, um levantamento realizado em 2013, trouxe dados das 259 federações esportivas de 22 modalidades no Brasil. Este estudo apontou que apenas 7% dos técnicos são mulheres. Além disso, do total de federações pesquisadas, 71,4% não possuem mulheres cadastradas como técnicas.

Por que mulheres não se afirmam como treinadoras?

Uma das primeiras razões refere-se às barreiras enfrentadas pelas técnicas. Esta, transparece para as próprias mulheres a percepção de sociedade de que apenas os homens têm capacidade para serem técnicos, atrelando ao aumento das dúvidas sobre a capacidade da mulher, pois é preciso diariamente provar sua competência frente a sua função.

Dificuldade de ascensão

A dificuldade de ascensão na carreira é visível. Isto porque, no contexto nacional, observa-se que a maioria das mulheres se limitam a trabalhar apenas com as escolinhas ou categorias de base. A medida em que avançamos para o alto rendimento, o número de mulheres reduz drasticamente. Dois motivos estão atrelados a este ponto: primeiramente, o domínio masculino que não permitem que a mulher suba de posição, restringindo-as a base da pirâmide (na maioria das vezes); em segundo lugar, a própria mulher acomoda-se, pois quanto mais elevado o nível, maior será a dedicação a vida esportiva. Isto restringiria a vida familiar, cuidado do lar e dos filhos e, desse modo, as mulheres optam pelas bases piramidais.

Aceitação feminina da exclusão

Diante de todas essas razões, nos deparamos com a aceitação feminina da exclusão. Em suma, é possível observar que a maioria acaba se acomodando e interiorizando o domínio masculino. Dessa forma, elas revogam as aventuras de enfrentar os obstáculos, os quais se tornam mais ardiloso do que para os homens. Muitas não conseguem assumir com naturalidade estes costumes sociais impostos desde a infância. Como resultado, acabam admitindo para si “que não vale à pena”, pois a remuneração baixa, falta de reconhecimento e o estresse em comparação a outras profissões desmotivam a caminhada.

Falta de mulher no esporte com perfil para o cargo

Outro ponto importante para ser refletido é a falta de mulheres com perfil para o cargo. É incutido socialmente que a postura firme e o comportamento mais “agressivo” do técnico estejam presente nos treinamentos e partidas oficiais. Entretanto, sabemos que a mulher tem uma sensibilidade e um carisma maior e, por muitas vezes, transparece ao público que a equipe está sem comando. Bourdieu afirma que, para conseguir uma posição, uma mulher teria que possuir não só o que é exigido pela descrição do cargo, como também todo o conjunto de atributos que os ocupantes masculinos atribuem a sua função de treinador, por exemplo: uma voz mais agressiva, segurança e autoridade natural. 

Desistência da carreira

E, por último, a desistência da carreira. Os obstáculos a serem transpostos pelas técnicas são muitos e o caminho é mais “ardiloso”, isto é inegável. A concepção de internalização do domínio masculino acontece justamente por entender que somos o sexo frágil desde a infância, e que futebol e futsal não são lugares para mulher.

A Educação Física e a mulher no esporte

De que forma a educação física escolar pode ser uma ferramenta conscientizadora sobre a ocupação de posições sociais femininas? A prática pedagógica dos professores de educação física pode auxiliar a discussão e embasar cientificamente a relação de gênero nas modalidades, nas quais a prática masculina é mais evidente e vice-versa. Trabalho teórico, atividades práticas com o grande grupo, discussão de artigos e construção interdisciplinar com outras áreas (história, por exemplo) são amostras da vasta gama de formas que o tema pode ser abordado.

Em conclusão, o trato metodológico, quando bem organizado, pautado no princípio de confronto, contraposição de saberes e com uma contemporaneidade de conteúdo, facilitam a apropriação do conhecimento e a compreensão dos alunos enquanto sujeitos históricos. Afinal, eles começam a interpretar a realidade social e cultural. Ou seja, não é do nada que há um número minúsculo de mulheres no esporte liderando equipes masculinizadas. Há muitas razões entrelaçadas com a organização histórica da sociedade.

Contato da Autora:
Instagram: @Torettifaveri

Confira abaixo um episódio em nosso Podcast sobre o assunto:

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Sistemas defensivos do Futsal: conceitos básicos

Nos Jogos Desportivos Coletivos de invasão, como é o caso do Futsal, o processo defensivo inicia-se desde o momento em que a equipe está sem a posse da bola. No entanto, a modelagem estratégica do setor defensivo nem sempre é uma tarefa simples para os treinadores. Vamos entender um pouco mais sobre os Sistemas Defensivos do Futsal.

Desse modo, acreditamos que o primeiro passo para montar um sistema defensivo sólido, é conhecer os conceitos da defesa. Sobre isso, Marquinhos Xavier escreve em seu livro que a importância de compreender os conceitos de jogo devido à necessidade em aliar prática e teoria, visando sistematizar o treinamento.

Portanto, hoje abordaremos dois conceitos básicos que podemos utilizar para montar um sistema defensivo eficiente no Futsal: Zonas de recuperação; e Tipos de marcação.

Zonas de recuperação no Futsal

A princípio, o sistema defensivo do futsal, tem uma divisão da quadra de jogo em três zonas de recuperação:

  • Zona de recuperação I – Setor de atenção redobrada às coberturas defensivas – Setor de alto risco;
  • Zona de recuperação II – Setor de ajustes da marcação – Setor de risco médio;
  • Zona de recuperação III – Setor de marcação pressão – Setor de baixo risco.

Em suma, tendo em vista que cada zona da quadra possui características específicas, a divisão facilita o trabalho do treinador, visto que dessa forma é possível potencializar as ações dentro de um objetivo principal em cada região.

Tipos de marcação no Futsal

Além disso, temos três tipos de marcação no Futsal: individual; zona; e mista.

Marcação Individual

Em primeiro lugar, a marcação individual preconiza a atenção voltada essencialmente para o indivíduo, ou seja, independentemente da posse ou não da bola, cada jogador tem a responsabilidade de marcar um adversário direto. Entretanto, esse tipo de marcação subdivide-se em três: sobre pressão; meia pressão; e pressão meia quadra.

Fonte: criado pelo autor

Marcação Zona

Por outro lado, na marcação zona, independentemente da movimentação dos adversários, cada jogador defenderá uma zona predeterminada. Desse modo, ao contrário da marcação individual, a marcação por zona preconiza a movimentação da bola, em detrimento dos deslocamentos dos atacantes.

Além disso, a marcação zona pressupõe a utilização de alguns desenhos, no caso do Futsal, os mais conhecidos são: Quadrante; Losango; e Funil ou “Y”.

Fonte: criado pelo autor
Fonte: criado pelo autor
Fonte: criado pelo autor

Marcação Mista

A marcação mista pressupõe a junção de características das marcações individual e zona. Nesse contexto, esta marcação, especificamente, requer dos atletas constante trocas de marcação, uma boa leitura de jogo, capacidade de antecipar situações e, acima de tudo, espírito de solidariedade entre os jogadores da equipe.

Portanto, esperamos que este texto tenha te ajudados a entender mais sobre os diferentes sistemas defensivos do futsal.

Contato do Autor:
e-mail tassiosardinha@gmail.com
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Foto de Capa: Liga Nacional de Futsal

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O que é Natureza Fractal na Periodização Tática?

No texto anterior sobre Periodização Tática, explicamos sobre os principais conceitos e princípios que regem esta metodologia. Agora, abordaremos neste artigo os conceitos de natureza fractal e teoria do caos na Periodização Tática.

Geometria fractal e a Teoria do Caos

Então, de forma bem resumida, a geometria tradicional, aquela que conhecemos nos tempos de Escola, não conseguia descrever várias das formas vistas na natureza, devido às suas irregularidades. Notando isto, o Matemático Benoit B. Mandelbrot desenvolveu o conceito de fractal, visando “[…] descrever e analisar a irregularidade estruturada do mundo real”.

Em seu livro Mandelbrot diz:

“Nuvens não são esferas, montanhas não são cones e os raios não viajam em linha reta. A complexidade das formas da natureza difere em tipo, não apenas em grau, daquela das formas da geometria comum, a geometria das formas fractais”.

Mas o que isso tem a ver com a Teoria do Caos?

A princípio, apenas para contextualizar, de forma bem sucinta: a Teoria do Caos fala sobre o quanto alguns eventos podem ser suscetíveis às condições iniciais. Ou seja, algo à primeira vista sem relevância pode influenciar muito no médio ou longo prazo. Dito isto, para quem se interessa pelo tema, recomendo o filme “Efeito Borboleta”.

Bom, agora para responder a pergunta, iniciaremos a partir de um trecho publicado por Batanete e Castro que diz que “a teoria do caos não é uma teoria de desordem, mas busca no aparente acaso uma ordem intrínseca determinada por leis precisas”.

Pois bem, uma figura fractal nos apresenta algo extremamente complexo, mas que segue um padrão em sua forma, onde, olhando para suas partes conseguimos enxergar o todo. Ou seja, dá uma forma a algo caótico, que a princípio parecia pura desordem e de extrema aleatoriedade, mas no fim conseguimos notar um padrão, onde sua parte é idêntica ao todo. Notou a sua ligação com a Teoria do Caos? Como citamos, a Teoria do Caos busca no aparente acaso uma ordem intrínseca, algo apresentado em figuras fractais.

Como é uma figura fractal?

De antemão, vamos citar o trecho da Tese de Doutorado do Prof. Rodrigo Leitão, temos que:

“[…] em uma figura fractal, qualquer mínimo pedaço seu, será em forma e conteúdo, a expressão idêntica de sua figura maior (o todo) a qual está contida, ou de um pedaço menor (o qual está contido nele). […] A ideia marcante de que, em uma figura fractal, um pequeno pedaço contém o todo, vai ao encontro das teorias da complexidade e permite que se enxerguem fenômenos diversos, em sua totalidade. ”

Agora, repare na imagem a seguir:

Note como a estrutura se mantém similar, tanto na forma fragmentada como no todo. Isto quer dizer que o micro sempre se parecerá com o macro. E podemos levar isto para o futebol.

Geometria fractal e a Periodização Tática

Reduzir sem empobrecer, este é um dos lemas da Periodização Tática. Então, isso quer dizer que o treino precisa ser um fractal do jogo, ou seja, ao se observar o treino é possível ver a manifestação de acontecimentos do jogo. Claro, ao falar de jogo, queremos falar da forma com que a equipe em questão atua, quais são as suas ideias ao jogar. E estas ideias que constroem seu jogo devem ser expressas em todos os momentos do treino.

Sendo assim, quando criamos um treino, devemos ter em cada mini jogo uma representatividade do jogo. Não faria sentido fazermos um treino que não representasse o que ocorrerá na partida em questão. Portanto, quanto mais aproximarmos nossos jogadores no treino do que realmente acontecerá no jogo, mais bem preparados eles estarão para este grande momento do futebol.

Por fim, para concluir, apresentamos o trecho da dissertação de Julian B. Tobar:

“Daí a importância de que em todos os treinos, a dimensão fractal do jogar esteja presente, em maior ou menor escala, mas deverá estar sempre se reportando ao jogar, às intenções prévias pretendidas.”

Contato dos Autores

Chrístopher Kilpp Suhre
Instagram: @Christopher_Suhre
Roberto Augusto Lazzarotto Pereira
Instagram: @ralazzarottop

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O que é o Scouting?

O Scouting é um processo de observação e análise que tem como principal objetivo a recolha do máximo de informações ao nível individual (jogadores) ou coletivo (Equipes).

Desse modo, o Scouting divide-se em 2 grandes domínios: o Domínio Recrutamento que é a observação de jogadores para a equipe principal e prospecção de jogadores para as equipes de formação; e o Domínio Rendimento que assenta na observação e análise da própria equipe e do adversário.

Portanto, ao indivíduo que desempenha esta atividade, denomina-se por scout, analista ou observador. Vamos entender cada um desses domínios.

Domínio Recrutamento

No domínio recrutamento do Scouting, o foco do scout é a identificação e a avaliação de jogadores com capacidade e/ou potencial para integrar o plantel da equipe, quer seja no futebol de formação, quer seja no futebol profissional.

Assim, neste domínio, é importante não confundir o rendimento da equipe com o rendimento individual e focar em observar apenas o individual. Dessa forma, cabe ao scout a tarefa de tentar retirar o jogador do contexto tático da equipe, para tentar perceber o que o jogador vale e o que se pode transferir para o clube onde trabalha. Pois os comportamentos táticos são em sua maioria condicionados pelo que o treinador pede.

Domínio Rendimento

A princípio, no domínio rendimento, o scout/analista terá como principal missão a análise coletiva,  da própria equipe em contexto treino e jogo e dos adversários.

Neste sentido, no contexto de treino, é essencial a sua observação para verificar se os objetivos dos exercícios propostos foram ou não alcançados, controlar o nível de desempenho dos atletas e observar se as melhorias pretendidas foram assimiladas ou não.

Por outro lado, no contexto da observação da própria equipe, a sua observação contribui para identificar as forças da equipe e as fraquezas. A partir disso deve-se trabalhar e verificar se o que se preparou durante o processo de treino, se realizou no jogo ou não. Além disso, também, se o conjunto de ações desenvolvidas pelos jogadores vão ao encontro do plano de jogo preparado durante a semana.

No contexto de observação da equipe adversária, esta servirá para identificar e recolher os pontos fortes e fragilidades dos adversários, jogadores chaves no jogo da equipe, identificação de padrões coletivos, que possam ajudar o treinador a preparar o jogo. Assim como a caracterização do modelo de jogo, sistema tático, esquemas táticos e as particularidades dos jogadores da equipe adversária. É importante também observar no jogo, a qualidade do treinador adversário e as condições atmosféricas do ambiente de jogo.

O trabalho do Scout

O trabalho dos scouts, embora invisível, é de extrema importância, contribuindo ativamente para a sustentabilidade e sucesso dos clubes, quer ao nível desportivo ou financeiro, sendo a sua figura já vista como um “gerador de milhões”.

Um scout deverá apresentar diversas características como:

  • ter um bom conhecimento do jogo e do treino,
  • boa capacidade de análise (individual e coletiva),
  • proatividade,
  • coragem,
  • ambição,
  • autocritico,
  • motivado,
  • resiliência,
  • capacidade de adaptação,
  • disponibilidade temporal,
  • isento e imparcial,
  • organizado,
  • perfeccionista,
  • discreto.

O scout tem diversas saídas profissionais, podendo trabalhar para clubes, agências de representação, marcas, ‘softwares’, comunicação social ou mesmo optar por uma carreira enquanto freelancer.

Tipos de observação no Scouting

Existem 3 tipos de observação:

Observação direta- Este tipo de observação realiza-se quando o sujeito se desloca ao local onde o jogo ocorre. Essa observação apresenta muitas vantagens como a possibilidade de observar mais informações e todos os pormenores do jogo e do jogador. Isso ainda inclui as ações sem bola do jogador e os seus comportamentos psicológicos e mentais, como por exemplo: a sua reação a uma substituição, algo que na observação indireta é muito limitado de observar. No entanto, apresenta algumas problemáticas como a impossibilidade de observar tudo, devido à multiplicidade de ações simultâneas num jogo de futebol.

Observação indireta- Ao contrário da observação direta, na observação indireta, o indivíduo não está presente no estádio. Esta categoria de observação se dá através de outros meios como os vídeos dos jogos disponibilizados em diversas plataformas, como, por exemplo o Wyscout e o Instat. Este método de observação apresenta diversas vantagens: como a possibilidade de observar algum jogador ou equipe com mais detalhe. Ou a possibilidade de rever inúmeras vezes o mesmo lance. Também apresenta algumas desvantagens como a incapacidade de visualizar as ações sem bola de um jogador e da equipe. Pois, uma vez que a filmagem tem como alvo a bola, apenas conseguir rever os lances que o vídeo permite ou, em contextos mais amadores, a qualidade da filmagem, uma vez que esta pode interferir na leitura que fazemos.

Observação mista- Este método é a fusão dos 2 tipos de observação anteriormente descritos, ou seja, implica a observação no estádio e a observação através do vídeo. Através deste método, é nos permitido fazer uma observação mais precisa, onde podemos retirar os máximos detalhes de cada jogo.

Metodologia de Scouting

Portanto, a metodologia do processo de Scouting pode ser:

Assistemática-  A observação é espontânea, livre, informal e ocasional, implica a recolha e registo de factos da realidade, sem a utilização de meios técnicos especiais ou perguntas. E é utilizada em estudos exploratórios, sem planejamento e controle previamente elaborados. O êxito da sua utilização depende do observador, da sua perspicácia, discernimento, preparação e treino.

Sistemática — Entretanto, ao contrário da metodologia anterior, implica uma observação estruturada, controlada, planejada, utilizando instrumentos adequados à recolha de dados. Esta metodologia deve ser planejada com cuidado e sistematizada, onde o observador sabe o que procura. E vários instrumentos poderão ser usados como: quadro, anotações, escalas, etc.

Autor: Diogo Runa

Contatos: diogorunafutebol@gmail.com +351 961082732

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Como ensinar Tática na infância?

A iniciação esportiva é o momento crucial na formação de um atleta, haja vista a demanda crescente na procura por escolinhas desde as menores idades. Logo, é importante refletir como ensinar tática na infância.  

Sabemos que na iniciação esportiva, o ensino deve-se pautar em um processo pedagógico com série de jogos e situações orientadas, onde se desenvolve a motricidade geral, servindo posteriormente como base para as habilidades esportivas específicas. Agora, perguntamos, é possível desenvolver tática na infância?

Em resumo, a lógica interna estrutural dos jogos coletivos conta com seis elementos comuns entre eles, que são: A bola, o espaço, o gol, as regras, colegas e os adversários. E a lógica funcional, caracterizada pelos princípios operacionais, as ações necessárias no ataque e defesa. Nesta última, há uma relação das situações chaves ao objetivo do jogo.

Portanto, sabemos que no ataque é necessário conservar a bola, progredir ao campo adversário e atacar a meta do oponente para se alcançar o objetivo. Em contrapartida, a defesa precisará recuperar a bola, impedir a progressão do adversário para o seu campo, e claro, evitar o gol.   

Seguindo essa premissa, é preciso desenvolver os elementos da tática por meio desta compreensão de estrutura das modalidades coletivas. São alguns dos componentes fundamentais no ensino da tática na infância os conteúdos como:

  • o controle de espaço;
  • a busca de superioridade;
  • informação;
  • ritmo de execução;
  • relação ataque/defesa.

Como abordar esses componentes no trato pedagógico na infância?  

De antemão, o professor precisa ter a consciência de ajustar a seleção de conteúdos ensino-treino para as crianças, adaptando a faixa etária e a compreensão cognitiva das mesmas.

A atividade do pega-pega é uma forma simples que manifesta os componentes de ocupação de espaço, fugida, ritmo de execução – ser mais rápido que o pegador-, entre outros. Uma variedade desta atividade, pode ser proposta em um espaço delimitado na quadra, dividido em três partes iguais. Nesta versão, teremos dois pegadores sem bola no centro e os demais alunos com a bola nos pés estarão dispersos nas outras duas partes. O objetivo é atravessar pelo centro, deslocando-se de um ponto ao outro com bola, fugindo dos pegadores. Os dois alunos do centro sempre permanecerão com coletes na mão, para facilitar a identificação visual de todos os alunos. E no momento em que consegue tocar em alguém, logo entregam o colete para seu colega e ocupam a função de fugitivo na brincadeira.

Certamente ao analisar esta atividade, conseguimos identificar fundamentos técnicos do futsal (Condução e controle de bola), e alguns componentes da ação tática do jogo, tais como: controle de espaço; observar o colega pegador; imprevisibilidade do ambiente. E claro, um pega-pega contextualizado com a estrutura interna das modalidades coletivas, contando com a bola, o espaço (delimitado), colegas, oponentes (pegadores) e regras da própria atividade.

Quais atividades aplicar para ensinar tática na infância?

Agora, veja outro exemplo, com a atividade do Caça ao Tesouro/Pique bandeira. A gestão do jogo discorre da seguinte forma: Em um espaço amplo, divide-se os alunos em duas equipes, com o mesmo número para cada. As duas equipes “esconderão” a bola (tesouro/bandeira) no próprio território. O objetivo é capturar a “bandeira” da equipe adversária e trazê-la pro seu campo. Para se defender, os alunos poderão “pegar” os oponentes que estiverem no seu território e enviá-los à “prisão” até que sejam libertados pelos aliados. A primeira equipe que capturar a bola vence a partida.

Dessa forma, este jogo possibilita a progressão para o campo adversário (Relação ataque-defesa). Além, do ritmo certo para adentrar no espaço do oponente e não ser pego. Bem como, possibilitar a divisão de um grupo para o ataque e o outro da defesa, ou seja, a distribuição da equipe no jogo, entre outros. Dessa maneira, identifica-se alguns dos conteúdos táticos e elementos da lógica interna das modalidades coletivas, ao desenvolver a capacidade de conhecer e reconhecer as situações que a atividade solicita, inclusive identificar a relação com o futsal.

Antes de mais nada, o professor (a) pode incluir fundamentos da modalidade específica na atividade acima. Como por exemplo, conduzir o tesouro (bola) até o seu campo, ao invés de usar apenas as mãos. Variações estas, que acontecem de acordo com a realidade social e cognitiva que a turma se encontra.

Como os jogos situacionais desenvolvem a compreensão tática na infância? 

Em suma, os jogos situacionais são extremamente importantes e contribuem para diversas modalidades coletivas. A metodologia de ensino quanto mais ampla e consistente, maior será o desenvolvimento do aluno (a). A especialização na infância com cargas unilaterais (um só tipo de esporte) pode inibir o desenvolvimento futuro para outras modalidades, pois o maior objetivo nesta fase é possibilitar que as crianças vivenciem de forma rica e variada as experiências em situações táticas.

Logo, a ênfase na diversidade e não apenas na repetição técnica específica, permite que o comportamento adequado para tais situações do jogo seja adquirido. Este comportamento adequado, nada mais é do que uma ação realizada de forma consciente pela criança, de modo que queira alcançar um objetivo.

O que aprendemos sobre ensinar tática na infância?

Portanto, na infância é a fase de desenvolver a aprendizagem para diferentes movimentos, a partir de um contexto situacional voltado para a inteligência motora e cognitiva, estruturas comuns das modalidades esportivas. Como resultado, há um processo de desenvolvimento da capacidade de jogo geral. A aprendizagem vai se moldando a partir das relações sujeito e bola, sujeito e jogo, mediados pelo professor (a). Visto que, na prática o aluno (a) precisa interagir bem com os seus colegas no espaço de jogo de forma inteligente, seja com ou sem bola, e o principal, dar sentido ao que estão fazendo e por quê estão fazendo.

Além disso, o jogo requer situações opositivas, buscando um objetivo em comum. E tem como essência, o controle da ação corporal do outro. Isto é, a tática é um conjunto de ações conscientes do indivíduo, a fim de solucionar os problemas que o contexto de situações de confronto oferece. Quanto mais incentivo e oferta de uma pedagogia contextualizada na infância, maior será o desenvolvimento do atleta.

Em síntese, o tema proposto é desenvolvido nesta fase, por meio de uma metodologia que sustente as intenções técnicas táticas do jogo propriamente dito, seja por meio dos jogos, brincadeiras e na ludicidade inclusive.

Fontes e Referências

A atividade pedagógica da Educação Física.

Pedagogia do Futsal: Jogar para aprender (Wilton Santana).

O Ensino do Desportos Coletivos (Claude Bayer). 

Confira um episódio do Podcast Ciência da Bola que fala sobre o assunto:

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O que é Periodização Tática?

A Periodização Tática é uma metodologia de treinamento no qual a vertente tática é norteadora de todo o processo de treino. Neste texto, explicaremos a história da periodização do treinamento no futebol, e iremos contextualizar os princípios e pressupostos que norteiam a Periodização Tática.

O que é Periodização?

Inicialmente, até chegarmos à Periodização Tática, é interessante entendermos o que é, e qual a história da periodização no treinamento esportivo. Segundo o artigo Adequabilidade dos principais modelos de periodização do treinamento esportivo, periodização é o planejamento geral e detalhado do tempo disponível para o treinamento, conforme os objetivos intermediários e perfeitamente estabelecidos, respeitando-se os princípios científicos do treinamento desportivo. Ou seja, periodizar seria usar o treino para chegar a objetivos de performance em períodos pré-estabelecidos.

Entretanto, devemos compreender que a periodização do treinamento esportivo advém desde a metade do século passado. Conforme o artigo Análise de modelos de periodização para o futebol, o primeiro método de periodização de treinamento foi criado nos anos 1950, por Matveev. Ele baseava-se no aumento gradual de cargas, dividido em microciclos, mesociclos e macrociclos. Além disso, o foco desse método não era o futebol, e sim, o treinamento em esportes individuais, como natação, levantamento de peso e atletismo. Com o passar dos anos, surgiram outras metodologias aplicadas ao treinamento esportivo, como Sinos Estruturais e Modelo Bompa, que formaram os denominados Modelos Tradicionais.

Em seguida, os treinamentos denominados de Modelos contemporâneos ficaram mais em evidência: como o Sistema de Treinamento em Blocos e o Modelo de Cargas Seletivas. E, em razão disso, muitos treinadores e preparadores físicos utilizaram dos preceitos dessas metodologias (ou parte delas) durante os treinamentos específicos para o futebol. Porém, ainda havia uma inquietação por parte dos profissionais do futebol em aplicar uma metodologia de periodização que fosse mais específica para atender as necessidades do futebol. Dessa forma, surge uma nova proposta de periodização, a Periodização Tática, desenvolvida pelo professor português Vítor Frade.

A Periodização Tática

Estudioso do futebol, o professor Vítor Frade sempre dedicou seus estudos e ensinamentos na compreensão da melhor maneira de conciliar a teoria e a prática e, dessa forma, propôs, há mais de 30 anos, uma nova metodologia de treinamento para o futebol, denominada Periodização Tática. Essa nova metodologia, ainda hoje em voga, tem como preceito o modelo de jogo do treinador e da equipe, a especificidade da modalidade e a tática como guia e orientadora do processo de treinamento.

Na periodização tática, diferentemente das periodizações tradicionais, a periodização baseia-se em intervalos de tempos mais curtos, e representa o intervalo de uma semana ou o distanciamento entre dois jogos; termo esse denominado de Morfociclo. Por isso, para chegar aos objetivos propostos, a periodização tática utiliza como base o morfociclo padrão de treinamento.

O que é Morfociclo?

O morfociclo padrão de treinamento ocorre entre um jogo e outro, o que, normalmente, é de domingo a domingo (pelo menos na maior parte do calendário europeu). E varia conforme cada calendário do futebol, sendo aplicado também, por exemplo, em jogos domingo-quarta-domingo (como o calendário brasileiro). A ideia do morfociclo padrão é aplicar estímulos diferentes a cada dia da semana, de acordo com: o jogo anterior, com as características do adversário e o modelo de jogo da equipe, respeitando os princípios balizadores específicos da Periodização Tática. Em suma, isso deixaria o atleta em um alto nível de desempenho em todas as partidas da temporada, e não com picos de rendimento.

Veja na imagem abaixo, um exemplo da divisão do que seria priorizado a cada sessão de treinamento. Perceba que há uma variação entre tensão, duração e intensidade a cada dia, o que permite mudarmos as valências treinadas.

Fonte: (Morfociclo padrão desenvolvido por Mourinho, retirado do livro “O desenvolvimento do jogar, segundo a Periodização Tática”)

Além disso, a primeira questão que o treinador precisa desenvolver para aplicar a Periodização Tática em sua equipe é compreender quais são os princípios e pressupostos que norteiam essa metodologia.

Princípios da Periodização Tática

Antes de tudo, a especificidade surge como o supraprincípio da Periodização Tática. Sem ela, nada faz sentido. Isso quer dizer que os treinos devem sempre ter uma razão, um porquê, sempre com a lógica voltada para o Modelo de Jogo do treinador e da equipe. Assim, balizado por esse supraprincípio, temos o: Princípio da Progressão Complexa, o Princípio das Propensões e o Princípio da Alternância Horizontal em Especificidade. Vamos entender cada um deles.

  • Princípio da Progressão Complexa

Este princípio garante a existência de uma hierarquia das ideias de jogo do treinador, evoluindo do menos complexo para o mais complexo. Por exemplo, se um treinador busca obter um jogo apoiado na organização ofensiva (macroprincípio), ele precisa que o time crie no mínimo 3 linhas de passe (mesoprincípio) e que o passe seja preciso e firme/tenso (microprincípio).

  • Princípio das Propensões

O Princípio das Propensões assegurará que os jogadores realizem e sejam expostos a situações relacionadas a modelo de jogo do treinador. Através de exercitações no contexto de jogo que estimulem as repetições, o treinador poderá desenvolver bons hábitos nos atletas. Para exemplificar, vamos dizer que o treinador queira que sua equipe faça pressão pós-perda. Para que isso ocorra, ele cria atividades no treinamento durante a semana, onde, sempre que algum jogador recuperar a bola exercendo a pressão pós-perda, ele ganha 1 ponto. Isso estimulará o jogador a buscar esta ação mais e mais vezes. E, como é da natureza humana, o jogador tentará executar essa ação no jogo, pois vivenciou este estímulo com sucesso anteriormente no treinamento.

  • Princípio da Alternância Horizontal em Especificidade

O pressuposto deste princípio é certificar-se de que exista a alternância e a variação na predominância dos estímulos ao longo do morfociclo. É sempre interessante respeitar o binômio desempenho x recuperação, por exemplo, para que os jogadores tenham um ganho de desempenho em todas as vertentes (físicas, técnicas e cognitivas) necessárias e, também, visem uma boa recuperação até o próximo jogo.

Mourinho, no livro supracitado,  diz: “Eu não quero que a minha equipa tenha picos de forma… Não posso querer que a minha equipa oscile de desempenho! Quero sim que esta se mantenha sempre em patamares de rentabilidade elevados. Porque não há jogos ou períodos mais importantes que outros. Todos os jogos são para ganhar.”

Intensidade Máxima e Divina Proporção na Periodização Tática

Todos os princípios da Periodização Tática devem ser alicerçados pela Intensidade Máxima Relativa e pela Divina Proporção. A intensidade máxima relativa é necessária para que em cada sessão de treino haja uma entrega máxima dos jogadores, tanto física quanto mental. Mas, para não deixar que os jogadores se extenuem ao ponto de chegarem fadigados no jogo, é necessário controlar o volume de cada sessão, para garantir um treino intenso e que faça o jogador estar em condições aptas para a próxima partida.

Além disso, a divina proporção significa que o treinador deve saber adaptar o treinamento ao contexto ao qual ele está inserido. É sobre ter o feeling do treino, da situação dos jogadores e do desgaste sentido. Em entrevista, Frade diz “Eu estive 28 anos seguidos a dar treinos e nunca usei um cronômetro!”. Talvez esta seja a melhor explicação sobre a divina proporção.

Nessa primeira parte, buscamos entender um pouco do histórico e dos princípios que norteiam a Periodização Tática. Essa metodologia é ampla e seria praticamente impossível apresentar tudo apenas neste texto. Acompanhe nossos próximos artigos para entender mais sobre a natureza fractal, o modelo de jogos e os princípios táticos de jogo.

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Chrístopher Kilpp Suhre – Instagram: @Christopher_Suhre
Roberto Augusto Lazzarotto Pereira – Instagram: @ralazzarottop

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Sistemas táticos ofensivos no Futsal: o goleiro-linha

Os sistemas táticos ofensivos no futsal com uso do goleiro-linha surgiram em decorrência da alteração das regras do jogo de Futsal ainda nos anos 90. Essa alteração permitiu aos goleiros atuarem fora da área, com intuito de estabelecer superioridade numérica na fase ofensiva e troca de passes rápidos entre os atacantes, de modo a criar possibilidades de finalização à meta do adversário.

Fonte: criado pelo autor

Quais as regras para utilização do goleiro-linha?

O goleiro-linha, na fase defensiva, não há regra especial. Porém, quando na fase ofensiva, o goleiro-linha precisa respeitar as leis que o jogo impõe. Desse modo, o goleiro-linha não pode realizar ações com as mãos na bola fora da área; e nem permanecer com a posse da bola por mais de quatro segundos na sua meia quadra defensiva. Ainda assim, na meia quadra defensiva, o goleiro-linha só pode receber na bola de seus companheiros apenas uma única vez. Portanto, para realizar uma nova ação com bola, é necessário que a bola toque em algum atleta adversário.

Além disso, vale destacar que qualquer jogador pode substituir o goleiro. Contudo, o jogador de linha, que for cumprir esta função, deve estar trajado com a camisa da mesma cor que a dos goleiros de sua equipe, e utilizar o mesmo número da camisa relacionado na súmula.

Sistemas táticos ofensivos de Futsal com o goleiro-linha

Antecipadamente, ressaltamos que não existem padrões perfeitos, portanto, apresentaremos uma visão – dentre tantas – acerca dos sistemas táticos no Futsal. Assim, compartilharemos abaixo dois exemplos da distribuição de linhas dos desenhos: 1.2.2 (um-dois-dois); e 2.2.1 (dois-dois-um).

Linhas do Sistema 1.2.2

O sistema 1.2.2 distribui suas linhas da seguinte forma:

  • 1ª (primeira) linha e 2ª (segunda) linha, ou linhas de armação;e
  • 3ª (terceira linha), ou linha de sustentação ofensiva.
Fonte: criado pelo autor

Linhas do sistema 2.2.1

O sistema 2.2.1 distribui suas linhas da seguinte forma:

  • 1ª linha, ou linha de armação;
  • 2ª linha, ou linha de apoio/busca e aproximação; e
  • 3ª linha, ou linha de sustentação ofensiva.
Fonte: criado pelo autor

É seguro usar o goleiro-linha no futsal?

Portanto, alguns autores indicam que os treinadores devem utilizar os sistemas que possuem goleiro-linha com segurança nas ações ofensivas da equipe. Pois, em qualquer erro na execução das movimentações, pode ocasionar contra-ataques rápidos da equipe adversária, que, por sua vez, quase sempre se encerram em gol.

Além disso, geralmente, os treinadores usam estratégias de goleiro-linha quando a equipe está em desvantagem no placar. Portanto, os treinadores de futsal devem se preocupar, além da condição estratégico-tática, com o fator psicológico da equipe, visto que a situação em questão influencia nas tomadas de decisões dos jogadores.

Contatos do autor: tassiosardinha@gmail.com

Instagram: @tsardinha1

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Características do Sistema Tático Ofensivo 4.0 no Futsal

Hoje abordaremos sobre as principais características do desenho do Sistema Tático ofensivo 4.0 (quatro-zero). De antemão, lembremos que já falamos aqui sobre os principais sistemas táticos ofensivos do Futsal. Do mesmo modo, vimos a importância da definição de um desenho ofensivo que melhor se adeque à equipe. Logo, vamos entender sobre o sistema 4.0.

Atualmente, várias equipes utilizam a configuração de ataque 4.0, pois, quando os atletas efetuam com competência, estimula diversas formas de envolver o sistema defensivo adversário. Além disso, o sistema tático ofensivo 4.0 pode significar a quebra do sistema 3.1 quando o pivô abre mão de seu posicionamento padrão para juntar-se aos demais na organização do jogo.

Fonte: criado pelo autor

Distribuição das linhas do sistema 4.0

O desenho 4.0 distribui suas linhas da seguinte forma:

  • 1ª (primeira) linha, mais curta, denominada linha de armação;
  • 2ª (segunda) linha, mais longa, denominada linha de apoio/busca e aproximação.
Fonte: criado pelo autor

Quebra do sistema tático ofensivo de 3.1 para 4.0

Fonte: criado pelo autor

A princípio, quando abordamos aqui as características do sistema 3.1, vimos uma variação do desenho sem o pivô de referência. Nesse sentido, o sistema 3.1 possibilita movimentações dos quatro jogadores de linha na quadra, dado que o pivô recua para as linhas de apoio ou armação. Portanto, a situação exposta pode se figurar como uma quebra do sistema tático ofensivo 3.1 em 4.0.

Fonte: criado pelo autor
Fonte: criado pelo autor

Por exemplo, nas imagens acima vemos que o jogador “3” efetua o passe para o “2” e se desloca em diagonal; enquanto isso, o jogador “5”, que cumpria o papel de pivô, recua para a linha de apoio e aproximação. Isso posto, verificamos a transição do sistema 3.1 com sustentação ofensiva na ala direita, para o sistema 4.0.

Regras importantes para aplicação do sistema tático ofensivo 4.0 no Futsal

Em síntese, o livro de Balzano publicado em 2014 identificou algumas regras para aplicação do 4.0, que auxiliam o treinador na orientação de seus jogadores, as quais podemos destacar:

– Nunca ter pressa para definir a jogada;

– Não deixar de olhar o companheiro que está com a bola;

– Movimentar-se nas costas do marcador;

– Levar o defensor para a posição da quadra que lhe interessa;

– Antecipar-se ao defensor para surpreendê-lo;

– Ajudar os companheiros com bloqueios, fintas e mudanças de direção.

Além disso, acreditamos que, por ser um sistema que utiliza manobras para aproveitar os espaços nas costas da marcação adversária, o 4.0 pode se estabelecer como uma importante estratégia em quadras espaçosas.

Links de Referência

  • Futsal – Da Formação ao Alto Rendimento: Métodos e Processos do Treinamento

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Como gerar espaço-tempo no Futebol?

Um Jogo de gestão de espaço

Antes de entendermos sobre como gerar espaço-tempo no futebol, vale destacar um trecho do livro “Para Um Futebol Jogado com Ideias” dos Professores Israel Teoldo, Júlio Garganta e José Guilherme. Veja a definição usada para tática:

“É a forma como os jogadores gerem/ocupam os espaços de jogo, por meio de seus posicionamentos e movimentações.”

E você já ouviu falar sobre ocupação racional do espaço, um dos pilares do famoso Jogo de Posição? Afinal, o Futebol é um jogo de gestão de espaços, nada mais lógico que ocupar esses com intenção, dando sentido a toda e qualquer movimentação.

O que é o Centro de Jogo?

A princípio, o Centro de Jogo nada mais é que um círculo com 9,15m de raio, cujo o centro é a bola. Você deve ter percebido que esse também é o raio do círculo central e a distância da marca do pênalti até a meia-lua da grande área, né? Mas então, porque 9,15m? Pois bem, essa resposta é dada com grande didática no livro “Para Um Futebol Jogado com Ideias”. Então, sem mais delongas, o motivo dessa distância específica foi constatada matematicamente: com o marcador a 9,15m se torna fácil passar a bola com boa velocidade e precisão, sem que o receptor tenha dificuldade no domínio. Ou seja, em outras palavras, essa distância mínima facilita a dinâmica do jogo.

A importância de saber jogar sem a posse

Além disso, no livro “Os números do Jogo” os autores citam um estudo do Cientista do Esporte Chris Carling que constatou que os jogadores ficam em média 53,4s com a posse da bola. Assim, será que a sua participação sem bola, que seriam os outros mais de 89 minutos, não é relevante?

“[…] O mais importante é o que você faz durante os outros 87 minutos em que não tem a bola. Isso que determina se você é bom jogador ou não”. Johan Cruyff

Do mesmo modo, a frase acima do lendário Johan Cruyff, que mencionou valores diferentes, as ações sem a posse diferenciam os grandes jogadores dos comuns.

Espaço-tempo gerado para si

Através da movimentação nas costas da linha defensiva:

Espaço-tempo gerado para o companheiro

A partir de uma movimentação, quando esta tem a intenção de atrair atletas adversários:

Através de seu posicionamento, quando este tem a intenção de fixar atletas adversários:

Gerar espaço-tempo no Futebol a partir da bola

Espaço-tempo gerado para si

Mediante a condução da bola para zonas de menor pressão:

Ao dominar a bola já se preparando para o movimento seguinte (domínio orientado):

Espaço-tempo gerado para o companheiro

Ao conduzir a bola com a intenção de atrair a atenção do marcador de um companheiro, fazendo com que este colega de equipe tenha espaço-tempo para progredir:

Através do passe para um companheiro, mas visando outro colega de equipe que receberá a bola posteriormente com espaço para progredir (3° homem):

A arte de gerar dúvida…

O espaço-tempo é gerado quando seu adversário se encontra em meio a dúvida. Subo a pressão ou mantenho o posicionamento? Se eu subo a pressão, em que a faço? Esse curto instante de tempo, em que o adversário está em dúvida (e muitas vezes já tenha realizado um movimento incorreto) é o suficiente para que se tome uma melhor decisão ou um espaço para progredir seja gerado. Mas, o que você quer dizer com isso? Bom, que qualquer modo de enganar ou distrair o adversário (claramente, dentro das regras impostas pelo Jogo) é capaz de gerar vantagens de tempo e espaço.

Contato do autor – Instagram: @ralazzarottop

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Afinal, o que é Jogo de Posição?

No futebol, a moda é ditada pelos treinadores vencedores, e atualmente, muito se fala em “Juego de Ubicación”, ou melhor, “Jogo de Posição”. São inúmeras lives, conversas, e até aulas abrangendo informações acerca do futebol das equipes de Guardiola. No entanto, o Jogo de Posição não é uma novidade, ele já existia em 1954, e desde então, vem sofrendo algumas mudanças.

Mas calma! Para você que nunca ouviu este termo, não se assuste. Deixe-me falar um pouco sobre esta cultura de jogo.

Por exemplo, Johan Cruyff, Louis Van Gaal e Pep Guardiola são apenas alguns dos técnicos que fizeram história com este conjunto de ideias. Porém, para compreendê-las é necessário estarmos atentos a alguns conceitos que serão explicados ao longo do texto.

O Jogo de Posição ressalta a relação entre os jogadores da mesma equipe (cooperação) e jogadores da equipe adversária (oposição). Sendo expressa por quem ocupa a largura (amplitude) e o comprimento (profundidade) do campo, a fim de criar diferentes superioridades no jogo.

Assim sendo, partindo dessa premissa, a todo momento deve ter um jogador que cubra cada posição, como Marti Perarnau colocou no livro Guardiola Confidencial. Mas lembre-se, os atletas não são estáticos, como uma mesa de pebolim. Eles podem se mover, desde que atuem com responsabilidade.

Espaços que os jogadores podem influenciar

Acima de tudo, sabemos que nos esportes coletivos, há interações de curto prazo o tempo todo, especialmente no futebol. Por isso, os jogadores são orientados a estarem entrosados durante a partida, sendo divididos em quatro espaços modificados conforme a localização da bola no campo, vejamos:

1 – Espaços de Fase: Onde o jogo pode acontecer;

Fonte: criado pelo autor

2- Espaço de Intervenção: Portador e Opositor;

Fonte: criado pelo autor

3 – Espaço de Ajuda Mútua: Jogadores próximos à intervenção

Fonte: criado pelo autor

4 – Espaço de Cooperação: Todo o espaço que resta do espaço efetivo de jogo.

Fonte: criado pelo autor

Na mesma linha, vamos entender agora sobre os princípios do jogo de posição.

Princípios do Jogo de Posição

  • Gestão de Espaço/Tempo: O jogador com a bola em um destes espaços, deve utilizar o tempo em benefício próprio ou do companheiro. Então pergunto-lhe, qual é o momento certo de agir? Com que velocidade a ação deve ser executada? As respostas destas questões devem favorecer você ou o seu colega.
  • Encontrar ou se reconhecer como Homem Livre: Neste, destaco as dinâmicas de atrair/fixar o oponente para libertar um de seus companheiros. Por exemplo, o jogo é onze contra onze. Portanto, se você consegue chamar a atenção de dois adversários, alguém ficará livre para receber a bola. Um dos caminhos para encontrar o homem livre é através do conceito de 3º homem.
Fonte: criado pelo autor
Fonte: criado pelo autor
  • Olhar para a profundidade: Com a bola, Cruyff pedia para Guardiola procurar Romário, por vezes do outro lado do campo, e frequentemente a frente dele. Quando os companheiros o encontravam, Romário levava vantagem no 1×1, o que proporcionava grandes chances ao time.
  • Criação de diferentes superioridades: Como você leu aqui no blog, durante o jogo pode-se gerar diversas vantagens, e são nessas ocasiões que o lance de perigo surge.
  • Viajar Juntos: Os titulares necessitam atuar como uma unidade para dificultar o contra-ataque adversário. Isto é, estarem compactados, pois quando perderem a bola, o intuito é recuperá-la rapidamente (Pressão Pós Perda). Ou seja, esteja ciente que, durante o processo de ataque, é preciso promover futuras condições defensivas e vice-versa.

O jogo de posição e a posse de bola

“Existe apenas uma bola, e você deve tê-la” – Johan Cruyff

A manutenção da posse de bola é muito importante no Jogo de Posição. Desse modo, trata-se de uma ferramenta para tentar alterar a estrutura da equipe adversária, e consequentemente, gerar espaços prestes a explorá-los.

Neste sentido, uma pesquisa fez a análise do impacto da posse de bola com 70 campeões de 35 ligas em duas temporadas. O percentual médio de posse de bola dos vencedores foi de 57%. A Ligue 2 (francesa) foi o único torneio entre as 35 ligas em que os campeões tiveram em média um percentual de posse de bola inferior a 50%.

Para além disso, o clube de Pep Guardiola – Manchester City – se destaca entre os campeões com maior percentual de posse de bola. Coincidência?

Considerando esses aspectos, os dados fornecidos pela InStat oferecem diversas oportunidades para interpretações. Uma delas, mostra que as equipes ambiciosas devem conseguir manter a posse de bola. No entanto, muitas vezes os atletas aceitam o domínio adversário, sobretudo quando estão ganhando. Em contrapartida, os estudiosos concluem que essa não é a melhor estratégia a longo prazo. Mas saiba que o futebol é imprevisível, e, às vezes, a equipe que tem o menor percentual de posse de bola é aquela que sai vitoriosa.

Então quer dizer que o Jogo de Posição é só passar a bola?

NÃO! Deve haver intencionalidade! Guardiola esclarece que odeia o “tiki-taka” – termo associado ao Barcelona devido a sua eficiente troca de passes – pois não existe propósito. É preciso passar a bola com uma intenção clara. Não é passar a bola só por passar.

Não há fórmulas para o sucesso

Dados os fatos, muita gente se confunde com o Jogo de Posição. Consequentemente o argumento utilizado traz a limitação da criatividade e da mobilidade dos jogadores. Até porque, deve haver o preenchimento dos atletas em todas as posições, não é?

Sim, mas trata-se de ocupar a posição, não importa quem irá ocupá-la. Logo, a troca de posições é constante, sempre existindo dinâmicas entre os jogadores. Seja com ou sem a posse de bola.

Em suma, praticar o Jogo de Posição não é sinônimo de vitória, tampouco a maneira correta ou errada para se chegar ao sucesso. É apenas uma cultura, perante a qual determinará a sua forma de jogar. Afinal, quaisquer ideias bem executadas aumentam a probabilidade do treinador vencer. Seja ele adepto ao Jogo de Posição, ou não.

Confira um episódio do Podcast Ciência da Bola que fala sobre o assunto:

Fontes e Referências:

How importante is ball possession in football – Raffaelle Poli, Loic Ravenel, Roger Besso .

Periodização Tática: Explorando sua organização concepto-metodológica – Julian Bertasso Tobar.

Instagram: g_tadashi
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